terça-feira, 31 de outubro de 2023

Desemprego cai a 7,7%, com recorde de trabalhadores ocupados no país, diz IBGE


Desemprego cai a 7,7%, com recorde de trabalhadores ocupados no país, diz IBGE

Outro dado positivo foi sobre o salário brasileiro: o rendimento real habitual (R$ 2.982) cresceu 1,7% no trimestre e 4,2% no ano. (Crédito: Marcelo Camargo / Agência Brasil)

 

A taxa de desocupação no Brasil caiu a 7,7% no trimestre encerrado em setembro de 2023, disse o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) indicou que a queda foi de 0,4 ponto percentual (p.p.) frente ao trimestre de abril a junho de 2023 (8,0%). Esse foi o menor patamar registrado desde fevereiro de 2015 (7,5%), com recorde de pessoas trabalhando.

Foram menos 331 mil pessoas em regime de desocupação, ficando em 8,3 milhões e representando um recuo de 3,8% na taxa. Considerando os últimos 12 meses, são menos 1 milhão de pessoas desocupadas.

Ainda segundo o IBGE, a taxa composta de subutilização (17,6%) ficou estável no trimestre (17,8%) e caiu 2,5 p.p. ante o mesmo trimestre de 2022 (20,1%). Foi a menor taxa desde o trimestre encerrado em dezembro de 2015 (17,4%). A população subutilizada (20,1 milhões de pessoas) ficou estável no trimestre e recuou 14,0% frente ao mesmo período de 2022.

Outro dado positivo foi sobre o salário brasileiro: o rendimento real habitual (R$ 2.982) cresceu 1,7% no trimestre e 4,2% no ano.

 

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Desestatização da Eletrobras foi ‘mal feita’, diz vice-presidente do TCU

O vice-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro Vital do Rêgo, avaliou nesta segunda-feira, 30, que a desestatização da Eletrobras foi “mal feita”. Porém destacou que o tribunal não participa das decisões do governo.

“Não questiono a desestatização. O TCU acompanha o processo de desestatização”, apontou Vital do Rêgo, participante nesta segunda-feira do Fórum BNDES de Direito e Desenvolvimento, na sede do banco de fomento, na região central do Rio. “O que me interessa é dizer se ela (desestatização) foi mal feita ou foi bem feita.”

Ele frisou que o tribunal cumpre metas e prazos em suas avaliações. “Temos prazo para entregar relatório pronto, 90 dias.”

Segundo ele, TCU já tem votos para ser chefe de auditoria da ONU.

Também participante do evento no Rio, o advogado-geral da União, Jorge Messias, disse que, no governo anterior, houve uma redução irracional do tamanho do Estado brasileiro. De acordo com o advogado-geral da União, há dois tipos de risco no desafio de desenvolvimento: de um lado, apostar tudo numa aceleração, sem levar em conta as consequências e de outro a precaução absoluta, sacrificando o desenvolvimento.

“O governo anterior trouxe ambos os riscos e ainda favoreceu uma ampla agenda de degradação ambiental”, afirmou Messias. “Por isso, o Brasil tem um desafio ainda maior que o de outros países.”

Ele criticou ainda o processo de privatização conduzido no governo de Jair Bolsonaro, chamando a iniciativa de “no mínimo questionável”, e citou a Eletrobras: “não vamos abrir mão do papel da propriedade da União naquela empresa”.

Segundo Messias, o desafio que o governo federal enfrenta atualmente “não é trivial”, por ser um governo de união e de reconstrução.

Os riscos do caminho para o desenvolvimento, comentou, podem ser gerenciados a partir de uma estratégia política. “Hoje conseguimos apontar o caminho de ressignificação do papel de estado”, disse Messias. “Porque conseguimos nessa perspectiva fazer algo muito importante, resgatar a política como local nobre de resolução de conflitos.”

Para ele, a condução das empresas estatais deve ser realizada em linha com os anseios da maior parte da população, inclusive nas empresas estatais.

Messias reforçou ainda o papel da Advocacia-Geral da União para eliminar a insegurança jurídica, citando medidas da atual gestão para reduzir o estoque de processos aguardando apreciação. “A litigância é irmã gêmea da insegurança jurídica.”


BNDES firma acordos com STF e CNJ por segurança jurídica e redução de litígios no País

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assinou nesta segunda-feira, 30, um acordo com o Supremo Tribunal Federal (STF) que lança o Fórum BNDES de Direito e Desenvolvimento. Segundo o banco de fomento, o objetivo do Fórum “é fomentar o debate público sobre o papel das instituições jurídicas na efetivação do objetivo constitucional do desenvolvimento”.

O BNDES anunciou também a primeira pesquisa jurídica apoiada pelo seu Fundo de Estruturação de Projetos, que será realizada em parceria com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Segundo o ministro Luís Roberto Barroso, serão conduzidos estudos com objetivo de aumentar a segurança jurídica e reduzir o número de litígios em tribunais superiores.

“Estamos firmando hoje com o BNDES um acordo muito importante de pesquisas para aferir por que no Brasil temos essa litigiosidade tão grande, creio que seja a maior do mundo”, disse Barroso, durante a cerimônia de lançamento do Fórum BNDES de Direito e Desenvolvimento, na sede do banco de fomento, no Rio de Janeiro.

O presidente do Supremo indicou que será feita uma pesquisa nacional, para identificar as causas do excesso de litígios, mas também internacional, para descobrir como o assunto é tratado em outros países.

Para o presidente do banco, Aloizio Mercadante, o Brasil tem uma janela de oportunidade em diversas frentes, mas precisa de segurança jurídica para que possa aproveitá-las.

“Faremos estudos para buscar uma cultura de conciliação, de arbitragem e reduzir custo jurídico e temporal da litigância que temos”, contou Mercadante.

Os acordos foram firmados durante a cerimônia por Mercadante e Barroso, assim como pela secretária-geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Adriana Cruz, pelo diretor de Compliance e Riscos do BNDES, Luiz Augusto Fraga Navarro de Britto Filho, e pelo diretor Jurídico do BNDES, Walter Baère.

A presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministra Maria Thereza de Assis Moura, lembrou que o judiciário está num processo de busca de maior eficiência no sistema processual. Ela defendeu a adoção do filtro de relevância para tentar corrigir o excesso de recursos que chegam à instância superior.

“Não há corte superior no mundo que consiga garantir segurança jurídica com esse volume de demanda”, defendeu a presidente do STJ.

Durante a cerimônia, foi realizada ainda uma homenagem ao ministro aposentado do STF Ricardo Lewandowski.

“O desenvolvimento humano é um direito”, discursou Lewandowski, lembrando que está previsto em diferentes tratados internacionais e na própria Constituição brasileira.

 

Reforma tributária vai impulsionar as exportações de carne, diz Alckmin


Reforma tributária vai impulsionar as exportações de carne, diz Alckmin

Segundo vice-presidente da República, a reforma tributária vai ajudar, porque vai desonerar completamente a exportação e o investimento. (Crédito: Lula Marques/Agência Brasil)

O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, disse que a reforma tributária vai favorecer as exportações de proteína animal. Na inauguração de uma planta da JBS em Rolândia (PR), na sexta-feira, 27, ele também defendeu a diversificação das exportações brasileiras.

“Ao invés de exportar só a soja, exportar o frango e outros produtos para agregar valor e conquistar o mercado. A ereforma tributária vai ajudar, porque vai desonerar completamente a exportação e o investimento”, afirmou a solenidade. “O arcabouço fiscal também pode ajudar, porque reduz os juros que estão em queda. O câmbio também, que se mostra competitivo”, afirmou.

Na visita às instalações, Alckmin destacou ações de sustentabilidade na agroindústria e falou sobre a geração de empregos na região.

“Estamos vendo a neoindustrialização com tecnologia de ponta de um lado, e iniciativas sustentáveis do outro, desde os caminhões elétricos às fontes de energia renovável. Além disso, teremos impactos na geração de empregos no setor primário, indústria e serviços, porque vem muita gente da cidade”, disse.

 

Boletim Focus: projeção para Selic no fim de 2024 passa de 9,00% para 9,25% ao ano

Projeção do Boletim Focus para Selic no fim de 2024 passa de 9,00% para 9,25% ao ano

Já a expectativa para taxa Selic no fim de 2023 foi mantida em 11,75% ao ano pela 12ª semana consecutiva no Boletim Focus. (Crédito: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)

 

Na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o mercado mudou a mediana para a expectativa de Selic terminal no atual ciclo de flexibilização, de 9,00% para 9,25% ao fim de 2024, aponta o Boletim Focus nesta segunda-feira, 30. Há um mês, a estimativa era de 9,00%. Com a piora do cenário externo e com dúvidas sobre o fiscal, os economistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central passaram a estimar um corte a menos na taxa básica de juros no próximo ano.

Já a expectativa para taxa Selic no fim de 2023 foi mantida em 11,75% ao ano pela 12ª semana consecutiva no Boletim Focus. A expectativa segue a sinalização mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom) de que o ritmo de corte de 0,50 ponto porcentual é o mais apropriado para as próximas reuniões. O colegiado só se reúne mais duas vezes este ano: nesta semana e em dezembro. Atualmente, após duas quedas, o juro básico da economia está em 12,75% ao ano.

Considerando apenas as 92 respostas dos últimos cinco dias úteis, a mediana para o fim de 2023 também continuou em 11,75%. Para o fim de 2024, também passou de 9,00% para 9,25%, com 92 atualizações na última semana.

No encontro de setembro, o Copom repetiu que antevê redução de 0,50 ponto porcentual da taxa Selic nas próximas reuniões e que seria o ritmo apropriado para “manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”. Na coletiva de imprensa do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, acrescentou que a “barra” para acelerar ou reduzir o passo de corte está ligeiramente mais alta, sobretudo com os novos riscos derivados do cenário externo.

Os membros do Copom afirmaram ainda que, dado o momento de grandes incertezas, não há ganhos em adiantar o tamanho do ciclo de cortes, mas reforçaram que será o necessário para garantir a convergência da inflação à meta.

No Boletim Focus, a projeção para a Selic no fim de 2025 também aumentou, de 8,50% para 8,75%. Um mês antes, era de 8,50%. Para 2026, a projeção continuou em 8,50%, mesma mediana de quatro semanas atrás.

 

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

JBS inaugura duas fábricas de processados de frango no Paraná, com investimento de R$ 1 bilhão

Logo JBS – Logos PNG

Com investimento de R$ 1 bilhão, a JBS vai inaugurar nesta sexta-feira, 27, duas fábricas destinadas à produção de empanados de frango e de salsichas da marca Seara, no complexo industrial de Rolândia (PR). As novas unidades fazem parte do plano de investimentos de R$ 8 bilhões anunciado pela empresa em 2019. De acordo com o CEO da JBS, Gilberto Tomazoni, as unidades “refletem o foco absoluto em qualidade superior por meio de inovações e crescimento no mercado”, disse ele ao Broadcast Agro.

A expansão, segundo o executivo, é parte do plano de fortalecimento da posição da companhia em produtos de alto valor agregado, a fim de expandir a plataforma multiproteínas da empresa, que resultou também na aquisição de marcas nos mercados europeu e norte-americano, além da construção de uma fábrica de especialidades italianas da Principe, em Missouri, nos Estados Unidos.

Com a inauguração das duas unidades, o centro fabril do Paraná permitirá à Seara avançar em sua estratégia de expansão em produtos de maior valor agregado, em particular no segmento de empanados de frango. Hoje, a Seara – que é o braço de suínos e aves da JBS – já detém mais de 30% de participação de mercado brasileiro de cortes de frango, segundo pesquisa do Instituto Kantar. “A Seara não tinha disponibilidade de alguns produtos processados. O grande objetivo é aumentar a capacidade da empresa”, disse Tomazoni.

Para o CEO da JBS, a tecnologia da fábrica também permitirá que a companhia industrialize produtos até agora indisponíveis no mercado doméstico. “Colocamos uma camada adicional de valor na nossa produção”, disse. Segundo Tomazoni, a penetração de empanados de frango nos lares brasileiros ainda é baixa, com cerca de 30%, quando comparada a mercados como Reino Unido (66%) e Estados Unidos (54%).

Nesta nova etapa, a empresa pretende mudar de patamar no mercado de salsichas de frango, inicialmente com a oferta de uma linha do produto. “Esse é um mercado com alta penetração no Brasil, queremos agregar qualidade tanto na marca quanto na embalagem, com ofertas para os ‘dogueiros'”, disse ao Broadcast Agro o CEO da Seara, João Campos. A nova fábrica também tem estrutura de processamento a partir de outras proteínas animais.

“Quando falamos das marcas, temos um foco muito grande no consumo para fazer as mudanças. O brasileiro adora empanados, o mercado não crescia tanto porque a oferta não fazia jus ao que o consumidor demandava”, comentou. De acordo com Campos, a capacidade das plantas será ampliada conforme os indicativos do consumidor, seguindo os diferenciais já presentes nos produtos da empresa como inovação, qualidade e sabor.

A nova planta destinada à produção do embutido será a mais automatizada da Seara no Brasil e uma das mais modernas da JBS no mundo, compatível com padrões globais de segurança sanitária, garante a empresa. De acordo com a JBS, a fábrica terá o segundo maior forno de cozimento e defumação de salsichas do mundo (o primeiro fica na Romênia) e contará com robôs para as esteiras de produção e de embalagem. A fábrica também já nasce com protocolos de sustentabilidade, como coleta de águas pluviais e utilização de veículos elétricos para trânsito interno.

Antes das novas fábricas, o complexo industrial abrigava cerca de 3.800 colaboradores. A planta tem capacidade para expansão, contemplando mais cinco linhas de empanados e duas de salsicha. Essa ampliação será definida de acordo com o crescimento do negócio e a demanda de mercado. Quando isso ocorrer, a unidade poderá chegar a 6 mil funcionários. O plano, afirma o CEO da Seara, é “aumentar o portfólio e desafiar o mercado a crescer nesse segmento, como já estamos fazendo com os empanados de frango. Tudo isso graças à alta tecnologia embarcada nessa planta”, disse Campos.

Com essas etapas de expansão do complexo realizadas em 2023, já estão em operação três linhas de produção, sendo duas de empanados e uma de salsicha, acrescentando 700 novos empregos.

 

"Longe do ideal, reforma tributária é melhoria substancial"


Em entrevista à DW, Edmar Bacha destaca importância desta reforma para a economia brasileira. Mudança deve trazer mais arrecadação a médio prazo e longo prazo.Longe de ser ideal pelo volume de reduções ou isenções de alíquotas, a reforma tributária poderá representar “melhoria substancial” na tributação do consumo no país, caso o parecer do relator seja acolhido no Senado. A avaliação é do economista Edmar Bacha, um dos formuladores do Plano Real, sobre o relatório da reforma apresentado nesta quarta-feira (25/10) pelo senador Eduardo Braga (MDB/AM).

“Gostei especialmente da determinação que todas as isenções sejam submetidas a cada cinco anos a uma avaliação de custo-benefício, podendo ser reduzidas ou eliminadas”, disse o economista à DW.

Para Bacha, a reforma tributária teria o potencial de impactar a economia nacional de maneira semelhante ao Plano Real, caso não tivesse sido modificada com a inclusão de jabutis – regras alheias à proposta original – durante a tramitação na Câmara dos Deputados. O plano econômico, adotado na década de 1990, foi um marco no combate à inflação, estabilizou a economia e criou condições positivas para a atividade e o investimento.

A previsão é que a proposta do relatório seja votada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado na primeira semana de novembro e então seguirá para a avaliação do plenário.

A reforma unifica a legislação tributária e transforma cinco tributos (ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins) em três: o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e o Imposto Seletivo. Cada um terá um período de transição para entrar em vigor.

Em entrevista à DW, Bacha comentou ainda a evolução da economia brasileira este ano, a situação fiscal e a fragilidade do ambiente externo, com as guerras em curso e o turbulento processo eleitoral argentino.

DW: Que eixos devem ser encarados pelo governo para um arranjo econômico melhor para o país?

Edmar Bacha: A coisa mais importante é reforma tributária. A reforma tributária, da maneira como foi concebida inicialmente, poderia ter um impacto sobre a economia brasileira parecido com o que o Plano Real teve. Uma unificação dos impostos, simplificação tributária, tarifa única para todos os produtos, bens e serviços. Isso seria extraordinário porque a complexidade do sistema tributário sobre o consumo no Brasil é extraordinária. As firmas têm de criar sistemas contábeis complexos. Têm de estar permanentemente acionando o governo. A quantidade de disputas policiais tributárias que existem no Brasil é sem paralelo no mundo.

Como avalia a tramitação na Câmara?

Resolver esse problema seria uma maravilha, mas para isso é preciso haver uma unificação. Em parte, porque o presidente Lula não se empenhou e em parte porque o Arthur Lira [presidente da Câmara dos Deputados] queria mandar a coisa para a frente. De qualquer jeito, criaram uma proposta que foi aprovada na Câmara com uma centena de jabutis, que distorcem totalmente a ideia inicial dessa simplificação e unificação dos impostos. Então, agora, a expectativa seria uma recomposição da proposta original no Senado. Mas para isso é preciso que o governo esteja lá dentro.

Como avalia o relatório da reforma tributária apresentado pelo senador Eduardo Braga?

Numa primeira e rápida leitura me parece que o parecer, embora longe do ideal dado o número de exceções ao tributo padrão, se acolhido representaria uma substancial melhoria em relação ao atual sistema de tributação do consumo. Gostei especialmente da determinação que todas as isenções sejam submetidas a cada cinco anos a uma avaliação de custo-benefício, podendo ser reduzidas ou eliminadas por legislação infraconstitucional.

Quais as expectativas de médio e longo prazo com a reforma?

Essa reforma tributária do consumo não necessariamente vai gerar a curto prazo aumento de impostos. A médio prazo e longo prazo sim, não porque aumenta a carga tributária, mas porque aumenta o PIB. Aumentando o PIB, aumenta a arrecadação. Então um eixo fundamental que falta seria concentrar esforços para uma reforma tributária de consumo de primeiro mundo, como era na proposta original. Agora para poder fazer isso, é preciso cuidar da segunda parte, que é a redução do gasto. Porque senão o déficit aumenta, mas aí o governo fica concentrando esforços em outras coisas para aumentar a receita. Essa é uma questão central que precisaria ser remediada.

Este ano a economia avançou de alguma forma e que desafios existem?

Em geral, podemos dizer que a economia está se comportando melhor do que os economistas prediziam no começo do ano, dado especificamente o fato de o Congresso ser dominado pelo Centrão e o governo do PT ser muito ainda dentro de lógica estatal protecionista e muito pouco reformista, como o Brasil precisa. Então, havia essa perspectiva de que a maneira de conciliar o nacional estatismo do lulo-petismo com a voracidade do Congresso, do Centrão, seria gastar mais. E isso oferecendo uma perspectiva muito ruim, em termos não somente fiscal, mas do crescimento da dívida e da necessidade de o Banco Central manter juros reais muito altos por muito tempo.

E como foi a evolução?

Comparado com essa perspectiva, estamos indo melhor do que se esperava. Apesar de o Centrão estar basicamente sob o controle de Arthur Lira. Por um lado, tem esse lado fisiológico, mas por outro também tem uma certa preocupação com a situação fiscal. De fato, o controle da situação fiscal está na mão do ministro da Fazenda, o Fernando Haddad, que é uma pessoa muito sensata. E, nesse sentido, as coisas estão melhores do que a gente previa.

Ele faz um bom trabalho?

Com certeza. O problema do Haddad, nem é a oposição. O problema do Haddad é o ‘fogo amigo' e a dificuldade de lidar com essa voracidade característica tanto do Centrão quanto essa visão ideológica do PT, sintetizada anos atrás pela ex-presidente Dilma Rousseff de que “gasto é vida”. Essa ideia de que o país vai para frente se o governo gastar mais. Ele está tratando de lidar com essa situação. Agora, a questão fiscal brasileira continua fundamentalmente em aberto. O que preocupa? Há a discussão sobre a dificuldade de cumprir os superávits fiscais previstos estes dois anos.

Visto de hoje, é praticamente impossível cumprir a meta fiscal. Porque o governo insiste em gastar mais, se recusa a considerar propostas de reforma administrativa, reforma previdenciária, prosseguir no programa de privatizações, que poderiam reduzir o gasto. E fica nessa crença de que, entre aspas, taxando os ricos eles vão conseguir tapar o buraco. Nós sabemos, obviamente, que a taxação dos fundos offshore, dos fundos fechados, é mais do que devida. Mas ela não vai gerar os recursos suficientes no nível que o governo necessita para cumprir as metas fiscais.

Na perspectiva da arrecadação, um crescimento maior ou alguma medida poderia beneficiar o atingimento das metas?

O problema é aonde que vai sair o crescimento. Este ano está surpreendendo, não é? Mas o ambiente externo está muito ruim. Há mais uma guerra no mundo, como se não bastasse a Ucrânia ser invadida pela Rússia. A tensão contínua entre a China e os Estados Unidos. O ambiente externo está muito frágil.

E localmente, na nossa região, as eleições na Argentina, enfim, estão totalmente turbulentas. Tudo indica que a Argentina vai entrar numa hiperinflação. O que será péssimo para eles, mas muito ruim também para o Brasil. Nessas circunstâncias, era preciso um pouco mais de tranquilidade. E fazer uma revisão dos gastos para assegurar que o Brasil mantenha alguma perspectiva de continuado acesso ao mercado internacional tanto de bens quanto de capital.

Acredita que a Argentina precisará passar por uma experiência de extrema direita, como o Brasil passou?

Acho que não é uma questão de extrema direita. É questão de como a Argentina vai conseguir lidar com essa inflação galopante. E com uma defasagem, já deve estar até mais 150%, o dólar blue [cotação paralela] deve estar chegando a quase mil pesos. E acelerando, com a perspectiva de Javier Milei ameaçando fazer uma dolarização imediata. A Argentina tem reservas internacionais negativas e isso só pode ser feito se liquidar o valor do peso, ou seja, se houver uma hiperinflação, que será extremamente penosa, especialmente para as classes mais baixas da Argentina. Os trabalhadores que não têm acesso a dólares.

A desvalorização, caso feito, seria um novo choque de empobrecimento no país?

Com certeza, mais ainda do que está acontecendo. Quem carrega peso hoje em dia são os trabalhadores, o pessoal mais pobre. Enfim, se você acelerar a inflação, quem vai sofrer, vai ser um sofrimento terrível. Sabe-se lá o que é que vai resultar disso? Enfim, a situação é muito preocupante.