segunda-feira, 9 de setembro de 2013

'A paralisia acabou', diz Roberto Azevêdo ao assumir a Organização Mundial do Comércio


BERNARDO MELLO FRANCO
ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA


Em sua estreia como diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), o brasileiro Roberto Azevêdo prometeu nesta segunda-feira (9) dar fim à "paralisia" que, segundo ele, ameaça afundar a entidade na irrelevância. 

O embaixador cobrou urgência dos 159 países membros para destravar a rodada Doha de liberalização do comércio global. Ele disse que buscará resultados concretos na Conferência de Bali, em dezembro. 

"A paralisia acabou. Nós caímos nessa paralisia e nos acomodamos a ela. Isso acabou", afirmou. "Desde 1999 a OMC não consegue fechar nenhum acordo multilateral. É hora de mudar isso." 

Em discurso na sede da OMC, em Genebra, Azevêdo disse que a entidade corre o risco de ficar para trás caso não consiga avanços concretos nos próximos meses. 

"O mundo não vai esperar indefinidamente pela OMC. Ele vai seguir adiante", alertou.
"Nossa capacidade de responder às demandas de um mundo em transformação estão sob ameaça. O futuro do sistema multilateral de comércio está em jogo." 


3.set.13/G20 Rússia/AFP
Roberto Azevêdo, novo diretor-geral da OMC
Roberto Azevêdo, novo diretor-geral da OMC  

O brasileiro disse estar preocupado com o avanço de negociações bilaterais às margens da OMC. Ele sugeriu que isso pode esvaziar ainda mais a entidade. 

"O multilateralismo está deixando de ser a opção mais interessante. Minha preocupação é com o sistema, que não está funcionando." 

O enviado da CNI (Confederação Nacional da Indústria) a Genebra, Carlos Eduardo Abijaodi, disse que o Brasil pode perder com as negociações para um acordo de livre comércio entre os EUA e a União Europeia. 

"Se fizerem esse acordo, será um baque muito grande para o Brasil", afirmou. Ele disse que a entidade brasileira apoia as negociações multilaterais.

BRASIL DIFICULTA VINDA DE REFUGIADOS SÍRIOS

 

 

 

Desde 2010, Brasil concedeu refúgio a  258 sírios. A Suécia, em menos de 2 anos (desde 2012), acolheu mais de 15.000 sírios – com direito à residência permanente. O Itamaraty alega motivos de segurança nacional. Aparentemente, a Suécia não se preocupa com a sua segurança nacional!

Quando, há três meses, seu cunhado foi morto e teve o corpo atirado em frente à casa dos filhos na cidade de Homs, Mohamad encorajou sua família na Síria a fugir para o Brasil.

Em São Paulo há 14 anos, ele temia que outros parentes se somassem aos cerca de cem mil sírios que, segundo a ONU, morreram desde a eclosão dos conflitos no país árabe, em 2011.

Desde então, porém, diz que nenhum deles conseguiu deixar a Síria – segundo ele, por causa de exigências irreais feitas pelo Brasil para lhes conceder vistos. “Os brasileiros estão com os braços abertos, mas o governo está complicando tudo”, diz o sírio à BBC Brasil.

O Itamaraty afirma que as exigências buscam resguardar a segurança nacional.

Sede de uma das maiores colônias sírias fora do Oriente Médio, o Brasil concedeu refúgio a 258 sírios desde 2010, segundo o Ministério da Justiça. O número equivale a 0,01% dos 2 milhões de sírios que, de acordo com a ONU, fugiram desde o início dos confrontos.

Para analisar pedidos de refúgio, o governo determina que o solicitante esteja em território nacional. O problema, segundo Mohamad e outros sírios ouvidos pela BBC Brasil, é que muitos não têm conseguido sequer cumprir a etapa anterior: obter um visto para o Brasil. E, sem o documento, eles não podem voar até o país.

Membro da Coordenação da Revolução Síria no Brasil, grupo no Facebook que defende a queda do presidente sírio, Bashar al-Assad, o comerciante Amer Masarani diz que o número de refugiados no Brasil seria muito maior se as regras para o visto fossem menos rígidas.

Masarani, que vive em São Paulo há 17 anos, afirma ter sido procurado por ao menos seis compatriotas que tiveram pedidos de visto negados.

Junto de outros pequenos empresários árabes de São Paulo e de duas associações islâmicas, Masarani tem auxiliado sírios que tentam vir ao Brasil desde o pedido de visto até sua chegada e regularização.

Como o Brasil não emite vistos específicos a candidatos a refúgio, a alternativa aos que querem fugir para o Brasil são vistos de turista. Para concedê-los, o governo exige dez requisitos, entre os quais comprovante de emprego, extrato bancário dos últimos seis meses, certificado de antecedentes criminais e uma carta convite.
Para Masarani, as exigências não levam em conta o conflito. “A economia síria entrou em colapso, os bancos pararam de funcionar, muitos perderam o emprego, os prédios públicos fecharam. É impossível conseguir esses documentos.”

“O governo brasileiro está tratando esses sírios como turistas, mas eles são refugiados que estão correndo risco de vida. Muitos fogem só com a roupa do corpo”.


Joias por comida


Ao testemunhar a agonia de um sírio incapaz de obter um visto para o Brasil, a agente de turismo carioca A.A.C. passou a considerar um plano radical.

Ela diz ter conhecido o homem – morador de Alepo, segunda maior cidade síria – pela internet há um ano. Desde então, afirma que passaram a dialogar diariamente, tornando-se “amigos íntimos”.
No período, ela foi apresentada a seus parentes, consolou-o quando um amigo foi morto e habituou-se a ouvir explosões durante suas conversas. Em março, estimulou-o a fugir para o Brasil.

“Ele quer muito vir. Lá está faltando luz, água, comida. Quem tem joias troca por uma dúzia de ovos.”
A agente de turismo diz, no entanto, que ele jamais conseguiu reunir a documentação exigida. Além dos dez requisitos, ela diz ter sido informada por uma funcionária da embaixada brasileira na Síria de que ele precisaria comprovar movimentação bancária de ao menos US$ 2 mil (R$ 4,6 mil) mensais.

Desempregado – ela diz que a indústria em que trabalhava fechou por causa da guerra –, ele não pôde cumprir as exigências. Foi então que ela teve a ideia de se casar com ele, para que o sírio pudesse viajar com um visto familiar.

O matrimônio ocorreria por procuração, sem que ela precisasse estar na Síria, e reduziria as exigências para o visto. Ela diz estudar formas de tirar os planos do papel. “Eu seria capaz de fazer isso por ele, mas tenho que planejar tudo com cuidado”.


‘Riscos à segurança nacional’


Desde julho de 2012, a embaixada brasileira na Síria mantém apenas funcionários locais, que encaminham os pedidos de visto para o consulado em Beirute, no Líbano. Segundo Amer Masarani, da Coordenação da Revolução Síria no Brasil, a análise dos pedidos leva entre três e quatro meses.

Para agilizar o processo, ele diz que muitos sírios têm viajado para Beirute ou para Amã, na Jordânia, onde os serviços consulares brasileiros operam normalmente. Ele afirma, porém, que mesmo nas duas cidades muitos pedidos têm sido negados.

Masarani diz que o governo brasileiro dificulta a vinda de sírios porque, segundo ele, apoia Bashar al-Assad. “O Brasil não quer dar mais visibilidade ao conflito”.

Já o Itamaraty diz que as exigências feitas aos sírios se aplicam a qualquer estrangeiro de países com os quais o Brasil não tenha acordo de isenção de vistos. Além disso, segundo um assessor de imprensa do órgão, “numa circunstância como a presente (na Síria), temos que tomar cuidado para não aceitar pessoas que possam pôr em risco a segurança nacional”.

O órgão diz recusar vistos apenas quando uma série de requisitos é descumprida. A pasta se recusou a responder quantos pedidos de visto de sírios foram negados desde o início dos conflitos.

Para Masarani, o argumento da segurança nacional não se sustenta. Ele cita o caso da Suécia, que recebeu cerca de 15 mil refugiados sírios desde 2012, quase 60 vezes mais que o Brasil. A maioria ingressou no país com vistos de entrada regulares; outros, por uma cota de refugiados acordada com a ONU.
“Será que a Suécia não se preocupa com sua segurança nacional?”, indaga.

João Fellet
(BBC Brasil – 09/09/2013)

domingo, 8 de setembro de 2013

Brics vão abrir Banco conjunto com capital de US$ 50 bilhões, diz fonte

Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul fariam contribuições de mesmo valor, encerrando disputas sobre o financiamento e administração do banco 

NOVA DÉLHI - O grupo de países emergentes conhecido como Brics, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, chegou a um acordo para a estrutura de capital de um futuro banco conjunto.

Ficou acertado que a instituição terá um capital total de R$ 50 bilhões, para o qual todos os integrantes do grupo contribuirão igualmente, afirmou nesta quarta-feira uma autoridade sênior indiana ao jornal The Wall Street Journal.

O acordo provavelmente encerrará disputas anteriores sobre o financiamento e administração do banco. A princípio, a China havia proposto um aporte de capital de US$ 100 bilhões e uma participação maior na instituição.

Outras questões importantes, como propostas para que o grupo ofereça uma participação minoritária no banco a nações desenvolvidas como os EUA, ainda precisam ser melhor discutidas. Segundo o oficial indiano, o Brics está considerando a possibilidade de oferecer uma parcela de 40% a 50% a países de fora do grupo.

A presença de economias desenvolvidas na instituição a ajudaria a garantir ratings maiores e captar fundos mais baratos no mercado. Os ratings dos Brics são variados.

A fonte indiana disse também que a localização do futuro banco conjunto também não foi definida ainda. De acordo com o oficial, as questões pendentes deverão ser discutidas às margens das reuniões anuais do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington, marcadas para 11 a 13 de outubro.

A proposta do banco conjunto foi apresentada pela primeira vez durante uma reunião de cúpula dos Brics, em março de 2012.  
Fonte: Dow Jones Newswires.

‘Privatização à moda do PT’, editorial do Estadão


 


Publicado no Estadão deste sábado

Com a decisão de duplicar com recursos públicos parte das rodovias cujas operações e obras de manutenção e melhoria serão transferidas para empresas privadas em leilões de concessão que começam daqui a duas semanas, o governo Dilma mostra, mais uma vez, que ainda não conseguiu definir um modelo adequado para a participação do setor privado na infraestrutura de transportes. Mais de um ano depois de anunciado pela presidente Dilma Rousseff, o Programa de Investimentos em Logística, que previa a transferência de 7,5 mil quilômetros de rodovias federais (número revisto para 7 mil km) e de 10 mil km de ferrovias para o setor privado, ainda não saiu do papel.

Se o cronograma inicial tivesse sido cumprido, os nove lotes rodoviários que compõem o programa já teriam sido leiloados. O primeiro leilão de rodovias chegou a ser marcado para o início do ano, mas as condições definidas pelo governo não atraíram investidores privados. Diante do risco real de que não haveria interessados, o empreendimento foi cancelado. Só no próximo dia 18 será realizado o primeiro leilão, para a concessão da BR-050, que liga os Estados de Goiás e Minas Gerais, e da BR-262, entre o Espírito Santo e Minas Gerais. O segundo leilão, da BR-101, na Bahia, está programado para 23 de outubro. Mas as regras continuam sendo alteradas, porque o governo não tem conseguido compatibilizar seus próprios interesses com os dos investidores e dos usuários.

Como noticiou o Estado (1/9), depois de constatar que os investimentos exigidos dos consórcios vencedores de três dos nove lotes a serem leiloados exigiriam pedágios bem mais altos do que o máximo que havia sido definido, o governo decidiu duplicar esses trechos com dinheiro do Tesouro Nacional. Serão duplicados pelo governo 221 km da BR-101 (BA), 180,5 km da BR- 262 (ES) e 281,1 km da BR-163 (MT).

O governo do PT demorou vários anos para, afinal, se dar conta de que os investimentos em infraestrutura de transporte, necessários para evitar crises e assegurar o crescimento do país, ultrapassam a capacidade do setor público. Admitiu, com relutância, a entrada do capital privado no setor, mas vem tentando impor aos investidores condições que não asseguram a remuneração do investimento no prazo concedido. Para evitar o fracasso dos leilões, vem modificando as regras com frequência ─ e nem sempre tem tido êxito, pois as mudanças geram insegurança e incerteza entre os investidores. O resultado é o atraso na execução de seu programa de logística.

O primeiro leilão tinha sido marcado para 30 de janeiro, mas, por causa da falta de interessados, o governo o suspendeu. Em fevereiro, foram anunciadas regras mais favoráveis para os investidores, como a possibilidade de obtenção de financiamentos oficiais a juros mais baixos, a revisão do aumento do tráfego nas rodovias a serem leiloadas e mudanças não muito claras na taxa de retorno do investimento.

Esperava-se que o leilão fosse, afinal, realizado em maio, mas as mudanças anunciadas em fevereiro não foram suficientes para atrair investidores. Só então, o governo anunciou de maneira clara que a taxa interna de retorno do investimento para os leilões de rodovias passaria de 5,5% para 7,2% – como está definido nos editais para os dois leilões que já têm data definida.

Mas as pressões para mudanças nas regras continuam fortes. Ironicamente, no momento, elas estão concentradas num ponto que o governo do PT considerava básico em seu programa de concessões, a chamada modicidade tarifária, isto é, a cobrança de tarifas baixas pelos serviços prestados. No caso das concessões rodoviárias, o governo federal insinuava que seu programa era muito melhor do que o do governo do Estado de São Paulo, ao qual acusava de impor pedágios caros aos usuários. Para evitar o aumento nos pedágios das rodovias federais a serem concedidas, o governo usará dinheiro público para aliviar os ônus do investidor privado, mas, ainda assim, em alguns postos de pedágio, os usuários desembolsarão até R$ 12. Não é uma tarifa módica.

Fundação BB dá R$ 36 milhões a ONGs ligadas ao PT


A lista de organizações não governamentais, associações e prefeituras beneficiadas está sob investigação da Polícia Civil do Distrito Federal

Fausto Macedo, do
Ben Tavener/Creative Commons
Sede do Banco do Brasil em Brasília

Sede do Banco do Brasil em Brasília: o banco faz auditoria nos contratos e parcerias


São Paulo - Controlada pelo PT, a Fundação Banco do Brasil firmou convênios de R$ 36 milhões com entidades ligadas ao partido e familiares de seus dirigentes. A lista de organizações não governamentais, associações e prefeituras beneficiadas está sob investigação da Polícia Civil do Distrito Federal. O banco faz auditoria nos contratos e parcerias.

A posse na fundação, em junho de 2010, foi prestigiada por quadros importantes da sigla, entre eles cinco parlamentares e o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci.

Streit sucedeu a Jacques Pena, filiado ao PT do DF, cuja administração foi marcada por repasses a entidades ligadas aos seus parentes, agora sob investigação. Com sede numa sala sem placa de identificação em Brasília, que fica trancada em horário comercial, só a Associação de Desenvolvimento Sustentável do Brasil (Adesbra) firmou parcerias de R$ 5,2 milhões desde 2003. O diretor executivo da entidade, Joy de Oliveira Penna, é irmão de Jacques e tem ligações com outras entidades contempladas com recursos.

Os irmãos Pena são conhecidos por levar para a fundação a República de Caratinga, sua cidade de origem. Com a Associação dos Produtores Rurais e Agricultores Familiares de Santo Antônio do Manhuaçu, sediada no município, a fundação firmou convênio de R$ 1,05 milhão. A associação é comandada por dois primos de Jacques e Joy. "Tem razão de estar desconfiando, porque é parente, né?", admite o ex-presidente, atual tesoureiro da associação e primo da dupla, Sérgio Pena de Faria.

Segundo ele, o projeto desenvolvido na cidade, para aperfeiçoar técnicas de produção agrícola, foi apresentado por outra entidade, mas a fundação não a aceitou, pois a proponente tinha só dois anos de existência. Os dirigentes, então, pediram que a associação a substituísse.

"Cedi os documentos, mandaram para lá, onde que foi aprovado", conta Pena, negando favorecimento. "Essa associação não é igual a gente ouve falar aí que é só para desviar dinheiro. Pode dormir 'sono solto' que os documentos estão direitinho. Esse projeto foi o mais vigiado do Brasil", assegura, acrescentando que os fiscais da fundação fiscalizaram a execução e que houve prestação de contas.

Para Caratinga, a fundação mandou mais R$ 1,3 milhão para construir o Centro de Excelência do Café na gestão do ex-prefeito João Bosco Pessine (PT). A atual administração, do PTB, diz que teve de fazer obras adicionais para completar o projeto. Pessine não foi localizado.

A investigação da Polícia Civil começou a partir de denúncia de uma servidora da fundação, que está sob proteção policial e da área de segurança do Banco do Brasil. O órgão explica que as apurações são da sua alçada, e não da Polícia Federal, pois a fundação recebe recursos do banco, uma empresa de economia mista.


Denúncia


A funcionária teria recebido ameaças após delatar suposto esquema de desvio de recursos. Ela contou à polícia que a prestação de contas de algumas entidades não era analisada adequadamente. Não está descartado o afastamento do atual presidente da fundação, Jorge Alfredo Streit. A expectativa no Banco do Brasil é de que as primeiras conclusões da auditoria saiam neste fim de semana.

As denúncias sob investigação integram processo sob sigilo que tramita no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. A fundação explica que não teve acesso aos autos. Recentemente, atendendo à solicitação, enviou informações ao Ministério Público do DF. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

sábado, 7 de setembro de 2013

Para Nobel Edmund Phelps, EUA desaprenderam a inovar

Em entrevista exclusiva para EXAME.com, economista culpa lobbies, patentes, pensamento de curto prazo e declínio de valores pela queda de dinamismo dos EUA

Dennis Brack
Edmund Phelps, vencedor do Prêmio Nobel, fala em encontro anual de economistas em Washington

Edmund Phelps, vencedor do Prêmio Nobel, fala em encontro anual de economistas em Washington


São Paulo – Edmund Phelps está preocupado: desde o final dos anos 70, ele vê uma economia americana com crescimento em baixa e desigualdade em alta. A razão para isso: uma crise de inovação, causada por mudanças de valores e uma queda de dinamismo.

Essa é a tese central de seu novo livro: “Mass Flourishing: How Grassroots Innovation Created Jobs, Challenge and Change” (em tradução livre: “Florescimento em massa: como a inovação de base criou empregos, desafio e mudança”), que será lançado semana que vem nos Estados Unidos e ainda não tem data prevista de publicação no Brasil.

Phelps ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2006 por seus trabalhos pioneiros sobre desemprego estrutural e sua relação com a inflação. Do seu escritório na Universidade Columbia em Nova York, onde dá aula de economia política e lidera o "Centro de Capitalismo e Sociedade", o americano de 80 anos conversou por telefone com EXAME.com:

EXAME.com - No seu livro, você fala em economia dinâmica e economia vibrante. Qual é a diferença? O crescimento econômico é um bom critério de dinamismo?

Phelps - Crescimento não é sinônimo de dinamismo. Na Grande Depressão, tivemos por muito tempo crescimento zero e, ao mesmo tempo, um nível enorme de inovação. Na França e na Itália nos anos 70, 80 e 90 foi o contrário: um crescimento muito rápido, mas quase sem evidência de qualquer inovação. Elas conseguiram crescer pela cópia.

Quando falo de vibração, me refiro a uma linha que vibra com algum impulso ou choque. Você pode ter uma sociedade muito vibrante e alerta para oportunidades, mas que não consegue criar nada útil e não tem novas ideias ou insights. No começo do século XX, quando economistas começaram a pensar no rápido crescimento do século XIX, todos pensaram que o setor de negócios não gerava nenhuma ideia nova e que as inovações vinham de fora da economia, de cientistas e navegadores. Era assim que Schumpeter pensava: que a economia só era boa era em perceber as oportunidades criadas. 

EXAME.com - Você menciona que a interatividade é um fator para o dinamismo, mas que sofremos de déficit de atenção e estamos mais preocupados em “ser do que realizar”. Colocando numa balança: as novas tecnologias vão causar mais inovação ou isso será compensado por fenômenos culturais mais amplos?

Phelps - Obrigado pela pergunta. Acho que eu nunca a vi antes. Primeiramente: é muito cedo para alguém saber, e eu não sou exceção. Mas o tipo de interatividade de que eu falo é dois caras que saem da empresa para tomar uma cerveja no fim do dia, descobrem que estão na mesma onda e começam a trabalhar juntos: pessoas no mesmo lugar, pensando nos mesmos problemas.

Não acho que as chances sejam boas de que um cara me escrevendo em um blog vá me ajudar muito, apesar de que nunca se sabe. Preciso admitir que eu não passo muito tempo olhando blogs, mas tenho navegado por aí, visto comentários. Às vezes você realmente aprende alguma coisa, mas não acho que aconteça com uma frequência tão grande que justifique – para mim, pelo menos – passar muito tempo procurando pessoas para interagir. 

EXAME.com - No seu livro, você menciona que a ideia de propriedade intelectual protegida pelo Estado foi essencial para a economia moderna. Mas outro fenômeno recente é a pirataria e o debate sobre qual propriedade intelectual podemos – ou devemos – preservar. Isso te preocupa? 

Phelps - A introdução do sistema de patentes foi incrível, mas ele está sendo abusado. Empresas como a Disney tiveram patentes estendidas desde 1932. 80 anos! Isso é loucura! Não era para ser assim. Houve um abuso do sistema: ao longo dos anos, quase tudo foi patenteado, exagerando um pouco. Talvez precisemos parar, encerrar todas as patentes existentes e começar de novo só patenteando coisas novas. 

EXAME.com - Então deve haver um rebalanceamento?

Phelps - Seria uma tremenda injeção na veia. 

EXAME.com - Você escreve que a economia moderna “floresce na diversidade”. Você acredita que disparidades de gênero e raça atrapalham o crescimento? Fenômenos como a aceitação dos homossexuais no Ocidente também podem ter efeitos econômicos positivos?

Phelps - Eu cito no livro lá pro final – é um livro longo, eu sei, nem todo mundo chega ao final (risos) – que quando foi permitido que os negros entrassem no mundo dos negócios de música em Detroit, isso produziu uma revolução. Se as pessoas que tem emprego e qualquer possibilidade de contribuir com a inovação são todas iguais, então é como se fosse uma pessoa só, onde quer que você olhe, e isso não favorece novas ideias! É óbvio que você terá mais criatividade na força de trabalho o quanto mais diversos e ricos forem seus interesses, gostos e origens.
EXAME.com - Você acredita que o aumento da desigualdade nos Estados Unidos pode ser atribuído a um aumento ou diminuição da inovação? Como responder a isso? A impressão é que a única proposta concreta é aumento de impostos.

Phelps - (Risos) É, de fato. Tirar parte da renda das pessoas: boa aritmética, mas não sei se boa política econômica. Acredito que a desaceleração da inovação foi um dos fatores que contribuíram para o aumento da desigualdade. Já que todo mundo está tendo problemas em inovar, as empresas estabelecidas não tem que se preocupar com a entrada de novas companhias com novos produtos. E se não precisam manter seus preços baixos para impedir novatos, os preços aumentam, e esse inchaço ajuda a aumentar a desigualdade.
Isso também é ruim para o emprego: se as companhias vão ter uma parcela maior do produto econômico, então a parcela do trabalho vai ser menor, e os salários reais diminuem ou crescem menos. É uma rede de forças que interagem. A queda de inovação foi ruim tanto para o emprego quanto para a desigualdade. 


EXAME.com - Ou seja, a tese do livro é que o florescimento é o desenvolvimento real de longo prazo, e não surtos de crescimento baseados em outros fatores?

Phelps - Sim, e você consegue esse florescimento em uma economia com muito dinamismo, na qual muitas pessoas estão explorando, superando desafios, pensando o tempo todo em: como vamos criar? Como vamos fazer melhor? Qual será o produto melhor para fazer? Dinamismo cria florescimento. Mas é possível crescer muito e ainda assim ficar menos dinâmico.

EXAME.com - Você acredita que o crescimento recente dos emergentes como Brasil, Índia e China podem ser atribuídos a um aumento de dinamismo ou eles estão apenas tirando a diferença?

Phelps - Essa é uma pergunta que muitos tem feito e é difícil chegar a uma conclusão. Vou muito para a China, então estou um confiante com minha resposta: a maior parte do crescimento nos últimos 10 anos veio de transferência tecnológica dos Estados Unidos e outras economias do Ocidente, é verdade, mas tem havido algum dinamismo e inovações realmente chinesas. Talvez a China seja hoje mais inovadora do que a Europa – mais que os Estados Unidos, aí eu não gostaria de saber, essa é difícil (risos).

EXAME.com - Como isso foi possível com um Estado tão grande...

Phelps - E pobre?

EXAME.com - Pobre, e que cria tantas dificuldades para a expressão individual... 

Phelps - Veja só: se eles deixarem de ser pobres e começarem a ter mais expressão individual, eles vão estar ainda melhores! Fique de olho! (risos)

EXAME.com - Então não te surpreende que tenha havido uma desaceleração nos emergentes?

Phelps - Não, não estou surpreso, porque apesar de estarem aprendendo a inovar, eles tem copiado coisas de outros lugares tão rapidamente e de forma tão extensa que isso sufoca um pouco a inovação interna. E agora as oportunidades estão se esgotando. Há duas coisas causando a desaceleração chinesa: falta de novos mercados para exportar, com a Europa estagnada e os EUA crescendo devagar, e problemas em continuar copiando tecnologia. As corporações americanas estão obstinadas em impedir que suas tecnologias vazem para firmas competidoras na China. 

EXAME.com - Você escreve que o socialismo e o corporativismo foram as maiores ameaças para o capitalismo no século passado. Qual é a maior ameaça hoje?

Phelps - Vamos deixar o socialismo de lado: sua ideia clássica é a posse dos meios de produção pelo estado, e não acho que isso esteja voltando. Já o corporativismo passou por uma metamorfose, mas está vivo e prosperando. Nos tempos do Mussolini, corporativismo era um chapéu de três pontas com capital, trabalho e governo. Você tinha uma batalha entre corporações enormes, um pequeno número de indústrias e enormes organizações trabalhistas, e o governo atuava como juiz. 

Nós não temos isso agora nos EUA, e até a Europa tem hoje muito mais competição, abertura para comércio e outras melhorias, ainda que menos do que eu gostaria. Nos EUA, os sindicatos praticamente desapareceram do setor privado. Eles foram para o setor público – educação, saúde e os governos são altamente sindicalizados – mas não acho que isso tenha de fato grandes consequências. Não dou grande ênfase para eles no contexto americano. O que eu vejo é um nível enorme de lobby: grupos de interesse constantemente negociando com o governo para conseguir proteções, subsídios e dispensas de alguma exigência, o que quer que seja para não precisarem competir no mercado. Há muito litígio: pessoas se processando o tempo todo. 

Há um declínio de valores modernos e do espírito empreendedor. Se você é um jovem e diz “Mãe, pai: quero ir para Xangai fazer minha carreira”, eu não sei se isso seria bem recebido. Ou para sua mulher: “querida, quero que você cuide das crianças pelos próximos 2 anos, porque vou começar uma empresa e isso vai me tomar 15 horas por dia, 7 dias por semana”. Eu não sei se isso seria bem recebido. 

Talvez nós tenhamos ficado gordos demais, confortáveis demais, ricos demais, e não aceitamos mais que as pessoas precisam ser pioneiras, exploradoras, criadoras. Atitudes mudaram, e isso torna mais difícil para as pessoas começarem empresas e conseguirem bons resultados. Eu quase posso lembrar o tempo – porque eu sou bem velho – em que as empresas estabelecidas eram inovadoras, o que acontece muito pouco hoje. 

Até a Microsoft já não inova mais. Steve Jobs era um exemplo de um outsider, assim como todos os nossos inovadores importantes nas últimas décadas. 

Há muito pensamento de curto prazo. Os presidentes-executivos sabem que vão estar no cargo por pouco tempo e precisam mostrar serviço enquanto podem. Não estão pensando em inovações para dar resultado 5 ou 10 anos depois; isso não os ajuda nem um pouco. 

EXAME.com - O sistema financeiro atual também tem responsabilidade?

Phelps - Sim, eu acredito que o sistema financeiro merece parte da culpa. Os fundos de investimento colocam pressão nos presidentes para atingirem metas de resultados trimestrais, e os bancos praticamente se esqueceram como emprestar dinheiro para empresas. Eles compram dívida corporativa de companhias grandes e estabelecidas, mas não é a mesma coisa de olhar o plano e os sonhos de uma empresa e financiar algumas de suas iniciativas. 

EXAME.com - Os bancos “grandes demais para quebrar” são parte disso, não? Porque não precisam se preocupar nem em sobreviver.

Phelps - E são forçados a ficarem muitos seguros para que o governo não tenha que resgatá-los no futuro. Mas já que são obrigados a guardar tanto capital, e terão margens de lucro muito baixas, não poderão fazer qualquer tipo de empréstimo arriscado. Talvez isso não tenha saído com a ênfase suficiente no livro: nós estamos legislando uma grande aversão ao risco. A lei, ao invés de ajudar as pessoas a se arriscarem, tem cada vez mais o objetivo de impedir o risco, porque o governo não quer lidar com isso. 

EXAME.com - Nesse sentido, como você avalia a reação de Obama à crise nos últimos 5 anos?

Phelps - Não sei. Meu foco é o glorioso dinamismo dos anos 60 e a perda dele. A crise é uma coisa separada, apesar de estarem relacionadas. Uma das razões foi que o governo americano queria empurrar os bancos para fazer mais empréstimos para moradia, então eles pensaram que tinham luz verde para fazer isso sem se preocupar com a Justiça. E a razão pela qual o governo estava tão desesperado em estimular o mercado imobiliário era porque a economia estava muito fraca de 2002 em diante.

Muitas dessas medidas desesperadas eram um reflexo de como a economia esteve débil desde o início dos anos 70. Já tentamos de tudo agora! Reagan, Clinton, Bush, Obama: todos tentaram medidas, mas elas não resolvem o problema do que eu acredito ser um declínio importante no dinamismo da economia americana. 

EXAME.com - A crise foi um sintoma de problemas de longo prazo, mas também poderia ter sido uma oportunidade de lidar com eles, o que não tem acontecido.

Phelps - Certamente não. A administração parece estar a milhas de distância de pensar em como trazer mais tomada de risco, mais visão, mais aventura e mais criatividade para a economia.  

EXAME.com - É interessante que você fale em tomar riscos, porque no senso comum, a impressão é que essa foi a causa da crise. Mas entendo que você esteja falando em outro tipo de risco, além de derivativos.

Phelps - Sim, fazer um mergulho numa situação incerta. Não jogar dados em um tabuleiro, mas estar disposto a se mover em direção ao desconhecido sem saber no que isso vai dar. Isso é excitante! Torna a vida interessante. Precisamos voltar para esse espírito. 

EXAME.com - No livro, você celebra a decisão de Marissa Mayer de abolir o home office no Yahoo!. O senso comum o considera uma inovação em relação às praticas tradicionais, mas você diz exatamente o oposto, que é um retorno a valores tradicionais.

Phelps - Essa é uma das novas histórias que apareceram nas últimas semanas do livro e tive sorte de conseguir colocar. Voltamos à interatividade: duas pessoas que se encontram na hora de pegar um copo d´água no escritório e começam a falar de algum assunto que leva a algo maior. Uma parte da inovação ocorre em simplesmente fazer duas pessoas falando simultaneamente chegarem em alguma conclusão. Você não tem isso se metade da força de trabalho está em casa. 

EXAME.com - Há uma impressão de que para o governo aumentar a inovação, basta investir em pesquisa científica. Você diz que a relação não acontece assim. No Brasil, temos taxas baixas de inovação e de exportações de alta tecnologia. Como abordar esse problema?

Phelps - Há uma discussão eterna sobre isso. O que eu posso dizer é que a inovação americana foi fenomenal porque todo tipo de pessoa, de todas as origens, tinha uma atitude inovadora. As pessoas queriam fazer algo novo para mostrar pro mundo, e estavam excitadas em mudar práticas. Nem eu nem ninguém pode provar que não deveríamos experimentar com tentativas do governo inovar. E isso é especialmente verdadeiro em relação a programas para criar algum salto técnico, como a internet, criada sob um contrato com o exército americano, que resolve muitos problemas de engenharia. Eu não gostaria de fechar isso.

Mas é preciso ficar claro que nossa inovação não veio principalmente de descobertas cientificas financiados pelo governo, e sim de milhões de pessoas tentando fazer algo melhor, seja uma mudança de procedimento numa sala de operação em um hospital ou no método de transportar coisas. Há um espectro amplo em que nenhuma “ciência” de verdade é necessária.

Claro que o inovador vai usar qualquer tecnologia que estiver disponível, mas não acho que os negócios fiquem sentados esperando alguma melhora na engenharia e de repente se levantam da cadeira e vão pensar nas aplicações comerciais, como Schumpeter imaginou. Não é assim! Inovação é pensar em ideias para novos produtos e métodos nos locais de trabalho. Mas é bom ter esses avanços de engenharia e a internet é o melhor exemplo. Não sei se o setor privado teria descoberto como criar a internet com o tempo, mas provavelmente sim. 

EXAME.com - Você também escreve que a busca pela inovação compete com a busca pela riqueza, e que é preciso haver a motivação da descoberta, não só do lucro.

Phelps - Sim, com certeza. Há uma atitude por aí de que as pessoas não querem mais inovar, então vamos deixar isso com o governo! O problema é que, de forma geral, eles não vão ter muitas boas ideias, porque não estão próximos do mundo dos negócios. E também – e isso é importante – é muito elitista, porque se o governo tentar fazer a inovação para nós, vão criar todo tipo de institutos e corporações público-privadas. Se alguém tiver uma ótima ideia para inovação, vai estar competindo com o governo, e se for uma pessoa dentro do governo, a burocracia pode achar complicado conseguir a atenção do líder de operações no topo.

Inovação não é burocrática: é algo desestruturado que exige liberdade e interações, e o governo simplesmente não será muito bom nisso. Tudo bem se quiser fazer algumas apostas, mas acho que elas terão baixa probabilidade de sucesso. A melhor aposta é tentar despertar a inovação no setor privado, o que exige corrigir incentivos nos negócios, renovar o setor financeiro e celebrar a exploração e criação. Precisamos reassumir o espírito de pioneirismo.

Brasil enviará missão para debater dívida bruta com FMI

Governo enviará uma missão técnica a Washington para aprofundar a discussão sobre a proposta de mudança no conceito da dívida bruta

Bloomberg
Mapa mundi visto dentro do símbolo do FMI
Símbolo do FMI: governo brasileiro quer que o Fundo reconsidere a inclusão da dívida do Tesouro Nacional detida pelo BC no cálculo da dívida bruta


Brasília - O governo brasileiro enviará uma missão técnica a Washington nos próximos dias para aprofundar a discussão com o Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a proposta de mudança no conceito da dívida bruta, informou o Ministério da Fazenda nesta sexta-feira por meio de comunicado.

O governo brasileiro quer que o Fundo reconsidere a inclusão da dívida do Tesouro Nacional detida pelo BC no cálculo da dívida bruta.

O assunto foi discutido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, em reunião com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, na manhã desta sexta-feira, durante a Cúpula do G20, em São Petersburgo, na Rússia.

Pelos critérios do FMI, a dívida bruta do setor público brasileira era equivalente a 68 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) no fim do ano passado, ante dado calculado pelo Banco Central de 58,7 por cento.