As importações vindas de países que adotam práticas predatórias de comércio corroem o mercado de segmentos da indústria, ameaçando investimentos previstos de R$ 826 bilhões até 2027 e empregos no Brasil. É o que adverte a Coalizão Indústria, que reúne 14 entidades dos setores de transformação, da construção e do comércio exterior, responsáveis por 43% do PIB industrial. Para esse coletivo, as transformações geopolíticas no pós-pandemia e a necessidade de escoar gigantesco excesso de capacidade instalada de produção acentuaram fluxos de produtos vindos desses países, agravando o ataque ao mercado interno no Brasil.
Por isso, uma ação contra a concorrência predatória deve ser prioridade máxima do país – caso contrário os segmentos que compõem a Coalizão não terão como manter os investimentos previstos e empregos serão eliminados. Esse cenário pode levar a uma redução superior a 50% no volume de investimentos projetado. “A indústria está sob ataque. Existem mecanismos de que o país pode lançar mão, a exemplo do que já fizeram os países desenvolvidos, para frear, dentro das regras de Comércio Exterior, essa concorrência desleal”, diz Marco Polo de Mello Lopes, coordenador da Coalizão Indústria. “No entanto, é necessário que o governo, de forma estratégica, adote urgentemente uma ação tática para responder a esse ataque.
A preocupação da indústria foi apresentada em coletiva de imprensa realizada na cidade de São Paulo, na tarde da quarta-feira (25/09). O evento contou com a presença dos presidentes de 10 entidades. “Nossa preocupação é estimular a geração de novos empregos e renda, termos emprego qualificado”, afirmou Renato Correia, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). “Temos observado a chegada de empresas estrangeiras no nosso setor. O que os demais segmentos da indústria estão enfrentando, nós enfrentaremos mais adiante”, acrescentou.
Para a Coalizão, outra fonte de preocupação reside na possibilidade de o Mercosul avançar para um acordo comercial com a China, que vem sendo discutido no próprio âmbito do Mercosul. A avaliação é que é pouco provável que esse acordo avance, dada a atual complexidade do quadro mundial, mas, caso venha a se concretizar, investimentos da ordem de R$ 500 bilhões devem ser suspensos de imediato nos setores representados pelas associações-membros.
“Os investimentos atualmente sob risco são imprescindíveis para o país crescer de forma sustentada e sustentável no longo prazo, promovendo desenvolvimento e inclusão social”, afirma Lopes. “Se a indústria for obrigada a cancelá-los, esses recursos não serão passíveis de reposição por outros segmentos econômicos, setor público ou outros países exportadores”, afirma Lopes.
Durante o evento, o presidente da CBIC destacou que o desafio do setor da construção é restabelecer sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. “Nós queremos dobrar. Já tivemos 7% e, hoje, estamos em 3%”, comentou, esclarecendo que esse desempenho decorre da redução do investimento em infraestrutura e do déficit habitacional no país.
Correia também comentou a expectativa da Coalisão Indústria em torno da aprovação da reforma tributária. Segundo ele, a modernização do arcabouço tributário é importante para o país e exige debate profundo e qualificado. “A reforma tributária é muito importante, pois coloca a modelagem de tributação do Brasil em linha com os países desenvolvidos”, afirmou. “A regulamentação está sendo um pouco demorada, mas estamos esperando há 40 anos pela reforma. Nós teremos mais acertos do que erros ao estudar melhor esse tema”, acrescentou, referindo-se à possibilidade de retirada da urgência constitucional do projeto de lei em tramitação no Senado Federal.
Sobre a Coalizão Indústria
Estruturada em 2018, a Coalizão Indústria é composta por 14 entidades de âmbito nacional que representam 13 setores da indústria de transformação, da construção civil e do comércio exterior. Os setores que representa respondem por 44% do PIB da indústria e por 57% das exportações de manufaturados; geram 37 milhões de empregos diretos e indiretos; por ano paga 264 bilhões de reais em tributos.
Apartidária, a Coalizão Indústria atua em uma agenda Brasil, que defende:
- A retomada do crescimento econômico sustentado, invertendo a inconstância das últimas décadas. Para isso, é fundamental o ajuste fiscal.
- A recuperação da competitividade sistêmica da indústria, que vem perdendo participação no PIB. Estudo patrocinado pela Coalizão Indústria calcula que o Custo Brasil é de 1,7 trilhão de reais por ano.
- A Transição Energética, para a qual são fundamentais ações em favor da maior oferta de gás natural a preços competitivo e disponibilidade de linhas de financiamentos e recursos a fundo perdido no desenvolvimento de tecnologias disruptivas para descarbonização.
Entidades integrantes da Coalizão Indústria:
Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores
Abrinq – Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos
Abicalçados – Associação Brasileira das Indústrias de Calçados
AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil
Abinee – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
Abimaq – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos
Abiplast – Associação Brasileira da Indústria do Plástico
Abit – Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção
ABIA – Associação Brasileira da Indústria de Alimentos
ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland
CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção
Eletros – Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos
Grupo FarmaBrasil
Instituto Aço Brasil
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