terça-feira, 26 de dezembro de 2023

2023: um ano de virada para as energias renováveis



Nos últimos 12 meses, mundo viu o crescimento da demanda por bombas de calor, energia solar e uma explosão na procura por baterias para a mobilidade elétrica

 

Para os especialistas, o ano de 2023 foi um divisor de águas para o cenário energético global, com fontes renováveis como a solar e a eólica e outras tecnologias inovadoras moldando um futuro mais sustentável.

Os combustíveis fósseis ainda abastecem cerca de 80% das necessidades energéticas do mundo, mas 2023 registrou avanços significativos no uso da energia renovável.

A Agência Internacional de Energia (AIE) reportou que a capacidade global de energia renovável teve o maior crescimento de todos os tempos este ano, chamando o aumento de “sem precedentes”.

Transformação energética

“As energias renováveis estão se tornando cada vez mais baratas. Assim, pela primeira vez, mais investimentos estão sendo voltados para, por exemplo, a energia solar do que para a produção de petróleo“, diz a professora Claudia Kemfert, do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica.

Como resultado, a energia solar superou as expectativas “mais uma vez”, disse Gunnar Luderer, especialista em sistemas de energia do Instituto Potsdam de Pesquisa sobre o Impacto Climático (PIK), da Alemanha.

Segundo previsões, as novas instalações de energia solar em todo o mundo devem atingir este ano uma capacidade total de 400 gigawatts (GW). Em 2022, o aumento foi de 239 GW.

Cerca de 110 GW de energia eólica foi acrescida à rede em 2023, de acordo com a Associação Mundial de Energia Eólica.

Em 2023, também quatro novos reatores nucleares com uma capacidade total de 4 GW foram concluídos, enquanto cinco reatores com uma capacidade de 6 GW foram desativados na Alemanha, na Bélgica e em Taiwan.

Energia solar e eólica barateiam a eletricidade

O custo favorável da eletricidade proveniente de fontes renováveis foi um dos principais motivos por trás do forte crescimento das energias eólica e solar.

A eletricidade produzida por novas turbinas eólicas em terra custou, em média, 3 centavos de euro por quilowatt-hora (kWh) em 2022 em todo o mundo, segundo um relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA).

A eletricidade produzida em grandes parques solares custou 4,5 centavos de euro por kWh – bem mais barato do que os combustíveis fósseis, que custam até 22 centavos de euro por kWh em todo o mundo.

O preço da eletricidade de novas instalações solares continuou a cair nos últimos 12 meses, principalmente porque os sistemas de energia solar se tornaram mais acessíveis. Na Europa, os custos foram 40% menores do que no ano passado.

Placas solares mais baratas

O aumento da produção de placas solares na China foi um dos principais impulsionadores da queda dos preços. De acordo com o site ambiental Carbon Brief, do Reino Unido, o país produziu 600 GW de células solares este ano – 225 GW a mais do que em 2022. Até 2025, esse número poderá chegar a 1.000 GW.

A Índia, os EUA e a União Europeia (UE) também planejam investir mais em grandes fábricas de energia solar. Na Índia, os módulos com uma capacidade anual de 100 GW deverão ser fabricados em 2027, e as empresas da UE começarão a fabricar módulos de 30 GW em 2025.

“Isso está acontecendo mais rápido do que o esperado”, disse Niklas Höhne, do NewClimate Institute, um think tank de Colônia, na Alemanha. “A energia fotovoltaica está sendo expandida com extrema rapidez. E, de fato, tão rapidamente a ponto de se alinhar com a meta de aquecimento [máximo] de 1,5°C [em relação aos níveis pré-industriais].”

Mais veículos elétricos

“O ano de 2023 pode entrar para a história como o ponto de virada para as baterias na transição energética global”, acredita Christian Breyer, professor de economia solar da Universidade Técnica Lappeenranta (LUT), na Finlândia.

As baterias de lítio, cobalto e níquel estão bem estabelecidas, “mas agora as baterias de íons de sódio também estão sendo introduzidas no mercado”, disse Breyer.

O lítio é raro e caro, enquanto o sódio para as novas baterias de íons de sódio é muito mais barato, e o suprimento é praticamente ilimitado, por exemplo, no sal de cozinha.

De acordo com a revista de negócios Clean Thinking, o preço das baterias de sódio já é 40% menor do que o das células de íons de lítio. Entretanto, elas ainda estão nos estágios iniciais de desenvolvimento comercial e atualmente representam menos de 1% das baterias. No futuro, o sódio poderá ser usado principalmente para baterias estacionárias.

Ainda assim, as baterias de íon-lítio comumente usadas estão se tornando mais baratas devido à queda do preço das matérias-primas.

As baterias são cada vez mais usadas em pequenos sistemas solares e em parques solares para armazenar eletricidade barata para uso noturno. Mais baterias também são necessárias à medida que a mobilidade elétrica se expande. A participação dos carros elétricos nas vendas globais de veículos aumentou de 1,6% em 2018 para cerca de 18% em 2023.

Bombas de calor

Também está havendo progresso na tecnologia de aquecimento. De acordo com a AIE, as bombas de calor estão se tornando uma tecnologia fundamental na transição global para o abastecimento do aquecimento sustentável.

“A tecnologia pode ser implantada em grande escala. Muitos países, especialmente na Escandinávia, mostram como a tecnologia funciona bem, mesmo quando faz muito frio, como é o caso da Finlândia”, disse Breyer, da LUT.

Segundo a AIE, as bombas de calor cobrem cerca de 10% da demanda global de aquecimento em edifícios. Em 2022, as vendas da tecnologia aumentaram 11% globalmente e 38% na Europa. Na Alemanha, os números preliminares mostram que as vendas em 2023 aumentaram quase 50% em relação ao ano anterior.

Apesar do crescimento, “os investimentos em bombas de calor estão abaixo do necessário para atingir as metas do Acordo de Paris”, diz Roland Rösch, diretor do Centro de Inovação e Tecnologia da IRENA.

Para manter-se dentro do limite de 1,5°C e evitar mudanças climáticas catastróficas, os atuais 64 bilhões de dólares em financiamento global anual para bombas de calor precisam quadruplicar até 2030, ainda de acordo com a IRENA.


quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Embraer dobra capacidade em centros de serviços nos EUA

 


A unidade de manutenção da Embraer foi responsável por 31,5% da receita total da companhia nos primeiros nove meses de 2023

A unidade de manutenção da Embraer foi responsável por 31,5% da receita total da companhia nos primeiros nove meses de 2023 (Crédito: Arquivo / Agência Brasil)

 

SÃO PAULO (Reuters) –  A Embraer anunciou nesta quarta-feira que está dobrando sua capacidade de manutenção de aeronaves nos Estados Unidos, adicionando instalações em Dallas, Cleveland e Sanford a uma base que já inclui operações no Arizona e na Flórida.

A companhia afirmou em comunicado que os novos centros de manutenção (MRO, na sigla em inglês) serão focados em apoiar “o crescimento contínuo da base de clientes de jatos executivos da companhia”.

A unidade de manutenção da Embraer foi responsável por 31,5% da receita total da companhia nos primeiros nove meses de 2023.

(Por Gabriel Araujo)

Reforma tributária é promulgada; o que foi aprovado e quando passa a valer

 


Reforma tributária é promulgada nesta quarta; o que foi aprovado e quando passa a valer

O texto aprovado é uma mistura entre a versão da Câmara, do relator Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e a versão do Senado, do senador Eduardo Braga (MDB-AM) (Crédito: Zeca Ribeiro / Agência Câmara)

Segue, nesta quarta-feira, 20, para promulgação o texto da PEC 45/2019, que define novas regras sobre tributo via Reforma Tributária. A medida, que fará parte da Constituição, simplifica impostos sobre o consumo, prevê fundos para o desenvolvimento regional e para bancar créditos do ICMS até 2032, e unifica a legislação dos novos tributos. A discussão sobre tributos no país acontece há mais de 30 anos, e deve demorar para que contribuintes vejam as diferenças, já que a transição criada é de 49 anos (2029-2077).

Conforme explica a Agência Câmara, estados e municípios não poderão fixar alíquotas próprias do novo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) inferiores às necessárias para garantir as retenções determinadas durante este período.

reforma unifica cinco tributos para dois: Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) serão unificados em uma Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), do Governo Federal. Já o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e Imposto sobre Serviços (ISS) serão unificados no Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), a cargo de estados e municípios.

O texto aprovado é uma mistura entre a versão da Câmara, do relator Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e a versão do Senado, do senador Eduardo Braga (MDB-AM). Dessa forma, será possível promulgar a proposta sem outra votação.

Cesta básica

Uma das maiores polêmicas, com idas e vindas entre as Casas Legislativas, foi a criação da cesta básica nacional, com tributo zero. Aguarda-se ainda uma lei complementar para definir a lista de ‘itens essenciais para alimentação’, como carne, frango, café, leite, ovos, entre outros.  A cesta deverá considerar a diversidade regional e garantir alimentação saudável e nutricionalmente adequada.

O gás de cozinha e a conta de luz também devem ter diferencial. Segundo a proposta, haverá devolução do tributo pago por estes itens para famílias de baixa renda via cashback, tipo de recompensa pós compras. A porcentagem e como a devolução vai acontecer deve ser definida via lei complementar.

Zona Franca de Manaus

Outro ponto importante foi manter o IPI para os produtos da Zona Franca de Manaus, sendo uma exceção em relação aos produtos das demais regiões, garantindo assim incentivos fiscais.

O texto estabelece ainda outras formas de compensar perdas de arrecadação com a transição para o novo formato, uma dentro do mecanismo de arrecadação do IBS e outra específica para a repartição do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que continuará a incidir apenas sobre produtos fora da ZFM e que sejam produzidos dentro dela também. O objetivo é manter a competitividade dessa área especial de produção.

Alíquota reduzida

Além da cesta básica, outros itens e setores terão alíquota zero ou com tributo em 60% reduzido, além de criação de créditos, tudo a ser definido via lei complementar.

Alíquotas reduzidas em 60% vão incidir sobre serviços de educação, saúde, medicamentos, itens de saúde menstrual, produtos relacionados a higiene e limpeza; setor cultural, esportes, transporte coletivo, entre outros

.Já o tributo zero vai incidir sobre algumas modalidades específicas de transporte, medicamentos e saúde menstrual, podendo se estender para produtos agrícolas e compra de automóveis para passageiros com deficiência.

Micro e pequenas empresas

A PEC 45/19 mantém o Simples Nacional como um regime simplificado e especial de tributação, retirando os tributos que serão extintos e incluindo os novos.

O optante pelo Simples Nacional não poderá aproveitar créditos gerados pelo pagamento unificado previsto no Simples, mas os adquirentes de bens e serviços fornecidos por micro ou pequena empresa poderão fazê-lo, exceto se o optante recolher em separado o IBS e a CBS. O aproveitamento somente poderá ocorrer se o comprador não for optante do Simples.

Imposto do Pecado

A aprovação também prevê criar o Imposto Seletivo, apelidado de “Imposto do pecado”. Será uma cobrança extra sobre bens e serviços que prejudiquem a saúde e o meio ambiente, como cigarros e bebidas alcóolicas, visando desestimular o consumo desses produtos; a cobrança de impostos para quem possui jatinhos e iates e lanches, por meio de IPVA, além de tributar heranças.

A arrecadação será dividida entre estados, municípios e União, e deve compensar o tributo zero da cesta básica nacional.

Com informações da Agência Câmara de Notícias

Embrapa e Mosaic fecham parceria para levar conhecimento técnico ao setor

Busca de Imagens - Portal Embrapa

 

São Paulo, 20 – A Embrapa Pecuária Sudeste e a Mosaic Fertilizantes firmaram acordo de cooperação técnica para intercâmbio de conhecimento técnico e acelerar o processo de transferência de tecnologias. Em nota, o chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Pecuária Sudeste, André Novo, disse que o acesso aos meios digitais para grande parte de agricultores, técnicos e pecuaristas trouxe uma oportunidade de transmitir conhecimento de alta qualidade, baseado em evidências científicas, de forma rápida e customizada aos usuários de produtos tecnológicos.

“O resultado da parceria Embrapa/Mosaic tem justamente o propósito de contribuir para que seja possível alcançar a melhoria de produtividade, eficiência e renda na propriedade, por meio do conhecimento organizado pela pesquisa”, afirmou Novo.

 

Campos Neto: Próximos meses serão fundamentais para consolidação desta melhora dos números

 Roberto Campos Neto: quem é o presidente do Banco Central


O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira, 19, que os primeiros meses de 2024 serão fundamentais para a consolidação da melhora na qualidade dos indicadores econômicos divulgados no Brasil.

Durante encerramento de evento do Correio Braziliense sobre desafios do Brasil em 2024, Campos Neto disse que termina 2023 contente com o trabalho feito pelo BC, citando a inflação em queda, mesmo com a atividade em alta e o mercado de trabalho aquecido – como perseguido pelo BC em seu objetivo de pouso suave.

Mais uma vez, o presidente do BC citou o efeito cumulativo das reformas no potencial de crescimento brasileiro. Ele, no entanto, seguiu pregando serenidade e persecução do equilíbrio fiscal, já que, mesmo com o novo arcabouço das contas públicas, o Brasil mostra uma trajetória de dívida um pouco pior. “É importante manter a comunicação da nossa forma de trabalhar”, declarou.

Segundo Campos Neto, os cortes da Selic têm ajudado o crédito, e apesar de ainda ser o segundo maior do mundo, os juros, em termos reais, estão num dos patamares mais baixos da história do País. A distância da taxa real em relação à neutra, pontuou, pode estar alta para o padrão de economias avançadas, mas é baixa na comparação com outros mercados emergentes.

Entrada no fiscal na pandemia foi coordenada

O presidente do BC disse que alguns países mostram dificuldade na saída dos estímulos fiscais lançados na pandemia, quando um volume sem precedentes foi injetado simultaneamente pelos governos para evitar uma depressão econômica.

“A entrada no fiscal durante a pandemia foi coordenada … Agora vemos países com dificuldade para sair”, comentou Campos Neto.

Ele observou que a dívida americana, que costumava girar entre 20% e 40% do Produto Interno Bruto (PIB), entrou em trajetória explosiva até chegar a 80%, o que aumentou o volume de pagamentos do Tesouro dos Estados Unidos.

“Além de patamar muito alto, ela é bastante explosiva”, disse Campos Neto ao falar sobre a dívida americana. Ele observou que os pagamentos com juros do governo dos Estados Unidos saltaram de US$ 22 bilhões, em outubro do ano passado, para US$ 77 bilhões em igual mês deste ano e deve seguir subindo, para US$ 120 bilhões em 2024.Segundo Campos Neto, o mundo vive um processo de desinflação, ainda que com índices de inflação acima das metas. No entanto, ponderou, o afrouxamento das condições financeiras nos Estados Unidos, de volta ao nível de julho, dificulta o trabalho do Federal Reserve de frear a inflação. E quando os Estados Unidos puxam as condições financeiras, emendou o presidente do BC, o mundo inteiro segue, o que sugere um desafio, sobretudo, aos bancos centrais de economias desenvolvidas.

S&P eleva nota da dívida do Brasil pela primeira vez em 12 anos

Desde então, o país tinha sofrido sucessivos rebaixamentos, tendo perdido o grau de investimento em setembro de 2015


Desde então, o país tinha sofrido sucessivos rebaixamentos, tendo perdido o grau de investimento em setembro de 2015 (Crédito: Arquivo / Agência Brasil)

 

 

Pela primeira vez em 12 anos, a agência de classificação de riscos Standard & Poor’s (S&P) elevou a nota da dívida soberana brasileira. O país saiu da nota BB-, três níveis abaixo do grau de investimento, para a nota BB, dois níveis abaixo. A S&P concedeu perspectiva estável, o que não indica alterações nos próximos meses.

A última vez em que a S&P havia elevado a nota da dívida brasileira tinha sido em 2011, quando o Brasil passou da nota BBB- (grau de investimento, garantia de que o país não dará calote na dívida pública) para BBB (um nível acima do grau de investimento). Desde então, o país tinha sofrido sucessivos rebaixamentos, tendo perdido o grau de investimento em setembro de 2015.

Desde junho deste ano, a S&P tinha indicado que elevaria a classificação do país, ao conceder perspectiva positiva para a nota brasileira.

Em nota, a S&P atribuiu a melhoria da nota brasileira à aprovação da reforma tributária, ocorrida na sexta-feira (15). Segundo a agência, a conclusão das discussões em torno da modernização do sistema tributário brasileiro amplia a trajetória de implementação de políticas pragmáticas no país nos últimos 7 anos.

A S&P, no entanto, adverte que continuam riscos para a economia brasileira, como as perspectivas de fraco crescimento econômico e de situação fiscal “débil”, o que justificou a perspectiva estável para a nota do país. “Isso reflete nossas expectativas de que o país fará progresso lento em enfrentar desequilíbrios fiscais e projeções econômicas ainda fracas, compensadas por uma forte posição externa e uma política monetária que está ajudando a reancorar as expectativas de inflação”, destacou o comunicado.

Desde janeiro de 2018, a S&P Global enquadrava o Brasil três níveis abaixo do grau de investimento, mesma nota concedida pela Fitch, outra das principais agências de classificação de risco. A Moody’s classifica o país dois níveis abaixo do grau de investimento.

Tesouro

Em nota, o Tesouro Nacional informou que a elevação da nota brasileira confirma os esforços do governo federal para reequilibrar as contas públicas e fazer as reformas necessárias para a economia. Segundo o órgão, a melhoria na classificação do país resultará em queda dos juros e aumento do emprego no médio prazo.

“O Ministério da Fazenda reitera seu compromisso com a agenda de reformas em curso, que contribuirá não apenas para o melhor balanço fiscal do governo, mas também levará à redução das taxas de juros e à melhoria das condições de crédito, ao mesmo tempo em que assegurará a estabilidade dos preços. Desta forma, serão criadas as condições para a ampliação dos investimentos públicos e privados e a geração de empregos, aumento da renda e maior eficiência econômica, elementos essenciais para o desenvolvimento econômico e social do país”, destacou o comunicado.

 

* Matéria alterada às 16h52 para acrescentar nota do Tesouro Nacional

 

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Brasil busca reconhecimento internacional para expansão da plataforma continental à procura de minerais raros

 

Em meio a espionagem estrangeira e oportunidades econômicas, Brasil pleiteia junto aos organismos globais o direito da Elevação do Rio Grande 

 

Mineração em águas profunda está sendo cada vez mais considerada como uma solução para escassez de materiais para a transição energética
Mineração em águas profunda está sendo cada vez mais considerada como uma solução para escassez de materiais para a transição energética Divulgação/Marinha do Brasil

Gabriel Garciada CNN

Brasília

Um recente estudo, liderado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), revelou detalhes sobre a antiga ilha tropical conhecida como Elevação do Rio Grande (ERG), atualmente submersa no Atlântico sul.

Segundo os pesquisadores, entre 50 e 40 milhões de anos atrás, partes dessas elevações estavam acima da superfície do oceano, constituindo uma grande ilha vulcânica com clima tropical e, possivelmente, coberta por florestas.

Além do interesse científico, o Brasil almeja reconhecimento internacional para a área, pleiteando junto à Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) a expansão da sua plataforma continental para abranger a ERG.

Isso daria direito ao país de exploração dos recursos minerais e potenciais riquezas presentes no subsolo marinho.

A distância da ERG em relação à costa brasileira, de aproximadamente 1.200 km, ultrapassa as 200 milhas náuticas estabelecidas pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) para a Zona Econômica Exclusiva.

Hoje, o Brasil tem uma concessão para exploração científica sem fins comerciais na região. O país argumenta que a elevação representa uma extensão natural da sua plataforma continental.

O interesse estratégico está na presença de recursos minerais raros, como crostas de ferro-manganês e nódulos polimetálicos, ricos em elementos essenciais para tecnologias modernas, incluindo cobalto, níquel, platina e outros.

Esses elementos são fundamentais na produção de baterias, painéis solares e outras inovações essenciais para a era da energia verde.

Mineração em águas profundas

A mineração em águas profundas, em profundidades de 2.000 metros ou mais, está sendo cada vez mais considerada como uma solução potencial para a esperada escassez global de materiais críticos para a transição energética.

Os nódulos polimetálicos são os elementos mais procurados. Eles estão espalhados no leito marinho, tornando-os relativamente fáceis de coletar com máquinas de dragagem submarinas. Elas extraem os nódulos sugando-os por meio de um tubo e os transportam para uma embarcação na superfície do oceano.

Como toda atividade de mineração, danos para o meio ambiente são considerados certos pelos especialistas.

“O objetivo é explorar, e todos querem que isso seja feito de forma responsável. Não existe exploração mineral sem danos, principalmente em fundo marinho”, declarou Jules Soto, geógrafo e curador geral do Museu Oceanográfico Univali.

Projetos estão em andamento para estudar os ecossistemas do fundo do mar em resposta às descobertas de depósitos minerais e à exploração comercial emergente.

A maioria da mineração em águas profundas é esperada para ocorrer em águas internacionais, onde a soberania e a aplicação de regulamentações depende de acordos internacionais.

A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISBA) tem a responsabilidade de desenvolver regras, regulamentações e procedimentos associados aos minerais do leito marinho.

Até o momento, a ISBA concedeu mais de 30 contratos permitindo a exploração e estudos em cerca de 1,5 milhão de km² de fundo oceânico para mineração em águas profundas.

Oportunidades econômicas

Segundo relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), a demanda por esses minerais está crescendo rapidamente, à medida que as transições para energia limpa ganham ritmo.

“Impulsionado pelo aumento da demanda e pelos altos preços, o tamanho do mercado dos principais minerais de transição energética dobrou nos últimos cinco anos, chegando a US$ 320 bilhões em 2022”, concluiu o relatório.

Além disso, destaca-se a presença de peixes de alto valor comercial na região. Em 2022, as exportações brasileiras de peixe aumentaram 15%, chegando a US$ 23,8 milhões, o maior faturamento da história do setor.

Tensões geopolíticas

Em abril de 2023, a Marinha do Brasil teve que expulsar um navio alemão que fazia pesquisas em águas brasileiras. A embarcação alemã estava posicionada numa região próxima da Elevação do Rio Grande.

Ao ser questionado sobre o fato na comissão das Relações Exteriores e Defesa Nacional na Câmara dos Deputados, o comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, classificou o ato como inadequado.

“Identificamos um comportamento anômalo deste navio, na área da elevação do Rio Grande, um local rico em recursos. Um navio realizar pesquisas em águas jurisdicionais brasileiras é perfeitamente possível desde que faça o protocolo próprio e seja autorizado, isso no caso do navio em questão não foi observado”, disse Olsen.

Após investigação, foi descoberto que o navio fazia pesquisas no subsolo marinho. A embarcação era privada e não pertencia à Marinha alemã.

“Isso mostra a importância de termos um sistema de vigilância denso que seja capaz de detectar não só essa como outras embarcações. Ameaça é tudo que atenta contra os interesses do estado brasileiro”, concluiu.

Atuação do Brasil na Comissão de Limites da Plataforma Continental

A Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) é um organismo internacional criado sob a égide da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar para auxiliar os estados costeiros no estabelecimento dos limites exteriores de suas plataformas continentais.

Sua função principal é examinar e decidir sobre as reivindicações dos países costeiros para expandir suas áreas de soberania.

O Brasil, por meio do Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC), tenta reivindicar a expansão de sua plataforma continental junto à Comissão.

Na proposta, a margem continental brasileira foi dividida em três áreas distintas: Região Sul, Margem Equatorial e Margem Oriental/Meridional.

Em março de 2019, a CLPC aprovou a reivindicação brasileira para a região sul.

Atualmente, a Comissão analisa a proposta relacionada à margem Equatorial. Segundo fontes ouvidas pela CNN, a proposta brasileira será aceita em 2024, iniciando-se, em 2025, a análise da margem Oriental, onde está situada a elevação do Rio Grande.

 

 https://www.cnnbrasil.com.br/economia/brasil-busca-reconhecimento-internacional-para-expansao-da-plataforma-continental-a-procura-de-minerais-raros/