Dados do
Banco Central divulgados nesta quarta-feira indicam que as transações
correntes (a conta das transações do Brasil com os demais países e um
dos principais indicadores das contas externas brasileiras) tiveram um déficit de US$ 52 bilhões, o maior da história do BC.
Isso
se deve, principalmente, ao saldo comercial (valor das exportações
menos importações), que atingiu, em 2012, o pior resultado em dez anos.
No último ano, o superávit da balança comercial brasileira somou US$
19,4 bilhões, com queda de mais de US$ 10 bilhões frente ao resultado de
2011 – quando o saldo ficou positivo em US$ 29,7 bilhões.
O
resultado das contas externas só não foi pior por conta da queda no
volume de remessas de lucros e dividendos (envio de dinheiro ao exterior
pelas empresas), fator que também está relacionado com a crise externa.
No ano passado, as remessas ao exterior somaram US$ 24,11 bilhões, com
queda de cerca de US$ 14 bilhões frente aos US$ 38,16 bilhões remetidos
em 2011.
Outro fator que também contribuiu para a queda no volume
de remessas de lucros e dividendos no ano passado foi a alta do dólar.
Com dólar mais alto, as empresas recebem menos recursos quando fazem a
operação de câmbio. Durante a maior parte de 2011, o dólar operou
próximo de R$ 1,6.
Apesar de o resultado das contas externas ter batido recorde
em dólares, o valor, na proporção com o PIB, não foi o pior da série
histórica do Banco Central. No ano passado, o resultado negativo
representou 2,4% do PIB, contra 2,12% do PIB em 2011. Entre 1997 e 2011,
quando foram registrados os piores resultados da conta de transações
correntes na proporção com o PIB, os valores oscilaram entre resultados
negativos de 3,5% e 4,19%.
O resultado negativo
recorde de US$ 52 bilhões das contas externas, segundo números do BC,
foi amplamente financiado, em 2012, pelo ingresso de investimentos
estrangeiros diretos na economia brasileira.
No
ano passado, a entrada de investimentos no Brasil somou US$ 65 bilhões,
o segundo melhor de toda a série histórica do Banco Central, perdendo
apenas para o ano de 2011 (US$ 66,6 bilhões).
Outros dados
Em 2012, a conta serviços registrou saídas líquidas de US$41,1 bilhões,
acréscimo de 8,3% na comparação com 2011. As despesas líquidas com
aluguel de equipamentos atingiram US$1,8 bilhão no mês e US$18,7 bilhões
no ano, elevação de 12,3% em relação ao ano anterior. A conta de
viagens internacionais apresentou déficit de US$1,4 bilhão no mês,
influenciado pela redução de 11,4% dos gastos de estrangeiros no Brasil e
pelo crescimento de 12% dos gastos de brasileiros no exterior, ambos na
comparação com dezembro de 2012. No ano, o saldo negativo de US$15,6
bilhões constituiu o recorde da série, com receitas e despesas atingindo
os níveis máximos de US$6,6 bilhões e de US$22,2 bilhões,
respectivamente.
As despesas líquidas com transportes
somaram US$722 milhões em dezembro, acumulando déficit de US$8,8 bilhões
no ano, ante US$8,3 bilhões registrados em 2011. O déficit em serviços
de computação
e informações atingiu US$484 milhões em dezembro e US$3,9 bilhões no
ano, 1,3% acima do resultado de 2011. As remessas líquidas de royalties e licenças somaram US$302 milhões no mês e US$3,2 bilhões no ano, acréscimo de 16,4%, comparativamente ao ano anterior.
As
remessas líquidas de renda para o exterior somaram US$6,5 bilhões no
mês, 1,7% acima do resultado de dezembro de 2011, acumulando US$35,4
bilhões em 2012, recuo de 25,1% na comparação com o ano anterior. Em
dezembro, as saídas líquidas de renda de investimento direto somaram
US$4,6 bilhões, dos quais US$4 bilhões em remessas líquidas de lucros e
dividendos. As remessas líquidas de renda de investimento em carteira
totalizaram US$1,3 bilhão, dos quais US$852 milhões referentes a juros
de títulos de renda fixa e US$429 milhões a remessas líquidas de lucros e
dividendos. As remessas líquidas de rendas de outros investimentos
somaram US$747 milhões em dezembro. No ano, os pagamentos líquidos de
juros alcançaram US$11,8 bilhões, de US$9,7 bilhões no ano anterior. As
remessas totais líquidas de lucros e dividendos somaram US$24,1 bilhões
em 2012, com redução de 36,8% na comparação com 2011.
No mês, as
transferências unilaterais somaram ingressos líquidos de US$244 milhões,
acumulando no ano US$2,8 bilhões, redução de 4,6% na comparação com
2011. O ingresso bruto referente à manutenção de residentes atingiu US$2
bilhões em 2012, situando-se 6,8% abaixo do resultado do ano anterior.
Os
investimentos brasileiros diretos no exterior somaram, em dezembro,
aplicações líquidas de US$245 milhões, acumulando retornos líquidos de
US$2,8 bilhões em 2012, ante US$1 bilhão em 2011, compreendendo US$7,6
bilhões em aquisições líquidas de participação no capital de empresas no
exterior e US$10,4 bilhões em amortizações líquidas de empréstimos de
intercompanhias.Os investimentos estrangeiros diretos registraram
ingressos líquidos de US$5,4 bilhões em dezembro.
No ano, os
fluxos líquidos de IED alcançaram US$65,3 bilhões, comparativamente ao
resultado recorde do ano anterior, US$66,7 bilhões. A participação no
capital de empresas no País, incluídas as conversões em investimentos,
somou ingressos líquidos de US$52,8 bilhões e os empréstimos
intercompanhias totalizaram US$12,4 bilhões, em 2012.Os investimentos
estrangeiros em carteira apresentaram ingressos líquidos de US$1,8
bilhão, no mês, e de US$16,5 bilhões em 2012, comparativamente a US$18,5
bilhões, no ano anterior. Os investimentos estrangeiros em ações
totalizaram ingressos líquidos de US$3,3 bilhões no mês e de US$5,6
bilhões no ano. No mercado doméstico, os investimentos de não residentes
em títulos de renda fixa apresentaram saídas líquidas de US$524 milhões
no mês e ingressos líquidos de US$5,1 bilhões no ano.
As
amortizações líquidas referentes a bônus da República atingiram US$34
milhões em dezembro, acumulando ingressos líquidos de US$106 milhões em
2012. Os bônus, notes e commercial papers, todos
de emissores privados, somaram saídas líquidas de US$886 milhões em
dezembro e ingressos líquidos de US$6 bilhões no ano. A taxa de rolagem
para papéis de médio e longo prazos, excetos bônus da República,
totalizou 177% em 2012.
Não houve operações em títulos de renda
fixa de curto prazo negociados no exterior no mês, e, no ano, as saídas
líquidas totalizaram US$125 milhões.Os outros investimentos brasileiros
no exterior resultaram em aplicações líquidas de US$5 bilhões em
dezembro, das quais US$2,9 bilhões referentes à elevação de depósitos
detidos por bancos. No ano, as aplicações líquidas no exterior atingiram
US$24,3 bilhões, compreendendo concessões líquidas de créditos
comerciais e empréstimos de curto prazo, US$16,6 bilhões; constituição
de depósitos de bancos brasileiros no exterior, US$4 bilhões, e de
ativos dos demais setores, US$2,8 bilhões.Os outros investimentos
estrangeiros no País registraram ingressos líquidos de US$2,8 bilhões em
dezembro e de US$22,5 bilhões no ano.
O crédito comercial de
fornecedores registrou amortizações líquidas de US$2,6 bilhões no mês e
desembolsos líquidos de US$14,7 bilhões no ano, quase que inteiramente
composto por operações de curto prazo. Os empréstimos de médio e longo
prazos apresentaram ingressos líquidos de US$5,7 bilhões, em dezembro, e
de US$12,6 bilhões, no ano, com destaque para os desembolsos líquidos
de empréstimos diretos, US$13 bilhões. A taxa de rolagem para
empréstimos diretos de médio e longo prazos atingiu 194% em 2012. Os
empréstimos junto a organismos e agências totalizaram ingressos líquidos
de US$3,2 bilhões e de US$2,4 bilhões, respectivamente, enquanto os
empréstimos de compradores acumularam amortizações líquidas de US$6
bilhões em 2012. As amortizações líquidas de empréstimos de curto prazo
atingiram US$1,7 bilhão no ano.
Dívida externa
A
posição estimada da dívida externa total referente a dezembro totalizou
US$316,8 bilhões, elevando-se US$7,3 bilhões em relação ao estoque
apurado para setembro. A dívida externa de longo prazo atingiu US$279,3
bilhões, com aumento de US$6,5 bilhões, enquanto o estoque de curto
prazo elevou-se US$875 milhões, para US$37,5 bilhões.Dentre os
principais fatores de variação da dívida externa de longo prazo
destacaram-se as captações líquidas de empréstimos tomados pelo governo e
pelo setor bancário, US$3,1 bilhões e US$2,7 bilhões, respectivamente; a
colocação líquida de títulos pelo setor não financeiro, US$1,4 bilhão; e
as amortizações líquidas de títulos pelo setor bancário, US$741
milhões. A variação por paridades reduziu o estoque em US$480 milhões.