sábado, 26 de outubro de 2013

Contas externas têm rombo de US$ 2,6 bilhões

Por Célia Froufe e Eduardo Cucolo

As contas externas brasileiras fecharam com um rombo de US$ 2,6 bilhões em setembro, segundo informou ontem o Banco Central. Apesar de ser o melhor resultado mensal do ano até agora, o déficit foi o dobro do aguardado pela instituição. Também foi maior que a estimativa central de US$ 2 bilhões de analistas do mercado financeiro consultados pelo AE Projeções, da 'Agência Estado'.
 
O fraco desempenho ocorreu mesmo após a balança comercial obter, pela primeira vez no ano, um superávit mensal de US$ 2,1 bilhões. Outro fator positivo foi a conta de remessas de lucros e dividendos das empresas ter fechado no azul no mês passado. Isso não havia ocorrido nos últimos 13 anos, desde janeiro de 2000, quando o saldo ficou em US$ 231 milhões.

Agora foi positivo em US$ 274 milhões, com a ajuda da alta do dólar, que estimulou a entrada de recursos que estavam no exterior. "O timing pode ser influenciado pelo câmbio. É natural que isso se traduza em mais ingresso de recursos",disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.

Além disso, conforme explicou o técnico, houve um ingresso atípico de US$ 3 bilhões em receitas no mês passado. Esses dois fatores somados, porém, não foram suficientes para equilibrar a conta.

No acumulado do ano, o resultado da transação corrente está negativo em US$ 60,4 bilhões. Levando-se em conta que o BC projeta um déficit de US$ 75 bilhões para 2013, é fácil imaginar que o rombo médio mensal será de US$ 5 bilhões ao longo do último trimestre do ano.

Para outubro, especificamente, a perspectiva é de uma baixa de US$ 5,3 bilhões, com a balança comercial ainda sendo o principal fator de pressão. Apesar do alívio pontual de setembro, o saldo acumulado no comércio exterior de janeiro a setembro de 2013 foi o pior para o período desde 1999, ano em que o Brasil passou a adotar o regime de câmbio flutuante.

Nem todo esse rombo das transações correntes está coberto pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED). De janeiro a setembro de 2013, o financiamento por essa conta foi de apenas US$ 43,7 bilhões (73% do total) e a previsão para 2013 inteiro é de US$ 60 bilhões. Só para outubro, Maciel projeta o ingresso de US$ 5,2 bilhões de aplicações de estrangeiros no setor produtivo nacional.

Outro dado que chamou a atenção foi o volume de investimentos em aplicações financeiras no Brasil. Só em ações, o saldo ficou positivo em US$ 2,2 bilhões em setembro - em igual período de 2012, essa conta estava negativa em US$ 1,2 bilhão.

No caso de negócios com renda fixa no País, os investimentos foram ainda maiores, somando US$ 7,2 bilhões em setembro. No mesmo mês de 2012, o resultado havia sido positivo em US$ 736 milhões.
No acumulado do ano até setembro, entraram no País US$ 27,833 bilhões para aplicações neste investimento ante US$ 4,094 bilhões no mesmo período de 2012.

 As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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Infraero terá de explicar cortes no orçamento

Movimentação em Cumbica

Por Mariana Durão


A Infraero terá de explicar em audiência pública na Câmara dos Deputados os cortes nos contratos de manutenção preventiva dos aeroportos sob sua gestão. As medidas foram aprovadas pela diretoria executiva para reduzir gastos de custeio frente à piora da situação financeira da estatal, como revelou reportagem publicada pelo Estado na semana passada (14). 
 
A empresa projeta um prejuízo operacional de R$ 391,1 milhões em 2013, ante lucro operacional de R$ 594,2 milhões no ano passado. A audiência pública foi aprovada na terça-feira pela Comissão de Turismo e Desporto, a pedido do líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno. O objetivo será detalhar as medidas e debater suas consequências para a operação. 

"É inaceitável que, para compensar os prejuízos causados por incompetência na gestão financeira da empresa, sua direção tome medidas de contenção de despesas nas áreas que afetam a segurança das pessoas e das operações aeroportuárias, principalmente com a proximidade da realização da Copa do Mundo em 2014 e dos Jogos Olímpicos em 2016", afirma o parlamentar na justificativa do requerimento. 

Aprovadas em agosto, as medidas de contenção foram contestadas internamente por superintendentes da área operacional da Infraero. Em memorando interno, eles criticaram a eficácia das propostas e alertaram para riscos à segurança. "Sobretudo, (as medidas) criam situação de alto risco para os gestores dos processos operacionais que envolvem vidas humanas", diz o memorando. 

Serão convocados, entre outros, o presidente da Infraero, Gustavo Vale, o diretor-financeiro da estatal, José Irenaldo de Ataíde, e o diretor de operações, João Márcio Jordão. Também serão ouvidos os quatro superintendentes que enviaram à diretoria operacional uma carta pedindo a reconsideração das medidas: Álvaro Luiz Miranda Costa, superintendente de Segurança Aeroportuária; Marçal Goulart, de Gestão Operacional; Will Furtado, de Navegação Aérea; e Anderson Goddard, de Manutenção. 

"Estamos convocando a diretoria e aqueles que fizeram os alertas. São denúncias graves que precisam ser esclarecidas", disse Bueno. A data da audiência será definida na próxima semana. O presidente da Infraero propôs uma discussão fechada, mas a Comissão optou por realizar o debate em plenário. 

De acordo com a Infraero, o desequilíbrio em suas contas é reflexo da concessão dos aeroportos de Brasília (DF), Viracopos (SP) e Guarulhos (SP) à iniciativa privada, em 2012. Os três aeroportos respondiam por 38% da receita da estatal. Agora, a empresa recebe apenas o proporcional à sua participação de 49% e deve arcar proporcionalmente com os altos investimentos nas unidades concedidas.

Em resposta ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, a Infraero havia informado que as medidas são definitivas. Segundo a estatal, os dados financeiros indicam que enfrenta um crescimento desproporcional de despesas versus receitas. De dezembro de 2012 a agosto deste ano, o custo por unidade operada (Unidade Carga Trabalho, medida por passageiro ou 100 quilos de carga) saltou 24%. Já a receita por UCT cresceu apenas 0,5% no período, para R$ 22,30. 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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State Grid planeja investir US$ 10 bi no Brasil

Por Wellington Bahnemann

Terceira maior companhia da China e maior elétrica do mundo, a State Grid tem planos ambiciosos para crescer no Brasil. Em entrevista exclusiva ao 'Broadcast', serviço em tempo real da 'Agência Estado', o presidente da estatal chinesa no Brasil, Cai Hongxian, revelou a meta de investir US$ 10 bilhões no setor elétrico brasileiro até 2015. "É uma meta agressiva", reconheceu. Além de consolidar sua base de ativos no segmento de transmissão, a estratégia inclui crescer em geração e distribuição de energia, com aquisição de ativos e desenvolvimento de novos empreendimentos.
 
Os chineses não estão dispostos, no entanto, a fazer qualquer tipo de negócio no Brasil. Segundo Hongxian, as oportunidades de investimento identificadas aqui são levadas para apreciação da diretoria na China e competem com projetos ao redor do mundo. "Não somos malucos e nem investimos sem nos preocupar com o retorno dos projetos", afirmou o executivo, negando a influência do governo chinês na estratégia no Brasil. 

A expansão no Brasil integra um plano maior, de crescimento internacional. Até agora, a chinesa investiu em torno de US$ 16 bilhões em ativos no exterior, adquirindo participações em empresas de países como Portugal e Austrália. Na China, a companhia fornece energia para 1,1 bilhão de pessoas e teve faturamento de US$ 307,9 bilhões em 2012. 

Hoje, o Brasil é a maior operação internacional da empresa, com receita de R$ 632 milhões e ativos avaliados em R$ 6,88 bilhões ao final de 2012. A State Grid detém 12 concessões de transmissão e está presente em outras quatro, com 51% de participação. A companhia surpreendeu especialistas logo que entrou no País, comprando sete linhas de transmissão da espanhola Plena Transmissora, no fim de 2010. Hoje, administra uma rede de 6,7 mil quilômetros e está construindo mais 3,9 mil km arrematados em leilões. 

Para crescer no Brasil, a companhia considera tanto adquirir ativos em operação como disputar leilões de geração e transmissão. Em geração, Hongxian revelou o interesse em investir em projetos hidrelétricos e eólicos. "Não queremos empreendimentos de pequeno porte", disse. Nesse contexto, a companhia tem planos de disputar as concessões das hidrelétricas São Manoel e Itaocara, que o governo pretende licitar no leilão de energia nova marcado para dezembro. 

A State Grid também já está preparada para disputar o leilão da transmissão de Belo Monte (PA). "São projetos como esse que nos fazem estar aqui", disse. O governo federal ainda não definiu uma data, mas planeja licitar o primeiro tronco do sistema de transmissão de Belo Monte ainda no início de 2014. Segundo Hongxian, a State Grid tem experiência na transferência de grandes blocos de energia entre regiões distantes.

A companhia é líder mundial em linhas de transmissão em ultratensão em longas distâncias e desenvolve projetos com essa tecnologia há mais de cinco anos, o que a credencia para a disputa da transmissão de Belo Monte. Na China, os principais negócios da companhia são justamente os setores de transmissão e distribuição de energia elétrica. 

A expectativa do mercado é de que o próximo grande negócio no setor de distribuição no Brasil seja uma possível venda das distribuidoras federalizadas sob a gestão da Eletrobrás. Hongxian sinalizou o interesse da State Grid pelos ativos, mas ponderou que se trata de uma oportunidade de investimento complexa. "Essa é uma decisão muito difícil. Se para a Eletrobras já é difícil gerenciar esses ativos, diria que seria muito difícil para uma companhia chinesa lidar com isso." 

Parcerias. Embora tenha capacidade financeira para tocar projetos sozinha, a State Grid planeja firmar parcerias com empresas brasileiras. Nos leilões de transmissão que venceu, a companhia teve como parceiras Copel e Furnas. Essa aproximação tem como objetivo compartilhar tecnologias e facilitar a resolução de questões locais, como licenciamento ambiental. Nem a morosidade do processo decisório das estatais no País diminuiu o apetite da empresa. "Somos uma estatal na China e sabemos como isso funciona", brincou. 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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Mais potência no crédito


Bancos de montadoras querem aproveitar a queda da inadimplência para acelerar no financiamento de veículos. As apostas passam por taxas, prazo e prestação de serviços

Por Luiz Gustavo PACETE
Há pouco mais de dois meses na presidência da General Motors do Brasil, o sorridente Santiago Chamorro afirma que o mercado automobilístico brasileiro não está para brincadeiras. “A volatilidade do câmbio, a alta dos juros e a inflação estão fazendo nossos clientes pensarem duas vezes antes de adquirir um automóvel”, diz o executivo colombiano, há duas décadas na companhia. Para superar esse percurso acidentado, a GM está colocando um aditivo em seu braço financeiro. 
 
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Santiago Chamorro, presidente da General Motors: "65% de nossas
vendas são financiadas"
 
Após concluir o processo de aquisição da Ally Financial no Brasil, iniciada em novembro de 2012, em uma negociação global que envolveu US$ 4,2 bilhões, a General Motors reativou seu setor de financiamento e, por meio do Banco Gmac, que possui mais de R$ 10 bilhões em ativos, anunciou a criação da marca Chevrolet Serviços Financeiros. “Como 65% de nossas vendas incluem financiamentos, é importante oferecer mais atrativos para os clientes”, diz Chamorro. Isso será feito por meio do “Plano Tranquilidade”, que permite entrada mínima de 30% do valor do automóvel, parcelamento em até 36 meses e taxas de juro que podem chegar a 0,79% ao mês. 
 
O pacote inclui quatro revisões e manutenção básica até 40.000 km – e de graça. Jaime Ardila, presidente da GM América do Sul, diz que a estratégia é necessária, sobretudo nas categorias econômicas como é o caso do Classic, com valor médio de R$ 25 mil e que 70% de suas vendas são feitas via financiamento. “E sabemos que nesse segmento a oferta de crédito é crítica.” Segundo Chamorro, as vendas totais devem crescer 0,5% neste ano. Já para 2014, a previsão é aumentar as vendas em 3%, para 3,9 milhões de unidades, mantendo a participação atual de 17,5% do mercado, atrás da Fiat e da Volkswagen. 
 
Ele não revela quanto desse aumento deve contar com o apoio de seu próprio banco, mas quem conhece o mercado sabe que será uma ajuda não desprezível. A iniciativa da GM é o exemplo mais recente de um movimento generalizado dos bancos ligados a montadoras. Os grandes concorrentes varejistas do setor financeiro tiraram o pé do acelerador no financiamento automotivo, devido às taxas elevadas de inadimplência, que bateu recorde em maio de 2012 e chegou a 6,1% da carteira. Em agosto, esse percentual havia recuado para 2%. Apesar da queda do calote, os bancões não esticaram a marcha nem pretendem fazê-lo tão cedo. 
 
Na segunda-feira 21, ao anunciar os resultados do terceiro trimestre, Luiz Carlos Angelotti, diretor de Relações com Investidores do Bradesco, informou que o banco vai continuar reduzindo o crédito automotivo e destinando mais recursos para compra de imóveis. No caso do Itaú, a participação dos financiamentos vinculados a veículos no total dos empréstimos recuou de 21% em 2010 para 11% em 2013, o menor percentual desde a fusão com o Unibanco, em 2008. Ricardo Troster, ex-economista-chefe da Febraban, explica que o recuo dos bancos de varejo no crédito para compra de veículos abre caminho para os das montadoras que contam com estruturas enxutas e menor preocupação com margens. 
 
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Angel Martinez, do Banco Mercedes-Benz: "Vamos atrair clientes com as taxas menores, de 2013"
 
Com isso, conseguem mais agilidade na hora de oferecer c­rédito. “A característica do financiamento de automóveis é de alto risco e, no caso dos bancos de varejo, lidar com altas taxas de inadimplência deixa de ser um bom negócio.” Nesse vácuo, os bancos das montadoras se preparam para crescer no retrovisor. “A queda da inadimplência vem reduzindo a rigidez na hora de conceder empréstimos”, diz Décio Carbonari de Almeida, presidente do Banco Volkswagen e também da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef). Na ponta do lápis, os números de agosto – os mais recentes disponíveis – ainda mostram uma atitude cautelosa. 
 
O total de empréstimos desses bancos, R$ 233,3 bilhões, era 4,7% inferior em relação ao mesmo mês de 2012. No entanto, diz Carbonari, os próximos dados a ser divulgados vão mostrar uma reversão nesse quadro. Ele diz esperar que os números de dezembro mostrem um crescimento de 3% em relação a 2012. Carbonari diz que o Banco Volkswagen vai abrir mão da rentabilidade – algo impensável em um banco grande, principalmente se tiver ações em bolsa – para garantir as vendas da montadora. A instituição financeira vai oferecer empréstimos cobrando juros baixos, em média de 1,1% ao mês, e alongar o prazo dos empréstimos para até 42 meses, acima do intervalo médio de 24 a 36 meses que a concorrência tem praticado. 
 
“Esses têm sido os principais atrativos para o comprador nos últimos meses”, diz ele. Esses juros menores vêm sendo cobrados em 87% dos empréstimos, o que contribuiu para o crescimento de 15,3% no primeiro semestre. O banco concedeu R$ 4,8 bilhões em novos financiamentos, contabilizando um total de R$ 22,8 bilhões. “Nossa meta é repetir esse desempenho no acumulado do ano”, diz Carbonari. A Renault pretende adotar uma estratégia semelhante para cumprir a meta de crescer 5% em 2013, ampliando a carteira de crédito de seu braço financeiro, o RCI Brasil, para R$ 5 bilhões. 
 
“O resultado da redução de taxas tem sido competitivo até agora”, diz Dominique Signora, diretor-geral da RCI Brasil. “Vamos preservar os resultados, ampliando os prazos de financiamento, que poderão chegar a até 60 meses em alguns casos específicos”, diz ele. “Para segurar os resultados deste ano, nosso foco será continuar com o pagamento de 24 meses ou, se for o caso, até 60 meses com uma taxa competitiva”, diz Signora. Angel Martinez, diretor comercial do banco Mercedes-Benz, está menos otimista. No acumulado até setembro, a carteira total de empréstimos chegou a R$ 10 bilhões, avanço de 7,5% sobre o mesmo período de 2012. 
 
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Décio Carbonari, do Banco VW: "Vamos cobrar juros de 1,1% ao mês e alongar os prazos"
 
Os novos financiamentos somam R$ 2,8 bilhões. No entanto, esse avanço foi lastreado pelos veículos pesados da montadora alemã. Os empréstimos para venda de caminhões e ônibus cresceram 8%, graças principalmente à oferta de dinheiro barato do BNDES, por meio dos programas estatais de financiamento à modernização das frotas de caminhões. No caso dos automóveis, porém, os empréstimos encolheram 14% nos nove primeiros meses do ano. “No total, esperamos fechar o ano com pouco mais de R$ 3,5 bilhões em volume de crédito concedido, crescimento de 2,5% em relação ao ano passado”, diz Martinez. 
 
Segundo ele, as taxas cobradas atualmente no Finame, do BNDES, estão ao redor de 4% ao ano, mas devem subir no início de 2014. “Esperamos atrair compradores interessados nas taxas menores de 2013”, diz ele. Para melhorar os resultados das vendas nos próximos 24 meses, o banco está reestruturando a equipe, de olho no aumento de demanda previsto para quando a montadora retomar a fabricação de automóveis no País, em 2016. Para não ficar sem combustível, os bancos das montadoras trataram de reforçar o caixa com captações internacionais. 
 
Nos últimos meses, os bancos da Volkswagen, da GM e o PSA Finance, da Citroën e Peugeot, captaram R$ 1,5 bilhão no mercado externo, aproveitando as taxas internacionais camaradas. “Isso fará toda a diferença na hora de subsidiar taxas aos clientes”, diz o economista Celso Grisi. Segundo Alan Ghani, economista e professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), os bancos de montadoras sanearam suas carteiras de empréstimos e, nos últimos nove meses, lançaram os empréstimos problemáticos como perda. “Isso vai permitir mais capacidade de emprestar nos meses que restam de 2013.” 
 
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O petróleo é nosso, e deles também!


O País ganha uma janela de oportunidade com o campo de libra, que pode garantir até R$ 1 trilhão em divisas nos próximos 35 anos. O pré-sal, finalmente, decolou

Por Carla JIMENEZ
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Confira os bastidores da reportagem da editora de economia, Carla Jimenez

Na manhã da segunda-feira 21, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), tuiteiro contumaz, anunciou, em 127 caracteres, que o leilão a ser realizado naquela tarde, no Rio de Janeiro, poderia surpreender. “Leilão de Libra: a probabilidade de um consórcio estatal vencer é grande. Qualquer surpresa pode passar pela Shell. 

A conferir!” Às 15 horas, no hotel Barra Windsor, na Barra da Tijuca, a previsão de Amaral mostrou-se acertada. Ao contrário do que se pensava até a véspera, o grupo vencedor não se restringiu a uma aliança entre as estatais chinesas e a Petrobras nem foi marcado pela ausência das maiores petroleiras privadas do mundo. 
 
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Ontem e hoje: em 1948, o País clamava pelo monopólio do petróleo. Na semana passada,
a Petrobras repartiu os 12 bilhões de barris do Campo de Libra com a iniciativa privada
 
O envelope entregue no último minuto do tempo regulamentar trazia uma proposta com a assinatura da anglo-holandesa Shell, a segunda da lista no Global Energy Company Ranking, bem como do conglomerado francês Total (7ª na lista) e das chinesas Petrochina e CNOOC (9ª e 13ª, respectivamente), todas elas parceiras no condomínio articulado pela Petrobras. “Empresa forte atrai empresa forte”, comemorou Graça Foster, presidente da companhia brasileira, a 18° entre as maiores do setor. Não houve concorrência no leilão – como o governo já esperava – e o grupo vencedor pôde oferecer o lance mínimo de partilha do óleo excedente extraído da área para a União: 41,65%. 
 
Esse seria o critério de desempate em caso de disputa pelo campo da Bacia de Santos, o que frustrou os mais afoitos. Para explorar o pré-sal no novo modelo de parceria (partilha, em vez de concessão), o consórcio irá pagar R$ 15 bilhões à União, dinheiro que vem em boa hora para reforçar as contas públicas.
 
O sucesso do leilão viabilizará investimentos vultosos na cadeia produtiva do petróleo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que preside o Conselho da Petrobras, calcula que serão necessários US$ 181 bilhões ao longo dos 35 anos de vigência do contrato de Libra. Diante do fracasso de alguns leilões de infraestrutura neste ano – como o da rodovia 262 –, a conclusão do certame na semana passada trouxe otimismo ao governo. 
 
“Nós gostaríamos de um valor maior, é claro”, disse a diretora da Agência Nacional de Petróleo, Magda Chambriard. “Mas, desde que envolvesse as mesmas empresas.” Magda diz ter certeza absoluta de que Libra terá o desenvolvimento mais correto possível com as cinco petroleiras. O consórcio vencedor uniu o que para muitos seria uma mistura entre água e óleo: a estatal brasileira, que deve empregar sua expertise em exploração na camada pré-sal, com quatro empresas que estão entre os maiores produtores globais. Somadas, a Petrochina e CNOOC ficaram com 20% de participação na sociedade, mesmo percentual da Total e da Shell, enquanto a Petrobras tornou-se majoritária, com 40%. 
 
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Martelo batido: o ministro Lobão (2º da esq. para a dir.), entre os representantes
das empresas e da Petrosal, comemora o resultado do leilão
 
Juntas, vão explorar o potencial estimado entre 8 bilhões e 12 bilhões de barris da reserva do Campo de Libra. Em cadeia nacional, a presidenta Dilma Rousseff capitalizou a vitória e as receitas que receberá em forma de royalties, petróleo excedente e bônus de R$ 15 bilhões, além de impostos. “Em 35 anos, será arrecadado mais de R$ 1 trilhão, que será gasto em educação e saúde”, disse a presidente. Para as sócias privadas, o leilão criou um horizonte promissor de bons negócios, uma vez que será possível extrair o ouro negro a preços competitivos. “Queremos aproveitar a experiência global da Shell em águas profundas para dar suporte a essa extraordinária oportunidade”, disse Peter Voser, presidente mundial da Shell. 
 
O interesse da companhia anglo-holandesa já era de conhecimento do Planalto havia algum tempo. Em maio deste ano, o executivo suíço tentava um encontro com a presidente Dilma Rousseff, mas não conseguia se acertar com a agenda oficial. A Shell, então, pediu a intervenção do senador Delcídio Amaral para articular uma reunião. “A partir dali, começaram encontros sistemáticos, que confirmaram o papel estratégico do Brasil para a Shell”, diz o senador. Segundo ele, Voser saíra bastante impressionado do primeiro encontro com a presidente, convencido da seriedade dos interlocutores brasileiros.
 
VELHAS CONHECIDAS Com um faturamento de US$ 467 bilhões em 2012, três vezes e meia a receita da Petrobras, a Shell fincou raízes no Brasil há um século e vinha fortalecendo o papel da corporação no setor de energia. Um dos lances mais ousados foi feito em 2010, quando se uniu à Cosan na joint venture Raízen, para a produção de etanol. O grupo já trabalha também em dobradinha com a Petrobras em alguns blocos na Bacia do Espírito Santo. No início de outubro, a companhia adquiriu a participação da estatal brasileira num bloco uruguaio por US$ 17 milhões. A francesa Total, por sua vez, que faturou US$ 232 bilhões em 2012, com presença em 130 países, também tem operações conjuntas com a Petrobras na Bacia de Campos e na Foz do Amazonas. 
 
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Velhas conhecidas, Total e Shell participam de joint ventures na Nigéria. Da mesma forma, a petroleira anglo-holandesa mantém parcerias com os chineses em vários projetos globais. “Trabalhamos com a CNPC (Petrochina) e com a CNOOC há bastante tempo”, diz André Araújo, presidente da Shell do Brasil. “Somos parceiros deles dentro e fora da China.” Segundo Araújo a associação em Libra vinha sendo costurada há alguns meses e foi facilitada, sem dúvida, pelo conhecimento anterior entre os protagonistas. Com a entrada no consórcio, as asiáticas asseguraram uma reserva futura fundamental, uma vez que a China é importadora de petróleo, cuja demanda cresce à medida que a renda da população aumenta e se transforma em consumo. 
 
O mercado dava como certo que as duas petroleiras seriam autoras de lances agressivos, o que terminou não se confirmando – a hispano-chinesa Repsol Sinopec, também inscrita no certame, acabou, inclusive, desistindo de fazer um lance pouco antes da abertura do envelope vencedor. “As chinesas estão considerando mais projetos de produção de curto prazo”, afirma Carlos Assis, sócio do Centro de Energia Sustentável da consultoria EY, a antiga Ernst Young. “Essas grandes reservas no longo prazo garantem o futuro e completam o portfólio delas.” Por ora, o maior interesse da China seria a parceria com a Petrobras em refinarias – a Sinopec já tem um acordo de intenções de investir nas unidades de refino Premium I e Premium II, no Maranhão e no Ceará, respectivamente.
 
Assis acredita que, se as asiáticas tivessem entrado sozinhas, as chances de sucesso não seriam as mesmas que as criadas pelo consórcio vencedor. “A formação é muito positiva e haverá um alinhamento natural entre os sócios em busca de custos mais competitivos e do melhor retorno para seus acionistas”, afirma. Jean Paul Prates, diretor do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia, concorda com ele. Para Prates, a entrada das quatro empresas no grupo representa um equilíbrio fundamental, diante dos desafios implícitos na exploração do pré-sal. 
 
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“Isso vai dar agilidade ao consórcio, porque a Petrobras não terá maioria”, avalia. Já a Shell e a Total consolidam suas estratégias globais em óleo e gás, dada a importância da nova bacia. “São empresas que precisam buscar a aquisição de novas reservas, pois estavam perdendo espaço no mercado mundial.” Na segunda-feira 21, conhecido o resultado do leilão, o presidente da Total no Brasil, Denis de Besset, confirmou a importância do ingresso no clube de Libra, que eleva as operações do grupo em território nacional a outro patamar. “O Brasil é um país estratégico para nós”, disse Besset. 
 
“Somos um dos líderes do mundo em exploração em águas profundas e em projetos de grande magnitude, duas características presentes aqui.” A Total já tem engatilhado um plano de investimentos de cerca de US$ 300 milhões no Brasil em 2014, sem incluir as somas demandadas por Libra. “Não vamos parar de crescer.” Por sua participação no certame, o conglomerado francês pagará R$ 3 bilhões ao governo brasileiro, relativos aos 20% do bônus pela entrada no Campo de Libra. Os grandes investimentos, entretanto, só começarão a chegar no fim da década, quando a extração terá início efetivo. 
 
Uma fonte próxima aos chineses estima que eles estariam dispostos a desembolsar até US$ 50 bilhões tanto para o pré-sal quanto para as refinarias no Nordeste. Seja como for, nos próximos quatro anos a prioridade é explorar o bloco. “Nesse período, nossas equipes, em conjunto com as empresas consorciadas, realizarão as atividades do programa exploratório mínimo com levantamentos sísmicos 3D em toda a área do bloco a perfuração de dois poços exploratórios e realização de um teste de longa duração”, disse a presidenta Graça Foster, em carta aos funcionários. 
 
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Os minoritários: com 20% de participação, a China pode ser o fiel da balança.
Na foto, Magda Chambriard, da ANP, e Edison Lobão, ministro de Minas e Energia,
entre dois representantes chineses 
 
Só então as estimativas sobre o volume de óleo, custos e cronograma de produção serão conhecidos. A parceria com a iniciativa privada em Libra é vista como uma janela de oportunidades para a Petrobras, que tenta recuperar o brilho no mercado. Ganhar um horizonte de longo prazo com o apoio de grandes nomes do setor fez as ações da estatal subirem logo após o leilão. No entanto, se, por um lado, a estatal ganha um reforço fundamental para acertar o rumo dos seus negócios, por outro, aumenta a pressão sobre a eficiência de sua gestão. 
 
DÚVIDAS NO CAMINHO Há, ainda, dúvidas sobre o sucesso de modelo de partilha de óleo excedente, que para muitos é uma incógnita e seria responsável por afastar outras grandes petroleiras da disputa. “É uma divisão que pode requerer ajustes com o tempo”, diz Cesar Guzzetti, da Gaffney Cline, responsável pela prospecção de Libra, que apontou o nível de reservas potenciais na região. Outras incertezas no caminho são a variação do preço internacional do petróleo nas próximas décadas, além do custo e da produtividade que serão alcançados. No dia seguinte ao leilão, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, procurou desfazer as desconfianças que pairam no ar. 
 
“Posso tranquilizar o Brasil quanto à Petrobras”, disse Lobão. Segundo ele, a empresa sabia o que estava fazendo quando decidiu pela participação nesse projeto. “Ela só assumiu o compromisso depois de uma avaliação interna e de discutir o assunto.” Trata-se de uma prova de fogo para a presidente Graça Foster, que precisa retomar a confiança dos investidores. “Nós trabalhamos alucinadamente para que vocês tenham muito orgulho de nós, em especial aqueles que investem em nossas ações”, disse Graça, na quinta-feira 24, depois de uma apresentação para executivos no evento CEO Summit, em São Paulo. 
 
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A executiva aposta no aumento da produção com a extração do óleo em bacias nas quais estão entrando em operação novas plataformas. “Queremos ter capacidade de produzir até 4,2 milhões de barris em 2020, sem contar Libra, e, com isso, colocar as ações da empresa no patamar que elas merecem estar.” O óleo do Campo de Libra deve começa a jorrar em 2020, quando entrará em operação uma plataforma por ano, capaz de produzir 150 mil barris/dia. A expectativa é de que em 2031 seja atingido o pico da retirada, de 1,4 milhão de barris/dia, equivalente a 65% da produção atual de petróleo no País, de 2,2 milhões de barris/dia. 
 
Bem antes disso, em 2017, o Brasil já terá se tornado autossuficiente em petróleo e, melhor ainda, exportador da matéria-prima, o que pode representar um alívio para a balança comercial. “São perspectivas auspiciosas por todos os ângulos”, afirma Cesar Magalhães, presidente da Georadar, de Belo Horizonte, especializada em estudos sísmicos e geológicos. “Além do óleo em si, uma indústria local está se consolidando.” Alvo de controvérsias, a política de conteúdo nacional estabelece que 37% do que as petroleiras utilizarem em bens de capital, na fase de exploração, deve ser produzido localmente. 
 
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Esse percentual evolui para 55%, em média, na fase de desenvolvimento, até 2022, e, depois disso, sobe para 59%. Os críticos dessa política consideram que há grandes chances de engessar os projetos, se não houver flexibilidade para importar equipamentos em caso de necessidade. Mas o governo está tranquilo. Os índices de nacionalização foram acordados com as empresas, que teriam proposto, inclusive, porcentuais maiores. O fato é que o Brasil está mais uma vez diante do clássico dilema de enxergar o copo meio cheio ou meio vazio, em razão das novas descobertas de petróleo. 
 
Se bem conduzido o processo de exploração, os ambiciosos projetos de petróleo podem pressionar pela melhoria de outros nós típicos brasileiros, como a logística e a burocracia. O setor precisa, por exemplo, ter a flexibilização das leis trabalhistas para importar mão de obra qualificada, que será demandada quando a indústria de petróleo estiver a todo vapor, e de portos eficientes para exportar uma parte da produção dentro de alguns anos. No caso, o Brasil tem um copo cheio de petróleo à sua frente, que precisa ser tratado como política de Estado, seja quem for o governante que assumir o leme no ano que vem.
 
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Do monopolio à partilha
 
Por Ana Paula Ribeiro e Rodrigo Caetano
 
A expectativa de uma disputa acirrada pelo leilão de Libra, marcada para as 14h, pode não ter se confirmado do lado de dentro do Windsor Barra Hotel, onde foi realizado o certame. Mas o Rio de Janeiro viveu momentos de embate severos do lado de fora. Manifestantes entraram em confronto com a polícia e com o Exército, que foi convocado para garantir a segurança do evento. A avenida Lúcio Costa, onde está localizado o hotel, precisou ser interditada. Uma hora antes do pleito, executivos e representantes do governo corriam para dentro das dependências do hotel fugindo do gás lacrimogêneo que, espalhado pelo vento, tornava impossível permanecer na rua. 
 
Nas cercanias da sala de conferências, profissionais engravatados misturavam-se a soldados do Exército e policiais federais. Em meio à confusão, o leilão foi adiado em uma hora. Os manifestantes, em sua maioria funcionários da Petrobras, tiveram o apoio até de um grupo de Black Blocks. Eles romperam a barreira de militares e acabaram entrando em confronto. Alguns deles chegaram a virar um carro da tevê Record, que cobria a manifestação, para usá-lo como escudo. As forças policiais revidaram com balas de borracha e bombas de efeito moral. Cerca de dez pessoas ficaram feridas. Além dos protestos, o governo teve de driblar dezenas de ações na Justiça que contestavam a validade do leilão, que ameaçaria a soberania brasileira. 
 
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Batalha campal: manifestantes enfrentam a Força Nacional de Segurança e o Exército,
a poucos metros do hotel onde foi realizado o leilão, na Barra da Tijuca (no Rio)
 
Todas foram derrubadas. A exploração de petróleo desperta paixões no Brasil, e não é de hoje. A disputa em torno da propriedade das reservas já foi tema até de história infantil. O escritor Monteiro Lobato, defensor empedernido do monopólio do Estado, fez jorrar óleo no Sítio do Pica-Pau Amarelo e criou a primeira petrolífera brasileira, a Donabentense de Petróleo, em 1938. No final da década seguinte, o ideal nacionalista ganhou força e a campanha “O petróleo é nosso” saiu às ruas. A motivação era barrar a intenção do presidente Eurico Gaspar Dutra de permitir a participação de empresas estrangeiras na exploração do petróleo no Brasil. 
 
O objetivo do movimento, que contava com o apoio do Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e dos setores nacionalistas das Forças Armadas, era romper com o discurso vigente na época de que apenas grandes companhias internacionais seriam capazes de operar a indústria petrolífera no Brasil. E o resultado foi alcançado em outubro de 1953, com a criação da Petróleo Brasileiro S/A, hoje Petrobras, que passou a deter o monopólio de exploração, refino e distribuição de derivados de petróleo no País. De lá para cá, algumas coisas mudaram.
 
A Petrobras deixou de ter o monopólio em 1997, com a aprovação da Lei do Petróleo, que permitiu a realização de leilões para venda de poços para a iniciativa privada, nacional ou estrangeira. Isso não quer dizer, no entanto, que o nacionalismo tenha sido deixado de lado. O que se viu no leilão do Campo de Libra foi a volta de protestos, organizados por diferentes movimentos sociais e sindicatos, com o objetivo de evitar “a entrega do patrimônio nacional”. Não teve jeito. Mais da metade desse patrimônio agora está nas mãos da iniciativa privada, que tem o capital necessário para transformar o óleo em riqueza. A Petrobras, por sua vez, é detentora de conhecimento geológico e da tecnologia para extrair a matéria-prima. 
 
 
Colaboraram: Denize Bacoccina, Rodrigo Caetano e Ana Paula Ribeiro
 

O mecenas da hora



O mecenas da hora

A Jaeger LeCoultre, relojoeira suíça de alto luxo, do CEO Daniel Riedo, segue os passos de grifes famosas e investe na restauração de do relógio da estação Júlio Prestes, em São Paulo

Por Bruna BORELLI

Assistir a um concerto na Sala São Paulo faz parte da lista de atrações turísticas da capital paulista. Além de integrar o patrimônio histórico da cidade, o local abriga os concertos da renomada Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). E foi lá que o suíço Daniel Riedo, da grife de alta relojoaria Jaeger LeCoultre, teve a sua primeira impressão do Brasil. O executivo, que conheceu o País no início de outubro, conta que se impressionou com o talento do pianista mineiro Nelson Freire. “Não o conhecia e fiquei bastante emocionado”, diz. Ele esteve no País para anunciar a doação feita pela marca à Secretaria da Cultura do Governo do Estado de São Paulo para a restauração do relógio da torre da estação Júlio Prestes. 
 
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“É um presente para São Paulo”, afirmou em entrevista à DINHEIRO. O anúncio da ação filantrópica contou com a presença de 250 convidados, ou melhor, compradores potenciais de seus relógios, que chegam a custar até US$ 1 milhão, e formadores de opinião. Por mais que, a princípio, não esteja nos planos da Jaeger LeCoultre divulgar a doação usando uma placa ou “envelopando” o monumento a ser reformado com o logo da grife, como outras empresas já fizeram (leia-se Bulgari e Fendi, na Itália), o incentivo financeiro funciona como uma boa estratégia para estreitar o relacionamento da marca com os consumidores super-ricos. 
 
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Em Portugal: a grife, que comemora 180 anos em 2013, já havia restaurado
o relógio do Arco da Rua Augusta, em Lisboa
 
Para Silvio Passarelli, diretor da Faculdade de Artes Plásticas da Faap, essa é uma parceria em que os dois lados saem ganhando: o governo, que recebe o apoio de uma instituição privada para a reforma de um monumento histórico, e a marca, que associa seu nome a uma obra arquitetônica de respeito. “A atuação em segmentos da sociedade que geram prestígio, como artes visuais em geral, é uma necessidade do mercado de luxo”, diz o especialista. Passarelli explica que, quando uma marca patrocina, financia ou apoia qualquer expressão cultural, há uma transferência sutil da admiração e do respeito obtido pelo evento ou pelo monumento para a empresa em questão.
 
O relógio, datado de 1938, estava em más condições, segundo Riedo. “A estação é um marco na c­idade”, disse o executivo, que prevê a conclusão da restauração para três ou quatro meses após o início dos trabalhos, em janeiro do ano que vem. “Essa ação, além de fazer parte de nossos valores, é o nosso jeito de dizer que o Brasil é um país importante para nós.” A escolha não poderia ser melhor para a estratégia de marketing da grife suíça, que patrocina festivais de cinema em Veneza e Xangai. Em seu portfólio “do bem”, a Jaeger LeCoultre inclui, ainda, a restauração do relógio do Arco da Rua Augusta, um dos cartões-postais de Lisboa.
 
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No Brasil: sem valor divulgado, a reforma de um dos marcos da capital
paulista deve demorar de três a quatro meses
 
A Tod’s, italiana de sapatos de luxo, é outra grife que aposta na estratégia de participação mais discreta, ao menos no visual da reforma, a exemplo da Jaeger LeCoultre. Mesmo assim, a notícia da restauração do Coliseu, em Roma, vem sendo badalada nos meios de comunicação desde 2010. O custo da reforma deve ficar em torno de € 25 milhões, um valor exorbitante, principalmente para um dos países mais afetados pela crise econômica europeia, mas uma ninharia diante do valor histórico do bem patrocinado. 
 
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Na Itália: a conterrânea Tod's, com Diego Della Valle no comando,
deve pagar ? 25 milhões na restauração do Coliseu
 
“Não pretendemos usar a área do Coliseu como espaço publicitário”, afirmou Diego Della Valle, CEO da marca, em entrevista à DINHEIRO na edição 802. “Essa reforma é um patrocínio, sem finalidade comercial.” Menos discreta, a Bulgari estampou por três anos um outdoor que exibia a atriz Julianne Moore repleta de joias da grife em frente à Ponte dos Suspiros, em Veneza, construída em 1602. Essa foi a moeda de troca utilizada pela grife pela recuperação da ponte, que custou € 2,8 milhões. Um toma lá dá cá de bom gosto e sensibilidade que se tornou uma boa opção para governos e também para empresas.
 

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

McDonald's rompe com a Heinz


Anúncio ocorre meses após Bernardo Hees, ex-CEO da concorrente Burger King, ter assumido a direção da fabricante de catchup

25 de outubro de 2013 | 20h 01

Agência Estado

A rede norte-americana de fast-food McDonald''s anunciou nesta sexta-feira o rompimento das relações comerciais com a empresa de condimentos Heinz.


 - Divulgação
Divulgação
O anúncio do McDonald''s ocorre alguns meses depois de Bernardo Hees, ex-CEO da Burger King, ter assumido a direção da Heinz.

Hees é sócio da 3G Capital, que no início do ano uniu-se à Berkshire Hathaway, de Warren Buffet, para comprar a Heinz.

Apesar de não exercer mais as funções de executivo-chefe da Burger King, Hees ainda atua como vice-presidente do conselho de administração da rede de lanchonetes.

Procurada pela Associated Press, a Heinz limitou-se a informar que tem como política não discutir em público as relações com seus clientes.

Fonte: Associated Press