Rogério Penido, no Aerovale_Foto: Flavio Pereira
Empreendimento inédito na América Latina instalado em Caçapava atrai investidores de quatro estados
Sheila Faria
Editora Executiva de O VALE
Há 10 anos, o empresário Rogério Humberto Ribeiro Penido, dono da
holding Penido, de São José, teve a ideia de um megaprojeto. Ele queria
fazer um condomínio para a indústria aeronáutica, dotado de uma pista
com excelência em qualidade. Na época, a proposta não interessou a São
José e nem a Taubaté.
Hoje, 10 anos depois, ela virou realidade em Caçapava, cidade que sedia o
Aerovale, muito além de um condomínio com pista, uma aposta que pode
gerar negócios de R$ 10 bilhões e 50 mil empregos. A pista pode receber
até Airbus.
O modelo de empreendimento que não atraiu São José e Taubaté foi
“exportado” para Curitiba, que projeta o Aerovale Curitiba, exatamente
nos moldes do daqui. Há investidores interessados no Rio de Janeiro,
Brasília, Belo Horizonte e três cidades do Estado de São Paulo, diz
Penido.
Advogado que nunca exerceu a profissão, aos 58 anos ele se orgulha do
Aerovale, onde estão investidos R$ 250 milhões em 3,7 milhões de metros
quadrados, menina dos olhos do empresário, que hoje possui cerca de 15,5
milhões de metros quadrados em áreas na região, incluindo São José e
Taubaté.
“O melhor é fazer algo novo, diferente do que todo mundo está fazendo”.
Para quem começou a trabalhar aos 12 anos, na construtora Serveng, de
propriedade dos tios Pelerson e Vicente, Penido está à frente de
empreendimentos importantes, junto com a mulher Eliuza e os filhos
Humberto e Noeli. “Amo o que eu faço, não saberia fazer outra coisa”,
diz o empresário, torcedor fanático do Cruzeiro de Belo Horizonte, sua
terra natal. Apaixonado pelo Vale e pelas praias de Ubatuba, Penido é um
homem simples e de devoções --ao trabalho e a Nossa Senhora Aparecida,
afirma ele.
Leia a seguir trechos da entrevista a O VALE:
O senhor está construindo o maior empreendimento da RM Vale, o
Aerovale. Como estão as obras? O senhor tinha projeção de decolar o
primeiro avião no Aerovale em maio. Prazo mantido?
O nosso projeto é aeroespacial, industrial, comercial e de
serviços. É um projeto grande, construído em uma área de, num primeiro
momento, 2,4 milhões de metros quadrados e agora já está com 3,7 milhões
de metros quadrados. Nosso objetivo é voar em maio e até São Pedro está
colaborando com a gente, com poucas chuvas em dezembro e janeiro.
Estamos encerrando a terraplenagem em fevereiro e começamos a
pavimentação da pista para que o primeiro avião suba até 30 de maio.
Como está a comercialização dos lotes?
Já vendemos muitos lotes e temos muitos outros para vender. O
nosso empreendimento é diferente, foi muito planejado. A gente tem dois
tipos de empresas que podem se instalar lá. A primeira é a aeronáutica,
que vai ficar junto da pista de maneira que todos os lotes terão acesso à
pista, ao avião.
Nesse momento, a procura maior é pelos lotes fora da pista, porque são
menores e mais baratos, a partir de 750 metros quadrados, para qualquer
tipo de negócio. Uma empresa já comprou para instalar padaria, outra
para locadora de carros, outra para montar uma farmácia, um salão de
beleza, pizzaria, etc. Na parte aeronáutica, agora é a hora que as
empresas começam a se interessar, ver que a obra, ver o asfalto da
pista.
Quais empresas?
Esse mercado é muito complicado porque todas as empresas são de
capital aberto. Mas quando eu falo em empresas grandes é tipo Embraer,
TAM, Globo, Líder, a Azul. São empresas que virão com 500 ou 600
empregados de início.
O senhor concebeu um projeto arrojado, inédito na América Latina. Quais foram as dificuldades?
Imagina, isso começou há 10 anos e o governo só começou a
privatizar os aeroportos no ano passado. As dificuldades foram enormes.
Até 2012, tudo que se falava de aviação era ou federal ou estadual, nada
privado, nada. Era a mesma coisa que querer mexer com petróleo no
Brasil há 30 anos atrás. Não podia. E ainda hoje existe uma influencia
muito grande do governo na aviação. Agora as coisas foram mudando, mas
ainda hoje é um desafio, um desafio gostoso.
O nosso empreendimento é muito voltado para a aviação comercial,
principalmente a aviação executiva, aviões pequenos. Esses aviões estão
abandonados. Os grandes aeroportos não querem saber de aviões pequenos. O
mesmo tempo para descer e estacionar que leva um avião pequeno leva um
grande. Só que o grande carrega 300 passageiros e 200 toneladas de
carga. Os aeroportos querem aviões grandes. Também pensamos nos
helicópteros. São Paulo tem hoje a maior frota de helicópteros do mundo.
A de jatos executivos é a terceira.
Qual o tempo para o retorno do investimento?
A gente fez cinco pesquisas de mercado para isso, pela Urban
Systems. A pesquisa de viabilidade financeira foi da Deloitte do Brasil.
Pelas pesquisas, nós teríamos um retorno do empreendimento entre 5 e 6
anos. Mas o legal desse empreendimento é que em seguida a gente começa a
fazer prédios corporativos, comerciais e gera muita coisa para alugar.
Uma de suas ideias era exportar o Aerovale para outras cidades. Isso ocorreu?
Nós estamos numa fase feroz de obras e se eu começar a rodar o
Brasil, não faço nem aqui e nem lá. Mas o interesse já apareceu. Em
Curitiba, temos um investidor que fez a parceria com a gente, nós
estamos dando toda a assessoria para ele, nossa equipe de projetos está
acompanhando.
O mesmo modelo?
Exatamente o mesmo modelo. É o Aerovale Curitiba. Estamos com
oportunidades em Brasília e no Rio, em dois locais, Rio e Macaé, Belo
Horizonte, em São Paulo tem três cidades que estão interessadas que a
gente vá conhecer a área. É que o empreendimento é diferente, chama a
atenção. Uma das coisas legais desse empreendimento é que vai ter um
sistema completo de comunicação por rádio e TV para colocar todo mundo
on line, trocando ideias.
Não foi um projeto sem planejamento. Para chegar nesse modelo visitei
uns 80 aeroportos, no Brasil e no exterior. Tiramos mais de 8 mil fotos,
tudo catalogado. Tivemos que pensar em tudo, desde a quantidade de
geradores para nunca faltar energia. Nossa pista terá tudo controlado
por laser, será um dos primeiros aeroportos com esse tipo de recurso.
Não teremos água na pista, não vai ter problema de caída, nem de
ondulação. Vamos usar o máximo de energia solar.
Nós fomos com esse projeto nos Estados Unidos, Itália, Japão e Portugal,
buscar tecnologias. Esse empreendimento não acaba nele, há o
desenvolvimento em torno dele. E se vai crescer, por que não crescer
organizado?
O que haverá no entorno?
Tudo o que você imaginar. Você vai mundo afora, em feiras
aeronáuticas, são lindas, maravilhosas, alta produção, restaurantes
bons, hoteis, tudo bacana. Aqui no Brasil, qualquer feira é gambiarra,
restaurante com cadeira de plástico. Nossa ideia é, do lado do aeroporto
fazer um acesso para um pátio, 200 mil metros quadrados, tipo Anhembi,
mas não um galpão, um prédio para eventos, muito bem instalado, para
eventos de primeiro mundo. Em volta, belos condomínios residenciais,
escolas, centro de compras.
Por que Caçapava? O senhor não tentou executar esse projeto em São José?
A primeira coisa para viabilizar um projeto desse porte é o
poder público querer. Tivemos grandes problemas em São José. A cidade
travou, nada podia fazer em São José. A política de São José não era
favorável, nem a de Taubaté.
Quando foi isso?
No governo Eduardo Cury (PSDB). Naquela época, a gente não
conseguia conversar com ninguém, não conseguia nem expor a ideia. São
José estava fechada para os empresários. Taubaté foi a mesma coisa.
Hoje
em São José, as portas da prefeitura estão abertas. Nós hoje temos um
projeto em São José, de 100 alqueires, muito bacana para a cidade,
lindo.
Caçapava nos acolheu naquela hora e nunca precisamos dar dinheiro para
ninguém. Na Prefeitura de Caçapava, documento nosso nunca ficou parado
mais de um dia lá. Hoje o relacionamento com a prefeitura é melhor
ainda. O grande motivo de fazer em Caçapava foi a recepção que tivemos.
Mas a localização do Aerovale acabou ficando um negócio legal, de frente
para a Carvalho Pinto, com acesso para a Carvalho Pinto e Dutra e
centralizado na RMVale.