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Consultoria multidisciplinar, onde desenvolvemos trabalhos nas seguintes áreas: fusão e aquisição e internacionalização de empresas, tributária, linhas de crédito nacionais e internacionais, inclusive para as áreas culturais e políticas públicas.
terça-feira, 3 de setembro de 2019
Deltan capta recurso de investigada e negocia com empresários
Diálogos em poder do The InterceptBrasil e analisados pela Agência Pública
revelam que o procurador Deltan Dallagnol captou recursos de uma
empresária citada na "lava jato", que foram destinados a financiar o
Instituto Mude – Chega de Corrupção.
Deltan chegou usar instalações públicas para se reunir com possíveis doadores Fernando Frazão/Agência Brasil
Como o nome sugere, a organização foi criada para promover a pauta de
combate a corrupção e exaltar os feitos da da força-tarefa. As
mensagens analisadas pela agência apontam que Deltan se reuniu com
empresários, em muitas ocasiões a portas fechadas, para buscar recursos
para a entidade.
Uma das financiadoras da organização foi a
advogada Patrícia Tendrich Pires Coelho. Ela seria depois investigada
pela “lava jato”, mas não foi denunciada pelo Ministério Público
Federal.
Deltan sabia da proximidade da empresa de Patrícia, a
Asgaard Navegação S.A., com o empresário Eike Batista e com o banqueiro
André Esteves (BTG Pactual) —dois dos alvos da “lava jato”—e mesmo assim
aceitou ajuda financeira da empresária para o Mude. A Asgaard Navegação
S.A. fornecia navios para a Petrobras.
Em conversa com Patrícia
Fehrmann, do Instituto Mude, Deltan comenta que conheceu a empresária
Patrícia Coelho. “Caramba. Essa viagem de ontem foi de Deus. Além dela,
estava um deputado federal que se comprometeu a apoiar rs”, escreveu.
Enquanto
discutia com a formalização do Mude no chat #mude
Delta,Fáb,Pat,Had,Mar, (composto por membros da entidade e o
procurador), um dos fundadores do instituto, Hadler Martines, comenta
que realizou uma pesquisa sobre a investidora.
“Talvez vocês já
tenham feito isso mas sobre nossa investidora anjo, dei uma boa
pesquisada sobre seu histórico e realmente ela parece ser uma grande
empresária multimilionária e com grande trânsito com grandes empresários
nacionais. Hoje ela é sócia de empresa de frotas de navios (Aasgard) e
de mineração e portos (Mlog). Algumas coisas que me chamaram atenção:
sua empresa fornece navios para a Petrobras; ela é ex-banco Opportunity
(famoso Daniel Dantas); ela foi ou é muito próxima do Eike Batista e
também do André Esteves (BTG)”, escreveu.
No dia 11 de setembro de
2016, Hadler voltou a compartilhar suspeitas com integrantes do
instituto e Deltan. “Sobre nossa reunião com o Anjo, ainda estou com uma
pulga atrás da orelha, tentando entender a razão do apoio financeiro
tão generoso (sendo cético no momento)”, escreveu. “Me pergunto se ela
quer ‘ficar bem’ com o MPF por alguma razão… Ela já foi conselheira do
Eike e pelo que li dela, ela o representava em algumas negociações.
Sugestão: fiquemos atentos. Desculpem o provérbio católico, mas quando a
esmola é demais, o santo desconfia…”.
Diante das novas
informações sobre a investidora, Deltan comenta que “mais cedo ou mais
tarde descobriremos isso”. Posteriormente, Deltan pergunta ao procurador
Roberson Pozzobon se o nome de Patrícia havia aparecido nas
investigações.
A investidora Patrícia Coelho apareceu nas
investigações e foi Deltan quem informou as pessoas do instituto.
“Caros, uma notícia ruim agora, mas que não quero que desanime Vcs. A
Patricia Coelho apareceu numa petição nossa e me ligou. Ela disse que
tinha sociedade com o grego Kotronakis (um grego que apareceu num
esquema de afretamentos da petrobras e que foi alvo de operação nossa),
mas ele tinha só 1% e ela alega que jamais teria transferido valores pra
ele… Falei que somos 13, cada um cuida de certos casos, que desconheço o
caso e que a orientação geral que damos para todos que procuram é: se
não tem nada de errado, não tem com o que se preocupar; se tem, melhor
procurar um advogado rs. Ouvindo sobre o caso superficialmente, não
posso afirmar que ela esteve envolvida ou que será alvo, mas há sinais
ruins. É possível que ela não tenha feito nada de errado, mas talvez
seja melhor evitar novas relações com ela ou a empresa dela, por
cautela”, escreveu.
Deltan ainda cita um trecho da Bíblia: “Eis
que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes
como as serpentes e simples como as pombas”.
Procurador de recursos
As mensagens analisadas pela Pública entre Deltan e os membros
do Instituto Mude revelam também que Patrícia Coelho não foi a única
empresária procurada pelo procurador para angariar recursos.
“Caros,
acho que vou conseguir uma reunião do Flavio bilionário evangélico do
WizeUp com o MUDE”, escreveu no dia 3 de março de 2017.
No dia 30
de abril, ele disse que estava agendando um café da manhã com o
empresário para 18 de maio: “Caros, estou agendando café da manhã com o
Flávio do wise-up para o dia 18/5. Ele vai mudar a data da volta dele
para estar conosco. Quem pode ir? Têm sugestão de lugar? Impoertante
*(sic) preparar algo bacana pra apresentar a ele”, escreveu Deltan.
Além
de convescotes matinais, Deltan também aproveitava encontros casuais
para identificar possíveis doadores. “hoje um mega empresário veio falar
comigo no aeroporto, um cara de SC com nome diferente. Passei meu e teu
tel Pati. Falei pra ele te contatar. Ele tinha uma empresa que acabou
de vender com sede em múltiplos Estados, uns 250 funcionários….”.
Deltan
ainda revela que poderia pedir recursos a um empresário da Opus Dei em
uma reunião na sede da Procuradoria. A conduta é vedada pelo Código de
Ética e de Conduta do Ministério Público da União que proíbe “utilizar
bens do patrimônio institucional para atendimento de atividades de
interesse”.
Instituto com DNA gospel
As conversas revelam também que o Instituto Mude e a igreja Batista de
Bacacheri são organizações intimamente ligadas. A primeira sede do Mude
foi o templo frequentado por Deltan em Curitiba.
A conta da igreja
Batista de Bacacheri teria sido usada para custear o site do Insituto
Mude. “Marcos e Deltan. Como o valor de oferta entrou na conta da
igreja. A nota tem que ser pra igreja também. A igreja será o pj no caso
do site. Calculo 8 mil mas brifei 3 fornecedores e estou esperando o
orçamento”, afirmou Patrícia Fehrmann em chat do Telegram.
Outro lado
Em nota pública, a força-tarefa de Curitiba afirmou que “é lícito aos
procuradores da República interagir com entidades e movimentos da
sociedade civil e estimular a causa de combate à corrupção, inclusive no
ambiente da procuradoria”.
O Instituto Mude se pronunciou
alegando que, “apesar de não haver nenhum empecilho legal para tal, o
procurador Deltan Dallagnol nunca foi integrante ou associado” da
entidade. Já a igreja Batista de Bacacheri avisou que não irá se
pronunciar sobre o assunto.
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