Em evento com Lula, a ministra afirmou que o orçamento para combate à dengue e outras arboviroses será de R$ 1,5 bilhão em 2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou nesta quarta-feira (18/9), ao lado da ministra da Saúde, Nísia Trindade, o plano de ação para o enfrentamento à dengue e outras arboviroses (doenças transmitidas por mosquitos) para 2025. Em evento no Palácio do Planalto, eles detalharam as ações e responderam dúvidas sobre o tema. Sobre o imunizante de dose única do Instituto Butantan, há uma expectativa de que seja apresentado para avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nas próximas semanas. “Provavelmente até meados de outubro”, informou a ministra.
Durante a apresentação, Trindade destacou as vacinas contra a dengue como um dos instrumentos de controle da doença. Mas voltou a falar em limitação de doses e disse que a distribuição nacional deve ser pactuada nas próximas semanas com estados e municípios. O ministério prevê distribuir 9 milhões de doses da Qdenga, produzida pelo laboratório Takeda, e 1 milhão de um novo imunizante fabricado pelo Instituto Butantan.
“Dissemos desde o ano passado que a vacina é uma estratégia e que vai ser de implantação progressiva. (…) Na vacina Takeda ainda, houve a disponibilidade da Fiocruz para uma parceria com o laboratório, mas há dificuldades do laboratório japonês em função da pouca presença de capacidade da própria IFA, o insumo farmacêutico ativo. Ainda estamos trabalhando, mas não farei falsas promessas aqui”, disse a ministra.
Trindade aproveitou para lembrar da importância de investimento na produção nacional, com o desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, financiamento via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), inclusão de medidas no Plano de Aceleração do Crescimento (Novo PAC) e parcerias com o setor privado. “Essa política industrial e essa ampliação de escala precisa de um apoio”, afirmou. O país tem potencial para multiplicar por cinco a produção de vacinas, disse a ministra.
Orçamento
A previsão de orçamento para a área é de R$ 1,5 bilhão, somando compra de vacinas, investimento na expansão de tecnologias, como armadilhas para os mosquitos e expansão do método Wolbachia, e recursos para estados e municípios em emergência, além das ações de vigilância e atendimento à população.
“A Nísia me disse assim, presidente nós vamos tratar de assuntos de curtíssimo prazo, de médio prazo e de longo prazo. Eu falei para ela, vamos cuidar primeiro do médio prazo porque o nosso mandato termina dia 31 de dezembro de 2026”, brincou o presidente sobre a prioridade dada às estratégias.
Wolbachia e controle vetorial
Entre as estratégias combinadas para controle do mosquito Aedes aegypti, foram destaques a implementação de estações disseminadoras de larvicidas — ação que faz com que as fêmeas do mosquito espalhem os produtos químicos pelos criadouros — e a ampliação do método Wolbachia.
A técnica infecta os mosquitos transmissores com a bactéria de mesmo nome, Wolbachia, e reduz a capacidade de replicação viral dentro do próprio vetor, diminuindo também a transmissão dos vírus para seres humanos.
Utilizada em algumas cidades, a estratégia apresenta resultados promissores. Em Niterói (RJ), por exemplo, houve redução de 69,4% dos casos de dengue, 56,3% dos casos de chikungunya e 37% dos casos de Zika, após uso do método.
A técnica deve ser expandida para outras regiões. Trindade citou como exemplo a biofábrica no município de Eusébio (CE), que está em construção, mas ainda não tem data para ser inaugurada.
Outras estratégias mencionadas são a dispersão de mosquitos estéreis em áreas rurais e em territórios indígenas e a borrifação de inseticidas dentro das casas e outras construções, nos locais com maior circulação de pessoas e incidência da doença.
‘Menor número de casos da história’
O monitoramento segue acompanhando os relatórios publicados pela ferramenta Infodengue, da Fiocruz. No ano passado, a previsão máxima de casos de dengue era de 5 milhões em todo o país, mas o total verificado até o momento ultrapassa 6,5 milhões, segundo o painel de arboviroses. De acordo com a ministra, o índice excepcional de contaminados é multifatorial e fortemente relacionado às mudanças climáticas. Ela reforçou que, para o ano que vem, espera uma média menor.
“Se Deus ajudar, a gente quer ter o verão com menos dengue na história desse país”, disse o presidente Lula na abertura da apresentação. Para a ministra, é uma meta difícil de se alcançar, mas que deve ser colocada no horizonte em busca do melhor resultado possível.
“Nós dificilmente teremos um verão com o menor número de casos na história, mas devemos ter isso como meta. Eu compararia com a vacinação, com o feminicídio zero. São metas que nós temos que colocar no nosso horizonte e trabalhar para isso. É possível reduzir muito sim e os cenários mudam”, colocou a ministra Nísia Trindade.
Seis eixos
À semelhança do que fizeram em 2023 com a vacinação, a nova campanha foi chamada de Movimento Nacional, com a convocação para participação ativa de estados, municípios, atores da saúde e sociedade civil. A estratégia é dividida em seis eixos: prevenção, vigilância, controle vetorial, organização da rede assistencial e comunicação e participação comunitária.
A ministra também mencionou a criação de um plano de redução de filas específico para crianças com microcefalia causada pela epidemia do vírus da zika. A ideia é diminuir o tempo de espera daqueles que precisam de cirurgias ortopédicas. O plano de ação ainda deve ser detalhado pelo governo.
Jéssica Gotlib
Repórter de saúde do JOTA. Formada pela Universidade de Brasília (UnB), com experiência no Correio Braziliense e R7, além de dois anos de experiência em comunicação no Ministério da Saúde. Também liderou a comunicação da Anajustra por três anos, produzindo conteúdo sob demanda relacionado ao Judiciário e Legislativo.
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