Para evitar a saída de dólares e preservar as reservas do país, bancos só podem pagar importações no valor máximo de 200 mil dólares — acima deste valor, será preciso autorização do BC argentino
Nos dois primeiros meses do ano, a Argentina perdeu quase
US$ 3 bilhões de suas reservas e a moeda local se desvalorizou em 23%
(Divulgação)
As importações argentinas acima de 200 mil dólares estão
praticamente paralisadas, segundo o Diretor de Assuntos Institucionais
da Câmara de Importadores da República Argentina (Cira), Miguel Ponce.
Para controlar o fluxo de saída de divisas e preservar as reservas
domésticas, o governo argentino agregou uma dificuldade extra aos
importadores, além das Declarações Juramentadas Antecipadas de
Importação (DJAI), que funcionam como licenças generalizadas no país.
Os bancos usados pelo importador para realizar as operações de
comércio exterior só podem pagar importações no valor abaixo de 200 mil
dólares. Quantias entre 200 mil dólares e 300 mil dólares requerem
autorização expressa do Banco Central. Para as somas acima de 300 mil
dólares, o importador terá de ir pessoalmente ao BC e dar entrada ao
pedido de autorização para realizar o pagamento.
"Mesmo tendo as declarações juramentadas (DJAI) autorizadas, os
importadores precisam de uma autorização do BC para importar quantias
acima desses valores. Ou seja, passamos todo o tempo realizando trâmites
para poder importar qualquer tipo de mercadoria", queixou-se Ponce. Ele
detalhou que as restrições não eximem as mercadorias provenientes dos
sócios do Mercosul (Brasil, Uruguai, Paraguai e Venezuela).
Financiamento externo
- O analista da consultoria
Abeceb, Dante Sica, explicou que o governo argentino está tentando fazer
com que os importadores consigam financiamento externo para pagar suas
importações e evitem gastar dólares das reservas até chegar, pelo menos,
aos meses de março e abril, quando aumenta a entrada de moeda americana
no país proveniente das exportações agrícolas.
A medida quebra uma promessa feita em dezembro pelo secretário de
Comércio, Augusto Costa, aos importadores do país. Ele garantiu a
liberação das importações de insumos para a indústria nacional. Há
aproximadamente três semanas, Costa e o ministro de Economia, Axel
Kicillof, realizaram uma reunião com as setenta maiores empresas do país
para pedir que adiassem o pagamento de suas compras externas e para
avisar que deveriam buscar financiamento externo para suas importações.
O esquema de autorizações de importações por valores entrou em vigor
na semana passada sem qualquer medida escrita que o ampare, a exemplo de
normas verbais nos tempos do ex-secretário de Comércio Guillermo
Moreno, demitido em novembro passado.
Indisposição
- As novas barreiras criaram uma forte
indisposição com as empresas da Câmara de Importadores, que pediram uma
reunião na próxima quarta-feira, às 14 horas (de Brasília), com o
secretário Costa. "Vamos explicar que a indústria pode ficar paralisada
sem as importações dos insumos usados na fabricação de produtos que
abastecem o mercado interno e são destinados às exportações", detalhou
Ponce.
As reservas do Banco Central argentino estão em 27,6 bilhões de
dólares, conforme último dado disponível pela autoridade monetária. Nos
dois primeiros meses deste ano, o BC perdeu quase 3 bilhões de dólares
das reservas e a moeda local sofreu uma forte desvalorização de 23%.
(com Estadão Conteúdo)
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