Oficina
em que bolivianos trabalharam produzia para a Atmosfera, empresa que
atende indústrias, hospitais e hotéis, e é considerada uma das
principais do setor no país.
Fiscalização realizada nesta segunda-feira, dia 17/02, em Cabreúva
(SP), localizou o dono de uma oficina de costura que, na semana passada,
tentou vender dois trabalhadores imigrantes como escravos no bairro do
Brás, na região central de São Paulo. O proprietário da confecção em
questão admitiu ao Grupo Especial de Fiscalização Móvel ter pago a
passagem de ambos e mais um terceiro, e afirmou que os apresentou na
capital para tentar “ajudá-los” a conseguir outro emprego.
Ele foi localizado durante fiscalização conjunta realizada pelo
Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério Público do Trabalho,
Defensoria Pública da União e Polícia Federal, acompanhada pela Repórter
Brasil. Para a equipe de fiscalização que acompanhou a ação, o
proprietário da oficina pretendia, ao tentar comercializar os dois
trabalhadores, reaver o que gastou com as passagens de ambos. Os
trabalhadores são bolivianos e entraram no país pelo Paraguai. A
transferência para o pagamento das passagens foi feita via Western
Union, conforme revela comprovante de envio encontrado pela
fiscalização.
Endividados ao chegar ao Brasil, eles teriam de trabalhar para pagar o
valor da passagem, o que configurou servidão por dívida. Além de
trabalho escravo contemporâneo, também foi caracterizado tráfico de
pessoas. De acordo com os auditores fiscais Renato Bignami e Luís
Alexandre Faria, o consultado da Bolívia intercedeu e os dois
trabalhadores já regressaram à Bolívia. O terceiro não foi encontrado. O
MTE pretende localizá-los para garantir o pagamento de verbas
rescisórias e o salário referente ao período em que trabalharam na
oficina de Cabreúva.
O proprietário da confecção pode sofrer um processo criminal. O MTE
pretende encaminhar toda a documentação relativa ao caso para o
Ministério Público Federal e para a Polícia Federal para que as medidas
cabíveis na esfera criminal sejam tomadas.
Responsabilidade
A oficina em questão produzia exclusivamente para a empresa Atmosfera
Gestão e Higienização de Têxteis, que foi considerada responsável pela
situação a que os três bolivianos foram submetidos. Além do episódio da
venda de trabalhadores em que foi configurada escravidão e tráfico de
pessoas, a fiscalização constatou que dois adolescentes trabalhavam na
produção das peças. Para assegurar os direitos de ambos, o Conselho
Tutelar de Cabreúva foi acionado e ficou de informar o Ministério
Público Estadual.
A Atmosfera, cuja sede é em Jundiaí (SP), apresenta-se como líder no
mercado de gestão e higienização de têxteis, atendendo indústrias,
hospitais e hotéis. O grupo, que foi adquirido recentemente pela empresa
francesa Elis, uma das maiores do mundo no setor, informa em sua página
na internet ter mais de três mil clientes e operar na Bahia, Minas
Gerais, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. A Repórter Brasil
tentou contato com os representantes da empresa no começo da noite desta
segunda-feira, sem sucesso.
Igor Ojeda