segunda-feira, 16 de setembro de 2024

‘Lula poderia fazer mais para sinalizar compromisso com redução de gastos’, diz Ricupero

 


Ex-ministro da Fazenda cita o presidente ao avaliar a questão dos juros no país às vésperas de reunião do Copom, e cita 'prudência' sobre decisão do BC      



Rubens Ricupero em evento em Brasília, em 2023 (Crédito: José Cruz/ Agência Brasil)

 

O ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central está em uma “situação delicada” na próxima semana, quando se reunirem para decidir o rumo da taxa básica de juros, a Selic. Contudo, chama a atenção para a colaboração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesse cenário.

“Não depende só do BC [os juros]. O próprio Lula poderia fazer mais para sinalizar um compromisso do governo para a redução de gastos”, afirmou o economista em entrevista ao site IstoÉ Dinheiro.

Rubens Ricupero foi ministro da Fazenda em 1994, quando foi lançado o Plano Real, no governo Itamar Franco (1992-1994). Para ele, o Copom está “sem clareza para tomar uma atitude”. “A situação é delicada, não é fácil chegar a uma conclusão”, avalia.

O Copom se reúne nesta terça, 17, e quarta, 18, para definir como fica a Selic, em meio à contínua pressão do governo para a redução na taxa e a uma diversidade de dados econômicos que formam um cenário de bastante expectativa, que envolve corte de juros pelo Banco Central Europeu e uma muita provável redução nos Estados Unidos, no exterior. E pressão inflacionária, economia em alta, desemprego em baixa, risco fiscal e câmbio desfavorável no cenário doméstico.

“A economia está crescendo, e a inflação ameaça sair da meta, mas a pressão está controlada. O BC tem que ser muito prudente. Acho que o BC tem que fazer um trabalho muito cuidadoso”, reforça.

Sobre a questão fiscal, Ricupero aponta para uma necessária atenção do governo para os gastos, com o presidente “fiel demais a essa linha do PT de não admitir nenhum exame de revisão dos benefícios sociais”.

Ele observa que, no momento, há dados indicadores de que os benefícios sociais estão crescendo. “O auxílio-doença, cresceu 40% e sem nenhuma explicação, pois não houve uma epidemia especial. O auxílio-desemprego tem aumentado, apesar do desemprego baixo. Era preciso que o governo examinasse de perto esses gastos e mostrasse à população que, de fato, quer melhorar a situação dos mais vulneráveis, mas não de maneira indiscriminada”.

Na sua visão, o Ministério da Fazenda até gostaria de fazer essa revisão, mas acredita que não há muito apoio do PT e do presidente. Para ele, “não é justo” deixar apenas o Banco Central encarregado de resolver os problemas.

“Compreendo que o governo e o PT tenham essa preocupação de tipo assistencialista, mas se não cortar despesa, não cria o clima para voltar a ter investimentos. A nossa taxa de investimento está menor de 17%, é bem menos do que a América Latina, que é por volta de 20%. Temos que aumentar esse investimento, pois sem investimento agora, nós não vamos crescer no futuro”. 

O tema fiscal volta quando perguntando sobre qual seria “o novo Plano Real” que o Brasil precisa, que foi o que faltou fazer até hoje no país.

“A questão monetária, que era o risco de perder o controle da inflação, foi resolvida. Temos que desenvolver no campo fiscal a mesma responsabilidade que desenvolvemos no monetário”.

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