Atuação:
Consultoria multidisciplinar, onde desenvolvemos trabalhos nas seguintes áreas: fusão e aquisição e internacionalização de empresas, tributária, linhas de crédito nacionais e internacionais, inclusive para as áreas culturais e políticas públicas.
(Reuters) – A secretária do Tesouro dos Estados Unidos,
Janet Yellen, concordou nesta quinta-feira que qualquer calote da dívida
dos EUA causaria danos irreparáveis, bem como uma crise financeira e
recessão.
Questionada por um membro do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara
se o dano causado pelo não cumprimento das obrigações de dívida do
governo federal seria “irreparável”, Yellen respondeu: “Sim”.
Seus comentários foram os mais recentes de uma série de
advertências que Yellen tem emitido, conforme o Congresso dos EUA
permanece num impasse em torno da questão de levantar ou suspender o
limite da dívida, em meio ainda a disputas sobre a agenda legislativa da
maioria democrata e do governo Biden.
Yellen disse que o governo ficará sem dinheiro por volta de 18 de
outubro, a menos que o Congresso aumente o limite da dívida federal,
atualmente de 28,4 trilhões de dólares. Após essa data, o Tesouro
estaria “simplesmente em uma situação impossível”, disse ela durante
apresentação perante o comitê nesta quinta-feira.
“Não seremos capazes de pagar todas as contas do governo”, completou.
O teto da dívida voltou a entrar em vigor em agosto, após uma
suspensão de dois anos, e o Departamento do Tesouro tem empregado
“medidas extraordinárias” para financiar o governo desde então.
Yellen, no início desta semana, disse aos parlamentares que essas
medidas se esgotarão em meados de outubro, antes do que a maioria dos
analistas esperava, e, depois disso o país não terá fundos suficientes
para cumprir todas as suas obrigações, que vão desde pagamentos da
Previdência Social a pagamentos de juros sobre os Treasuries.
Deixar de cumprir essas obrigações marcaria o primeiro calote dos
EUA, que Yellen disse repetidamente que seria “uma catástrofe”.
“Provavelmente acabaremos em uma crise financeira, certamente uma
recessão”, disse Yellen ao Comitê da Câmara nesta quinta-feira. Também
teria “consequências mais duradouras de juros mais altos para todos que
tomam empréstimos”.
Isso porque a classificação de crédito dos EUA certamente seria
rebaixada, e os credores internacionais –que há muito procuram a dívida
do Tesouro norte-americano devido à credibilidade do governo dos EUA–
não veriam mais esses títulos como “livres de risco”. Isso tornaria mais
caro para o governo federal –e todos os outros– tomar empréstimos.
O chair do Federal Reserve, Jerome Powell, disse que a capacidade do
banco central dos EUA de conter as consequências de tal evento é
limitada.
“Ninguém presuma que podemos realmente fazer muito”, disse Powell aos
parlamentares nesta quinta-feira. “Ninguém deve presumir que o Federal
Reserve ou qualquer outra pessoa pode proteger o povo norte-americano
das consequências disso.”
Global Business,
iCities e La Salle Technova organizam comitiva exclusiva para
profissionais e gestores conhecerem a cidade que é case mundial de
inovação
Marisa Valério
Bairro 22@ de Barcelona: antiga zona industrial transformada em polo de inovação
O
conceito de Smart City deixou de ser uma tendência e passou a ser a
visão estratégica das cidades do futuro e dos governantes. O caminho é
na direção do uso mais racional e eficiente dos recursos naturais,
humanos e financeiros, e de uma qualidade de vida que garanta cidadania.
E Barcelona é o maior case global de um ecossistema de inovação que não
só recuperou uma área industrial degradada, mas se tornou polo de
atração de investimentos financeiros e imobiliários, gerando emprego e
renda. No primeiro semestre de 2021, a capital da Catalunha recebeu 80%
dos investimentos imobiliários da Espanha, segundo dados da consultoria
Cushman & Wakefield.
"Isso é bastante significativo,
equivalente a níveis de investimentos pré-pandemia. A cidade oferece aos
visitantes uma verdadeira imersão em soluções práticas que podem ser
replicadas em cidades de todo o mundo, a partir da realidade local e das
peculiaridades regionais", pontua Carlos Olsen, CEO da Global Business,
empresa que organiza a quarta Comitiva para Barcelona, entre os dias 13
e 21 de novembro, junto com a empresa curitibana iCities e a espanhola
La Salle Technova.
Além de integrar a programação do Smart City
Expo World Congress, maior evento mundial em cidades inteligentes, a
comitiva promoverá uma intensa semana de conhecimento, experiências e
contato com o futuro das cidades. "Temos uma parceria com três
instituições importantes, cada uma com sua parcela de liderança do
segmento, que vem trazendo resultados significativos: o iCities organiza
a comitiva, tem a chancela da Fira Barcelona no Brasil e lidera
diversas frentes. E a La Salle participa por meio do Josep Piqué,
oferecendo a certificação do parque de inovação aos participantes da
comitiva", explica.
A Comitiva para Barcelona já reuniu 140
participantes em mais de 60 visitas e reuniões exclusivas. Crescendo não
só em números, ela desenvolve a diversidade do perfil dos integrantes.
"A expectativa de 2021 é reunir prefeitos, vice-prefeitos, presidentes
de grandes instituições, da academia e do setor empresarial. Tem vários
benefícios, sendo três principais: o networking entre os integrantes,
que tem uma metodologia bastante flexível, com feedbacks excelentes. O
segundo benefício é a programação exclusiva e específica da comitiva:
eventos com a La Salle, visitas técnicas exclusivas com representantes
do bairro 22@ (antiga zona industrial convertida em polo de inovação) e
de outros parceiros. E o terceiro é a participação efetiva no Smart City
Expo World Congress, que reúne em Barcelona cases que são destaques no
mundo. São possibilidades de ter contato com todos os cases debatidos no
mesmo painel, em uma imersão fantástica", convida Beto Marcelino,
sócio-fundador e diretor de relações governamentais do iCities.
Investimentos e retornos Olsen
reforça que o início do processo para uma cidade inteligente criar seu
ecossistema de inovação exige liderança e investimento em infraestrutura
da administração pública. "Se não houver isso, nada acontece. Mais
adiante, diminui a importância pública e crescem as participações do
setor empresarial e da academia. Todos têm sua participação, mas no
início a responsabilidade pública é fundamental. Por exemplo, no 22@ de
Barcelona, temos 300 milhões de euros em infraestrutura, sendo que o
investimento privado foi em torno de 1,2 milhão de euros", detalha o
especialista.
Ele explica que, segundo analistas, os
compradores em Barcelona têm sido grandes grupos centrais
internacionais, como seguradoras e fundos de pensão, em busca de
mercados seguros para investir. "Embora haja menos escritórios alugados
do que em 2019, como em todas as principais cidades do mundo, os
investidores compram porque estão confiantes na força da economia de
Barcelona no médio prazo. Mais um exemplo do ecossistema catalão para
todo o mundo."
Inscrições para a Comitiva Pela
quarta vez, a comitiva brasileira irá participar do Smart City Expo
World Congress, que acontece entre os dias 15 e 19 de novembro de 2021.
Brasileiros vacinados serão aceitos como viajantes na Espanha. Todas as
vacinas são aceitas e não é necessário fazer quarentena. A programação
completa pode ser acessada neste link. Mais informações pelo WhatsApp (41) 99164-2383.
Em entrevista exclusiva à
EXAME, Fernando Rosa, presidente da Kraft Heinz, explica o processo de
aquisição e os planos de expansão da fabricante de molhos e condimentos
Hemmer
Fernando Rosa, presidente da Kraft Heinz: compra da Hemmer é estratégica para crescer no Brasil (Ricardo Dangelo/Reprodução)
Nos últimos dez meses, quando assumiu a presidência da Kraft Heinz,
Fernando Rosa já tinha uma missão engatilhada: continuar uma conversa
com os executivos da fabricante catarinense de molhos e condimentos Hemmer,
de forma a convencê-los de que a venda é uma excelente ideia. “Nós os
chamamos para conversar há alguns anos, mas este era o momento certo
para ambas partes, as duas companhias estão crescendo dois dígitos e têm
negócios bastante complementares”, diz Rosa à EXAME.
A compra da anunciada nesta quinta-feira, 23, por valor não revelado,
levará cerca de 300 novos produtos para o portfólio da Kraft Heinz,
sendo alguns deles de novas categorias. “Apesar de termos os legumes
enlatados com a Quero, vamos começar somente agora a vender, por
exemplo, picles e outros itens em conserva”.
Já nas linhas de produtos semelhantes, como maioneses, mostardas,
ketchups e outros molhos, o ganho se dará pela estratégia de
precificação e conquista de um novo público. “O consumidor da Hemmer vê
na marca atributos como tradição e qualidade, e se beneficia de um preço
competitivo”,diz Rosa.
A aquisição acontece logo após a Kraft Heinz reportar um prejuízo
líquido de 25 milhões de dólares no segundo trimestre, valor 98,5% menor
do que o prejuízo registrado no mesmo período do ano passado. Segundo a
empresa, o fato foi impulsionado, principalmente, devido a alterações
favoráveis em encargos não monetários comparando ao período de um ano
atrás.
“Este resultado está conectado a situação global, devido
também a pandemia da covid-19, mas entendemos ser esse o momento para um
passo importante na companhia para nos fortalecer entre as maiores
empresas de alimentos do Brasil ao expandir o portfólio, crescer
orgânica e inorgânicamente”, afirma Rosa.
Deste modo, a aquisição está bastante alinhada a estratégia global da
Kraft Heinz, que conta com o incentivo do CEO Miguel Patricio para a
expansão fora dos Estados Unidos, sendo o Brasil um país bastante
importante, e tendo contado com investimentos robustos a partir de 2018,
como o de 380 milhões de reais na construção de uma nova fábrica na
cidade de Nerópolis, em Goiás.
No plano de expansão da Kratf Heinz há ainda as últimas apostas no
food service, no e-commerce, bem como no lançamento de novos produtos,
como o ketchup Heinz Picles. “Tínhamos um modelo de atendimento com
parceiros mais atacadistas do que distribuidores, então fizemos um
projeto cruzado para entrar em espaços que até então não éramos fortes
no Brasil. Isto nos ajudou a crescer e será importante também para a
ampliação de Hemmer”, diz Rosa.
Estratégia
Com a Hemmer, a Kraft Heinz espera inovar ao lançar produtos, e
também ampliar a participação no Brasil. “Temos uma musculatura de
distribuição relevante do Sudeste para cima, em áreas que a Hemmer ainda
não é tão forte e tem grandes oportunidades”, afirma Rosa. Contudo,
ainda não há planos para expansão no exterior.
Segundo Rosa, o presidente da Hemmer Ericsson Luef e outros
executivos serão mantidos na marca, assim como toda a estrutura de
produção em Blumenau, Santa Catarina, onde a empresa possui uma fábrica
de com mais de 17 mil metros quadrados de área construída e mais de 700
funcionários, quando incluído os representantes comerciais.
O desafio agora é estabelecer processos de gestão comuns entre uma
multinacional de 25 bilhões de dólares, e de uma empresa com cultura
familiar nascida em 1915. “Entendemos a importância de manter a
estrutura da Hemmer e continuar com quem melhor saber tocar o negócio.
Costumo dizer que nossa intenção aqui é que um mais um seja igual a 10.
Isto se dará mantendo o que funciona e inovando para crescer”, diz Rosa.
Juntas, as empresas podem gerar uma receita líquida de quase 1,8
bilhão de reais, considerando que no ano passado, a Hemmer reportou
374,4 milhões de reais em vendas.
Para iniciar os tão esperados processos de integração e cultura, a Kraft Heinz aguarda a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), com expectativa de que a conclusão ocorra no primeiro semestre de 2022.
A Hemmer foi criada há
106 anos e é sediada em Blumenau (SC). A marca incrementa o portfólio da
Kraft Heinz no segmento de molhos e condimentos no país
A Kraft Heinz anunciou nesta quinta-feira a compra da empresa brasileira de alimentosHemmer
por valor não revelado, ampliando sua plataforma internacional nas
categorias de condimentos e molhos chamada "Taste Elevation" e em um
apoio para sua estratégia de ampliação de presença em mercados
emergentes.
A Hemmer foi criada há 106 anos e é sediada em Blumenau (SC) e a
marca incrementa o portfólio da Kraft no segmento no país que conta
também com Quero e Heinz.
A Hemmer vai se beneficiar da rede de distribuição e modelo de
atendimento da Kraft Heinz no Brasil, incluindo o canal de atendimento a
restaurantes e hoteis "que está crescendo rapidamente", afirmou a Kraft
em comunicado à imprensa.
O negócio ainda precisa de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
A
23ª Vara Federal do Rio de Janeiro concedeu, nesta quarta-feira (22/9),
liminar determinando que a Petrobras regularize imediatamente a
contratação de escritórios de advocacia estrangeiros.
Em sua decisão, a juíza Maria Amelia Senos de Carvalho destacou que a
o exercício profissional da advocacia no país exige a inscrição na
Ordem dos Advogados do Brasil. Além disso, ressaltou que o registro do
advogado estrangeiro na OAB é disciplinado pelo Provimento 91/2000, que
exige autorização do conselho para o exercício profissional.
"A
observância dessas regras se impõe a todo e qualquer contratante em solo
nacional, incluindo sociedades de economia mista", afirmou a juíza.
Dessa
maneira, Maria Amelia ordenou que a Petrobras "exija em todas suas
contratações, com ou sem licitação, já efetivadas ou a serem efetivadas,
que os escritórios de advocacia estrangeiros cumpram o disposto" no
Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/1994) e no Provimento 91/2000,
"providenciando imediata inscrição ou sua regularização perante a OAB".
Ação da OAB
A ação civil pública foi movida pelo Conselho Federal da OAB. A ação tem
origem na atuação da Coordenadoria Nacional de Fiscalização da
Atividade Profissional, que instaurou procedimento administrativo com o
objetivo de apurar a regularidade da atuação de escritórios de advocacia
estrangeiros contratados pela Petrobras para prestarem consultoria em
direito estrangeiro.
Ao analisar os contratos, a Ordem encontrou
irregularidades como a contratação de escritórios de advocacia
estrangeiros sem inscrição ou com inscrição fora das normas
estabelecidas pela OAB. Além disso, alguns escritórios estrangeiros, que
possuem inscrição em seccional da OAB, estavam atuando fora da
localidade onde o serviço foi prestado sem possuir inscrição
suplementar.
Durante o procedimento administrativo, a Petrobras se
mostrou incapaz de demonstrar que as consultorias jurídicas contratadas
foram prestadas exclusivamente em território estrangeiro, segundo a
OAB.
A prestação de serviços de assistência/orientação jurídica no
território nacional é atividade privativa aos inscritos na OAB e é
irregular quando praticados por sociedades não inscritas na Ordem, o
que, em tese, constitui contravenção penal de exercício ilegal da
profissão.
Além disso, da análise da atuação desses escritórios
estrangeiros em território brasileiro, ainda que por atuação remota,
constata-se violação à legislação aplicável à assessoria jurídica
estrangeira no território nacional, especialmente o Estatuto da
Advocacia e o Provimento 91/2000, sustentou a Ordem.
Clique aqui para ler a decisão
Processo 5054454-35.2021.4.02.5101
Para o gestor Ruy Alves, da Kinea, o caso deve gerar
mais desaceleração na China e afugentar investimentos de mercados
emergentes. E está nas mãos do governo evitar um colapso global
A Evergrande tem dívida de mais de US$ 300 bilhões
Segunda maior empresa de construção civil da China, a
Evergrande ganhou as manchetes da imprensa mundial nesta segunda-feira,
20 de setembro. O excesso de endividamento da empresa – que tem mais de
US$ 300 bilhões em débitos abertos – acendeu o sinal de alerta dos
investidores, preocupados com o possível contágio na economia global,
uma vez que o setor imobiliário representa 25% da segunda maior economia
do mundo.
A Evergrande é uma empresa focada em vender imóveis antes que estes
fiquem prontos, o que costuma resultar em endividamento para bancar a
construção, enquanto a sua receita vem dos pagamentos feitos por
compradores que também tomaram empréstimos.
A companhia, fundada em 1996, cresceu favorecida pela cultura dos
chineses de investir em imóveis. De todas as residências vendidas na
China, 80% são para quem está comprando, pelo menos, o segundo imóvel.
Isso levou a especulações e a preços mais altos, inviáveis para a classe
média. De olho nisso, o governo chinês tem agido para conter o mercado
especulativo e reduzir os preços, o que afeta empresas como a
Evergrande.
Os problemas da companhia começaram a ficar evidentes em agosto do
ano passado, quando os executivos pediram socorro financeiro às
autoridades, pois não teriam recursos para pagar as dívidas que venciam
em janeiro. A situação, porém, não melhorou desde então e o mercado teme
que a companhia quebre e isso gere uma onda de calotes. Nesta segunda, a
ação da empresa, listada em Hong Kong, caiu 10%.
Entre investidores, tem sido inevitável lembrar do Lehman Brothers, o
banco americano que quebrou em 2008 e deu início à crise financeira
internacional daquele ano. Há quem considere que a comparação seja
exagerada.
“Não é caso de pensar no Lehman Brothers. É algo que vai desacelerar
ainda mais o crescimento da China, o que afeta mercados emergentes e
afeta o Brasil”, disse, ao NeoFeed, Ruy Alves, gestor
de ativos macro globais da Kinea Investimentos, casa de gestão de fundos
ligada ao grupo Itaú e que administra R$ 57,2 bilhões em ativos.
Para ele, trata-se de mais um elemento complicador para o já difícil
cenário para o Brasil em 2022 e reforça a necessidade de buscar
investimentos em empresas “defensivas”, pouco relacionadas ao
crescimento econômico brasileiro. Acompanhe a entrevista a seguir:
O quão preocupante é a situação da Evergrande para os mercados?
O setor imobiliário representa 25% do PIB da China e há forte cultura
local para investir em imóveis. De todos os imóveis vendidos na China,
80% não são para um primeiro comprador. São pessoas que compram, não
alugam e fecham a casa. Isso começou a gerar uma bolha que foi crescendo
enormemente, elevando os preços, fazendo com que muitas pessoas não
conseguissem comprar a casa. A Evergrande é muito focada em vendas
feitas antes de a casa ficar pronta e tem um estoque que é duas vezes
maior que as vendas anuais dos Estados Unidos. O governo chinês, então,
começou uma política para limitar a especulação e diminuir os preços,
para que os imóveis sejam para viver e não para investir, para que as
pessoas de renda média pudessem comprar casas. A Evergrande, que parece
que vai quebrar, precisa vender ativos para honrar compromissos. Isso
deixa todo o sistema apreensivo.
Mas é o caso de pensar em uma crise como a de 2008, gerada pela quebra do Lehman Brothers?
Não é o caso de pensar em Lehman Brothers. É algo que vai desacelerar
ainda mais o crescimento da China, o que afeta mercados emergentes e
afeta o Brasil. Os emergentes vão crescer menos e os investidores vão se
perguntar: por que eu vou tirar meu dinheiro dos EUA para colocar em
emergentes, se os emergentes vão crescer menos, uma vez que se investe
em emergentes para ter retorno maior?
Então, não será o caso de uma nova quebradeira global?
Está na mão de Pequim. O Partido não vai deixar quebrar o setor inteiro.
Pequim não é suicida. O Partido quer aplicar uma lição, como estão
fazendo também com as empresas do setor de tecnologia. Em algum momento,
eles vão entrar para controlar a situação. Nada diz que Pequim não pode
errar a mão, mas isso não está no nosso cenário-base.
E qual o efeito disso para o Brasil? Que setores serão mais afetados?
O Brasil saiu de uma situação muito frouxa do ponto de vista monetário e
vai para um cenário de juro real positivo no fim desse ano. Além disso,
no aspecto social, com o fim do auxílio emergencial, só vai ter o Bolsa
Família no ano que vem, em um cenário de desemprego muito alto e uma
eleição difícil. E não vai haver um controle do arcabouço fiscal durante
a eleição. Só depois. Então, já tem muita coisa no preço. Já estava
difícil se comprometer com posições estruturais no Brasil.
Mas a situação na China piora o que já estava ruim?
Vamos ter menos crescimento. E já está piorando. O preço do minério de
ferro saiu de US$ 220 para US$ 90. Um dos grandes afetados será o
agronegócio, com uma demanda menor por commodities. A China, por
exemplo, é quem compra o nosso milho.
É para fugir de ações ligadas a commodities, então?
Eu não vou dizer de onde é para fugir, mas sim onde é para estar. No
momento, o ideal é procurar empresas defensivas, que pouco dependem do
crescimento econômico do Brasil. Nós, por exemplo, estamos comprados em
empresas como Hapvida, Assaí e Porto Seguro. Não estamos com uma visão
estruturalmente positiva para a Bolsa brasileira. Dos investimentos de
risco nos nossos fundos multimercado, só 20% estão no Brasil. Os outros
80% estão no exterior.
Mas essa perspectiva de crescimento menor pode ser positiva para a inflação?
Sim. Estamos sem crescimento, com fiscal e monetário mais apertados e
com o ambiente político incerto. Por enquanto, a inflação deve continuar
subindo, mas em dois anos deve convergir para a meta. Além disso,
grande parte da alta da inflação se deve a alimentos, e as commodities
estão começando a ceder. Mas, para ter juros mais baixos, não precisa só
de inflação. É preciso também mais conforto fiscal no País.
A consultoria de Vicente Falconi renova seu conselho,
estrutura um corporate venture capital e vai criar duas novas
companhias: uma de segurança digital e outra para atender pequenas
empresas
Ao longo dos anos, o consultor Vicente Falconi
ganhou fama e clientes com o método de gestão PDCA (do inglês Plan, Do,
Check, Act). Em seis décadas de carreira, o professor, como é mais
conhecido, colecionou pupilos do calibre de Jorge Paulo Lemann, Jorge Gerdau e Roberto Setubal e consagrou a Ambev, a maior cervejaria do Brasil, como um modelo de eficiência.
Agora, isso parece não ser mais suficiente para fazer a consultoria
que leva o seu nome a seguir crescendo em meio um mercado de consultoria
que resolveu trilhar outros caminhos além da gestão pura e simples.
“Num futuro próximo, nossa concorrência virá de produtos e serviços
tecnológicos, não de consultorias tradicionais”, diz Viviane Martins,
CEO da Falconi, ao NeoFeed.
Para enfrentar esse novo cenário, a Falconi está mergulhando de
cabeça em conceitos como inteligência artificial e big data. A adaptação
a esse contexto envolve ainda a renovação no seu board, a criação de
novos e futuros spin-offs, um corporate venture capital e produtos e
serviços digitais vendidos como assinatura.
“Antes, a Falconi entendia que o seu método resolvia tudo”, diz um
executivo do setor. “Hoje, a companhia está buscando parcerias onde não
tem expertise, inclusive com empresas que, em algum momento, possam ser
suas rivais.”
Para essa fonte, o modelo que a Falconi está perseguindo, com boa
dose de tecnologia embarcada, está mais em linha com a nova realidade do
mercado de consultoria e com a proposta de rivais como americanas Accenture e McKinsey.
“A McKinsey deixou de pensar só no planejamento e partiu também para a
execução. E a Accenture passou a investir mais na transformação
cultural”, afirma outra fonte do setor. “A Falconi está alguns passos
atrás, mas também está seguindo esse caminho, pois percebeu que o
argumento anterior de sucesso com empresas como a Ambev já não era
suficiente.”
Um exemplo dessa nova postura da Falconi aconteceu com a renovação do
board. No fim de abril, três novos membros se juntaram a Vicente
Falconi, Márcio Fróes e Silvio Morais no Conselho de Administração da
Falconi. Todos eles, donos de uma extensa bagagem nos campos que
interessam agora à consultoria.
Um dos assentos passou a ser ocupado por Guga Stocco. Cofundador da gestora Domo Invest e da empresa de capital de risco Futurum Capital, ele tem passagens pelas áreas de inovação e tecnologia de empresas como Buscapé, Banco Original e Microsoft.
Outra integrante é Mônica de Carvalho, que já ocupou cargos de
liderança em empresas como DM9DDB e, há 7 anos, é diretora de negócios
do Google. Professor emérito do departamento de Ciência da Computação da
UFMG, Nivio Ziviani completa o trio.
“O Guga tem um olhar de modelos de negócios de base tecnológica e
crescimento exponencial”, diz Viviane. “A Mônica traz um ângulo de dados
e também de marketing. E o Nivio é uma das grandes referências em
inteligência artificial no País.”
A maneira de se relacionar com as startups também mudou. Hoje, a
consultoria tem mais de 300 delas mapeadas. A cada projeto que
desenvolve, a empresa identifica se há alguma solução criada por esse
ecossistema que possa encurtar a obtenção de resultados naquele cliente.
Para a Falconi, um dos ganhos dessa equação é a agilidade. Antes, um
projeto durava de 12 a 15 meses, em média. Hoje, leva de 4 a 5 meses.
Para as startups, a empresa já gerou uma receita de mais de R$ 43
milhões e plugou essas ofertas em cerca de 90 projetos.
Outra tendência que vem de consultorias internacionais que a Falconi
está abraçando é a formação de veículos de investimentos em startups e
empresas de outros setores. A americana Bain & Company, nome
tradicional do setor, é uma das consultorias que usa esse expediente,
por meio dos braços Bain Capital e Bain Capital Ventures.
A Falconi está também estruturando o seu veículo de corporate venture
capital que, a princípio, terá 10% do lucro líquido anual da empresa
reservado para os seus investimentos.
Em 2020, a Falconi reportou um lucro líquido de R$ 44,4 milhões,
contra os R$ 45,8 milhões contabilizados em 2019. A receita líquida da
consultoria foi de R$ 261,5 milhões, um recuo diante dos R$ 305,8
milhões apurados um ano antes.
“Nossa tese é encontrar empresas que tenham um diferencial em
tecnologia e inteligência artificial”, afirma Viviane. “Serão cheques
pequenos e a ideia é buscar investimentos conectados ao desenvolvimento a
quatro mãos.”
O pontapé dessa estratégia está sendo dado com dois aportes – de
valor não revelado. O primeiro deles, na Innovation Intelligence,
startup do Vale do Silício especializada em big data e deep learning. O
segundo, na brasileira H:Data, healthtech dona de uma plataforma de
dados e de gestão hospitalar.
Spin-offs à vista
O corporate venture capital dá sequência a uma estratégia iniciada em
2019, com a criação da gestora de private equity Falconi Capital. Esse
braço tem foco em empresas mais maduras de segmentos como educação,
alimentos, cosméticos e cibersegurança.
É a partir de um investimento neste último setor que a Falconi está
criando mais um spin-off. No fim do ano, a Falconi vai lançar uma
empresa de serviços de segurança da informação, ainda sem nome definido,
em parceria com a GC Security, que recebeu um aporte da Falconi Capital
no início de 2020.
Em um segundo projeto, a consultoria programa para março de 2022 o
lançamento da Step 1, unidade que irá atender pequenas empresas, com
faturamento anual de R$ 350 mil a R$ 10 milhões, por meio de um modelo
100% digital.
A divisão nasce dentro da estrutura da Falconi, mas a ideia é que
siga o mesmo caminho da FRST, edtech lançada em 2020 e que foi o
primeiro spin-off da consultoria, dentro da estratégia de investir em
novos modelos de negócio.
Ainda em 2020, uma segunda iniciativa nessa direção veio com a MID,
unidade de consultoria para médias empresas, com receita anual entre R$
10 milhões e R$ 300 milhões, e que já tem mais de 100 clientes e que
deve ter uma no México, no primeiro semestre de 2022.
É também nesse intervalo que a Falconi prevê colocar no mercado outra
iniciativa, batizada provisoriamente de Falconi Brain. O projeto talvez
seja aquele que melhor ilustra o encontro entre o modelo tradicional e
os novos ingredientes da consultoria.
Hoje, os mais de 600 consultores da operação dividem espaço com uma
recém-formada equipe de ciência de dados e de inteligência artificial. E
com um pacote de algoritmos que está sendo desenvolvido por esse time,
composto por 25 profissionais e em expansão.
Esses algoritmos serão alimentados pelo conhecimento acumulado pela
Falconi em mais de 6 mil projetos. A ideia é oferecer aplicações
baseadas nesses e em outros dados, especializadas em segmentos da
economia e que serão vendidas como serviço, por meio de assinaturas.
O primeiro fruto é um algoritmo para o agronegócio, focado em ampliar
a produtividade no cultivo de soja e de milho. A aplicação foi testada
em um projeto-piloto com 1,6 mil produtores.
“Agora, além dos projetos, vamos ter serviços e produtos digitais,
com receita recorrente”, diz Viviane. “E a inteligência artificial vai
ser o motor por trás dessa jornada, além de ajudar o trabalho dos
próprios consultores.”
Para uma fonte do mercado de consultorias ouvida pelo NeoFeed, é justamente no equilíbrio entre o passado e o futuro que reside o maior desafio para a transformação da Falconi.
“O board já está mais diverso e alinhado com os novos tempos. Em
contrapartida, ainda carece de uma participação maior dos consultores,
que entendem, de fato, desse mercado”, diz essa fonte. “Entretanto,
ainda há consultores presos às tradições e que podem tornar essa
reinvenção muito mais lenta.”
O desafio da Falconi, que durante seis décadas reestruturou as
maiores empresas brasileiras, é fazer a lição de casa em si mesmo. E
provar que em casa de ferreiro, espeto não é de pau.