domingo, 8 de setembro de 2013

Brics vão abrir Banco conjunto com capital de US$ 50 bilhões, diz fonte

Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul fariam contribuições de mesmo valor, encerrando disputas sobre o financiamento e administração do banco 

NOVA DÉLHI - O grupo de países emergentes conhecido como Brics, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, chegou a um acordo para a estrutura de capital de um futuro banco conjunto.

Ficou acertado que a instituição terá um capital total de R$ 50 bilhões, para o qual todos os integrantes do grupo contribuirão igualmente, afirmou nesta quarta-feira uma autoridade sênior indiana ao jornal The Wall Street Journal.

O acordo provavelmente encerrará disputas anteriores sobre o financiamento e administração do banco. A princípio, a China havia proposto um aporte de capital de US$ 100 bilhões e uma participação maior na instituição.

Outras questões importantes, como propostas para que o grupo ofereça uma participação minoritária no banco a nações desenvolvidas como os EUA, ainda precisam ser melhor discutidas. Segundo o oficial indiano, o Brics está considerando a possibilidade de oferecer uma parcela de 40% a 50% a países de fora do grupo.

A presença de economias desenvolvidas na instituição a ajudaria a garantir ratings maiores e captar fundos mais baratos no mercado. Os ratings dos Brics são variados.

A fonte indiana disse também que a localização do futuro banco conjunto também não foi definida ainda. De acordo com o oficial, as questões pendentes deverão ser discutidas às margens das reuniões anuais do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington, marcadas para 11 a 13 de outubro.

A proposta do banco conjunto foi apresentada pela primeira vez durante uma reunião de cúpula dos Brics, em março de 2012.  
Fonte: Dow Jones Newswires.

‘Privatização à moda do PT’, editorial do Estadão


 


Publicado no Estadão deste sábado

Com a decisão de duplicar com recursos públicos parte das rodovias cujas operações e obras de manutenção e melhoria serão transferidas para empresas privadas em leilões de concessão que começam daqui a duas semanas, o governo Dilma mostra, mais uma vez, que ainda não conseguiu definir um modelo adequado para a participação do setor privado na infraestrutura de transportes. Mais de um ano depois de anunciado pela presidente Dilma Rousseff, o Programa de Investimentos em Logística, que previa a transferência de 7,5 mil quilômetros de rodovias federais (número revisto para 7 mil km) e de 10 mil km de ferrovias para o setor privado, ainda não saiu do papel.

Se o cronograma inicial tivesse sido cumprido, os nove lotes rodoviários que compõem o programa já teriam sido leiloados. O primeiro leilão de rodovias chegou a ser marcado para o início do ano, mas as condições definidas pelo governo não atraíram investidores privados. Diante do risco real de que não haveria interessados, o empreendimento foi cancelado. Só no próximo dia 18 será realizado o primeiro leilão, para a concessão da BR-050, que liga os Estados de Goiás e Minas Gerais, e da BR-262, entre o Espírito Santo e Minas Gerais. O segundo leilão, da BR-101, na Bahia, está programado para 23 de outubro. Mas as regras continuam sendo alteradas, porque o governo não tem conseguido compatibilizar seus próprios interesses com os dos investidores e dos usuários.

Como noticiou o Estado (1/9), depois de constatar que os investimentos exigidos dos consórcios vencedores de três dos nove lotes a serem leiloados exigiriam pedágios bem mais altos do que o máximo que havia sido definido, o governo decidiu duplicar esses trechos com dinheiro do Tesouro Nacional. Serão duplicados pelo governo 221 km da BR-101 (BA), 180,5 km da BR- 262 (ES) e 281,1 km da BR-163 (MT).

O governo do PT demorou vários anos para, afinal, se dar conta de que os investimentos em infraestrutura de transporte, necessários para evitar crises e assegurar o crescimento do país, ultrapassam a capacidade do setor público. Admitiu, com relutância, a entrada do capital privado no setor, mas vem tentando impor aos investidores condições que não asseguram a remuneração do investimento no prazo concedido. Para evitar o fracasso dos leilões, vem modificando as regras com frequência ─ e nem sempre tem tido êxito, pois as mudanças geram insegurança e incerteza entre os investidores. O resultado é o atraso na execução de seu programa de logística.

O primeiro leilão tinha sido marcado para 30 de janeiro, mas, por causa da falta de interessados, o governo o suspendeu. Em fevereiro, foram anunciadas regras mais favoráveis para os investidores, como a possibilidade de obtenção de financiamentos oficiais a juros mais baixos, a revisão do aumento do tráfego nas rodovias a serem leiloadas e mudanças não muito claras na taxa de retorno do investimento.

Esperava-se que o leilão fosse, afinal, realizado em maio, mas as mudanças anunciadas em fevereiro não foram suficientes para atrair investidores. Só então, o governo anunciou de maneira clara que a taxa interna de retorno do investimento para os leilões de rodovias passaria de 5,5% para 7,2% – como está definido nos editais para os dois leilões que já têm data definida.

Mas as pressões para mudanças nas regras continuam fortes. Ironicamente, no momento, elas estão concentradas num ponto que o governo do PT considerava básico em seu programa de concessões, a chamada modicidade tarifária, isto é, a cobrança de tarifas baixas pelos serviços prestados. No caso das concessões rodoviárias, o governo federal insinuava que seu programa era muito melhor do que o do governo do Estado de São Paulo, ao qual acusava de impor pedágios caros aos usuários. Para evitar o aumento nos pedágios das rodovias federais a serem concedidas, o governo usará dinheiro público para aliviar os ônus do investidor privado, mas, ainda assim, em alguns postos de pedágio, os usuários desembolsarão até R$ 12. Não é uma tarifa módica.

Fundação BB dá R$ 36 milhões a ONGs ligadas ao PT


A lista de organizações não governamentais, associações e prefeituras beneficiadas está sob investigação da Polícia Civil do Distrito Federal

Fausto Macedo, do
Ben Tavener/Creative Commons
Sede do Banco do Brasil em Brasília

Sede do Banco do Brasil em Brasília: o banco faz auditoria nos contratos e parcerias


São Paulo - Controlada pelo PT, a Fundação Banco do Brasil firmou convênios de R$ 36 milhões com entidades ligadas ao partido e familiares de seus dirigentes. A lista de organizações não governamentais, associações e prefeituras beneficiadas está sob investigação da Polícia Civil do Distrito Federal. O banco faz auditoria nos contratos e parcerias.

A posse na fundação, em junho de 2010, foi prestigiada por quadros importantes da sigla, entre eles cinco parlamentares e o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci.

Streit sucedeu a Jacques Pena, filiado ao PT do DF, cuja administração foi marcada por repasses a entidades ligadas aos seus parentes, agora sob investigação. Com sede numa sala sem placa de identificação em Brasília, que fica trancada em horário comercial, só a Associação de Desenvolvimento Sustentável do Brasil (Adesbra) firmou parcerias de R$ 5,2 milhões desde 2003. O diretor executivo da entidade, Joy de Oliveira Penna, é irmão de Jacques e tem ligações com outras entidades contempladas com recursos.

Os irmãos Pena são conhecidos por levar para a fundação a República de Caratinga, sua cidade de origem. Com a Associação dos Produtores Rurais e Agricultores Familiares de Santo Antônio do Manhuaçu, sediada no município, a fundação firmou convênio de R$ 1,05 milhão. A associação é comandada por dois primos de Jacques e Joy. "Tem razão de estar desconfiando, porque é parente, né?", admite o ex-presidente, atual tesoureiro da associação e primo da dupla, Sérgio Pena de Faria.

Segundo ele, o projeto desenvolvido na cidade, para aperfeiçoar técnicas de produção agrícola, foi apresentado por outra entidade, mas a fundação não a aceitou, pois a proponente tinha só dois anos de existência. Os dirigentes, então, pediram que a associação a substituísse.

"Cedi os documentos, mandaram para lá, onde que foi aprovado", conta Pena, negando favorecimento. "Essa associação não é igual a gente ouve falar aí que é só para desviar dinheiro. Pode dormir 'sono solto' que os documentos estão direitinho. Esse projeto foi o mais vigiado do Brasil", assegura, acrescentando que os fiscais da fundação fiscalizaram a execução e que houve prestação de contas.

Para Caratinga, a fundação mandou mais R$ 1,3 milhão para construir o Centro de Excelência do Café na gestão do ex-prefeito João Bosco Pessine (PT). A atual administração, do PTB, diz que teve de fazer obras adicionais para completar o projeto. Pessine não foi localizado.

A investigação da Polícia Civil começou a partir de denúncia de uma servidora da fundação, que está sob proteção policial e da área de segurança do Banco do Brasil. O órgão explica que as apurações são da sua alçada, e não da Polícia Federal, pois a fundação recebe recursos do banco, uma empresa de economia mista.


Denúncia


A funcionária teria recebido ameaças após delatar suposto esquema de desvio de recursos. Ela contou à polícia que a prestação de contas de algumas entidades não era analisada adequadamente. Não está descartado o afastamento do atual presidente da fundação, Jorge Alfredo Streit. A expectativa no Banco do Brasil é de que as primeiras conclusões da auditoria saiam neste fim de semana.

As denúncias sob investigação integram processo sob sigilo que tramita no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. A fundação explica que não teve acesso aos autos. Recentemente, atendendo à solicitação, enviou informações ao Ministério Público do DF. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

sábado, 7 de setembro de 2013

Para Nobel Edmund Phelps, EUA desaprenderam a inovar

Em entrevista exclusiva para EXAME.com, economista culpa lobbies, patentes, pensamento de curto prazo e declínio de valores pela queda de dinamismo dos EUA

Dennis Brack
Edmund Phelps, vencedor do Prêmio Nobel, fala em encontro anual de economistas em Washington

Edmund Phelps, vencedor do Prêmio Nobel, fala em encontro anual de economistas em Washington


São Paulo – Edmund Phelps está preocupado: desde o final dos anos 70, ele vê uma economia americana com crescimento em baixa e desigualdade em alta. A razão para isso: uma crise de inovação, causada por mudanças de valores e uma queda de dinamismo.

Essa é a tese central de seu novo livro: “Mass Flourishing: How Grassroots Innovation Created Jobs, Challenge and Change” (em tradução livre: “Florescimento em massa: como a inovação de base criou empregos, desafio e mudança”), que será lançado semana que vem nos Estados Unidos e ainda não tem data prevista de publicação no Brasil.

Phelps ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2006 por seus trabalhos pioneiros sobre desemprego estrutural e sua relação com a inflação. Do seu escritório na Universidade Columbia em Nova York, onde dá aula de economia política e lidera o "Centro de Capitalismo e Sociedade", o americano de 80 anos conversou por telefone com EXAME.com:

EXAME.com - No seu livro, você fala em economia dinâmica e economia vibrante. Qual é a diferença? O crescimento econômico é um bom critério de dinamismo?

Phelps - Crescimento não é sinônimo de dinamismo. Na Grande Depressão, tivemos por muito tempo crescimento zero e, ao mesmo tempo, um nível enorme de inovação. Na França e na Itália nos anos 70, 80 e 90 foi o contrário: um crescimento muito rápido, mas quase sem evidência de qualquer inovação. Elas conseguiram crescer pela cópia.

Quando falo de vibração, me refiro a uma linha que vibra com algum impulso ou choque. Você pode ter uma sociedade muito vibrante e alerta para oportunidades, mas que não consegue criar nada útil e não tem novas ideias ou insights. No começo do século XX, quando economistas começaram a pensar no rápido crescimento do século XIX, todos pensaram que o setor de negócios não gerava nenhuma ideia nova e que as inovações vinham de fora da economia, de cientistas e navegadores. Era assim que Schumpeter pensava: que a economia só era boa era em perceber as oportunidades criadas. 

EXAME.com - Você menciona que a interatividade é um fator para o dinamismo, mas que sofremos de déficit de atenção e estamos mais preocupados em “ser do que realizar”. Colocando numa balança: as novas tecnologias vão causar mais inovação ou isso será compensado por fenômenos culturais mais amplos?

Phelps - Obrigado pela pergunta. Acho que eu nunca a vi antes. Primeiramente: é muito cedo para alguém saber, e eu não sou exceção. Mas o tipo de interatividade de que eu falo é dois caras que saem da empresa para tomar uma cerveja no fim do dia, descobrem que estão na mesma onda e começam a trabalhar juntos: pessoas no mesmo lugar, pensando nos mesmos problemas.

Não acho que as chances sejam boas de que um cara me escrevendo em um blog vá me ajudar muito, apesar de que nunca se sabe. Preciso admitir que eu não passo muito tempo olhando blogs, mas tenho navegado por aí, visto comentários. Às vezes você realmente aprende alguma coisa, mas não acho que aconteça com uma frequência tão grande que justifique – para mim, pelo menos – passar muito tempo procurando pessoas para interagir. 

EXAME.com - No seu livro, você menciona que a ideia de propriedade intelectual protegida pelo Estado foi essencial para a economia moderna. Mas outro fenômeno recente é a pirataria e o debate sobre qual propriedade intelectual podemos – ou devemos – preservar. Isso te preocupa? 

Phelps - A introdução do sistema de patentes foi incrível, mas ele está sendo abusado. Empresas como a Disney tiveram patentes estendidas desde 1932. 80 anos! Isso é loucura! Não era para ser assim. Houve um abuso do sistema: ao longo dos anos, quase tudo foi patenteado, exagerando um pouco. Talvez precisemos parar, encerrar todas as patentes existentes e começar de novo só patenteando coisas novas. 

EXAME.com - Então deve haver um rebalanceamento?

Phelps - Seria uma tremenda injeção na veia. 

EXAME.com - Você escreve que a economia moderna “floresce na diversidade”. Você acredita que disparidades de gênero e raça atrapalham o crescimento? Fenômenos como a aceitação dos homossexuais no Ocidente também podem ter efeitos econômicos positivos?

Phelps - Eu cito no livro lá pro final – é um livro longo, eu sei, nem todo mundo chega ao final (risos) – que quando foi permitido que os negros entrassem no mundo dos negócios de música em Detroit, isso produziu uma revolução. Se as pessoas que tem emprego e qualquer possibilidade de contribuir com a inovação são todas iguais, então é como se fosse uma pessoa só, onde quer que você olhe, e isso não favorece novas ideias! É óbvio que você terá mais criatividade na força de trabalho o quanto mais diversos e ricos forem seus interesses, gostos e origens.
EXAME.com - Você acredita que o aumento da desigualdade nos Estados Unidos pode ser atribuído a um aumento ou diminuição da inovação? Como responder a isso? A impressão é que a única proposta concreta é aumento de impostos.

Phelps - (Risos) É, de fato. Tirar parte da renda das pessoas: boa aritmética, mas não sei se boa política econômica. Acredito que a desaceleração da inovação foi um dos fatores que contribuíram para o aumento da desigualdade. Já que todo mundo está tendo problemas em inovar, as empresas estabelecidas não tem que se preocupar com a entrada de novas companhias com novos produtos. E se não precisam manter seus preços baixos para impedir novatos, os preços aumentam, e esse inchaço ajuda a aumentar a desigualdade.
Isso também é ruim para o emprego: se as companhias vão ter uma parcela maior do produto econômico, então a parcela do trabalho vai ser menor, e os salários reais diminuem ou crescem menos. É uma rede de forças que interagem. A queda de inovação foi ruim tanto para o emprego quanto para a desigualdade. 


EXAME.com - Ou seja, a tese do livro é que o florescimento é o desenvolvimento real de longo prazo, e não surtos de crescimento baseados em outros fatores?

Phelps - Sim, e você consegue esse florescimento em uma economia com muito dinamismo, na qual muitas pessoas estão explorando, superando desafios, pensando o tempo todo em: como vamos criar? Como vamos fazer melhor? Qual será o produto melhor para fazer? Dinamismo cria florescimento. Mas é possível crescer muito e ainda assim ficar menos dinâmico.

EXAME.com - Você acredita que o crescimento recente dos emergentes como Brasil, Índia e China podem ser atribuídos a um aumento de dinamismo ou eles estão apenas tirando a diferença?

Phelps - Essa é uma pergunta que muitos tem feito e é difícil chegar a uma conclusão. Vou muito para a China, então estou um confiante com minha resposta: a maior parte do crescimento nos últimos 10 anos veio de transferência tecnológica dos Estados Unidos e outras economias do Ocidente, é verdade, mas tem havido algum dinamismo e inovações realmente chinesas. Talvez a China seja hoje mais inovadora do que a Europa – mais que os Estados Unidos, aí eu não gostaria de saber, essa é difícil (risos).

EXAME.com - Como isso foi possível com um Estado tão grande...

Phelps - E pobre?

EXAME.com - Pobre, e que cria tantas dificuldades para a expressão individual... 

Phelps - Veja só: se eles deixarem de ser pobres e começarem a ter mais expressão individual, eles vão estar ainda melhores! Fique de olho! (risos)

EXAME.com - Então não te surpreende que tenha havido uma desaceleração nos emergentes?

Phelps - Não, não estou surpreso, porque apesar de estarem aprendendo a inovar, eles tem copiado coisas de outros lugares tão rapidamente e de forma tão extensa que isso sufoca um pouco a inovação interna. E agora as oportunidades estão se esgotando. Há duas coisas causando a desaceleração chinesa: falta de novos mercados para exportar, com a Europa estagnada e os EUA crescendo devagar, e problemas em continuar copiando tecnologia. As corporações americanas estão obstinadas em impedir que suas tecnologias vazem para firmas competidoras na China. 

EXAME.com - Você escreve que o socialismo e o corporativismo foram as maiores ameaças para o capitalismo no século passado. Qual é a maior ameaça hoje?

Phelps - Vamos deixar o socialismo de lado: sua ideia clássica é a posse dos meios de produção pelo estado, e não acho que isso esteja voltando. Já o corporativismo passou por uma metamorfose, mas está vivo e prosperando. Nos tempos do Mussolini, corporativismo era um chapéu de três pontas com capital, trabalho e governo. Você tinha uma batalha entre corporações enormes, um pequeno número de indústrias e enormes organizações trabalhistas, e o governo atuava como juiz. 

Nós não temos isso agora nos EUA, e até a Europa tem hoje muito mais competição, abertura para comércio e outras melhorias, ainda que menos do que eu gostaria. Nos EUA, os sindicatos praticamente desapareceram do setor privado. Eles foram para o setor público – educação, saúde e os governos são altamente sindicalizados – mas não acho que isso tenha de fato grandes consequências. Não dou grande ênfase para eles no contexto americano. O que eu vejo é um nível enorme de lobby: grupos de interesse constantemente negociando com o governo para conseguir proteções, subsídios e dispensas de alguma exigência, o que quer que seja para não precisarem competir no mercado. Há muito litígio: pessoas se processando o tempo todo. 

Há um declínio de valores modernos e do espírito empreendedor. Se você é um jovem e diz “Mãe, pai: quero ir para Xangai fazer minha carreira”, eu não sei se isso seria bem recebido. Ou para sua mulher: “querida, quero que você cuide das crianças pelos próximos 2 anos, porque vou começar uma empresa e isso vai me tomar 15 horas por dia, 7 dias por semana”. Eu não sei se isso seria bem recebido. 

Talvez nós tenhamos ficado gordos demais, confortáveis demais, ricos demais, e não aceitamos mais que as pessoas precisam ser pioneiras, exploradoras, criadoras. Atitudes mudaram, e isso torna mais difícil para as pessoas começarem empresas e conseguirem bons resultados. Eu quase posso lembrar o tempo – porque eu sou bem velho – em que as empresas estabelecidas eram inovadoras, o que acontece muito pouco hoje. 

Até a Microsoft já não inova mais. Steve Jobs era um exemplo de um outsider, assim como todos os nossos inovadores importantes nas últimas décadas. 

Há muito pensamento de curto prazo. Os presidentes-executivos sabem que vão estar no cargo por pouco tempo e precisam mostrar serviço enquanto podem. Não estão pensando em inovações para dar resultado 5 ou 10 anos depois; isso não os ajuda nem um pouco. 

EXAME.com - O sistema financeiro atual também tem responsabilidade?

Phelps - Sim, eu acredito que o sistema financeiro merece parte da culpa. Os fundos de investimento colocam pressão nos presidentes para atingirem metas de resultados trimestrais, e os bancos praticamente se esqueceram como emprestar dinheiro para empresas. Eles compram dívida corporativa de companhias grandes e estabelecidas, mas não é a mesma coisa de olhar o plano e os sonhos de uma empresa e financiar algumas de suas iniciativas. 

EXAME.com - Os bancos “grandes demais para quebrar” são parte disso, não? Porque não precisam se preocupar nem em sobreviver.

Phelps - E são forçados a ficarem muitos seguros para que o governo não tenha que resgatá-los no futuro. Mas já que são obrigados a guardar tanto capital, e terão margens de lucro muito baixas, não poderão fazer qualquer tipo de empréstimo arriscado. Talvez isso não tenha saído com a ênfase suficiente no livro: nós estamos legislando uma grande aversão ao risco. A lei, ao invés de ajudar as pessoas a se arriscarem, tem cada vez mais o objetivo de impedir o risco, porque o governo não quer lidar com isso. 

EXAME.com - Nesse sentido, como você avalia a reação de Obama à crise nos últimos 5 anos?

Phelps - Não sei. Meu foco é o glorioso dinamismo dos anos 60 e a perda dele. A crise é uma coisa separada, apesar de estarem relacionadas. Uma das razões foi que o governo americano queria empurrar os bancos para fazer mais empréstimos para moradia, então eles pensaram que tinham luz verde para fazer isso sem se preocupar com a Justiça. E a razão pela qual o governo estava tão desesperado em estimular o mercado imobiliário era porque a economia estava muito fraca de 2002 em diante.

Muitas dessas medidas desesperadas eram um reflexo de como a economia esteve débil desde o início dos anos 70. Já tentamos de tudo agora! Reagan, Clinton, Bush, Obama: todos tentaram medidas, mas elas não resolvem o problema do que eu acredito ser um declínio importante no dinamismo da economia americana. 

EXAME.com - A crise foi um sintoma de problemas de longo prazo, mas também poderia ter sido uma oportunidade de lidar com eles, o que não tem acontecido.

Phelps - Certamente não. A administração parece estar a milhas de distância de pensar em como trazer mais tomada de risco, mais visão, mais aventura e mais criatividade para a economia.  

EXAME.com - É interessante que você fale em tomar riscos, porque no senso comum, a impressão é que essa foi a causa da crise. Mas entendo que você esteja falando em outro tipo de risco, além de derivativos.

Phelps - Sim, fazer um mergulho numa situação incerta. Não jogar dados em um tabuleiro, mas estar disposto a se mover em direção ao desconhecido sem saber no que isso vai dar. Isso é excitante! Torna a vida interessante. Precisamos voltar para esse espírito. 

EXAME.com - No livro, você celebra a decisão de Marissa Mayer de abolir o home office no Yahoo!. O senso comum o considera uma inovação em relação às praticas tradicionais, mas você diz exatamente o oposto, que é um retorno a valores tradicionais.

Phelps - Essa é uma das novas histórias que apareceram nas últimas semanas do livro e tive sorte de conseguir colocar. Voltamos à interatividade: duas pessoas que se encontram na hora de pegar um copo d´água no escritório e começam a falar de algum assunto que leva a algo maior. Uma parte da inovação ocorre em simplesmente fazer duas pessoas falando simultaneamente chegarem em alguma conclusão. Você não tem isso se metade da força de trabalho está em casa. 

EXAME.com - Há uma impressão de que para o governo aumentar a inovação, basta investir em pesquisa científica. Você diz que a relação não acontece assim. No Brasil, temos taxas baixas de inovação e de exportações de alta tecnologia. Como abordar esse problema?

Phelps - Há uma discussão eterna sobre isso. O que eu posso dizer é que a inovação americana foi fenomenal porque todo tipo de pessoa, de todas as origens, tinha uma atitude inovadora. As pessoas queriam fazer algo novo para mostrar pro mundo, e estavam excitadas em mudar práticas. Nem eu nem ninguém pode provar que não deveríamos experimentar com tentativas do governo inovar. E isso é especialmente verdadeiro em relação a programas para criar algum salto técnico, como a internet, criada sob um contrato com o exército americano, que resolve muitos problemas de engenharia. Eu não gostaria de fechar isso.

Mas é preciso ficar claro que nossa inovação não veio principalmente de descobertas cientificas financiados pelo governo, e sim de milhões de pessoas tentando fazer algo melhor, seja uma mudança de procedimento numa sala de operação em um hospital ou no método de transportar coisas. Há um espectro amplo em que nenhuma “ciência” de verdade é necessária.

Claro que o inovador vai usar qualquer tecnologia que estiver disponível, mas não acho que os negócios fiquem sentados esperando alguma melhora na engenharia e de repente se levantam da cadeira e vão pensar nas aplicações comerciais, como Schumpeter imaginou. Não é assim! Inovação é pensar em ideias para novos produtos e métodos nos locais de trabalho. Mas é bom ter esses avanços de engenharia e a internet é o melhor exemplo. Não sei se o setor privado teria descoberto como criar a internet com o tempo, mas provavelmente sim. 

EXAME.com - Você também escreve que a busca pela inovação compete com a busca pela riqueza, e que é preciso haver a motivação da descoberta, não só do lucro.

Phelps - Sim, com certeza. Há uma atitude por aí de que as pessoas não querem mais inovar, então vamos deixar isso com o governo! O problema é que, de forma geral, eles não vão ter muitas boas ideias, porque não estão próximos do mundo dos negócios. E também – e isso é importante – é muito elitista, porque se o governo tentar fazer a inovação para nós, vão criar todo tipo de institutos e corporações público-privadas. Se alguém tiver uma ótima ideia para inovação, vai estar competindo com o governo, e se for uma pessoa dentro do governo, a burocracia pode achar complicado conseguir a atenção do líder de operações no topo.

Inovação não é burocrática: é algo desestruturado que exige liberdade e interações, e o governo simplesmente não será muito bom nisso. Tudo bem se quiser fazer algumas apostas, mas acho que elas terão baixa probabilidade de sucesso. A melhor aposta é tentar despertar a inovação no setor privado, o que exige corrigir incentivos nos negócios, renovar o setor financeiro e celebrar a exploração e criação. Precisamos reassumir o espírito de pioneirismo.

Brasil enviará missão para debater dívida bruta com FMI

Governo enviará uma missão técnica a Washington para aprofundar a discussão sobre a proposta de mudança no conceito da dívida bruta

Bloomberg
Mapa mundi visto dentro do símbolo do FMI
Símbolo do FMI: governo brasileiro quer que o Fundo reconsidere a inclusão da dívida do Tesouro Nacional detida pelo BC no cálculo da dívida bruta


Brasília - O governo brasileiro enviará uma missão técnica a Washington nos próximos dias para aprofundar a discussão com o Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a proposta de mudança no conceito da dívida bruta, informou o Ministério da Fazenda nesta sexta-feira por meio de comunicado.

O governo brasileiro quer que o Fundo reconsidere a inclusão da dívida do Tesouro Nacional detida pelo BC no cálculo da dívida bruta.

O assunto foi discutido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, em reunião com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, na manhã desta sexta-feira, durante a Cúpula do G20, em São Petersburgo, na Rússia.

Pelos critérios do FMI, a dívida bruta do setor público brasileira era equivalente a 68 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) no fim do ano passado, ante dado calculado pelo Banco Central de 58,7 por cento.

Cerco da Receita sobre fusões e aquisições pressiona mercado


No primeiro semestre, o volume de fusões e aquisições envolvendo empresas brasileiras encolheu para 279, menor nível dos últimos oito anos

Natalia Gómez, da
Divulgação
Fábrica da Seara
Fábrica da Seara: companhia da Marfrig foi adquirida pela JBS, mas o negócio ainda espera autorização do Cade

São Paulo - O crescente cerco da Receita Federal sobre operações de fusões e aquisições no país coloca ainda mais pressão negativa sobre um mercado já enfraquecido pela debilidade do cenário econômico e por dificuldade de compradores e vendedores chegarem a acordos sobre os preços dos ativos.

No primeiro semestre, o volume de fusões e aquisições envolvendo empresas brasileiras encolheu para 279 -- menor nível dos últimos oito anos, segundo dados da Thomson Reuters. No mesmo período do ano passado, foram realizadas 453 fusões e aquisições de empresas brasileiras.

"A voracidade das autuações do fisco acaba amedrontando investidores estrangeiros, sem dúvida, e os nacionais também", afirmou à Reuters a sócia responsável pela área tributária do Tozzini Freire Advogados, Ana Cláudia Utumi.

A fiscalização tem se intensificado nos últimos anos, especialmente a partir de 2011, quando começaram a funcionar as delegacias especializadas em grandes contribuintes, avalia a advogada.

"As delegacias levaram as autuações para outro patamar, ficaram mais elaboradas e a argumentação ficou mais detalhada", disse Ana Cláudia. No ano passado, as autuações de empresas pela Receita chegaram a 105,7 bilhões de reais.

Procurada, a Receita Federal não quis se pronunciar.
Os dois pontos mais comumente questionados pelo fisco em operações de fusões e aquisições são a amortização de ágio e os ganhos de capital. No primeiro caso, o questionamento é feito sobre o aproveitamento fiscal do ágio da aquisição, que é a diferença entre o preço pago por uma companhia e seu valor patrimonial.

O fim deste benefício-- que não é comum em outros países-- está na pauta da Receita, segundo especialistas consultados pela Reuters. "Enquanto este assunto não for pacificado pela continuidade ou não do ágio, pode ter algum receio por parte dos investidores", afirmou o professor de contabilidade da Fecap, Eduardo Flores.

Na visão do professor Fernando Caio Galdi, da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), a retirada deste benefício poderia tirar ainda mais a atratividade do Brasil para investimentos.

No segundo caso, o fisco questiona ganhos de capital obtidos na operação, e neste caso quem recebe a autuação é o vendedor. O caso de maior monta recentemente se enquadra nesta segunda categoria e recaiu sobre a fusão que formou o Itaú Unibanco, maior banco privado do país, em 2008.

A Receita está cobrando cerca de 18,7 bilhões de reais em impostos atrasados relacionados à operação, ao questionar a forma como a integração entre Itaú e Unibanco foi realizada. A Receita defende que fusão deveria ter apurado ganho de capital, com consequente tributação.

Na ocasião, a operação de fusão dos bancos Itaú e Unibanco foi aprovada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pelo Banco Central e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O Itaú Unibanco contesta o procedimento sugerido pela Receita, pois acredita que não seria viável do ponto de vista legal.

"Existe uma postura geral da Receita Federal no sentido de desconsiderar operações legítimas, a exemplo das transações do Santander e Banespa, empresas de telefonia e energia, e do Itaú Unibanco", disse o sócio responsável pela área tributária do escritório Machado Meyer, Celso Costa.

Em sua visão, a "agressividade" da Receita gera um cenário de insegurança jurídica para o empresariado brasileiro e para investimentos estrangeiros.

O ação contra o Itaú foi divulgada quase um ano depois que a Receita afirmou que estava iniciando a cobrança de 86 bilhões de reais em impostos atrasados, na maior ação de recuperação de débitos já realizada pelo órgão.

No setor financeiro, outro exemplo apontado do rigor da Receita Federal é a cobrança de cerca de 410 milhões de reais feita à BM&FBovespa em tributos que não teriam sido recolhidos em 2008 e 2009, no processo de união das bolsas BM&F e Bovespa.

A decisão da Receita se baseou em suposta inconsistência do critério usado para avaliação do patrimônio líquido da Bovespa para apuração do ágio quando da incorporação pela BM&F, segundo informou a bolsa naquela ocasião. Procurada pela Reuters, a bolsa não quis comentar o assunto, que se ainda se arrasta sem decisão final.

A autuação atinge as corretoras de valores, que eram sócias da bolsa e obtiveram ganhos com a união entre BM&F e Bovespa. Segundo uma fonte do setor, as multas dificultam a realização de aquisição neste mercado porque os eventuais compradores não querem assumir o risco de ter de arcar com o eventual passivo.

Abilio chega a acordo com Casino e deixará Pão de Açúcar

A informação foi antecipada pelo blog Primeiro Lugar, de EXAME.com

Cesar Bianconi, da
Edu Lopes/Veja
Abilio Diniz
Abilio Diniz: acerto envolve a troca das ações ordinárias que Abilio tem na Wilkes por papéis preferenciais detidos pelo Casino

São Paulo - O empresário Abilio Diniz chegou a um acordo com o francês Casino e deixará a presidência do Conselho de Administração do Grupo Pão de Açúcar, informou à Reuters uma fonte a par do assunto nesta sexta-feira.

O acerto envolve a troca das ações ordinárias (com voto) que Abilio tem na Wilkes, holding de controle do Pão de Açúcar, por papéis preferenciais --sem direito a voto-- detidos pelo Casino, na razão de 1 para 1, melhor para o empresário do que a proporção de 0,91 estabelecida no acordo de acionistas, acrescentou a fonte.

As duas partes também encerrarão todos os litígios que têm entre si.
"Abilio abre mão de todos os direitos políticos que têm no Pão de Açúcar, sai do Conselho e, ao mesmo tempo, garante liquidez com ações preferenciais", disse a fonte, que pediu anonimato.
Procurado, o Pão de Açúcar não retornou imediatamente os pedidos da Reuters por comentários a respeito do assunto.

A assessoria de imprensa da Península, holding que cuida do patrimônio de Abilio, informou que o empresário fará um pronunciamento em São Paulo, sem revelar qual seria o tema.

A saída de Abilio da presidência do Conselho do Pão de Açúcar, fundado por seu pai em 1948, põe fim a uma conturbada relação do empresário com o Casino.

Os conflitos começaram em meados de 2011, quando Abilio tentou unir as operações do Carrefour no Brasil ao Pão de Açúcar. O grupo francês acusou o empresário de tentar minar o acordo de acionistas na holding Wilkes.

No meio de 2012, Abilio transferiu o controle do Pão de Açúcar ao Casino, como previa o acordo de acionistas firmado anos antes com o grupo francês, permanecendo como presidente do Conselho da varejista.

As desavenças entre as duas partes se agravaram neste ano, quando o empresário foi eleito para ser o chairman da BRF, uma das maiores companhias de alimentos do Brasil e que tem o Pão de Açúcar como seu principal distribuidor de produtos no mercado interno.

O Casino via conflito de interesse no acúmulo da função de chairman por Abilio no Pão de Açúcar e na BRF e insistia para que o empresário renunciasse ao cargo na rede de supermercados.

Depois de transferir o controle do Pão de Açúcar ao Casino, Abilio reduziu de forma significativa sua participação no capital da varejista brasileira. Foram três leilões de venda de ações preferenciais da companhia em seu portfólio desde o fim de 2012, com os quais o empresário embolsou mais de 2,5 bilhões de reais e diminuiu sua fatia nos papéis dessa classe para pouco mais de 5 por cento do total.

O futuro chairman do Pão de Açúcar precisará ser escolhido, mas um candidato natural para assumir o posto é Ronaldo Iabrudi, diretor e representante do grupo varejista francês no Brasil.