Segundo associação, país vizinho dificulta a entrada de produtos estrangeiros. Setor automotivo será um dos mais prejudicados
No ano passado, as exportações brasileiras para a Argentina somaram US$ 19,6 bilhões
(Eraldo Peres/AP)
A crise cambial na Argentina pode reduzir em quase 2 bilhões de
dólares o saldo da balança comercial brasileira, afetado principalmente
pelas exportações do setor de material de transporte, que incluem
automóveis, caminhões e autopeças. A afirmação é uma
projeção preliminar da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Nas contas do presidente da AEB, José Augusto de Castro, a Argentina
deve cortar neste ano em 5 bilhões de dólares as suas importações de
todos os países, sendo que o Brasil deve responder por 2 bilhões a 3
bilhões de dólares desse total. Com isso, o saldo da balança brasileira,
inicialmente estimado ao redor de 7 bilhões de dólares, deve recuar
para algo em torno de 5 bilhões de dólares.
Projeção semelhante é feita pelo departamento econômico do Bradesco. A
estimativa é de redução de 3,9 bilhões de dólares nas vendas de
produtos brasileiros ao país vizinho. No ano passado, as exportações
brasileiras para a Argentina somaram 19,6 bilhões de dólares, alta de 9%
em relação às vendas de 2012.
A balança comercial brasileira acumula em fevereiro déficit de 2,041
bilhões de dólares - as exportações somaram 7,214 bilhões de dólares e
as importações, 9,255 bilhões de dólares. As exportações de
manufaturados foram as que mais pesaram negativamente, ao cair 16,8%,
por causa da queda nas vendas de automóveis, óxidos e hidróxidos de
alumínio, autopeças, pneumáticos, bombas e compressores, calçados e
motores e geradores elétricos.
Argentina
- Diante da escassez de dólares, não é de hoje que o
governo argentino vem dificultando as importações. Um dos mecanismos
usados tem sido a demora na liberação da Declaração Juramentada
Antecipada de Importação (Djai), documento obrigatório às compras
externas. Em setores como o de porcas e parafusos o atraso na liberação
da Djai é superior a um ano, informa o diretor do Departamento de
Relações Internacionais da Fiesp, Thomaz Zanotto.
Nas últimas semanas, mais um obstáculo foi imposto aos importadores.
De acordo com Zanotto, o governo vinculou a liberação da Djai à obtenção
de financiamentos às importações pelas próprias companhias argentinas
no mercado internacional. Segundo ele, isso deve dificultar ainda mais
as exportações brasileiras para a Argentina porque mesmo que o
importador argentino tenha os pesos para quitar a compra, ele terá de
obter um financiamento no mercado internacional para poder fechar o
negócio e ter a Djai liberada.
O banco central argentino não fará a troca de pesos por dólares para
efetivar importação. "O governo argentino está ganhando tempo até a
entrada de divisas com a exportação da safra, que deve ocorrer nos
próximos meses", diz Zanotto.
Um estudo encomendado pela Fiesp a uma consultoria argentina mostra
que os setores da indústria brasileira mais afetados pela medida serão o
automotivo, o metalúrgico (aço e alumínio), o pneumático e o
eletrônico. Já os segmentos ligados a setores de saúde, infraestrutura,
cultura e atividades essenciais estão fora dessa restrição.
O setor automotivo, o país vizinho fica com cerca de 85% das
exportações de veículos do Brasil. Porém, em dezembro, a Argentina
anunciou que cortaria as importações do Brasil em 27%. Em 2013 foram
exportados 475 mil veículos para a Argentina.
Só a General Motors deverá reduzir suas vendas ao país vizinho de 70
mil para 50 mil unidades este ano, informa o presidente da montadora na
América do Sul, Jaime Ardila.
Com esse cenário, a Anfavea, associação que reúne as montadoras,
prevê para 2014 que as exportações totais do setor cresçam apenas 1,6%,
ante as 566 mil unidades de 2013. Na comparação com 2012, as vendas
externas aumentaram 26,5%, justamente puxadas pelas importações
argentinas.
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