Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, em coletiva de
imprensa em Frankfurt, em 18 de julho de 2024 - AFP/Arquivos
O
Banco Central Europeu (BCE) anunciou nesta quinta-feira (12) o segundo
corte do ano em sua principal taxa de juros, de 0,25 ponto percentual,
para 3,5%, diante de uma inflação que continua a recuar, embora não
tenha especificado se avalia novas reduções nos próximos meses.
“É
apropriado agora dar um passo adicional na moderação do grau de
restrição da política monetária”, indicou a instituição em um
comunicado.
O
BCE diminuiu suas taxas de juros em junho pela primeira vez em cinco
anos, após um período de inflação elevada resultante da invasão russa à
Ucrânia.
Em julho, no entanto, manteve as taxas inalteradas.
O
corte anunciado nesta quinta-feira estava em linha com as expectativas
do mercado, considerando os dados de inflação na zona do euro, que
inclui 20 dos 27 países da União Europeia.
A alta de preços foi de
2,2% em agosto na zona do euro e ficou abaixo até mesmo da meta de 2%
nas duas maiores economias da região, Alemanha e França.
“O
Conselho de Governo está determinado a garantir que a inflação retorne
em breve à sua meta de 2% no médio prazo e manterá as taxas de juros
oficiais em níveis suficientemente restritivos pelo tempo que for
necessário”, afirmou a instituição com sede em Frankfurt.
“Com o
crescimento dos salários muito acima da produtividade e uma inflação dos
serviços em alta novamente, não há razão para o Conselho de Governo
acelerar o ritmo dos cortes de juros ou se comprometer com novos cortes
neste momento”, comentou Sylvain Broyer, economista-chefe da S&P
Global Ratings.
Os
cortes impactam a taxa de mercado interbancário e, consequentemente, as
condições dos empréstimos para pessoas físicas e jurídicas.
A
flexibilização de junho veio após um período de encarecimento sem
precedentes do crédito para combater uma inflação excepcionalmente
elevada.
Esta decisão do BCE foi tomada antes do anúncio do
Federal Reserve (Fed), o banco central americano, que deve decidir seu
primeiro corte do ano em 18 de setembro, após ter elevado o custo do
dinheiro a níveis inéditos desde 2001.
– Relatório Draghi-
O
novo corte de taxas do BCE ocorre após o anúncio de uma revisão para
baixo do crescimento econômico na zona do euro no segundo trimestre,
para 0,2%.
Mas a preocupação com os déficits orçamentários pode moderar a extensão dos cortes.
A
presidente do BCE, Christine Lagarde, pediu aos governos da zona do
euro que implementem “agora” reformas para reduzir esses déficits.
Lagarde
também incentivou os governos a aplicar as propostas do relatório sobre
a economia europeia apresentado no início da semana por seu antecessor
no cargo, o ex-primeiro-ministro italiano Mario Draghi.
“Faz um
diagnóstico duro, mas, em nossa opinião, justo, e também aponta para
reformas estruturais (…) que poderiam ser extremamente úteis para
fortalecer a Europa”, afirmou Lagarde sobre o documento, que pede à UE a
realização de investimentos maciços.
– Balança de riscos –
As
declarações de Lagarde serão analisadas minuciosamente para ver para
onde se inclina a “balança de riscos”, um tema sobre o qual “ainda não
há consenso” entre os banqueiros centrais da zona do euro, declarou à
AFP Gilles Moec, economista-chefe da Axa.
O debate opõe “aqueles
que começam a se preocupar com a desaceleração acentuada da demanda”, o
que justificaria reduzir rapidamente o custo do crédito, e “aqueles que
consideram que a recuperação do poder aquisitivo, provocada pela
desinflação, permitirá sustentar o consumo e que, por isso, não é
urgente agir de forma contundente”, explicou.
O BCE manteve suas previsões de inflação na zona do euro: 2,5% em 2024, 2,2% em 2025 e 1,9% em 2026.
Em
contrapartida, cortou ligeiramente suas previsões de crescimento e
prevê uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,8% neste ano (um
décimo a menos do que o projetado em junho), e de 1,3% e 1,5% em 2025 e
2026, respectivamente.
Essas novas projeções econômicas não ajudam a esclarecer as dúvidas.
Isabel
Schnabel, que integra o Comitê Executivo do BCE, defendeu recentemente
uma estratégia prudente e progressiva sobre as taxas para evitar o
retorno da inflação.
Isso pode incentivar a presidente da
instituição a manter o princípio de se basear nos dados que vão sendo
publicados, sem comprometer políticas de longo prazo