sábado, 15 de fevereiro de 2014

Relatórios de bancos indicam alto risco de racionamento de energia

Com dados da Somar Meteorologia e da Climatempo, UBS e JP Morgan traçam panorama preocupante

15 de fevereiro de 2014 | 2h 07

RENÉE PEREIRA - O Estado de S.Paulo
 
Dois relatórios de bancos estrangeiros (UBS e JP Morgan) distribuídos para os clientes esta semana traçam um panorama preocupante para o setor elétrico este ano e para 2015. Com base nas informações da Somar Meteorologia e da Climatempo, as instituições avaliam que a probabilidade de o Brasil ter de decretar um racionamento é alto.

Para os analistas do banco suíço UBS, se os dados da Somar estiverem certo, o País corre o risco de ser obrigado a cortar 15% da demanda já a partir de abril - volume considerado extremamente alto. Segundo o meteorologista Celso Oliveira, da Somar, as chuvas desta semana vão interromper um período de seca prolongado neste início de ano. A partir de agora, a Região Sudeste terá períodos intercalados de chuvas e seca (moderada) até abril.

Mas não há previsão de chuvas extraordinárias para o período, conforme a necessidade do País para encher os principais reservatórios. Oliveira explica que em algumas bacias há previsão de chuvas dentro da média histórica. Em outras, um pouco abaixo. "Março pode ser o melhor mês do ano para algumas bacias, mas não significa que as chuvas serão suficiente para encher os reservatórios."

Na avaliação dos analistas do JP Morgan, que usaram dados da Climatempo, se confirmadas as chuvas previstas para o período, os reservatórios do Sudeste chegariam ao fim do período chuvoso com 45% de armazenamento - o que seria o limite para evitar um racionamento. Para isso, no entanto, é necessário chover 80% da média.

O grande problema, na avaliação do JP Morgan, é que os reservatórios chegariam ao final do ano com uma capacidade muito baixa, o que eleva o risco também para 2015. Ou seja, o País teria novamente de contar com o humor de São Pedro para encher os reservatórios, que começariam o período chuvoso numa situação pior que a do ano passado (abaixo de 20% da capacidade).

Custos.
Segundo o relatório da instituição, o custo de redução do consumo de energia seria menor do que ligar as termoelétricas movidas a óleo diesel e óleo combustível, cujo custo estaria na casa de R$ 1,7 mil o megawatt hora (MWh). Mas, de acordo com o banco, é improvável que a presidente Dilma Rousseff opte por um programa de corte de energia elétrica, especialmente por causa das eleições presidenciais no segundo semestre deste ano. 

A decisão, no entanto, implicará aumento de gastos no setor, que possivelmente será coberto pelo Tesouro Nacional, já que o governo não quer repassar os custos para as tarifas dos consumidores. Como as distribuidoras estão com uma parcela do mercado descontratada, a conta para comprar energia no mercado à vista, atender todo seu mercado e ainda arcar com os custos das termoelétricas pode superar R$ 10 bilhões.

Ontem a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) publicou os novos preços para o mercado à vista no período de 15 a 21 de fevereiro. Nos sistemas Sudeste/Centro-Oeste e Sul, o preço continuará em R$ 822,83 o MWh. No Nordeste, R$ 730,19 o MWh e Norte, 574,31 o MWh. Os valores refletem a condição crítica dos principais reservatórios do País. 

Na quinta-feira, último dado fornecido pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), os reservatórios das usinas localizadas nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste estavam com 35,89% de armazenamento - 0,4 ponto porcentual menor do que no dia anterior. No Sul, que também tem sido afetado pela estiagem, as represas estavam com 43,91% da capacidade - 1,07 ponto porcentual menor.

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