Até que saia a análise, não haverá realiação aos americanos
Por Estadão Conteúdo
O governo vai pedir à Organização Mundial do Comércio (OMC) para
investigar se a nova lei agrícola americana atende à decisão anterior
do órgão, que condenou a concessão de subsídios aos produtores de
algodão. A decisão foi aprovada na quarta-feira (19/2) pela Câmara de
Comércio Exterior (Camex), cerca de 10 dias após a promulgação da nova
Farm Bill pelos EUA.
"A OMC determinará de maneira objetiva se a nova lei agrícola americana
cumpre ou não os requisitos de eliminação de subsídios que o painel
considerou ilegais", disse o ministro de Relações Exteriores, Luiz
Alberto Figueiredo. Segundo ele, por enquanto o Brasil não vai adotar
medidas de retaliação comercial contra os EUA.
De acordo com Figueiredo, o Brasil vai continuar a negociar uma solução
definitiva do problema diretamente com os Estados Unidos. "O que nos
interessa, mais do que tudo, é resolver essa questão de uma maneira que
seja ótima para os interesses nacionais. Portanto, continuaremos a
negociar com os americanos para termos uma solução final."
Retaliação
A disputa entre Brasil e Estados Unidos sobre subsídios aos produtores
de algodão se arrasta há mais de dez anos. O contencioso foi aberto em
2002 na OMC. Após anos de investigações, o órgão condenou os EUA em
2009. Na época, o Brasil ganhou o direito de retaliar os EUA em US$ 809
milhões, mas o governo americano propôs um acordo, por meio do qual
pagaria US$ 147 milhões por ano aos produtores brasileiros até a
aprovação de uma nova lei agrícola, em 2012, quando todos os subsídios
aos agricultores seriam revistos.
A votação atrasou e somente neste mês a nova lei foi aprovada pelo
Senado. O problema é que a legislação reduziu os subsídios diretos mas
elevou o gasto em garantias de preços mínimos para produtos e
seguros-safra subsidiados, o que pode prejudicar a produção brasileira.
Ontem, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa)
informou em nota que apoia a decisão da Camex de questionar a OMC se a
nova lei agrícola americana cumpre as obrigações estabelecidas no
contencioso sobre algodão.
Impacto
Desde 2011, quando a lei ainda estava em negociação, o Itamaraty já
mostrava preocupação com essas alterações. A avaliação era de que, a
depender dos valores usados pelo governo americano para essas ações, o
resultado poderia ser pior que o subsídio direto.
O pedido do governo brasileiro na OMC funcionará como uma espécie de
recurso. Por se tratar de uma nova análise dentro de um mesmo processo, e
não da abertura de um novo painel, a avaliação será feita pelos
técnicos do órgão, que vão julgar se a reclamação do Brasil tem
fundamento.
Na avaliação do Itamaraty, o processo de análise deve ser mais ágil.
Somente após uma conclusão da OMC de que a nova lei desrespeitou a
decisão anterior é que o Brasil poderá retaliar os Estados Unidos.
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