Bom desempenho do mercado 
imobiliário em 2022 esconde um risco. Juros altos e a inflação podem 
resultar em dor de cabeça em momentos de mudanças econômicas (Crédito: 
Thomaz Silva/Agência Brasil)
																			 
																							
O bom desempenho do mercado imobiliário em 2022 esconde um risco.
 Embora estejam no menor nível em quase dez anos, os distratos continuam
 a representar perigo para quem compra imóvel na planta. Os juros altos e
 a inflação podem resultar em dor de cabeça em momentos de mudanças 
econômicas.
A aquisição de imóveis na planta representa uma categoria à parte no 
mercado imobiliário. Por meio dessa modalidade, o comprador financia a 
construção do imóvel, pagando intermediárias que, somadas, equivalem à 
entrada. Após a conclusão da unidade, contrai um financiamento no banco 
para pagar o resto.
Esse procedimento traz dois riscos embutidos. As intermediárias são 
corrigidas pelo Índice Nacional da Construção Civil (INCC), que costuma 
ser mais volátil que os demais índices de inflação. “As incorporadoras 
escolhem o INCC porque quem compra na planta está, na verdade, 
financiando a construção do próprio imóvel”, explica Marcelo Tapai, 
especialista em direito imobiliário e sócio do escritório Tapai 
Advogados.
 
Esse procedimento traz dois riscos embutidos. As intermediárias são 
corrigidas pelo Índice Nacional da Construção Civil (INCC), que costuma 
ser mais volátil que os demais índices de inflação. “As incorporadoras 
escolhem o INCC porque quem compra na planta está, na verdade, 
financiando a construção do próprio imóvel”, explica Marcelo Tapai, 
especialista em direito imobiliário e sócio do escritório Tapai 
Advogados.
Selic
Após o término da construção, o mutuário precisa estar atento a outro
 risco. De março do ano passado a setembro deste ano, o Banco Central 
(BC) elevou a taxa Selic (juros básicos da economia) de 2% para 13,75% 
ao ano. Quem tinha planejado contrair financiamento imobiliário com 
juros baixos está passando dificuldades para encaixar a prestação no 
orçamento com os juros maiores.
“Se a pessoa não fez um planejamento financeiro, pode não conseguir 
arcar com o financiamento e devolver o imóvel”, adverte Tapai. Ele 
ressalta que, embora tenha parado de elevar a Selic na
 reunião de quarta-feira (22), o Banco Central deixou a possibilidade de
 voltar a subir a taxa caso a inflação volte a acelerar. ()
 
Por enquanto, o consumidor está sentindo menos o impacto do aumento 
da Selic porque os bancos estão demorando a repassar a alta da Selic 
para o crédito habitacional. Segundo dados da Associação Brasileira de 
Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), os juros médios dos 
financiamentos imobiliários saltaram de 2,5% para 9,8% ao ano desde 
março do ano passado.
“Os financiamentos atuais estão majoritariamente ligados aos recursos
 investidos da caderneta de poupança. Como a remuneração para o 
investidor é fixa, isso impede que os juros subam tanto quanto a Selic 
ou como o IPCA. Então, acredito que o momento deve continuar positivo 
para o setor imobiliário nos próximos anos”, afirmou o presidente da 
Abrainc, Luiz França, na última quarta-feira, ao apresentar as 
estatísticas do mercado imobiliário no primeiro semestre.
Defasagem
Segundo a Abrainc, o setor imobiliário até agora não sentiu os 
efeitos da alta nos juros. No primeiro semestre, o número de lançamentos
 de imóveis subiu 3% em relação ao mesmo período do ano passado. As 
vendas cresceram 18% e o volume de financiamentos imobiliários aumentou 
5%.
Em relação aos distratos, o índice de contratos cancelados caiu de 
12% nos seis primeiros meses de 2021 para 11% no primeiro semestre deste
 ano, chegando ao menor nível desde o início da série histórica, em 
2014. “A queda é muito relevante para a indústria e nos mostra que 
podemos colocar o pé no acelerador confiando na segurança jurídica”, 
destacou França, ao apresentar os dados da Abrainc.
Advogado especializado em processos de devolução de imóveis, Tapai 
discorda e diz que os riscos continuam. “As incertezas econômicas 
continuam e muitos dos consumidores que compraram o imóvel na onda atual
 podem sentir dificuldades lá na frente. Principalmente quem adquiriu na
 planta”, alerta.
Dicas
O processo de distrato, explica Tapai, sempre resulta em prejuízo 
para o comprador. As incorporadoras normalmente devolvem apenas 50% do 
valor pago. “Como as intermediárias deveriam, em tese, equivaler a 
entrada do imóvel, o consumidor deveria reaver de 70% a 75% do valor”, 
diz. Para receber esses percentuais, o consumidor precisa entrar na 
Justiça.
Para o advogado, a melhor saída para o consumidor que comprou imóvel 
na planta e não conseguiu arcar com as prestações é repassar o contrato 
com deságio a um amigo ou outro interessado no imóvel antes de fazer o 
distrato. “Mesmo com o deságio, o comprador costuma receber 70% do valor
 investido em caso de transferência de contrato”, explica.
A principal dica do advogado, no entanto, é evitar comprar imóvel na 
planta e economizar o máximo possível para dar entrada em uma unidade 
pronta. “Quem tiver paciência e esperar pode comprar uma unidade pronta 
que foi devolvida por outro consumidor. Na pressa de se livrar do 
prejuízo, as construtoras costumam vender com descontos”, aconselha.