O Estado de S.Paulo
Até mesmo o lusófono presidente da Comissão Europeia,
José Manuel Durão Barroso, deve ter tido sérias dificuldades para
entender os dois discursos da presidente Dilma Rousseff proferidos em
Bruxelas a propósito da cúpula União Europeia (UE)-Brasil. Não porque
contivessem algum pensamento profundo ou recorressem a termos técnicos,
mas, sim, porque estavam repletos de frases inacabadas, períodos
incompreensíveis e ideias sem sentido.
Ao falar de improviso para plateias qualificadas, compostas por
dirigentes e empresários europeus e brasileiros, Dilma mostrou mais uma
vez todo o seu despreparo. Fosse ela uma funcionária de escalão
inferior, teria levado um pito de sua chefia por expor o País ao
ridículo, mas o estrago seria pequeno; como ela é a presidente, no
entanto, o constrangimento é institucional, pois Dilma é a representante
de todos os brasileiros - e não apenas daqueles que a bajulam e temem
adverti-la sobre sua limitadíssima oratória.
Logo na abertura do discurso na sede do Conselho da União Europeia,
Dilma disse que o Brasil tem interesse na pronta recuperação da economia
europeia, "haja vista a diversidade e a densidade dos laços comerciais e
de investimentos que existem entre os dois países" - reduzindo a UE à
categoria de "país".
Em seguida, para defender a Zona Franca de Manaus, contestada pela
UE, Dilma caprichou: "A Zona Franca de Manaus, ela está numa região, ela
é o centro dela (da Floresta Amazônica) porque é a capital da Amazônia
(...). Portanto, ela tem um objetivo, ela evita o desmatamento, que é
altamente lucrativo - derrubar árvores plantadas pela natureza é
altamente lucrativo (...)". Assim, graças a Dilma, os europeus ficaram
sabendo que Manaus é a capital da Amazônia, que a Zona Franca está lá
para impedir o desmatamento e que as árvores são "plantadas pela
natureza".
Dilma continuou a falar da Amazônia e a cometer desatinos gramaticais
e atentados à lógica. "Eu quero destacar que, além de ser a maior
floresta tropical do mundo, a Floresta Amazônica, mas, além disso, ali
tem o maior volume de água doce do planeta, e também é uma região
extremamente atrativa do ponto de vista mineral. Por isso, preservá-la
implica, necessariamente, isso que o governo brasileiro gasta ali. O
governo brasileiro gasta um recurso bastante significativo ali, seja
porque olhamos a importância do que tiramos na Rio+20 de que era
possível crescer, incluir, conservar e proteger." É possível imaginar,
diante de tal amontoado de palavras desconexas, a aflição dos
profissionais responsáveis pela tradução simultânea.
Ao falar da importância da relação do Brasil com a UE, Dilma disse
que "nós vemos como estratégica essa relação, até por isso fizemos a
parceria estratégica". Em entrevista coletiva no mesmo evento, a
presidente declarou que queria abordar os impasses para um acordo do
Mercosul com a UE "de uma forma mais filosófica" - e, numa frase que
faria Kant chorar, disse: "Eu tenho certeza que nós começamos desde 2000
a buscar essa possibilidade de apresentarmos as propostas e fazermos um
acordo comercial".
Depois, em discurso a empresários, Dilma divagou, como se grande
pensadora fosse, misturando Monet e Montesquieu - isto é, alhos e
bugalhos. "Os homens não são virtuosos, ou seja, nós não podemos exigir
da humanidade a virtude, porque ela não é virtuosa, mas alguns homens e
algumas mulheres são, e por isso que as instituições têm que ser
virtuosas. Se os homens e as mulheres são falhos, as instituições, nós
temos que construí-las da melhor maneira possível, transformando...
aliás isso é de um outro europeu, Montesquieu. É de um outro europeu
muito importante, junto com Monet."
Há muito mais - tanto, que este espaço não comporta. Movida pela
arrogância dos que acreditam ter mais a ensinar do que a aprender, Dilma
foi a Bruxelas disposta a dar as lições de moral típicas de seu
padrinho, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Acreditando ser uma
estadista congênita, a presidente julgou desnecessário preparar-se
melhor para representar de fato os interesses do Brasil e falou como se
estivesse diante de estudantes primários - um vexame para o País.
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