Cinco meses após as enchentes que atingiram em cheio o Rio Grande do Sul, as chuvas voltaram a preocupar os gaúchos nesta semana.
Várias regiões do estado estão lidando com com tempestades isoladas,
chuvas persistentes, rajadas de vento intensas e alagamentos pontuais.
Pelo menos 800 pessoas estão fora de suas casas e há rodovias
bloqueadas.
A chuva intensa acende um alerta que é o principal ponto de apreensão entre moradores, empresários e a comunidade gaúcha: se
as precipitações forem altas, há chance de haver novos alagamentos que
destruirão o que está sendo reconstruindo a duras penas?
A reportagem do Negócios em Luta
(especial da EXAME para acompanhar a reconstrução do estado) esteve no
Rio Grande do Sul na última segunda-feira, 23, e ouviu de mais de um
articulador empresarial que, por enquanto, as medidas de prevenção estão
andando de lado.
A
maior preocupação, pelo menos em Porto Alegre, é pela dragagem do
Guaíba. Com as chuvas intensas de maio, entulhos de diversas regiões do
Estado acabam “estacionando” no fundo do rio, que perdeu profundidade.
Ou seja, em novas chuvas, o Guaíba, por estar mais raso, precisa encher
menos para transbordar.
O alerta já vem sendo motivo de discussão há algumas semanas. Recentemente, em entrevista à EXAME, o CEO da Lojas Renner, Fábio Faccio, já falava sobre o assunto.
“A
dragagem tinha que ter começado no dia seguinte. Qualquer país no
mundo, no minuto seguinte, você veria 10 dragas no Guaíba. Eu ainda não
vi nenhuma”, disse.
Apesar
das novas preocupações, diversas iniciativas estão trabalhando para uma
reconstrução de maior prazo. Uma delas vem de uma das maiores famílias
do Estado, os Gerdau Johannpeter, fundadores da produtora de aço
Gerdau.
Com
o instituto familiar Helda Gerdau e com o braço de responsabilidade
social da própria empresa, 75 milhões de reais já foram doados. Um dos
principais produtos é o Regenera RS, um fundo filantrópico para atuar na
reconstrução do Estado. Já foram captados
38 milhões de reais no projeto, sendo 10 milhões de reais aportados
pela Gerdau e outros 20 milhões de reais, pela própria família Gerdau
Johannpeter.
Confira a entrevista com a presidente do Instituto Helda Gerdau, Beatriz Johannpeter.
Como a família está trabalhando para ajudar a reerguer o Rio Grande do Sul?
A
Gerdau tem um instituto que é da empresa, e o familiar, Helda Gerdau,
que eu presido. Essas duas organizações, no momento da calamidade,
resolveram criar um fundo filantrópico à parte. Naquele momento de
extrema necessidade — e nós, como uma família de raiz gaúcha —,
entendemos que seria preciso de algo mais estruturado. Havia muitos
potenciais financiadores que também queriam ajudar. Foi quando criamos o
fundo e partimos para um movimento mobilizador, com uma coalizão de
investidores. É um fundo que já nasceu com 30 milhões de reais para
investimento filantrópico e hoje tem em torno de 40 milhões de reais. O
nome é Regenera RS.
Em quais projetos vocês investem?
Atuamos
em quatro áreas: habitação, educação, soluções urbanas e apoio a
pequenos negócios. Em todo estado, em qualquer região afetada pelas
calamidades. Num primeiro momento, foi mais voltado para habitação,
construção de casas. Depois, também ajudando a secretaria de Educação.
Depois, estruturamos melhor o fundo, com uma governança independente, um
conselho consultivo multi-stakeholder e com comitês técnicos
participando e ajudando a avaliar onde destinar o dinheiro. A ideia é
que seja um fundo com capacidade para dar apoio por dois anos.
A ideia é que o fundo também consiga acompanhar as obras?
Sim,
por isso é um fundo de longo prazo. Mas também queremos deixar
registrado o aprendizado. Essas calamidades estão se repetindo em
diferentes locais, e precisamos aprender com as práticas que estamos
adotando. A ideia é usar 30% do fundo para questões bem emergenciais e o
resto num plano mais estruturado de recuperação do Estado. Até agora,
já aplicamos 8 milhões de reais.
Nesses
primeiros 100 dias, quais foram os principais aprendizados de como será
o processo de reconstrução do Estado? Está no ritmo que vocês
gostariam?
O
que aprendemos agora é que, passado esse período, já está mais difícil
captar recursos, porque já aconteceram outras calamidades no país
depois, como os incêndios e a seca de agosto e de setembro. Também houve
redução na cobertura do assunto, mas os desafios seguem gigantescos. O
recurso filantrópico ajuda, mas é muito pequeno para fazer a
transformação que o Estado precisa. Como instituto, vamos ajudando
outras frentes também, programas de crédito para PMEs, iniciativas de
consultorias para pequenos empresários. Casamos recursos financeiros com
outros tipos de capitais, com outras iniciativas, porque senão fica
muito limitado. Vamos fazendo co-investimentos e trabalhando juntos. Por
isso também estruturamos uma governança independente para cuidar do
fundo e visualizar esses projetos que podem incentivar uma construção a
longo prazo.
A ideia é também conseguir fazer um trabalho preditivo, não só correr atrás do prejuízo.
Exatamente.
Por isso que nosso fundo se chama Regenera. A gente se inspirou na
regeneração. Outras emergências vão surgir e precisamos pensar
diferente.
Pode dar alguns exemplos de investimentos que já foram feitos pelo fundo?
Um
grande exemplo que acabamos de entrar é na construção da primeira
Favela 3D da Gerando Falcões no Rio Grande do Sul. Já tinham conversas
mesmo antes da calamidade, mas seriam em áreas diferentes. Agora, em
função da calamidade, se escolheu que será na cidade de Eldorado do Sul,
que foi muito atingida. O fundo Regenera é um dos apoiadores, entrando
com 1 milhão de reais. E o Instituto Helda Gerdau vai entrar, também,
com outro um milhão de reais. E não se trata apenas de um projeto de
habitação, mas de empregabilidade, de acolhimento na primeira infância,
na geração de renda. É uma mandala de oportunidades.
Do que o Rio Grande do Sul precisa agora?
Somar
esforços. Poder público, empresas e organizações sociais precisam unir
esforços. Ninguém vai resolver as questões sozinho. É preciso ouvir as
necessidades das comunidades, buscar os recursos adequados. Mas sem
dúvida, o que mais precisamos agora é articulação para construir
soluções que realmente façam a diferença, que possam dar conta das
necessidades mais imediatas, mas que também levem em consideração o que
pode vir pela frente.
Confira outras iniciativas da Gerdau
Educação
- Reconstrução da Escola Municipal Liberato Salzano, em Porto Alegre, em parceria com Ambev e execução da Brasil ao Cubo.
- Iniciativa
para reformar 13 escolas públicas (municipais e estaduais) nas cidades
de Sapucaia do Sul, Charqueadas e São Jerônimo.
- Apoio
financeiro, via fundo RegeneraRS, ao Projeto de Volta Para a Escola,
liderado pela ONG União BR. O objetivo é reequipar as cozinhas das
escolas estaduais.
- Sob
a liderança do MBC – Movimento Brasil Competitivo, estamos apoiando uma
consultoria que está realizando um trabalho técnico junto a Secretaria
de Estado de Educação, para construção do plano de retomada das aulas em
todo o Rio Grande do Sul.
Habitação
- Gerdau
e a ONG Gerando Falcões se uniram na criação de um fundo destinado a
mobilizar recursos financeiros com foco em habitação no Rio Grande do
Sul. A Gerdau fez um aporte de R$ 5 milhões, destinado para moradias
temporárias. Dentre as ações está a disponibilização de 100 Unidades
Habitacionais de Emergência no Centro Humanitário de Acolhimento de
Canoas, em parceria com agência da ONU, a ACNUR.
- Apoio financeiro para o projeto de construção de 50 casas definitivas em steelframe, em parceria com o Sinduscon-RS.
- Apoio
no Projeto Legado Habitação RS para construir 500 novas casas, em
parceria com a União BR, com doação de aço Gerdau para a base das
moradias.
Infraestrutura
- Reforma do telhado do Hospital Regional de São Jerônimo.
- Apoio financeiro e doação de aço para a reconstrução da ponte do Arroio Curupa, na cidade de Agudo.
- A
Gerdau se juntou à Corsan (Aegea) na instalação temporária de uma
Estação Móvel de Tratamento de Água no terreno da unidade Riograndense,
em Sapucaia do Sul. A ETA móvel com capacidade de uma vazão de 20 litros
de água por segundo ou 1,7 milhão litros por dia, atuou nas primeiras
semanas suprindo a demanda de água potável para a cidade.
- Parceria com a Randoncorp para doação de aço e reconstrução de 10 pontes na região da serra gaúcha.
Doações
- Encaminhamos
um volume importante de doações às comunidades (cestas básicas,
colchões, kits de higiene, produtos de limpeza, cobertores, entre outros
itens), e envio de água potável para apoiar as comunidades onde temos
presença. Já foram doadas mais de 60 toneladas de alimentos, mais de 68
mil itens de limpeza e higiene e mais de 50 mil litros de água mineral.
- Realizamos
uma campanha de doação de recursos financeiros, convidando os
colaboradores no Brasil para participar. O valor arrecadado de R$ 68 mil
foi dobrado pela Gerdau e repassado ao Banco Social da FIERGS
(Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.
- Programa
de Voluntariado Gerdau: Contamos com a mobilização de colaboradores e
colaboradoras das nossas unidades que atuaram de forma voluntária para
apoiar de forma emergencial a população do Rio Grande do Sul, dedicando
seu tempo para auxiliar no recebimento, separação e entrega de nossas
doações à população gaúcha
Empreendedorismo
- Apoio
financeiro ao projeto ProLata Cooperativas para a doação de
equipamentos operacionais em duas organizações de cooperativas situadas
em Porto Alegre.
- Apoio financeiro para a reforma do Instituto Caldeira.