sábado, 18 de maio de 2024

O que Magda Chambriard deve enfrentar como presidente da Petrobras (PETR4)

 

Nova CEO assume a missão de equilibrar planos do governo com o ceticismo do mercado; investimentos preocupam

 

O que Magda Chambriard deve enfrentar como presidente da Petrobras (PETR4)
Magda Chambriard, a nova CEO da Petrobras. (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
 
  • Indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir o posto de presidente da Petrobras, Magda Chambriard herda não somente o cargo, mas o desafio de conciliar os interesses do governo sem perder a confiança do mercado financeiro
  • Uma batalha que, até aqui, parece ter sido perdida não só pelo ex-CEO Jean Paul Prates, que acaba de ser demitido, como também pelos outros executivos que ocuparam o posto
  • Debate passa pelo aumento dos investimentos da estatal, risco de diminuição dos dividendos e o domínio da tão falada "interferência política"

O ex-senador Jean Paul Prates foi demitido do cargo de presidente da Petrobras (PETR4) na terça-feira (14) após semanas em um processo de fritura, acentuado depois que a companhia optou por reter parte dos dividendos extraordinários em março. Magda Chambriard, indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o posto, herda o cargo e o desafio de conciliar os interesses do governo sem perder a confiança do mercado financeiro. Uma batalha que, até aqui, parece ter sido perdida não só por Prates, mas pelos outros executivos que ocuparam a mesma posição.

Chambriard é a 7ª pessoa a sentar na cadeira mais importante da Petrobras em cinco anos; e não é uma novata na companhia. Servidora de carreira na estatal, ela é engenheira, especializada em exploração e produção de petróleo e foi diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), nomeada pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2012.

Os especialistas ouvidos pelo E-Investidor são unânimes: em termos de experiência e adequação ao cargo, trata-se de um nome técnico. O receio, no entanto, é o direcionamento político do mandato. Um dos motivos que derrubou Prates do posto de CEO da Petrobras, entre outras questões, foi a intenção do Executivo de buscar por um perfil de comando menos “pró mercado”.

“O primeiro desafio que ela terá é passar credibilidade para o mercado”, diz Frederico Nobre, líder da área de análise da Warren Investimentos. “Chambriard tem um viés mais desenvolvimentista, em linha até com que o governo estava buscando para esse novo presidente da Petrobras. É um histórico menos pró-mercado do que o Prates, mais ponderado e que conseguiu assumir uma postura bem interessante na companhia.”

O principal desafio da executiva à frente da estatal, na visão dos agentes do mercado, é conciliar a pressão política pelo aumento de investimentos e manter a confiança de investidores. A ideia de direcionar o capex (recursos voltados para os investimentos) da companhia para projetos como refino ou a área petroquímica desagrada analistas, que veem os negócios como pouco rentáveis em comparação ao “core business” da companhia, a exploração do pré-sal.

Como Chambriard parece ter sido indicada ao cargo para tal missão, já começará tendo que superar a desconfiança do mercado.

A incerteza com o direcionamento do novo mandato na Petrobras fez o BB Investimentos rebaixar a recomendação das ações da petroleira de compra para neutra. Em relatório, o analista Daniel Cobucci destaca que a dúvida em relação a “qual será o mandato” da executiva é pertinente porque, em se tratando de uma empresa estatal e listada em bolsa, existe uma inerente divergência entre os interesses de alguns dos stakeholders da companhia. E aponta que não está claro se a sucessão vai significar uma mudança de rumo em uma companhia que vinha com “boa execução e excelentes perspectivas”.

“A mudança no comando da companhia não deixa claro quais princípios serão mantidos e quais serão modificados, elevando as incertezas em um momento onde o desconto relativo da companhia já não se encontra tão vantajoso”, avalia o BB.

Chambriard não será a primeira CEO da estatal a ter a difícil missão de equilibrar os interesses do governo com o dos acionistas minoritários. Como mostramos aqui, as trocas no comando da Petrobras foram comuns nos últimos anos.

Nos quatro anos de governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entre 2019 e 2022, foram quatro mudanças no cargo. À época, os presidentes da estatal foram pressionados pelo Palácio do Planalto por causa da alta dos preços dos combustíveis, que corroía o poder de compra da população e atrapalhava a candidatura à reeleição do então mandatário do Executivo, enquanto se viam obrigados a seguir o preço de paridade internacional do petróleo.

Jean Paul Prates, entre 2023 e 2024, viveu o dilema de manter o nível de pagamento dos dividendos a investidores e ter caixa para aumentar os investimentos.

Para onde vão os investimentos?

A alocação dos US$ 102 bilhões destinados para os investimentos é o principal ponto de preocupação dos investidores com a gestão de Chambriard. Segundo apuração da Coluna do Estadão, a ex-diretora-geral da ANP se reuniu com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, nesta quarta-feira (15) e garantiu acelerar os projetos voltados para o mercado de gás e de fertilizantes. A demanda é vista como prioridade para o governo, mas não andou no ritmo desejado quando Prates estava à frente da estatal.

Chambriard também é favorável ao retorno de projetos em refinarias, área de atuação defendida pelo presidente Lula. Nos próximos cinco anos, a previsão é que a estatal desembolse cerca de US$ 17 bilhões em projetos de refino, transporte e comercialização em várias unidades do Brasil. O objetivo é ampliar a capacidade de produção de diesel.

Uma das iniciativas neste sentido foi a retomada das obras da refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca, no estado de Pernambuco, em janeiro deste ano. O investimento na unidade já estava previsto no plano estratégico 2024-2028 da Petrobras, além de fazer parte do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

No entanto, os esforços do governo para esta linha de negócio são alvos de críticas do mercado financeiro por estar fora do seu “core business” e pelo elevado custo que esses investimentos exigem da companhia. “Uma obra de refinaria nova é orçada por R$ 4 bilhões e taxa interna de retorno de 20% ao ano. Os gastos estouram (aumentam acima do previsto) devido a um projeção subestimada de investimentos e aos desvios de recursos. No fim, são investidos R$12 bilhões e a taxa de retorno fica negativa”, afirma Flávio Conde, analista da Levante Investimentos.

A preocupação também se baseia na demanda futura, quando os projetos estiverem consolidados, diante do movimento mundial de transição energética. “Será um aumento adicional, colocando recursos em uma classe de ativos em franco declínio e cujos os produtos de origem fóssil podem já ter demanda reduzida quando estiverem prontos daqui a uma década”, pontuou o BB Investimentos em relatório divulgado nesta quarta-feira (15). Já os projetos de baixo carbono que possuem um orçamento de US$ 11,5 bilhões no atual plano estratégico da empresa também devem ser avaliados com atenção redobrada pelos investidores.

Apesar de avaliarem os investimentos como necessários, os analistas pontuam que há um ceticismo no mercado em relação à capacidade da companhia em otimizar os recursos em iniciativas com boas previsibilidades de retorno. “Os projetos exigem uma gestão cuidadosa para demonstrar sua viabilidade financeira e alinhamento com os objetivos de longo prazo da empresa”, afirma Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

Dividendos no radar

O perfil de Chambriard, mais alinhado aos interesses do governo, dá sinais ao mercado de que os gastos com investimentos podem ganhar ainda mais espaço nos próximos planos estratégicos da companhia. Como consequência, o período de dividendos generosos aos acionistas pode chegar ao fim, com os investidores sendo obrigados a se contentar com o pagamento mínimo estabelecido pelo estatuto da companhia.

Conde, da Levante, argumenta que a possibilidade dessas mudanças com a nova gestão pode se concretizar quando houver a divulgação dos resultados operacionais referente ao segundo trimestre. “Quando sair o próximo resultado, iremos ter uma especulação do mercado se a Petrobras irá distribuir dividendos extraordinários ou não. Na minha visão, há mais chances de não termos mais dividendos extraordinários (com a nova gestão)”, pontua o analista.

Segundo dados da Quantum Finance, os investidores com posição em ações ordinárias da Petrobras (PETR3) receberam cerca de R$ 33,47 por ação em proventos no acumulado de 2018 até agora. Já os papéis preferenciais (PETR4) distribuíram um total de R$ R$ 34,32 durante o mesmo intervalo de tempo.

Os dados mostram que o dividend yield da companhia já vem caindo, apesar de ainda permanecerem elevados para a média das empresas brasileiras. Em 2022, o yield da PETR3 e da PETR4 foi de expressivos 59,70% e 68,32%, respectivamente. Em 2023, caiu para 18,59% e 19,81%.

A queda de Prates

Jean Paul Prates foi demitido do comando da Petrobras na noite da terça-feira (14), após 473 dias no cargo. A frente da estatal, o ex-senador liderou mudanças importantes, que incluem o fim da política de preço de paridade de importação (PPI) e alterações na política de dividendos da companhia.

Apesar do ceticismo inicial, Prates conseguiu se colocar como um quadro técnico e um nome de “razoabilidade” na visão do mercado. Aos poucos, as principais incertezas de analistas em relação à gestão petista da estatal foram amenizando e as ações da companhia conseguiram se recuperar frente aos patamares bastante descontados que eram negociados à época das eleições presidenciais, em 2022. Como mostramos aqui, a PETR4 teve alta de 115% no período em que o ex-senador esteve à frente do cargo de CEO.

Este é um dos principais motivos por trás da reação negativa do mercado com a sucessão na estatal. Magda Chambriard é considerada um quadro técnico, mas, segundo analistas, sua indicação reforça os temores de interferência política. A PETR3 encerrou esta quarta-feira (15) com uma desvalorização de 6,78%, a R$ 40,01. A PETR4, por sua vez, caiu 6,04%, a R$ 38,40. Com o desempenho, a Petrobras perdeu R$ 34,05 bilhões em valor de mercado no pregão.

Como mostramos aqui, os grandes bancos ainda recomendam a compra das ações da Petrobras; veja os principais argumentos.

 

 

Eles veem oportunidade na tragédia no RS

 

Alvarez & Marsal | LinkedIn


O capital se fortalece com as crises que ele mesmo fomenta.

Porto Alegre segue debaixo d'água, e o tamanho do estrago ainda é imensurável, mas o prefeito Sebastião Melo, do MDB, já anunciou o plano: irá contratar a consultoria Alvarez & Marsal para recuperar a cidade.

A história dessa contratação é tocante. “Um dos sócios dessa empresa é gaúcho, porto-alegrense. Ele se sensibilizou com o processo e nos procurou para ajudar”, disse Melo. A Alvarez & Marsal não irá cobrar pelo trabalho nos primeiros seis meses – mas o plano já prevê atividades para além do período gratuito.

A benevolência esconde o contexto. Vou começar pelo mais básico. A Alvarez & Marsal é uma consultoria que atua para recuperar aqueles casos quase impossíveis de crise corporativa. Empresas envolvidas em desastres ambientais, em grandes condenações e de reputação duvidosa.

Aqui no Brasil, por exemplo, atuou após os crimes ambientais de Mariana e Brumadinho e com empresas que foram investigadas pela operação Lava Jato, como o Grupo Odebrecht e as construtoras OAS e Queiroz Galvão. 

(O rol de clientes não impediu, no entanto, que Sergio Moro fosse contratado pela consultoria logo após deixar o ministério da Justiça de Bolsonaro, mas essa é outra história que você pode ler aqui.)

Nos EUA, a Alvarez & Marsal atuou na reestruturação de Nova Orleans depois do furacão Katrina em 2005 – uma tragédia que, devido à magnitude, tem sido bastante comparada com o que está acontecendo no Rio Grande do Sul. Na ocasião, 1,5 mil pessoas morreram e 80% da cidade ficou debaixo d'água, completamente colapsada. 

No domingo, o Fantástico fez uma reportagem em tom esperançoso mostrando como foi a recuperação de Nova Orleans – e o que os gaúchos podem aprender com ela. 

A história de superação da cidade pode ser, sim, lida com essa lente inspiradora. Mas a economia de recuperação de desastres tem um lado sombrio, e é a tempestade perfeita para os urubus da crise criarem novas fronteiras de acumulação de capital – e implantarem as reformas e medidas antipopulares que tanto desejam.

É o fenômeno descrito como capitalismo de desastre. O caso de Nova Orleans, por exemplo, é um dos exemplos analisados pela autora canadense Naomi Klein no seu livro "A doutrina do choque – a ascensão do capitalismo do desastre".

Esse conceito de "choque" vem do economista Milton Friedman, vencedor do Nobel de Economia em 1976 e um dos principais influenciadores da linha econômica liberal dos Chicago Boys. 

Friedman argumentava que só as crises econômicas poderiam produzir mudanças. Ou seja: o período após um trauma coletivo é o mais propício para reformas que, em outras ocasiões, dificilmente seriam aceitas. Privatizações radicais, por exemplo.

 

 Intercept Brasil

Agro abre oportunidades para startups e pequenos negócios em Goiás O setor representa 60% do PIB do Estado, o equivalente a R$ 195 bilhões Agronegócio do Brasil Soja, pecuária bovina de corte e milho são as atividades que mais impulsionam a economia de Goiás Copyright Sérgio Lima/Poder360 - 15.mai.2020 Vitória Queiroz 12.mai.2024 (domingo) - 6h00 O agronegócio representa 60% do PIB (Produto Interno Bruto) de Goiás, segundo a Faeg (Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás). Principal responsável pela economia do Estado, o setor se destaca em termos de oportunidades para pequeno...

Leia mais no texto original: (https://www.poder360.com.br/poder-empreendedor/agro-abre-oportunidades-para-startups-e-pequenos-negocios-em-goias/)
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Reflexões sobre a enchente de 2024 (por Arno Kayser)

 Chuvas no RS: Nasa divulga imagens de satélite que mostram ...



Vista aérea de áreas alagadas de Porto Alegre: Arena do Grêmio, aeroporto Salgado Filho e os Bairros Sarandi, Humaitá e Ilhas. Foto: Giulian Serafim/PMPA

Arno Kayser (*)

A enchente de 2024 é, de longe, a pior da história da presença civilizada no Rio Grande dos Sul. Entre Abril e Maio choveram cerca de mil milímetros de chuva. Mais da metade do esperado para um ano inteiro. É bem provável que ela vai passar a ser o parâmetro tomando o lugar da grande enchente de 41 no imaginário popular.

As águas invadiram áreas baixas de diversos locais do Vale do Sinos e outras regiões do Estado. Na região metropolitana se romperam diques e em Porto Alegre o sucateado sistema de proteção das cheias falhou completamente e grande parte da capital ficou debaixo de água.

Um detalhe tem que ser lembrado. Os diques do Vale do Sinos foram locados bem perto do rio e deixaram uma parte do banhado do lado “seco” que acabou atraindo o povo sem outra opção de moradia para lá. Uma verdadeira armadilha. Isso para deixar áreas realmente altas para ocupação por gente em melhor situação econômica. Curiosamente o que também ocorreu em 1824 quando o império queria fazer a colônia onde hoje é o parque da Floresta Imperial em Novo Hamburgo, mas o dono da terra junto ao passo de São Leopoldo (terras doadas pela Coroa, por sinal) convenceu o representante local da colonização a comprar sua terra e assentar povo na beira dos banhados do Sinos.

Essa área roubada ao banhado poderia estar ajudando a segurar o nível da enchente mais tempo e não seria uma área de risco humano se tivesse ficado como reserva natural a exemplo do parque da imperatriz em São Leopoldo ou o banhado da estrada da integração em Novo Hamburgo.  Tivessem respeitado os banhados e talvez o centro de são Leopoldo hoje ficasse em Novo Hamburgo.

O mesmo caso ocorre em Canoas, Esteio e Sapucaia onde as partes mais atingidas são os assentamentos humanos localizados em antigos banhados e várzeas. 

São detalhes que afetam muitas vidas e mostram como é importante que decisões importantes sejam tomadas com muito debate popular e com apoio da ciência.

Os diques foram erguidos nos anos da ditadura militar e São Leopoldo foi iniciado no império. Democracia era algo que não existia nesses dois momentos históricos.

O Comitesinos propôs um mapeamento das áreas de risco de todo o vale e tentou orientar os municípios, pelo menos a não deixar ocupar com mais urbanização essas regiões. Quem mais resistiu foi a gestão pública de Canoas e algumas das suas entidades empresariais. Curiosamente foi a cidade com mais gente fora de casa e que defendia que a estrada do parque (BR448) fosse construída como um grande dique para poder se expandir no sentido do rio. Se isso tivesse ocorrido certamente os danos da enchente seriam maiores ainda.

Hoje pagamos um preço terrível por erros do passado no processo de ocupação do território.

Outra coisa que fica evidente é que um dos problemas do RS é que estão exterminando os órgãos técnicos científicos onde trabalha a inteligência do Estado que é capaz de gerar as soluções. É triste, mas é verdade. A cultura de serviço público vai se perdendo e chega num ponto que ficamos sem rumo. No meu setor junto à Fepam se aposentaram três das cinco pessoas que tinham quando entrei. Houve uma reposição em 10 anos. Faz quatro anos que esperamos substituição dos outros dois. Em breve os mais velhos se aposentam não vai ter ninguém para ensinar transmitir a experiência que o setor acumulou para quem chegar.

 A Metroplan, que trabalha com o tema da proteção de inundações, perdeu muito pessoal.  A Fundação Zoobotânica que estudava a nossa biodiversidade foi extinta.

Nada contra a iniciativa privada trabalhar para o Estado. Muitas vezes é necessária. Mas o serviço público é essencial para conduzir a gestão. É assim em todos os países desenvolvidos. Sem serviço público de qualidade um país fica como os países pobres da África. Um verdadeiro salve se quem puder em meio a um caos de lutas internas entre grupos rivais, como já ocorre em alguns locais de nossos grandes centros.

Outro fato a ser analisado nesse contexto é que o voluntariado tem limite. Ainda que sua contribuição seja um exemplo magnífico da solidariedade humana o fato é uns dias depois de a tragédia deixar de ser pauta da grande mídia a maioria dos voluntários volta para casa até porque não são profissionais e tem que cuidar de suas vidas. Quem vai seguir é o serviço público. É assim sempre. Só que não se falam disso em muitos veículos de imprensa. Especialmente os aliados com a ideia do estado mínimo que ajudou muito a levar o RS a esse estado de calamidade.

O país hoje está cheio de jovens bem preparados. Muitos que gostariam de trabalhar no serviço público. Em vinte anos como servidor público trabalhei com pelo menos quarenta estagiários.  Muitos nos procuraram porque queriam se tornar servidores públicos. Alguns até passaram em concurso e trabalham no setor público. O jovem que entrou no meu setor foi meu estagiário. Mas tem muitos que não recebem oportunidade. Alguns até vão embora do Brasil. Desperdiçando a sua qualificação, pois lá vão ser trabalhadores de serviços para gente com pouca formação.

Também irrita um pouco a política de algumas empresas privadas de previsões meteorológicas especializadas em fazer manchetes catastrofistas para atrair leitores para suas páginas na internet recheadas de anunciantes. Quando muitas das suas previsões trágicas não ocorrem ficam quietos como as videntes que todo novo ano as revistas de fofocas entrevistam para prever o que virá. Cientificamente são capacitadas, mas não nos parece correto que lucrem atemorizando as pessoas e faturando em cima da espetacularização da desgraça (como, aliás, também o fazem muitos veículos de mídias para aumentar a audiência de seus programas).  Os serviços de alerta de risco devem ser ponderados e objetivos em suas manifestações. Dar a informação precisa é fundamental para que os alertas sejam levados a sério pela população. Abusar do sensacionalismo só atrasa a formação de uma cultura de prevenção.

Também vemos nessas horas que muitos técnicos que seguem com dificuldades para aceitar que precisamos de tecnologias que cooperem com a natureza para lidar com os desafios que as mudanças climáticas nos impõem. Ainda há muitos que insistem que devemos buscar soluções tecnológicas que no fundo só ampliam os danos ao planeta. Como os caras que defendem destruir a vegetação das áreas de proteção permanente para fazer açude para combater as secas ao invés de propor recuperar essa vegetação para ela retomar seu papel no equilíbrio da dinâmica das águas das nossas bacias hidrográficas. Ou gente que propõe abater as florestas das encostas para que o peso das árvores não derrubar o solo dos morros.

Uma ideia muito debatida é fazer um canal de saída para o mar na Laguna do Patos ao norte de Rio Grande para baixar mais rápido as águas represadas em Porto Alegre e arredores. Alegam que ao fazer a BR 101 no litoral médio se construiu um grande dique que bloqueou saídas da Laguna para o mar que existiam antes retendo mais água na Laguna.  Apontam como exemplo disso a barra falsa do Bojurú onde essa solução poderia ser implantada.

A Laguna dos Patos se formou no último milhão de anos. Obra de um ciclo de recuos e avanços do mar ao longo de pelo menos quatro transgressões marinhas. O leito da BR 101 esta na parte mais alta do litoral médio num divisor de água. Não constitui barreira construída pela humanidade do sistema de drenagem natural para o mar. Por conta dessa faixa de terra é que a Laguna existe e não é parte do oceano como antes da sua formação.  As barras de saídas de água para o mar no litoral médio são do sistema de lagoas do conjunto da Lagoa do Peixe e outras ao longo da costa. A barra falsa do Bojurú pode ser uma paleo saída pro mar. Mas hoje ela corre para o oeste assim como os cursos d’água da Lagoa do Casamento e do rio Gravataí que em eras geológicas mais antigas corriam para o mar. Um canal assim funcionaria nos dois sentidos conforme a maré ou os ventos. E poderia salinizar toda a Laguna trazendo problemas para a irrigação de arroz e potabilização de água para as cidades do entorno e afetando em muito a biodiversidade do local que é fonte de renda para muitas famílias.

Essa ideia faz pensar. Caso tenhamos um buraco no telhado onde entra a chuva o que é melhor fazer? Fazer o conserto do telhado ou aumentar o tamanho do ralo para inundação passar mais rápido? Nesse caso me parece mais inteligente consertar o telhado. No caso do RS o conserto significa a recuperação das matas ciliares nos rios gaúchos, melhorar as praticas de agricultura para controlar a erosão e mesmo construir pequenos açudes ao nível de produtor que poderão ajudar na próxima seca que a maioria esquece no momento da enchente. Isso também pode ajudar a conter a erosão que assoreia os rios.

Falando em assoreamento também se ouve que alguns velejadores defendem que se retire toda a areia do fundo do Guaíba para aumentar o canal de drenagem do Lago. E que ela seja usada para usos diversos, como material de construção. Fato que só não ocorre por conta de oposição dos Ecologistas (quase os culpando pela tragédia, por sinal).

A areia que está no fundo do Guaíba, segundo estudos feitos pela UFRGS, infelizmente está contaminada por metais pesados, decorrentes da poluição das indústrias metal-mecânica e dos curtumes gaúchos. Por isso é melhor não usar o resíduo da dragagem dos canais em usos que não sejam construções de ilhas artificiais como a do clube Jangadeiros.  Também por essa razão não se recomenda minerar areia no leito do Guaíba. Mexer nesses metais que hoje estão quimicamente estabilizados no fundo poderia trazer sérios prejuízos à qualidade da água e até o risco de inviabilizar seu uso para potabilizar para consumo humano.

Esses exemplos mostram que muita gente não entendeu que o paradigma tecnológico que levou a sociedade a situação atual de desequilíbrio ambiental não tem capacidade de trazer soluções para a crise que vivemos. Precisamos pensar como a natureza e copiar ou ajudar a implementação das soluções que ela usa para sairmos desta e ter esperança de um futuro para a humanidade no planeta.

Pro fim outra coisa que chama a atenção nessa enchente é que muita gente tende a definir o que está sendo visto no RS como cenas de guerra. Vamos combinar que assistimos cenas de uma tragédia decorrente das mudanças climáticas combinadas com décadas de devastação ambiental e negacionismo político neoliberal dominando a máquina pública. Não têm ninguém bombardeado os atingidos pela enchente. Cena de guerra é em Gaza ou na Ucrânia e em outros conflitos mundo afora. Pergunta em qualquer desses lugares se eles não trocariam de lugar com os gaúchos agora. Falar em cena de guerra é fortalecer a cultura da violência. É fazer propaganda da militarização das soluções dos problemas do mundo.  A mesma lógica de guerra que constrói muros entre nações ricas e pobres e mata os inocentes, em diversos lugares do mundo.

Falar em cenas de guerra também é descaracterizar o debate das mudanças climáticas. O que não contribui em nada para a construção de políticas de superação das causas dos aumentos da temperatura no planeta. Temos que falar em paz e solidariedade nesse momento. Em reduzir emissões de gases estufa. Em políticas públicas de adaptação. Não precisamos reproduzir, sem pensar, a linguagem da cultura de competição que está destruindo as possibilidades de vida humana e outros seres no planeta.

(*) Agrônomo, Ecologista e Escritor

 

 https://sul21.com.br/opiniao/2024/05/reflexoes-sobre-a-enchente-de-2024-por-arno-kayser/

 

CEO do iFood deixa cargo para comandar operação global de empresa holandesa dona do aplicativo

 

Fabricio Bloisi, chief executive officer of Movile Group, a unit of Napsers Ltd, poses for a photograph in Amsterdam, Netherlands, on Thursday, Aug. 29, 2019. Naspers-owned internet ventures will be carved out into a new $100 billion company called Prosus NV, which is due to list in Amsterdam on Sept. 11. Photographer: Yuriko Nakao/Bloomberg

O presidente do iFood, Fabrício Bloisi, está deixando o cargo para ser o CEO da Prosus, a holding de tecnologia holandesa que é controladora do grupo brasileiro de entregas por aplicativos e vale € 92 bilhões na Bolsa de Amsterdã. O novo CEO do iFood será Diego Barreto, atual diretor financeiro e vice-presidente de estratégia.

Bloisi é o fundador da Movile e, no novo cargo na Prosus, que assume a partir de 1º de julho, vai responder por operações em mais de 100 países, atendendo a 2 bilhões de clientes do grupo mundial de internet. Será a primeira vez que um executivo de uma empresa brasileira de tecnologia assume a operação de um gigante global saindo diretamente do Brasil.

A Profus nasceu em 1997, como uma cisão do grupo de mídia sul-africano Naspers, famoso por ser o primeiro serviço que permitia baixar músicas. Desde 2008, a Prosus investiu mais de US$ 30 bilhões em mais de 90 empresas de tecnologia, e o iFood foi uma das principais apostas. Em 2022, comprou a participação remanescente de 33% na empresa de entregas, em um negócio de R$ 9,4 bilhões.

Entre outros investimentos do grupo holandês no mundo está a chinesa Tencent, que é dona do WeChat, a plataforma de compras chinesa Meituan, a OLX e a Delivery Hero, na Alemanha. No Brasil, a Prosus é investidora da Kovi, de alugue de carros, na financeira Creditas e da Sympla, que vende ingressos pela internet, entre outros nomes.

O brasileiro irá assumir o cargo de Ervin Tu, o diretor financeiro que estava como presidente interino na Prosus desde setembro. No iFood, Bloisi segue como presidente do conselho e acionista. “Estou orgulhoso de termos transformado o iFood em uma das maiores e mais bem-sucedidas marcas da América Latina”, comenta em um comunicado sobre sua nomeação.

Em 12 anos, o iFood saiu de um negócio de entregas que Bloisi comprou com menos de 15 funcionários e se tornou uma plataforma de tecnologia com mais de 40 milhões de clientes.

“A gente muda a empresa duas vezes ao ano. Mata alguns projetos e cria projetos novos. Faz parte da nossa cultura”, disse Bloisi ao Estadão/Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) no final de 2023, mencionando também o interesse em inteligência artificial. “Nossa intenção é investir centenas de milhões de reais em aquisições em novos negócios e inteligência artificial.”

Devedores têm último fim de semana para aderir ao Desenrola Brasil

 

Desenrola Brasil possui canais oficiais para negociação ...

Os devedores de até R$ 20 mil que ganhem até dois salários mínimos ou sejam inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) têm o último fim de semana para renegociarem os débitos no Desenrola Brasil. O prazo de adesão à Faixa 1 do programa especial acaba nesta segunda-feira (20).

Dados do Ministério da Fazenda apontam que, até a semana passada, 14,75 milhões de pessoas já haviam renegociado cerca de R$ 51,7 bilhões em dívidas.

Iniciada em outubro de 2023, a Faixa 1 engloba dívidas que tenham sido negativadas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2022 e não podem ultrapassar o valor atualizado de R$ 20 mil cada (valor de cada dívida antes dos descontos do Desenrola).

Por meio do programa, os inadimplentes têm acesso a descontos de, em média, 83% sobre o valor das dívidas. Em algumas situações, segundo o ministério, o abatimento pode ultrapassar 96% do valor devido. Os pagamentos podem ser feitos à vista ou parcelados, sem entrada e em até 60 meses.

Fake news

Na reta final do prazo para renegociação das dívidas, a pasta desmentiu duas fake news que circulam sobre o programa. Uma delas diz que, ao negociar as dívidas pelo Desenrola, o cidadão perde o benefício social. Outra, que a pessoa fica com o nome sujo nos sistemas do Banco Central.

“O Relatório de Empréstimos e Financiamentos do sistema Registrato do Banco Central não é um cadastro restritivo. Ele exibe o “extrato consolidado” das dívidas bancárias, empréstimos e financiamentos, tanto do que está em dia quanto do que está em atraso. Isso permite que o cidadão acompanhe, em um só lugar, todo o seu histórico financeiro e se previna contra golpes”, informa o ministério.

“Assim, as dívidas que forem negociadas no Desenrola para pagamento parcelado vão aparecer no extrato emitido pelo Banco Central, assim como outras dívidas bancárias, para que possam ser acompanhadas somente pelo cidadão. Os bancos não acessam os relatórios das pessoas; eles conseguem ver apenas as informações consolidadas, quando o cidadão autoriza esse acesso”, explica ainda o Ministério da Fazenda.

Entenda

Além de dívidas bancárias como cartão de crédito, também podem ser negociadas contas atrasadas de estabelecimentos de ensino, energia, água, telefonia e comércio varejista. A plataforma do Desenrola permite parcelar a renegociação inclusive com bancos nos quais a pessoa não tenha conta, permitindo escolher o que oferece a melhor taxa na opção de pagamento parcelado.

Para quem tem duas ou mais dívidas, mesmo que com diferentes credores, é possível juntar todos os débitos e fazer uma só negociação, pagando à vista em um único boleto ou Pix ou financiando o valor total no banco de preferência.

Para ter acesso ao Desenrola, é necessário ter uma conta Gov.br. Usuários de todos os tipos de contas – bronze, prata e ouro – podem visualizar as ofertas de negociação e parcelar o pagamento. Caso o cidadão opte por canais parceiros, não há necessidade de uso da conta Gov.br.

Catástrofe no RS deve ter impacto nas colheitas, na inflação de alimentos e no PIB; entenda



Enchentes prejudicaram lavouras ainda não colhidas, mas, sobretudo, interromperam cadeias de produção e distribuição. Arroz, soja, frango e leite são alguns dos produtos mais afetados

 

Desabrigados em consequência das enchentes alojados em ginásio em Porto Alegre (RS) 10/05/2024 

 

REUTERS/Diego Vara

O Rio Grande do Sul é tradicionalmente conhecido como um dos grandes produtores do agronegócio brasileiro, e os efeitos das históricas enchentes no estado foram prontamente alvos de preocupação para o setor.

O impacto nas colheitas de arroz, soja e trigo deve ser sentido na inflação em todo o Brasil, o que também deverá ocorrer no caso do leite e de outros produtos. Além disso, a atividade industrial gaúcha também foi fortemente afetada – nove em cada 10 empresas do estado estão em cidades atingidas pelas enchentes, de acordo com levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). Este cenário deve ter repercussões para a atividade econômica do Brasil como um todo.

Além da grande presença na alimentação dos brasileiros, o arroz chama a atenção pelo forte componente doméstico da produção do estado. O Rio Grande do Sul é responsável por mais de 70% da produção brasileira do alimento que, no último ano, representou apenas 1,4% das exportações gaúchas, segundo dados do Comex, sistema para consultas e extração de dados do comércio exterior brasileiro. Embora 80% do arroz já tivesse sido colhido, nos últimos dias o Brasil se mobilizou pela importação do grão, enquanto supermercados pelo país restringiram as compras, temendo desabastecimento em razão de danos aos estoques e à cadeia de distribuição.

O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea) identificou impactos em outros itens relevantes da dieta comum dos brasileiros: leite e frango. Em ambos os casos, a infraestrutura afetada, incluindo danos no processamento, devem ser responsáveis por alguma escassez, chegando ao consumidor final com alta de preços. No caso do frango, granjas já relatam dificuldade para receber alimentos para os animais devido aos problemas nas estradas.

“O viés inicial para a economia brasileira é de efeitos temporários em 2024 de maior pressão de alta na inflação de alimentos e de bens manufaturados, além de alguma moderação no ritmo de crescimento do PIB nacional”, aponta o Rabobank, em relatório assinado pelos analistas Maurício Une e Renan Alves.

No último relatório Focus, os analistas de mercado consultados pelo Banco Central projetaram uma alta no índice de preços ao consumidor amplo (IPCA) de 3,76% em 2024, um pequeno aumento ante os 3,72% da semana anterior. Desde o meio do último ano, os riscos inflacionários do fenômeno El Niño vinham sendo apontados por analistas. Até as chuvas no Rio Grande do Sul, algumas estimativas chegaram a reduzir suas previsões para a inflação, o que foi revertido nos últimos dias.

Grande impacto nas cadeias de fornecimento

A analista de grãos da StoneX Ana Luiza Lodi afirma que os impactos devem afetar não apenas as plantações, mas as cadeias de fornecimento como um todo, lembrando dos prejuízos nos silos e às indústrias que usam a soja, como o caso da proteína animal – e isso sem falar nas estradas, rodovias e pontes. No caso da soja, a expectativa antes das enchentes era de uma exportação de 23 milhões de toneladas, que foi reduzida para 20 milhões. O chamado complexo da soja, que abrange ainda o farelo, é o maior produto de exportação do Brasil, tendo a China como principal compradora.

Além disso, ela aponta uma possível perda na qualidade em parte da safra, o que deve impossibilitar a exportação em alguns casos. Em 2023, o produto foi responsável por 18% das vendas internacionais do estado, o que representou um ingresso de US$ 4,1 bilhões para o Rio Grande do Sul.

No caso do trigo, a expectativa é de queda de 6,9% na produção da safra, que será prejudicada ainda pelos impactos da chuva também em Santa Catarina. Por sua vez, para o milho, as perdas não tendem a ser tão relevantes, já que uma parte importante já havia sido colhida. Com chuvas ainda previstas para os próximos dias, Lodi afirma que é difícil estimar o tempo para uma normalização no Rio Grande do Sul. Segundo a Empresa de Extensão Técnica e Extensão Rural (Emater-RS), 76% da soja e 83% do milho plantados no estado já tinham sido colhidos antes das enchentes.

Nos últimos anos, os produtores do estado já haviam sofrido com fenômenos climáticos. No entanto, nas colheitas anteriores, ao contrário deste ano, o que ocorreu foi uma forte seca no Sul do país, impulsionado pela La Niña, que, ao contrário do El Niño, tende a causar períodos mais secos nesta parte da América do Sul.

Outro ponto a ser levado em consideração é a perda de tratores, caminhões e outras máquinas agrícolas que podem atrapalhar o plantio de algumas culturas, como o trigo. Mesmo nas áreas em que a água já baixou, o solo continua exarcado e ainda é cedo para saber as condições de plantio para as próximas safras.

Apesar do cenário de constantes problemas para o plantio, Lodi não acredita que haja grande estímulo para produtores deixarem de investir na atividade ou mudar o uso do solo. A analista lembra que a soja é muito relevante para o estado, contando com uma cadeia já pronta, que torna difícil que a produção seja substituída.

Impacto na indústria

Dos 497 municípios gaúchos, pelo menos 447 (cerca de 90%) foram afetados pelas enchentes, de acordo com o governo do Estado. Isso representa, segundo a Fiergs, 94,3% de toda a atividade econômica estadual. “Os locais mais atingidos incluem os principais polos industriais do Rio Grande do Sul, impactando segmentos significativos para a economia do Estado”, afirmou o presidente em exercício da Fiergs, Arildo Bennech Oliveira, em comunicado.

A tragédia levou à paralisação de fábricas de diversos setores, de montadoras a utensílios domésticos. Empresas desligaram as máquinas e concederam férias coletivas ou deram folga aos empregados, como no caso da Tramontina e da fábrica local da General Motors. O tema chegou a atingir os vizinhos, com a Fiat suspendendo sua atividade industrial em Córdoba, na Argentina, pela falta de insumos vindos do Sul do Brasil.

Riscos ao sistema financeiro

De acordo com a ata da última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central, os desdobramentos da tragédia seguirão sendo acompanhados para definir a política monetária.

A catástrofe ocorre em um momento no qual cresce a discussão pelo mundo sobre a necessidade de bancos centrais levarem em conta as mudanças climáticas, já que os eventos extremos cada vez mais recorrentes afetam grande parte de sua área de atuação. Além de influenciar na inflação, em tragédias como a do RS, corridas bancárias, com grande volume de saques simultâneos, podem gerar algum estresse, que coloca riscos ao sistema financeiro em efeito cascata.

A Oxford Economics acredita que as enchentes no RS serão um obstáculo significativo ao crescimento nos próximos meses. Em relatório, a consultoria lembra que o governo federal anunciou um pacote de expansão fiscal de 0,5% do PIB, mas ainda vê riscos de impacto negativo para sua projeção de crescimento do PIB brasileiro de 1,2% neste ano, que já é mais baixa do que outras projeções.

Em um primeiro momento, o pacote anunciado pelo governo federal para reconstrução do Rio Grande do Sul foi de R$ 52 bilhões. Por sua vez, uma série de integrantes do governo afirmou, ao longo dos últimos dias, que o tema não deverá alterar a trajetória fiscal do país. Desta forma, os gastos não deverão entrar no limite orçamentário de 2024, o que traz dúvidas sobre o efeito para as contas públicas.

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Fiergs pede ao governo Lula flexibilização trabalhista e novas linhas de crédito ao RS

Publicações | FIERGS-RS

A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) apresentou, nesta sexta-feira, 17, reivindicações ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltadas ao setor no Estado, que foi fortemente afetado por conta das enchentes na região. Dentre os pedidos, a federação solicitou flexibilização trabalhista nos moldes da lei adotada na pandemia da covid-19 e novas linhas de crédito às indústrias.

A reunião ocorreu no período da manhã com o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Participaram, dentre outros, o presidente em exercício da Fiergs, Arildo Bennech Oliveira, e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira.

Na ocasião, a Fiergs entregou ao governo federal um documento para pleitos na área de crédito, comércio exterior, trabalho e infraestrutura.

O programa apresentado, segundo a Fiergs, deve custar em torno de R$ 100 bilhões em 36 meses, período que a federação avalia ser preciso para reconstruir o Estado.

De acordo com Alckmin, mais de 90% da indústria no Rio Grande do Sul foi afetada pelas enchentes.

“A situação das empresas é muito difícil e a gente precisa dessas medidas hoje apresentadas ao governo federal com a maior prioridade possível”, disse o presidente em exercício da federação.

Segundo Bennech, os pleitos que se fazem mais urgentes dizem respeito a novas medidas de crédito e medidas de flexibilização trabalhista.

O “mote principal” da reunião, de acordo com a Fiergs, é manter o emprego e fazer com que as pessoas das regiões atingidas continuem trabalhando. Nesse sentido, Bennech pediu a regulamentação da lei 14.437, que retoma estrutura semelhante ao que foi adotado durante a crise causada pela pandemia de covid-19, flexibilizando leis trabalhistas. “É só regulamentar e colocar em uso lá no Rio Grande do Sul, que vai favorecer bastante as empresas aquela série de medidas que tem ali nessa lei”, pontuou.

De acordo com o pleito, o pagamento do Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) “será custeado com recursos da União, mediante disponibilidade orçamentária e o pagamento do benefício será realizado enquanto durar a redução da jornada de trabalho e do salário ou a suspensão temporário do contrato de trabalho”.

Já sobre a linha de crédito, a Fiergs pede urgência sobre a questão. “O crédito me parece mais importante agora que é para as empresas poderem manter os seus funcionários, que hoje são mais de 500 mil pessoas com carteira assinada que estão com as suas casas cobertas de água”, disse Bennech.

Alckmin disse já ter conversado com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, sobre o tema, mas que ainda é preciso falar com o Ministério da Fazenda para definir a questão do juros, o fundo garantidor, e as linhas de crédito.

“Que devem ser para tudo, desde capital de giro, recomposição de máquinas, equipamentos, prédios, enfim, toda área de reconstituição”, disse o vice-presidente. “Pode, deve [vir novas medidas de crédito] e o principal é estabelecer os juros. O principal é qual vai ser o tamanho da equalização”, comentou Alckmin.

O pedido da Fiergs é que sejam criadas linhas de créditos especiais a juro zero para capital de giro, pagamento de folha e aquisição de máquinas e equipamentos. De acordo com o vice-presidente da República, Lula deve sancionar a lei que institui o programa de depreciação acelerada de máquinas e equipamentos novos nos próximos dias. Nesse sentido, o ministro do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) disse que está sendo estudado um programa de depreciação acelerada especificamente para o Rio Grande do Sul.

Alckmin reiterou que o governo federal terá “todo o empenho” para que se recupere a atividade da indústria e o emprego na região. Enquanto isso, Bennech disse estar “satisfeito” com as atitudes do chefe do Executivo, citando as três vezes que Lula viajou ao Estado para acompanhar a situação da tragédia.