terça-feira, 11 de março de 2014

OAB vai ao Supremo pela correção da tabela do IR

O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil entrou nesta segunda-feira (10/3) com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal pedindo a correção da tabela do Imposto de Renda. O pedido aponta que, desde 1996, a base de cálculo está defasada em 61,2%. O número baseia-se em estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Atualmente, estão isentos do imposto quem ganha até R$ 1.787. Caso a tabela fosse corrigida, a isenção iria até R$ 2.758. De acordo com a OAB, a correção beneficiaria 20 milhões de pessoas. Desse total, 8 milhões deixariam de pagar o imposto e passariam a ser isentos.

Na ADI, a OAB pede liminar para que a correção seja válida já neste ano. Como um plano B para evitar uma queda brusca na arrecadação, o Conselho Federal propõe que a tabela seja corrigida de forma escalonada pelos próximos dez anos. Dessa maneira, em 2015 haveria a correção pela inflação anual, mais 6% da defasagem, e assim até 2025. A ação é assinada pelo presidente do Conselho Federal da OAB, Marcus Vinícius Furtado Coêlho; pelo procurador especial tributário do Conselho Federal da OAB, Luiz Gustavo Bichara; e pelo advogado Oswaldo Pinheiro Ribeiro Júnior. O caso foi distribuído ao ministro Luis Roberto Barroso.

O presidente da OAB diz que o caso do IR é semelhante ao da Emenda do Calote (EC 62). Ela foi julgada inconstitucional pelo STF por corrigir os precatórios pela Taxa Referencial, índice que tem ficado abaixo da inflação. “A novidade desta ação é que ela busca aplicar o raciocínio que o STF já aplicou na ADI dos precatórios. O STF decidiu que a correção de direito abaixo da inflação é confisco”, afirma Furtado Coêlho. “A Ordem pede a aplicação da lei, que fala expressamente que a tabela será corrigida pela inflação. Mas tem que ser pela inflação efetiva, não pela projetada”, conclui.

O conselheiro federal da OAB Luiz Claudio Allemand afirma que em 1996 a isenção se estendia para quem ganhava até 8 salários mínimos, enquanto hoje não alcança nem três. "Um cidadão que ganha R$ 2,7 mil não teria de pagar IR, mas hoje ele já começa pagando 15%. É uma covardia com o trabalhador brasileiro. De certa forma o governo está tributando a base da pirâmide", afirma.

Para Luiz Gustavo Bichara, corrigir a tabela de acordo com a expectativa de inflação do governo também não adianta. “O que pretende o Conselho Federal é a interpretação conforme à Constituição dos dispositivos legais que reconhecem que a inflação é o correto indexador da tabela do IR, mas a inflação efetivamente verificada ao fim de cada exercício, não a meta. A meta é só uma previsão. E se a previsão não for confirmada, como aconteceu nos últimos 16 anos, ela deve ser substituída pelo dado do mundo real, a inflação efetiva. Interpretação diferente acabará por autorizar a tributação do mínimo existencial, violando-se uma série de preceitos constitucionais de proteção ao contribuinte, principalmente o menos favorecido”, explica.

Clique aqui para ler a ADI.

segunda-feira, 10 de março de 2014

"Na falta de lei própria, direito pode ser garantido com provas"

Propriedade industrial

Desfile da grife Ausländer no Fashion Rio  Foto: Edson Lopes Jr./Terra


A indústria da moda ainda não tem um código legal próprio e a doutrina e jurisprudência sobre o assunto são escassas. Entretanto, alguns advogados, que já tinham como clientes empresas desse ramo, estão se unindo para discutir as principais questões de propriedade industrial, intelectual e direito de autor. É o caso de André Mendes Espírito Santo, coordenador da área de Direito da Moda do L.O. Baptista-SVMFA.

O interesse pelo Direito da Moda, conhecido como Fashion Law, surgiu com a necessidade. As empresas nacionais e estrangeiras começaram a investir mais no Brasil e novas marcas chegaram no país. Junto com os investimentos, vieram os questionamentos sobre concorrência desleal e plágio, afinal, a moda trabalha com o conceito de “inspiração” em que nada é 100% novo e tudo pode ser copiado. O Fashion Law ainda lida com problemas que vão desde trabalho escravo e terceirização, até questões ambientais como produtos sustentáveis.

A falta de regulamentação gera a dúvida de quais instrumentos jurídicos devem ser usados para solucionar esses conflitos. Algumas decisões são fundamentadas pela Lei de Propriedade Industrial e outras pela Lei de Direito Autoral. E além disso, segundo André Mendes, os magistrados têm dificuldade para lidar com o tema — e muitos tribunais ainda não têm varas especializadas.

Na briga no Judiciário em casos que envolvam o Direito da Moda, o advogado sugere que a marca tenha uma registro pessoal e particular de todo o processo criativo. “Desde o primeiro desenho até as reuniões, e-mails, teste de tecido, tudo deve ser registrado com fotos e gravações. Tudo para que o juiz possa diferenciar o produto dos outros do mercado”. Na falta de lei própria, o direito pode ser garantido pela prova.

Em entrevista à revista eletrônica Consultor Jurídico, André Mendes afirma que o assunto é novo no mundo inteiro, mas que está ganhando corpo no sentido de profissionais do direito e do setor de moda entender que realmente é necessário talvez, não uma maior regulação, mas pelo menos um conhecimento maior dos agentes jurídicos com relação ao assunto. Na data da entrevista, o advogado tinha acabado de voltar da Chile onde participou da I Jornada de Direito da Moda do país. Um pouco antes, tinha participado de palestras em Barcelona e na Argentina, todas em jornadas inéditas.

André Mendes é um dos fundadores do Instituto Brasileiro de Negócios e Direito da Moda que reúne profissionais do direito para discutir os gargalos jurídicos da moda. Além disso, assessora empresas da área nos casos que envolvem violações à propriedade intelectual de empresas, estilistas e correlatos.

Leia a entrevista:

ConJur — O que é a Fashion Law?

André Mendes —
Uma parcela de advogados que já atendiam empresas de moda começou a ver que aumentou muito a demanda da indústria têxtil e de acessórios. Então, eles se reuniram para tentar dar respostas a casos concretos e regular um setor da economia, já que há a necessidade de criar uma especialidade para discutir as principais questões de propriedade industrial, intelectual, direito de autor. O direito da moda nada mais é do que a reunião dos profissionais do direito para discutir gargalos jurídicos do tema. Ainda não se existe um código próprio, mas existem casos e a necessidade de resolvê-los.

ConJur — Essa demanda significa aumento de conflitos na área de propriedade intelectual?

André Mendes —
Não só de propriedade intelectual, que são conflitos clássicos dessa área, que envolve desde questão de pirataria até concorrência desleal, mas também de outras situações que envolvem essa indústria têxtil. Como por exemplo, conflitos sobre importação e exportação de matéria prima, os incentivos fiscais que são dados para esses produtos da indústria têxtil, circulação de mercadorias, guerra fiscal, ICMS, regulações de contratos de demanda de empresas “fast fashion”, que chegaram recentemente ao Brasil, como a Zara e a Top Shop.

ConJur — Por tratar de indústria têxtil, o advogado ainda lida com questões ambientais?

André Mendes —
Sim. E essa é uma questão de sustentabilidade, muito nova hoje na moda. A pergunta é: “Como é possível produzir no Brasil produtos sustentáveis com valores que sejam comercialmente vendáveis?” Cada país de alguma forma pode regular a questão ambiental na moda, porque esse caso lida com questões culturais. No Brasil há as regras do Ibama. Pelo menos na teoria, o Brasil é considerado mais ou menos avançado na questão ambiental. São duas as principais questões: a de uso de peles de animais e a produção de mercadoria sustentável. O problema é o alto valor para produzir essas mercadorias sustentáveis. Mas é uma luta válida.

ConJur — E como surgiram essas questões? Há uma expectativa maior no Brasil?

André Mendes —
Há um boom de investimentos, diretos e indiretos, tanto de grifes de luxo, quanto de empresas de fast fashion no Brasil. Então, houve um aumento muito considerável de investimentos no país. Apesar da nossa carga tributária e da nossa lei trabalhista, todas as grifes estão vindo para o Brasil para atender todas as classes sociais. É um mercado que não pode ser ignorado.

ConJur — Não há doutrina sobre o Direito da Moda? E jurisprudência?

André Mendes —
A doutrina e jurisprudência sobre o assunto são escassas. Algumas decisões já dão um norte de como o Judiciário vem enfrentando a questão. As principais dúvidas são: considerando que a moda trabalha com o conceito de “inspiração” em que nada é 100% novo, tudo pode ser copiado/inspirado? Qual o limite? Quando termina o direito de uma estilista de moda e começa o outro? Quais os instrumentos jurídicos para solucionar esses conflitos? É através da aplicação da Lei de Propriedade Industrial ou da Lei de Direito Autoral? Ou ambas?

ConJur — A proteção para roupas e acessórios está mais fundamentada na Lei de Propriedade Industrial ou na Lei de Direito Autoral?

André Mendes —
Os juristas ainda não têm uma resposta definitiva para isso.

ConJur — Fala-se muito de cópia na moda. Desde sempre as pessoas que faziam moda no Brasil traziam as peças de fora do país e as copiavam para vender aqui. Como esse fato é tratado hoje?

André Mendes —
Essa é uma das questões centrais de difícil solução. Até onde vai a inspiração e começa a cópia? Até onde você pode se inspirar em alguém e a partir de que momento você passa a infringir o direito de propriedade intelectual de terceiros? Faz pouco tempo que o Brasil passou a criar e são poucas marcas genuinamente criativas. Acontece que há pouco mais de cinco anos, as marcas que estavam sendo copiadas, estão no Brasil e estão todas no mesmo centro comercial. Isso é um fenômeno recente, que veio no bojo desse crescimento econômico do Brasil.

A cópia gera dois problemas principais. O primeiro é de perda de receita direta, a marca passa a vender menos, porque tem outro vendedor no mercado que faz uma tentativa de cópia do produto dela. E o outro é a diluição de marca, quer dizer, aquilo que tem aquele valor agregado tão alto passa a sofrer questionamento. Será que vale a pena pagar R$ 5 mil por esse modelo, se a outra que é tão parecida custa R$ 1 mil?

ConJur — Mas ai já é o caso de pirataria? Se na 25 de Março uma camisa que imita uma marca famosa é vendida a R$ 30 reais, quando, na verdade, a camisa custa R$ 300, o que a marca pode fazer?

André Mendes —
Apesar de a gente ainda não ter uma “super legislação”, existem instrumentos jurídicos e já há, inclusive, jurisprudência nesse sentido, dizendo que a marca pode usar desde a Lei de Propriedade Industrial, se ela tiver o logotipo da marca registrada, até usar questões de Direito do Consumidor. Porque, nesse último caso, há uma indução do consumidor a erro. Ele pode achar que aquela camisa pode ou não ser original. Além da possibilidade de discutir questões de concorrência desleal.

ConJur — E esse caso da 25 de Março é o tipo de situação de concorrência desleal?

André Mendes —
Sim. Porque o vendedor da 25 de Março está se apropriando da marca como um todo, isso é, todo o valor que a marca agregou na camisa é copiado. É o caso, por exemplo, do sapato Louboutin. O Yves Saint Laurent processou o Christian Louboutin por causa da sola vermelha do sapato. A sola vermelha já existia na corte do Luiz XV, já tinha sido usado no espetáculo O Mágico de Oz e o Yves Saint Laurent já tinha feito uma coleção em 1996. Acontece que, quem deixou o produto conhecido e emprestou o glamour do sapato vermelho foi Cristhian Louboutin. Ele que foi vencedor nos Estados Unidos, na corte de Nova York, usou o argumento de que a cor usada nos sapato é um tom especifico de vermelho, usado no solado, em um tipo de sapato especifico. O que se tenta proteger na moda são os conjuntos, não seus itens separados.

ConJur — Mas então essa é uma proteção difícil de se garantir, já que não basta registrar a marca..

André Mendes —
O registro de marca no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) demora cerca de dois anos. O que está em descompasso com a indústria da moda que lança até cinco coleções por ano. Então, o responsável protege a marca com uma mistura de diplomas legais. E, nos casos de cópia, o dono da marca vai ao Judiciário e demonstra que foi ele que desenvolveu aquilo primeiro, é uma questão de prova.

ConJur — Na falta de um código específico, a defesa deve se basear quase que inteiramente em provas?

André Mendes —
A marca deve fazer um registro pessoal e particular de todo o processo criativo. Ou seja, desde o primeiro desenho, as reuniões, e-mails, teste de tecido, tudo deve ser registrado com fotos e gravações e os testes devem ser guardados. Tudo para que o juiz possa diferenciar o produto dos outros do mercado. A prova serve para vincular o criador e o produto acabado. Além de proteger aquele que agregar valor a um produto que já existe. Como é o caso do sapato Louboutin. Hoje, ele pode dizer que o sapato é diferente e que, depois que ele colocou a venda, virou um hit de venda, e foi copiado. Essa cópia não pode.

ConJur —  Vale a pena registrar as criações?

André Mendes —
Tem muito estilista que acha que não. Mas aí é a questão da conscientização. Em alguns casos vale a pena registrar, porque você tem um argumento a mais. A gente está no país dos selos e dos carimbos. Na verdade, o que se busca no final de tudo isso é que o direito consiga contribuir para que haja uma concorrência mais leal, uma concorrência mais saudável, para que economicamente se tenha mais um equilíbrio entre esses concorrentes do mercado. Hoje, o que a gente tem é um "vale tudo", todo mundo copiando todo mundo. O vale tudo não é saudável e cria uma situação de atrito com as grifes de luxo que estão vindo para o Brasil. O Direito tem que estabelecer limites. Quando as regras do jogo são mais claras fica melhor de fazer investimento, de saber que você vai ter seu dinheiro.

ConJur — Podemos falar em concorrência desleal nos casos de pirataria?

André Mendes —
São situações diferentes. A imitação para fazer um produto igual ao original é contrafração e pirataria. Outra situação é a concorrência desleal que acontece por conflito de marcas, uso não autorizado de produto marcado.

ConJur — O senhor pode dar um exemplo?

André Mendes —
Um dos produtos mais bem vendidos da Osklen é o sapatênis. Várias empresas, que são concorrentes diretas da Osklen, começaram a copiar o sapato. Esses dois produtos são vendidos no mesmo shopping. É uma situação diferente do caso de uma bolsa original vendida no shopping e a cópia vendida na 25 de Março. Mais de 70% de consumidores que vão no shopping comprar um sapatênis vai comprar o tênis parecido com o da marca mas com um preço mais acessível. Em vez de gastar R$ 400 em um sapatenis, ele vai escolher um parecido que custa R$ 150. Nesse caso é concorrência desleal, porque a concorrente que copiou o modelo não poderia estar vendendo o produto cuja ideia original foi da Osklen. Se isso acontecer, a marca tem perda de receita, desse tipo de clientela, e também ocorre o fato de diluição da marca, já que ninguém vai querer pagar mais pelo produto.

ConJur — Mas os produtos que são vendidos na 25 de Março também configuram concorrência desleal?

André Mendes —
Exato. Mas, o que está na 25 de Março existe um tipo legal, que é crime, que é a pirataria, cujo o termo técnico é contrafração. Contrafração é crime, está previsto na lei de propriedade industrial que constitui crime você enganar e tentar fazer essa cópia de produto de outrem. Então, além de ser pirataria, de contrafração, é também concorrência desleal. No outro caso não dá para você dizer que é pirataria, porque na verdade a concorrente direta não quer fazer um produto exatamente igual, porque ela está usando outro material. Mas ela causa confusão ao consumidor. A loja "está pegando uma carona parasitária" no sucesso de outro. É complicado proteger a criação, porque é diferente de uma patente, que se eu registrei a patente, tenho o produto.

ConJur — Caso for comprovado que houve cópia. Quais são as sanções para a loja?

André Mendes —
Teve um caso, julgado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em que uma loja de departamento deve de pagar indenização e retirar de venda os produtos copiados, sob pena de multa diária. Nesse caso o juiz levou em consideração a lei de direito autoral. Mas tem casos em que a decisão é fundamentada especificamente na Lei de Propriedade Industrial. Nesse caso, o juiz determinou que a loja parasse de usar o nome parecido com o de uma marca famosa, mas não garantiu a indenização por dano moral.

ConJur — A moda é arte e pode ser protegida como tal?

André Mendes —
Depende. Porque quando a moda é arte talvez seja possível incluí-la como Direito Autoral, e aí não se trata mais de propriedade industrial e sim de direito autoral. Acontece que o artigo 7° da Lei de Direito Autoral protege a letra, música, livro, obra... mas não cita a moda. O que os juristas estão entendendo é que esse artigo não é taxativo e sim exemplificativo.

ConJur — Quais são as linhas do Direito mais usadas nos casos de proteção de marcas?

André Mendes —
Propriedade Industrial, Lei de Direito Autoral e o Código de Defesa do Consumidor, além do Código Civil. Na análise das decisões judiciais que existem até o momento, você vai ver que são esses diplomas que são levados em conta no Judiciário.

ConJur — Como o Judiciário tem lidado com essas questões?

André Mendes —
Existe uma dificuldade dos magistrados de lidar com temas de propriedade industrial, com marcas e patentes. Embora a Lei 9.279 seja de 1996, não é tão nova, existe uma dificuldade principalmente nos estados em que não têm varas especializadas. Faz pouco tempo que o Tribunal de Justiça de São Paulo criou uma câmara reservada a direito empresarial e que o Rio de Janeiro criou varas empresariais.

ConJur — Agora com o aumento de discussões sobre a matéria, o Judiciário pode formar uma jurisprudência..

André Mendes —
Exatamente. Mas não é só isso. No caso de propriedade intelectual aplicada a moda, o juiz tem que conhecer de tecidos e modelos. Hoje, o juiz não tem condições de dizer o direito. E o Brasil não tem peritos preparados para isso. Então há a necessidade de criação de um instituto e de pessoas que tenham conhecimento de moda para resolver esses problemas jurídicos.

ConJur — O que deve ser feito para melhorar esse cenário?

André Mendes —
O Instituto Brasileiro de Negócios e Direito da Moda, que está sendo criado, visa, entre outras coisas, contribuir para formação de pessoas, auxiliar no combate a pirataria e formar peritos que possam ser habilitadas para dizer se é a mesma tecelagem, o mesmo corte.. Porque o juiz não tem hoje condições de fazer esse link entre faculdade de Moda e Direito. Uma pessoa que faz uma faculdade de moda não tem o menor conhecimento sobre direito. Não sabe como faz para abrir a própria confecção, o que é um contrato de franquia. Você não precisa ter o curso inteiro, mas uma matéria de visão geral de propriedade industrial. A faculdade Getulio Vargas de direito está com um programa de Iniciação Científica para estimular alunos a fazerem trabalhos em direito da moda.

ConJur — Existe plágio na moda?

André Mendes —
Sim. Você pode chamar isso de plágio. Eu chamaria de concorrência desleal. Você está se aproveitando da ideia de outrem para vender. As marcas de fast fashion fazem muito isso. E as grifes que se sentem incomodada, as vezes não tomam medida para todos os produtos, mas um produto que lhe é muito caro, que é muito característico, ele vai na justiça para a loja retirar o produto da venda. E o Judiciário tem decidido de forma mais favorável ao criador.

ConJur — A loja que quiser produzir e vender o modelo do produto já criado, pode pagar direitos autorais ao criador?

André Mendes —
Pode. Por exemplo, um contrato de licença e uso de marca. Ou seja, é feito um contrato em que o licenciante outorga ao licenciado o direito de usar aquela marca, aquele nome, aquele produto, mediante o pagamento de valores.

ConJur — A compra de produtos pela internet aumentou muito. Quais são os problemas desse comércio virtual?

André Mendes —
Vender uma camiseta é diferente de vender uma geladeira. A geladeira tem três modelos. O consumidor quando vai comprar, ele não está experimentando, ele pode até saber o número dele, mas a modelagem pode ser diferente. Além disso, faltam informações com relação a composição do tecido.

ConJur — Tem alguma norma que as empresas devem seguir para vender o produto pela internet?

André Mendes —
O Procon de São Paulo já criou uma cartilha com condutas e condições. Não chega a ser uma lei. O Código de Defesa do Consumidor só vai dizer que a informação precisa ser clara, precisa, em língua portuguesa. Quem tenta regular a questão do princípio do direito à informação do consumidor são os órgãos de regulação, entre eles o Instituto de Defesa do Direito do Consumidor (Idec) e o Procon. E eles têm fiscalizado bastante, principalmente o e-commerce. Um problema recorrente é a troca dos produtos. Algumas empresas criam restrições para a troca, o que não deveria ocorrer, já que as vezes a roupa não tem defeito e é da numeração certa, mas não vestiu bem quem comprou.

ConJur — A empresa que não aceitar a devolução pode ser responsabilizada?

André Mendes —
Sim, elas têm as responsabilidades. O Direito do Consumidor, de uma forma ampla, e algumas leis podem ser usadas nesse caso. A Lei 7.962 que regulamenta a contratação no comércio eletrônico exige mais obrigações das empresas que queiram vender na internet. Por exemplo, a empresa não pode reter informação do consumidor com relação a cartão de crédito, aumentando a segurança, deve ter um call center 24 horas, deve manter serviço adequado e eficaz de atendimento em meio eletrônico, entre outros.

ConJur — Essas exigências podem engessar e inibir as empresas?

André Mendes —
Não. Porque elas não podem abrir mão desse mercado.

ConJur — Em relação as marcas estrangeiras que estão no Brasil. O produto continua sendo importado. A tributação é feita pela marca ou por cada produto?

André Mendes —
Por produto. A alíquota que é aplicada, por exemplo, para cinto, é diferente do que é para casacos, que é diferente do que é para batom, que é diferente do que é para perfume.

ConJur — Tem alguma empresa estrangeira que prefere produzir no Brasil, por causa de tributos?
André Mendes —
Isso ainda não ocorre e a alegação dos donos das marcas é de que não há matéria prima de qualidade e que não tem mão de obra suficiente para fazer o produto. O luxo exige uma qualidade muito alta e a gente não tem ainda a sofisticação dessa matéria prima aqui.

ConJur — Concorrência desleal está relacionada ao dumping social, certo? O que é esse fenômeno?

André Mendes —
É quando o dono do produto abaixa o preço de forma muito agressiva, as vezes até comendo o próprio lucro e acaba sendo uma concorrência desleal. Porque você está na verdade canibalizando o mercado, está vendendo pelo preço que ele não vale.

ConJur — Ainda tem a questão de trabalho escravo. Como o fashion lawyer atua nesses casos?

André Mendes —
Essas é uma questão trabalhista da área de moda e que é sensível. O advogado atua para saber até onde vai a responsabilidade das marcas. Não é valido atirar pedras nas grifes, porque afinal de contas são elas as que mais sofrem. O que acontece normalmente é que a loja terceiriza para um terceira, que terceiriza para uma quarta, que terceiriza para quinta, e essa quinta que contrata, ou não tomou os cuidados, ou sabia que estava fazendo coisa errada e fez mesmo assim.

ConJur — Mas a marca não é responsável pelo controle de sua linha de produção?

André Mendes —
Mas será que é viável a empresa fazer esse controle? Até onde que vai a responsabilidade dessa empresa? Ela realmente precisa controlar a cadeia inteira, até o décimo que está na linha?

ConJur — É o nome dela que está em jogo..

André Mendes —
A preocupação é extamente essa. Porque o que sai nos jornais não foi que a empresa terceirizada contratou e sim que o contrato foi feito pela marca principal. Não interessa quem foi que contratou. A empresa não pode se esquivar dessa responsabilidade, porque no final das contas o nome dela que sai manchado. Mas é uma questão difícil. O Ministério Público do Trabalho está trabalhando em um Termo de Ajustamento de Conduta para lidar com empresas, principalmente em casos muito complexos, para dar um mínimo de regulação. Por exemplo, eu ouço muita história de pessoas que pedem trabalho em troca de comida. E aí é a escolha de Sofia, você dá trabalho pagando R$ 10 com comida ou deixa a pessoa passar fome. O buraco é um pouco mais embaixo. Eu não tenho resposta hoje para te dar.

ConJur — Como que a terceirização afeta a indústria da moda?

André Mendes —
Isso é um uso comum na moda, não tem como controlar a cadeia inteira, então a terceirização é normal. Existe um problema no Brasil que é a falta de costureira. O fato do país ter ascendido economicamente fez com que as costureiras, principalmente as mulheres, não queiram mais trabalhar por um ou dois salários mínimos. E então, empresas que por acaso tiveram sucesso conseguindo formar um grupo de pessoas que faz esse tipo de costura, acabaram elevando seus ganhos sendo a terceirizada.

ConJur — A indústria de confecção costuma operar no modelo “Nike” de produção: elas só produzem o design e o “know how” e terceirizam todo o processo produtivo. Quais são os aspectos legais desse sistema?

André Mendes —
O único problema que eu vejo é trabalhista, você precisa ter um contrato muito amarrado. Mesmo o Código de Defesa do Consumidor dizendo que todos que estão na cadeia são responsáveis, normalmente acaba sendo a própria marca final que vai responder por aquele produto.

ConJur — Eu posso falar de Lei Rouanet em Fashion Law?

André Mendes —
A lei permite incentivos fiscais para projetos de cunho cultural, desde que preenchido os requisitos. O que aconteceu com a moda foi que uma pessoa que trabalhou no Ministério da Justiça durante anos conseguiu aprovar, no Ministério da Cultura, incentivos para, em uma primeira leva, três grandes estilistas: Pedro Lourenço, Alexandre Herchcovitch e Ronaldo Fraga, para que eles pudessem fazer desfiles. Eles conseguiram esse incentivo porque se encaixavam nos requisitos: são estilistas que fazem moda autoral, ou seja, uma moda genuína brasileira, que a Marta Suplicy chama de soft power. E pelo desfile ter um tom cultural. Por exemplo, o desfile do Pedro Lourenço era inspirado em Carmem Miranda. Porém, os outros setores criticam esse incentivo questionando porque dar dinheiro para uma indústria que é considerada milionária e não dar mais para teatro, ou não dar mais para música. Além disso, tem o questionamento se moda é arte.

ConJur — Outro caso que gerou críticas à lei foi quando o estilista Pedro Lourenço obteve autorização para a captação de milhões via Lei Rouanet e ia fazer o desfile em Paris..

André Mendes —
Esse foi outro questionamento. Ele acabou apresentando um desfile na Web e depois fez o desfile na São Paulo Fashion Week. A questão era: A lei dá milhões para o estilista captar e fazer um desfile em Paris? Será que esse é um dinheiro bem aplicado?

ConJur — Receber o dinheiro e fazer um desfile fora do país é legal?

André Mendes —
A questão é controvertida. Juridicamente analisando, me parece que não está incorreto. Analisando tecnicamente é possível preencher os requisitos da lei para justificar o dinheiro, seja uma moda autoral, de um estilista que tem representatividade, de uma coleção que vai estar associada à um ícone cultural, como foi o caso da Carmem Miranda. E, no final das contas, não é dinheiro público, é dinheiro privado. Nesse caso, o estilista não teve tempo de captar nada.

ConJur — Como o estilista pode conseguir esse incentivo?

André Mendes —
Ele tem que fazer um projeto. Existe todo um tramite administrativo dentro do Ministério da Cultura, isso vai para um conselho para ser apreciado, tem um parecer técnico, o parecer técnico vai para reunião de conselho, na reunião de conselho aquilo é votado e, por fim, vai para palavra final da ministra Marta Suplicy. Então, até chegar lá, vários projetos morrem no meio do caminho. Óbvio que tem um cunho político em cima disso, a decisão da Marta foi bem mais política do que técnica. Daí você dizer que está correto ou não, ela tem que a prerrogativa de dar a palavra final.

ConJur — Mas então a ministra foi arbitrária?

André Mendes —
Não. Ela entendeu que era desse jeito. Tiveram questionamentos no sentido de que a ministra não poderia ter passado por cima da decisão do Conselho, que por votação unanime, decidiu que não era para dar o incentivo. Esse é o panorama. O que eu posso te adiantar é que já tem uma fila de estilistas que estão com seus projetos tramitando e que vão ter esses incentivos concedidos pelo ministério.

ConJur — O senhor é a favor do subsídio público no mercado de moda?

André Mendes —
Eu acho que alguns produtores de moda e alguns segmentos deveriam ser incentivados. Acho que alguns incentivos seriam interessantes para criar produtos genuínos brasileiros que possam ser modelo de exportação, por exemplo, para as rendeiras do Nordeste. Até então o Brasil só consegue exportar basicamente Havaianas e algumas empresas que por sua conta e risco tiveram sucesso. Mas eu não encho uma mão com produtos fashion de sucesso no exterior.

ConJur — O senhor é a favor da isenção fiscal?

André Mendes —
Isenção não. Sou a favor de benefícios. Depois da polêmica da Lei Rouanet, alguns grupos econômicos estão discutindo um chamado plano setorial da moda. Esse plano seria um estudo amplo para saber onde estão os gargalos econômicos, onde o governo poderia ajudar, em que medida se pode fazer para tentar melhorar a moda brasileira. Isso está em análise.

ConJur — Já existe algum material que possa ajudar os advogados e donos de marcas a lidar com esses problemas?

André Mendes —
O Instituto Brasileiro de Negócios e Direito da Moda está criando uma revista sobre Fashion Law. A revista seria uma das formas de disseminar conhecimento e contribuir para o debate dos gargalos jurídicos da indústria da moda. Será produzida pelo instituto, mas com produção conjunta e participação de marcas de moda nacionais, estilistas e empresas da área fashion e deverá ter participação não só de advogados, mas também de estilistas e diversas marcas, com análises e perspectivas do mercado. O lançamento oficial deverá ocorrer ainda este ano.

“Autossuficiência: a confissão de uma mentira”, análise do ITV


10 de março de 2014

Petrobras Sede1 Foto Divulgacao
Nas últimas semanas, a Petrobras tem divulgado informes publicitários de página inteira em alguns dos principais jornais do país. Aquela que já foi nossa maior empresa pretende convencer o leitor das virtudes de sua política. Mas uma das peças acaba por trair-se e admitir uma das maiores mentiras já inventadas por um governo na história nacional: a propalada autossuficiência brasileira na produção de petróleo nunca existiu.

A constatação é possível a partir do informe publicado no último sábado, sob o título “Planejamento Estratégico Horizonte 2030: As grandes escolhas da Petrobras”, divulgado em jornais com O Globo e O Estado de S. Paulo. Nela, a companhia traça seus planos para os próximos 16 anos e informa quando, de fato, pretende atingir a autossuficiência.

Segundo o texto, apenas em 2015 a produção interna de petróleo deve igualar-se ao consumo do país, algo em torno de 2,6 milhões de barris por dia. “A Petrobras estima que em 2015 o Brasil alcançará a autossuficiência volumétrica, quando a produção de petróleo no país (Petrobras + terceiros) ultrapassar o consumo doméstico de derivados”, diz a nota, ilustrada por um gráfico.

A autossuficiência em derivados só será alcançada ainda mais tarde, em 2020. No fim desta década, informa-nos agora a Petrobras, o processamento total nas refinarias instaladas no país será igual à demanda total, na casa de 3 milhões de barris diários. “Para 2020 projetamos a autossuficiência em derivados, momento em que o processamento total nas refinarias do país se iguala à demanda total de derivados de petróleo”, salienta a companhia, no texto.

Voltemos agora no tempo. Era março de 2006, véspera da campanha eleitoral que resultaria na reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, quando a Petrobras lançou campanha de R$ 37 milhões para divulgar a conquista da autossuficiência, a cargo das agências Duda Mendonça Propaganda, F/Nazca S&S e Quê Comunicação, conforme informou à época o M&M Online.

Todos se lembram do alarde feito então pelo governo petista, ressuscitando imagens de inspiração varguista, com praticamente todo o governo vestindo os macacões alaranjados que caracterizam o dia a dia dos trabalhadores da Petrobras. A própria empresa, em seu relatório anual relativo a 2006, também mencionou três vezes a “conquista da autossuficiência” naquele exercício.
Confirma-se, agora, que tudo não passou de farsa.

Já havia sido possível constatar nos últimos anos que a autossuficiência era balela, mas a empresa sempre se contorcia para inventar alguma explicação. De início, foi dito que o desequilíbrio entre produção e demanda ainda existente só se verificava nos derivados; depois o próprio aumento das importações de petróleo foi se encarregando de desmentir qualquer ilusão de autossuficiência.

A Petrobras chegou a estes fracassos em função da maneira temerária com que tem sido administrada nos últimos anos. A companhia notabilizou-se por jamais entregar o que promete: desde 2003, as metas de produção fixadas em seus planejamentos não são atingidas. Pior: em 2012 e 2013, a empresa teve, por dois anos seguidos, queda no volume produzido, algo inédito em sua história.

O mergulho vem desde o anúncio das mudanças do marco regulatório de exploração de petróleo no Brasil, por volta de 2008. A Petrobras ainda respirou com a operação de capitalização de 2010, quando milhares de brasileiros incautos acreditaram na pujança vendida nas peças de marketing do governo e investiram em suas ações. Se deram muito mal.

Desde então, a petrolífera brasileira perdeu nada menos que 60% de seu valor de mercado. “Em 2008, o valor de mercado da Petrobras era cinco vezes superior à da colombiana Ecopetrol. No ano passado, as duas empresas chegaram a valer o mesmo na bolsa”, mostra hoje O Globo em reportagem sobre a debacle de estatais, sufocadas pela política levada a cabo pelo governo Dilma Rousseff.

Com perda de 34% apenas nos últimos 12 meses, a Petrobras também é a segunda empresa que mais se desvalorizou em todo o mundo no período. A companhia brasileira só consegue sair-se melhor que um banco espanhol salvo da falência pelo governo local em 2012.

“A companhia brasileira, que cinco anos atrás figurava entre as dez maiores do mundo, hoje está na 121ª posição, avaliada em US$ 74 bilhões, um terço da rival PetroChina”, informa a Folha de S. Paulo. Também arrastadas no turbilhão do mau momento econômico brasileiro, Vale, Banco do Brasil e Bradesco figuram entre as dez companhias que mais perderam valor em um ano.

É lamentável ver empresas que poderiam estar gerando riqueza, criando oportunidades de trabalho e contribuindo para o bem-estar dos brasileiros e o progresso do país naufragando em razão da péssima condução da economia pelo atual governo petista. É mais deplorável ainda saber que boas intenções expressas nas peças oficiais não passam, como foi o caso da apregoada autossuficiência em petróleo, de mentira deslavada. E mentira tem sempre pernas curtas.

‘Dilma aprofunda desregulamentação, liberalização e desnacionalização’

Escrito por Valéria Nader, da Redação   



“Os traidores sempre acabam por pagar por sua traição, e chega o dia em que o traidor se torna odioso mesmo para aquele que se beneficia da traição”. É com esta frase, atribuída a Victor Hugo, que o economista e professor titular de Economia da UFRJ, Reinaldo Gonçalves, encerra entrevista que concedeu ao Correio da Cidadania, para avaliar a atual crise econômica que arrasta países emergentes e as orientações econômicas e políticas em vigor nos anos petistas, em geral, e no governo Dilma, em particular.

Em busca de situar o Brasil em meio à grave crise econômica que as nações em desenvolvimento enfrentam em 2014, Gonçalves destaca que, há mais de dois anos, já havia previsto que o número de países atingidos pela crise econômica de 2008 aumentaria no mundo subdesenvolvido. “As locomotivas voltam para os trilhos e o vagão de 3ª classe chamado Brasil descarrila mais uma vez”.

Quanto às causas da tormenta, estas se situam muito além dos equívocos de política econômica tão ao gosto das citações da mídia corporativa e neoliberal, em coro com os ditames do FMI e Banco Mundial. “No Brasil, há o problema estrutural que se chama Modelo Liberal Periférico (MLP). Esse modelo híbrido combina o que tem de pior do liberalismo e da periferia e tem três conjuntos de características marcantes: liberalização, privatização e desregulação; subordinação e vulnerabilidade externa estrutural; e dominância do capital financeiro”, ressalta Gonçalves.

A atuação do governo dos trabalhadores para aquela que deveria ser um de seus alvos primordiais, a distribuição de renda, não passa, ademais, de algo “raso, superficial e circunstancial”, visto não incidir na distribuição da renda funcional (salários versus renda do capital) e da riqueza. “Depois de 11 anos de governo, há a falência do PT, que tem sido absolutamente incapaz de realizar mudanças estruturais no país. Só houve a consolidação do Modelo Liberal Periférico”.

Finalmente, em face do atual arranjo político e eleitoral, considerados governo e oposição, não são alvissareiras as expectativas de Gonçalves – o governo, enfraquecido, deverá no máximo proclamar um discurso eleitoral mais à esquerda, para, após eventual vitória, fazer ainda mais ajustes sociais regressivos e concessões aos setores dominantes.

A seguir, a entrevista completa.

Correio da Cidadania: O ano de 2014 começa, ao que parece, selando o fim da bonança para os emergentes. Trata-se de uma crise anunciada?

Reinaldo Gonçalves: É a queda do mito de que vagões podem puxar locomotivas. Esse mito deveu-se, principalmente, a uma visão otimista a respeito do crescimento da China. E a maior divulgação do mito deveu-se a visão equivocada em relação a outros grandes países em desenvolvimento (Índia, Rússia, Brasil, África do Sul etc.), que têm economias estruturalmente frágeis.

Em dezembro de 2011, escrevi um artigo com o título “Crise econômica: eles hoje, nós amanhã” (revista CIÊNCIA HOJE, nº.: 289, janeiro/fevereiro de 2012). Há mais de dois anos a conclusão era que havia risco crescente de que o número de países atingidos pela crise econômica de 2008 aumentasse no mundo subdesenvolvido. O cenário mais provável era que os Estados Unidos e os principais países desenvolvidos da Europa sairiam da crise no médio prazo. Por outro lado, o argumento era que o Brasil seria atingido pela crise caso não ocorressem mudanças significativas nas estratégias e nas políticas. O cenário mais provável no médio prazo era, por um lado, os Estados Unidos e países europeus importantes saírem da crise. E, por outro, o Brasil, país marcado por enormes fragilidades e vulnerabilidades estruturais, afundaria em crises de todos os tipos.

As locomotivas voltam para os trilhos e o vagão de 3ª classe chamado Brasil descarrila mais uma vez. Atualmente, o que temos é exatamente essa situação.

Correio da Cidadania: A mídia corporativa e neoliberal, em coro com os ditames do FMI e Banco Mundial, está sempre a salientar para o público leigo a inépcia fiscal, monetária e cambial dos governos, que seriam grandes motivadores dessa crise que agora assola os emergentes. Você poderia avaliar, neste sentido, as causas estruturais dessa crise?

Reinaldo Gonçalves: Não há como negar que políticas econômicas equivocadas também são causas de crises. Governos erram quando estimulam a expansão extraordinária do crédito e, portanto, o alto endividamento de indivíduos e empresas. Há outros erros: elevar a dívida pública para níveis insustentáveis e deixar as variáveis macroeconômicas fundamentais em níveis inadequados, como taxa de juro e taxa de câmbio. Os governos erram quando definem graus de liberalização e desregulamentação que são incompatíveis com a estrutura econômica do país. Os governos dos Estados Unidos e de países da Europa cometeram graves erros nos últimos anos e estão pagando por isso. No caso do Brasil, não há como negligenciar o déficit de governança e os erros cometidos nos governos FHC, Lula e Dilma. O Governo Dilma é a própria apoteose da mediocridade em termos de estratégias, condutas e resultados. Esse governo comete muitos erros.

Ademais, a crise no Brasil tem profundas causas estruturais. Por exemplo, a vulnerabilidade externa estrutural do Brasil é muito elevada e, portanto, o país é muito afetado pela desaceleração do comércio internacional e a volatilidade dos fluxos financeiros internacionais. Países como a China se protegem com elevados níveis de competitividade internacional e baixa dependência em relação a recursos financeiros externos. No Brasil, por outro lado, esses riscos são particularmente elevados porque o país depende significativamente da exportação de produtos básicos (minério de ferro, carne, soja e outros) e da captação de recursos externos para sustentar seu crescente e elevado déficit nas contas externas (as transações comerciais, de serviços e financeiras com os outros países).

Ou seja, a despesa do Brasil em moedas estrangeiras é maior do que a receita. Em 2013, o país precisou captar US$ 81 bilhões para fechar suas contas externas. Portanto, há crescente risco de crise cambial, que tende a causar crises financeira, real e fiscal, bem como maior inflação. Não podemos esquecer que o passivo externo brasileiro supera US$ 1,5 trilhão. Ou seja, nas contas externas há extraordinários desequilíbrios de fluxos e estoques. Além de haver evidente deficiência de gestão, no Brasil há o problema estrutural que se chama Modelo Liberal Periférico (MLP). Esse modelo híbrido combina o que tem de pior do liberalismo e da periferia. O MLP tem três conjuntos de características marcantes: liberalização, privatização e desregulação; subordinação e vulnerabilidade externa estrutural; e dominância do capital financeiro.

Correio da Cidadania: A Argentina esteve nestas últimas semanas no olho do furacão. Como vê o país e que correlação se pode fazer entre as conjunturas argentina e brasileira nesse momento?

Reinaldo Gonçalves: Há semelhanças importantes que derivam da vulnerabilidade externa estrutural e do déficit de governança em ambos os países. Entretanto, penso que, em uma perspectiva de longo prazo e estrutural, a situação argentina é melhor que a brasileira. Enquanto os argentinos procuram adotar um modelo de desenvolvimento com foco no crescimento e na redução da vulnerabilidade externa estrutural, o Brasil aprofunda cada vez mais o Modelo Liberal Periférico, marcado por crescente vulnerabilidade externa estrutural. A liberalização na área de serviços, as privatizações, a desnacionalização e a desindustrialização, que avançaram no Governo Dilma, ampliam e aprofundam este modelo. No que se refere às contas externas, tanto Brasil como Argentina têm elevados desequilíbrios de fluxos; no entanto, o desequilíbrio de estoque na Argentina (passivo externo financeiro líquido) é pequeno, enquanto no Brasil é muito elevado.

Correio da Cidadania: E as economias centrais, EUA e Europa por exemplo, como as situa neste contexto? Estão de fato em um processo de retomada de suas economias e sociedades, como se quer fazer crer a partir da algumas análises?

Reinaldo Gonçalves: Se, por um lado, é certo que instabilidade e crise são próprias ao capitalismo, também é verdadeiro que esse sistema econômico desenvolveu mecanismos para superar crises. Por esta e outras razões, o capitalismo, que é marcado por desperdício, injustiça e instabilidade, sobrevive e avança há séculos e, inclusive, atualmente, é o substrato da economia mais dinâmica do mundo (a chinesa).

Nos últimos anos, os principais países desenvolvidos perderam graus de liberdade na aplicação de políticas macroeconômicas convencionais (redução de juros e aumento de gastos públicos). Entretanto, esses países dispõem de pelo menos quatro instrumentos para a estabilização econômica: distribuição de riqueza e renda, progresso técnico, competitividade internacional e guerra. O processo de distribuição de riqueza e renda gera ampliação do consumo dos trabalhadores. Entretanto, é pouco provável que ocorra este processo no horizonte previsível. Muito pelo contrário, parte expressiva do ajuste frente às crises está recaindo sobre os trabalhadores e os grupos de menor renda. A política de distribuição de renda está sendo impedida pelo capital e pelas forças conservadoras e, de fato, a concentração de renda tem aumentado na maior parte dos países desenvolvidos.

A lógica da globalização (rivalidade internacional, foco na maior competitividade e efeito China) também tem dificultado a adoção de políticas distributivas. Boa parte da decepção com os governos Hollande e Obama advém dos fracassos das suas políticas de ajuste via mecanismos redistributivos. Entretanto, pode-se prever que os principais países capitalistas retomarão a fase ascendente no médio prazo tendo em vista o uso dos outros mecanismos estruturais. Este argumento aplica-se às principais economias capitalistas do mundo (EUA, Alemanha, França e Japão). É bem verdade que economias pouco importantes (Grécia, Portugal etc.) continuarão em crise.

O progresso técnico implica aumento de produtividade e lançamento de novos produtos, que elevam a massa de lucros. Há, então, estímulo para os investimentos. A maior competitividade internacional permite vender mais produtos no mercado internacional. A guerra impulsiona os gastos bélicos e, portanto, a geração de renda e emprego, além de estimular o progresso tecnológico e a competitividade internacional. Nesse sentido, há oportunidades extraordinárias (Líbia, Síria etc.), além de outras que podem ser criadas. Ou seja, além de desperdício, injustiça e instabilidade, o capitalismo é marcado por dinamismo e barbárie. O capitalismo é sustentado pelo dinamismo e pela barbárie!

Correio da Cidadania: Quais serão as consequências dessa crise para as economias emergentes, em especial para o Brasil?

Reinaldo Gonçalves: É a trajetória de instabilidade e crise. No caso do Brasil, o Modelo Liberal Periférico causa o processo de desenvolvimento às avessas. É a trajetória do Brasil no início do século XXI, que se caracteriza, na dimensão econômica, por: fraco desempenho; crescente vulnerabilidade externa estrutural; transformações estruturais que fragilizam e implicam volta ao passado; e ausência de mudanças ou de reformas que sejam eixos estruturantes do desenvolvimento de longo prazo. Nas dimensões social, ética, institucional e política desta trajetória, observam-se: invertebramento da sociedade; deterioração do ethos; degradação das instituições; e um sistema político corrupto e clientelista. Essas questões são analisadas no meu livro Desenvolvimento às Avessas (Rio de Janeiro: LTC, 2013; Prêmio Brasil de Economia, categoria livro, 1º lugar).

Correio da Cidadania: O que vê como alternativas para esta situação, a curto e médio prazos? O controle de câmbio poderia ser uma medida adotada frente a uma fuga de capitais do país?

Reinaldo Gonçalves: No atual quadro político e eleitoral não vejo saídas, nem mesmo no longo prazo. As candidaturas e os arranjos políticos este ano envolvem continuísmo, seja com a situação, seja com a oposição, ambos igualmente conservadores, medíocres e comprometidos com o Modelo Liberal Periférico. Neste quadro, é improvável qualquer controle de capitais. O governo Dilma continua ampliando e aprofundando a liberalização e desregulamentação dos fluxos financeiros internacionais. Este governo também tem estimulado o investimento externo direto, ou seja, a desnacionalização via privatizações (aeroportos, energia etc.). Qualquer mudança na direção de controles de capitais só ocorrerá em resposta a uma gravíssima crise cambial e risco de grave crise política e institucional.

Correio da Cidadania: Quanto a esta condução da política econômica pelo governo Dilma, analistas de mercado, paradoxalmente, criticam o que seria um intervencionismo estatal exacerbado na economia? O que diria nesse sentido?

Reinaldo Gonçalves: Intervenção do governo na economia é fundamental em qualquer país. Isso ocorre nas funções alocação, distribuição, regulação e estabilização. Mesmo em países que adotam modelos mais liberais (por exemplo, os Estados Unidos), o governo realiza essas funções. Quanto mais desenvolvido for o país, maior é o foco nas políticas de regulação e estabilização.
O desafio dos países em desenvolvimento é definir estratégias de desenvolvimento e, portanto, prioridades e hierarquia de funções e políticas de Estado. O problema brasileiro (evidente no caso do atual governo) é que a estratégia implícita (Modelo Liberal Periférico) está condenada ao fracasso, o sistema político é patrimonialista, clientelista e corrupto, e há déficit estrutural de governança. Mesmo a função distributiva do Estado é rasa, superficial e circunstancial, visto que não ataca o problema da distribuição funcional da renda (salários versus rendas do capital) e da distribuição da riqueza.

O problema do governo Dilma não é, naturalmente, o grau de intervenção, mas a qualidade da intervenção (gestão incompetente e inconsistência de políticas) e o enquadramento estrutural (dado pelo Modelo Liberal Periférico). Assim, quando há a adoção de políticas adequadas, esta é comprometida pela incapacidade de gestão, enquanto políticas equivocadas são adotadas para atender os setores dominantes (bancos, agronegócio, mineração, empreiteiras) e promover o MLP. Em artigo recente faço um balanço da economia brasileira durante os governos petistas e mostro os fracos resultados do governo Lula e os resultados medíocres do governo Dilma (comparáveis aos resultados igualmente medíocres do governo FHC). (“Balanço crítico da economia brasileira nos governos do Partido dos Trabalhadores”, Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política, No. 37, janeiro de 2014).

Correio da Cidadania: Como, finalmente, enxerga as reações recentes do governo diante dessa crise e, em especial, como acredita que ele vá chegar às eleições?

Reinaldo Gonçalves: A direita não consegue fazer uma crítica consistente e realista ao atual governo. E é cada vez mais raro encontrar uma crítica rigorosa e contundente pela esquerda. Vejamos. O governo Dilma está tentando empurrar com a barriga o impacto dos problemas causados pelas nossas fragilidades e vulnerabilidades estruturais, bem como pelos erros de estratégias e políticas do próprio governo. Muito provavelmente o governo chegará ainda mais enfraquecido às eleições. Mas tenta ganhar tempo, fará um falso discurso eleitoral à esquerda e, após as eleições, fará ajustes de alto custo social e maiores concessões aos setores dominantes. Os protestos populares refletem este enfraquecimento. De fato, os protestos populares têm como principais causas os problemas estruturais e os erros cometidos no passado recente.

A crise atual também é conseqüência do surgimento de três fenômenos nos dois governos petistas: o Brasil Invertebrado, o Brasil Negativado e o Lulismo (transformismo do PT). O Brasil Invertebrado caracteriza-se pelo fato de que os grupos dirigentes têm cooptado a grande maioria das organizações sociais, sindicais, estudantis e patronais. Exemplos: MST, CUT e UNE. Grupos sociais não-organizados, assim como movimentos sociais de maior envergadura, também são neutralizados por meio de políticas clientelistas — o bolsa-família, os benefícios da previdência e o salário mínimo são instrumentos poderosos tanto no plano da redistribuição da renda dentro da classe trabalhadora, como no plano político e eleitoral. Ademais, a impunidade de corruptos e corruptores continua como a regra geral, que tem poucas e surpreendentes exceções (as condenações do mensalão). Grandes grupos econômicos desempenham papel de atores protagônicos via abuso do poder econômico, corrupção e financiamento de campanhas eleitorais. Neste sentido, a ausência de organizações efetivamente representativas provoca revolta no povo.

O Brasil Negativado, por seu turno, expressa a deterioração das condições econômicas e abarca o país, o governo, as empresas e as famílias. As finanças públicas se caracterizam por significativos desequilíbrios de fluxos e estoques, além, naturalmente, dos problemas epidêmicos de déficit de governança e superávit de corrupção. O aumento da dívida das empresas e famílias tem causado crescimento significativo da inadimplência. O aumento da negatividade é resultado da política de crédito fortemente expansionista no contexto de taxas de juros absurdas, fraco crescimento da renda, inoperância da atividade fiscalizadora e abuso de poder econômico por parte dos sistemas bancário e financeiro. Milhões de pessoas (pobres e classe média) estão desesperadas e perdem o sono diariamente porque estão negativadas, não conseguem pagar suas dívidas. E isto causa sofrimento e revolta.

Por fim, vale destacar que a eleição de Lula expressou a vontade popular de transformações estruturais e de ruptura com a herança do governo FHC. Entretanto, o transformismo dos grupos dirigentes do PT gerou grande frustração. O social-liberalismo corrompido do PT se consolidou com as transferências e políticas clientelistas e assistencialistas. Depois de 11 anos de governo, há a falência do PT, que tem sido absolutamente incapaz de realizar mudanças estruturais no país. Só houve a consolidação do Modelo Liberal Periférico (que reúne o que há de pior no liberalismo e na periferia) e a manutenção da trajetória de Desenvolvimento às Avessas. O transformismo petista gera frustração e revolta.

O Brasil Invertebrado, O Brasil Negativado e o Lulismo (transformismo do PT) agravam os problemas econômicos, sociais, éticos, políticos e institucionais, comprometem a capacidade de desenvolvimento do país e geram frustração, sofrimento, revolta e ódio. Portanto, os governos petistas e seus aliados são os principais responsáveis pela crise atual e pelos protestos populares. (Ver meu artigo disponível na internet: “Déficit de governança e crise de legitimidade do Estado no Brasil”, 2013). Por essas e outras razões, o povo e a esquerda não podem ser complacentes com o PT, seus dirigentes e suas candidaturas!

Capital estrangeiro, empreiteiros, mineradores, banqueiros e os figurantes do sistema político clientelista, patrimonialista e corrupto aplaudem de pé o atual governo e o MLP, e se protegem do risco-Brasil enviando cada vez mais capital para o exterior. Nunca antes na história desse país, os ricos mandaram tanto capital para o exterior — algumas dezenas de milhares de brasileiros, de gente rica e muito rica. Por outro lado, no que se refere ao povo, às massas, não há as alternativas de sonegação, corrupção, enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, fuga de capitais e proteção frente ao risco-Brasil e ao Desenvolvimento às Avessas.

Restam os protestos populares, que são reações concretas à crescente percepção do que se tornou odioso no Brasil. Essa percepção não é mitigada por elevação do salário mínimo, bolsa família e benefício da previdência. Aqui, cabe citar a frase atribuída a Victor Hugo: “Os traidores sempre acabam por pagar por sua traição, e chega o dia em que o traidor se torna odioso mesmo para aquele que se beneficia da traição”.

Valéria Nader, jornalista e economista, é editora do Correio da Cidadania.

Selecionamos para os empreendedores 30 dicas para ler, estudar e se organizar de graça na web

 

Lista tem de livro a cursos e aplicativos de gestão para pequenos empreendedores
Estadão PME


Felipe Rau/Estadão
Felipe Rau/Estadão
Confira lista com opções para ler, estudar e se organizar

O fim de ano é um período em que as atribulações profissionais reduzem o seu ritmo. E, não raro, o empreendedor vê-se com um pouco mais de tempo para cuidar de um aspecto importante de sua atividade: a preparação profissional. Pensando nisso, o Estadão PME organizou um compilado de dicas de cursos, livros e aplicativos gratuitos para auxiliar o empresário na tarefa de administrar um negócio de pequeno e médio porte.

A lista conta com dicas consagradas e alguns achados na internet. Boa parte do material está em português, mas há também algumas opções de muita qualidade para leitores bilíngues. Acompanhe o material abaixo a bom proveito!
:::CURSOS:::
Sebrae
O Sebrae separa seus cursos de acordo com o perfil do aluno: Quero Empreender, Sou Um Microempreendedor Individual, Tenho Uma Microempresa ou Tenho Uma Empresa de Pequeno Porte. São mais de 30 cursos, desde os que ensinam sobre compras governamentais, gestão de visual da loja e até os que mostram como planejar as exportações.
Sebrae-SP
O Sebrae-SP também tem seu site de cursos com aulas de gestão, preço e fluxo de caixa, por exemplo. A entidade também tem módulos para celular ou tablet e que tratam sobre inovação, criatividade, design na empresa e empreendedorismo de maneira geral.

Senai
O Senai tem um curso gratuito sobre empreendedorismo e o conteúdo programático inclui conceito, características, tipos e ações empreendedoras na busca de informação e raciocínio lógico.

FGV
A Fundação Getúlio Vargas faz parte do OpenCourseWare Consortium - OCWC. Trata-se de um consórcio de instituições de ensino de diversos países que oferecem conteúdos e materiais didáticos sem custo. Tudo pela internet. A instituição oferece, por exemplo, o curso de introdução ao private equity e venture capital para empreendedores - a duração é de 40 horas.

Veduca
No Veduca, o empresário pode assistir aulas sobre administração e negócios. Há cursos de liderança ou probabilidade e estatística para negócios.

Coursera
No site do Coursera é possível encontrar vídeos legendados em português. É o caso do curso sobre Fundamentos de Estratégia para Negócios, da Universidade da Virginia.

UniMooc
No UniMooc, o curso, em espanhol, é dedicado ao empreendimento em economia digital. O aluno aprende como montar startups.

Escola de Marketing Digital
A Escola do Marketing Digital oferece mini cursos gratuitos. É possível, por exemplo, ver um aula de 30 minutos sobre como apresentar ideias para investidores.

IPED
O iPED, Instituto Politécnico de Ensino a Distância, tem uma série de cursos nas áreas de gestão e liderança. No caso do conteúdo sobre empreendedorismo, a carga horária é de 20 horas no plano gratuito, que inclui material interativo e certificado digital. Caso o aluno opte por uma carga horária maior e outras vantagens, precisará pagar.

:::APLICATIVOS:::
Sendgine
Mais que um organizador, o Sendgine dá um novo sentido para sua caixa de emails. Eles organiza a longa lista de correspondência indesejada entre contatos, cria uma página para cada novo projeto da empresa, apontando prazos de finalização anteriormente definidos.

Pai
Criado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), o Pai tem como objetivo oferecer uma base de sustentação para negócios em fase inicial ou para empresa que, já experimentadas, precisam de suporte para amadurecimento de gestão. O programa oferece assessoria sobre assuntos como preço médio de mercadorias e serviços, custo tributário por nota emitida, fluxo de caixa, controle de estoque e projeção de custos. É gratuito e acessado por diversos sistemas operacionais.

Dropbox   
Já consolidado no universo corporativo, o programa armazena arquivos em nuvem e permite seu compartilhamento com outras pessoas. Também é possível sincronizá-lo com outros equipamentos. Existe uma versão gratuita e outra paga, com um número maior de funcionalidades.

Simulador de Importação 
O simulador é um aplicativo de comércio exterior para as plataformas IOS e Android que auxilia os empreendedores a calcularem o custo estimado da compra de mercadorias importadas, bem como a possível lucratividade desta operação comercial. O aplicativo é gratuito.

SamCard 
O aplicativo Samcard é usado para fotografar o cartão de visita de uma pessoa ou empresa. Em seguida, o programa passa automaticamente as informações lidas para a lista de contatos do iPhone. Tem uma versão gratuita e outra, mais completa, paga.

Intercom
   
O Intercom permite filtrar informações, autorizar negócios e ter acesso fácil aos dados de seus contatos profissionais, como nome, idade, empresa e cidade de origem. O aplicativo é recomendável para o contato entre empresas e clientes, priorizando ofertas sob medida.

Evernote     
O aplicativo ajuda a armazenar arquivos de texto, áudio e imagens e permite ainda o compartilhamento com outras pessoas. É possível sincronizá-lo com smartphones, tablets e desktops. Tem versões para diversos sistemas operacionais. O aplicativo tem uma versão gratuita e outra paga, com mais funcionalidades.

AppMesh
Este é um aplicativo de venda. O ponto alto, no entanto, fica para a sua interface simplificada. É feito para vendas a pronta entrega e funciona em dispositivos móveis, como tablets e smartphones.

Validation Board    
Altamente recomendável para donos de startups que precisam testar suas novas ideias de negócios, criando para tanto um display virtual. O aplicativo tem uma versão grátis e pode ser acessado por dispositivos móveis como smartphones e tablets.

:::LIVROS:::
Manual para jovens sonhadores
Autora: Nathalie Trutmann
Nascida na Guatemala, Nathalie Trutman hoje trabalha como diretora na faculdade Fiap e na Zyngamedia. Na obra, a autora busca incentivar novos empreendedores.

O Gerente de Projeto Preguiçoso
Autor: Peter Taylor
O ócio criativo é explorado como a chave para evoluir no mercado, sem gastar muito tempo e energia. 

How to Work for Yourself: 100 Ways to Make the Time, Energy and Priorities to Start a Business, Book or Blog 
Autor: Bryan Cohen
Para quem lê em inglês, confira este livro que lista, em 100 lições, maneiras para concentrar foco e energia em suas prioridades de carreira.

Viagem ao Mundo do Empreendedorismo    
Autores: Instituto de Estudos Avançados (IEA) e Instituto Friedrich Naumann
O livro mostra como  iniciar e, mais importante ainda, manter o negócio ao longo dos anos.

Ferramentas Visuais para Estrategistas
Autor: ESPM
O livro mostra o poder dos recursos visuais para planejar, decidir e criar.

The Crowdfunding Bible
Autores: Scott Steinberg e Rusel DeMaria
O livro reúne dicas para o empreendedor que está atrás de financiamentos para bancar projetos.

The Myth Of The Garage
Autores: Chip e Dan Heath
Os irmãos Chip e Dan Heath procuram, neste livro, desmitificar a tese da empresa de garagem. Para eles, o mercado não tem muito mais espaço para histórias como a da Microsoft, por exemplo.

From Dust to Diamonds
Autor: David Oreck
O autor, um empresário dono de uma fábrica de aspirador de pó, revela como é possível obter sucesso em qualquer  lugar do mundo.

Como Criar e Modificar Hábitos 
Autor: Produtividade Ninja
O site Produtividade Ninja compila um resumo prático do livro “O Poder do Hábito”, de Charles Duhigg.

A Fábrica dos Sonhos        
Autor: Carlos Cauduro
Procura explorar o potencial do leitor para introduz uma nova abordagem administrativa para as empresas.

Economia Empresarial     
Autor: Vários
Com participação do professor Igor Zanoni Constant Carneiro Leão, mostra o quanto o conhecimento econômico do ambiente dos negócios é essencial para o sucesso da empresa.

Marketing Digital para Empreendedores 
Autor: Endeavor Brasil e Resultados Digitais
Material produzido em parceria entre a Endeavor Brasil e Resultados Digitais está disponível para download. É indicado para aqueles que querem aprender técnicas de marketing online.

Empresas lutam contra ‘brechas’ na ineficiência

Ford, Natura e Usiminas encontraram formas de produzir mais com economia de recursos


Fernando Scheller - O Estado de S.Paulo
 
 
O mecânico Everton Ferreira da Silva e o ajudante Jackson Silva Santos, que trabalham em uma concessionária Ford em São Paulo, podem até não saber, mas fazem parte do movimento capitaneado pelas empresas em busca de produtividade. Ao dividirem tarefas e usarem um carrinho que contém as peças mais usadas em seu dia a dia - evitando deslocamentos desnecessários ao estoque -, Everton e Jackson ajudaram a elevar o número médio de veículos reparados no box de atendimento da oficina onde trabalham de 6 para 15 por dia.

A iniciativa da montadora faz parte de um movimento de empresas brasileiras em busca de mais produtividade. Para Henrique Teixeira, sócio da McKinsey & Company, os melhores exemplos de ganhos de escala e aperfeiçoamento produtivo no País estão no mundo corporativo. A referência ainda é a gigante das bebidas Ambev, conhecida por sua cultura de resultados, mas ele vê essa preocupação se espalhando por todos os setores. "Definitivamente, a regra para o momento é a redução de custos."

Os ganhos de produtividade começam, normalmente, com um problema. No caso da Ford, a restrição ao crescimento vinha da dificuldade de concessionárias localizadas em grandes metrópoles de aumentar o espaço físico das oficinas em um momento de forte valorização do preço do metro quadrado dos imóveis. Segundo Joaquim Arruda Pereira, diretor de vendas e marketing da área de pós-venda da Ford, era preciso achar uma alternativa.

A questão afetava a concessionária onde Everton e Joaquim trabalham, a Caoa da Avenida Ibirapuera, zona sul de São Paulo. A revenda foi escolhida para um projeto-piloto de trabalho com dois mecânicos em cada box de atendimento, no ano passado. A montadora já estendeu a iniciativa para 15 concessionárias no País. "Estamos identificando os pontos já saturados ou perto de seu limite. É uma boa solução para as grandes cidades", diz o executivo da Ford.


Sobrevivência.


 Falhas de processos ficam mais evidentes em momentos de crise. A Usiminas viveu isso na pele ao longo dos últimos dois anos. "A gente percebeu, em 2012, que a empresa precisava mudar. Era uma questão de sobrevivência", diz Gileno de Oliveira, gerente-geral de engenharia de processos industriais. Em um momento de demanda mais baixa, a empresa trabalhou para reduzir seus gastos com equipamentos.

Em uma linha que produz placas de aço para a produção de bobinas laminadas, havia oito unidades em operação em Ipatinga (MG) e Cubatão (SP). A saída, conta Oliveira, foi aumentar a produtividade das máquinas mais potentes para produzir a mesma quantidade do produto com seis máquinas. Em outro processo, o de laminação a frio, uma linha mais moderna substituiu duas antigas. Esse processo reduziu a necessidade de operadores e, por consequência, gastos com mão de obra.

O resultado já começou a aparecer no balanço da Usiminas. Segundo o gerente da área de processos industriais, as mudanças causaram uma queda de 7% no custo dos produtos vendidos em 2013, na comparação com o ano anterior. Depois de amargar um prejuízo de R$ 598 milhões em 2012, a companhia fechou o ano passado com um lucro de R$ 17 milhões. Ainda assim, prevê a continuidade do programa de redução de custos.


Moda.


A InBrands cresceu fazendo uma série de aquisições de marcas de moda. Há dois anos, teve de fazer uma "parada técnica" para reorganizar a casa e tirar proveito das vantagens de ser uma holding. O presidente da InBrands, Michel Sarkis, diz que a administração e distribuição das diferentes marcas - como Ellus, Richards e VR - foi unificada. Com isso, as despesas gerais e administrativas da InBrands, que representavam 25% da receita em 2011, caíram para 11% no ano passado.

A Natura também está investindo em produtividade, com a meta de fazer os produtos chegarem mais rapidamente aos consumidores. Segundo Ricardo Faucon, diretor de serviços ao cliente da Natura, o investimento em tecnologia tem papel fundamental nesse processo. O novo centro de distribuição da empresa, em São Paulo, poderá processar 2 mil caixas de pedidos por hora. Trata-se de um aumento de 66% na capacidade ao centro de Cajamar, que organiza 1,2 mil pedidos por hora.

À medida que a concorrência aumenta no mercado de beleza, a marca de vendas diretas busca manter sua atratividade em relação ao varejo, que oferece os produtos em pronta entrega. Para aumentar a produtividade das revendedoras, liberando-as para fazer novas vendas, a companhia definiu uma meta ambiciosa: ter 60% de seus produtos entregues em até 48 horas aos clientes. A exemplo do que ocorre com a produtividade como um todo no Brasil, ainda falta bastante para a Natura "chegar lá": em 2013, esse prazo foi cumprido em 34% das vendas.

Interferência do governo custou mais de R$ 180 bilhões a estatais brasileiras

  • Nos últimos três anos, Petrobras perdeu 60% de seu valor de mercado, enquanto Eletrobras encolheu 63%
Danilo Fariello


BRASÍLIA — Em 2008, o valor de mercado da Petrobras era cinco vezes superior à da colombiana Ecopetrol. No ano passado, as duas empresas chegaram a valer o mesmo na bolsa. Enquanto a petrolífera vizinha praticamente manteve o seu valor de mercado nos últimos três anos, a estatal brasileira encolheu US$ 137 bilhões, ou 60% desde o fim de 2010. Em reais a Petrobras valia R$ 380,24 bilhões e passou a valer R$ 214, 68 bilhões, um tombo de 43%. Ainda mais acelerada foi a desvalorização da segunda maior empresa controlada pelo governo, excluídos os bancos. Do quarto trimestre de 2010 até o último balanço publicado, no terceiro trimestre de 2013, a Eletrobras viu seu valor de mercado em reais cair 63%: de R$ 26,2 bilhões para R$ 9,6 bilhões, segundo cálculos da consultoria Economatica. Juntas as duas perderam R$ 182,16 bilhões.

A perda de valor das estatais federais ao longo dos últimos anos, segundo especialistas, resulta principalmente da interferência política na gestão das companhias, o que contribui para o enfraquecimento do mercado de ações brasileiro, onde as duas sempre tiveram boa parte dos negócios. O governo tem exigido das estatais elevados investimentos a curto prazo e, ao mesmo tempo, permite que as dívidas brutas dessas duas empresas disparem, avaliam especialistas. Mas o principal problema, segundo eles, é a limitação das receitas obtidas pelas companhias.

— A Petrobras é alvo de manipulações, tendo os reajustes (dos combustíveis) limitados para colaborar com a inflação, e, no caso da Eletrobras, só um louco compra ações da empresa hoje, com essa confusão sobre as dívidas da empresa após o subsídio ao uso das usinas térmicas e a redução das tarifas — diz Paulo Feldmann, pesquisador de Economia das Organizações da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP) e ex-presidente da Eletropaulo.

Analistas apontam a frequência cada vez maior do uso dessas empresas para fins fiscais e monetários pelo governo, o que enfraquece a gestão das companhias e sua sustentabilidade a longo prazo.

— O governo Dilma Rousseff adotou uma estratégia de uso mais intenso das estatais, forçando interesses do governo, mais ou menos como era feito no período militar e na década de 80, com o uso delas para controlar preços — diz Sérgio Lazzarini, professor do Insper e co-autor do livro “A reinvenção do capitalismo de Estado: a evolução do Leviatã”, a ser lançado.


‘Ninguém sabe a conta’


Lazzarini destaca que é compreensível que um governo use as estatais para imprimir determinados rumos à economia nacional. Ele diz, porém, que a falta de transparência quanto às recentes atitudes acaba por turvar a visão do mercado sobre as companhias. Representantes de acionistas minoritários nessas empresas frequentemente reclamam que, muitas vezes, a gestão da macroeconomia prevalece sobre o interesse próprio das estatais. Exemplos disso seriam o freio no aumento dos preços dos combustíveis, e a adesão da Eletrobras, no ano passado, à proposta de renovação de concessões mediante redução de receitas, rejeitada por outras estatais de gestão estadual.

— Houve enorme aparelhamento dessas máquinas e, nisso, você levou para dentro delas o que pensávamos que já tinha acabado, que é o modelo patrimonialista, no qual se confunde interesse do Estado com interesse das pessoas no poder — diz o economista José Matias-Pereira, professor da UnB e ex-conselheiro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Esses economistas lembram que, assim como o controle do preço dos combustíveis afeta negativamente os resultados da Petrobras, a redução de 20%, em média, das tarifas elétricas em 2013 enterrou os planos de expansão da Eletrobras para o exterior e qualquer alusão à meta de transformá-la na “Petrobras do setor elétrico”.

— A pergunta é: quanto custa essa maneira de se combater a inflação pelas estatais? Custa caro e ninguém sabe a conta. Na minha opinião, elas viraram autarquias, apêndices do Tesouro Nacional. O interesse do controlador soa tão mais alto, que a ação de produção fica no segundo plano — afirma o economista José Roberto Afonso, pesquisador do Ibre/FGV.

Matias-Pereira destaca que, mesmo com seus caixas combalidos, as estatais têm sido forçadas pela União a elevar o volume de investimentos federais, o que acaba resultando na disparada do endividamento dessas empresas. Nesse esforço, o volume de investimento das estatais em 2013 foi recorde, de R$ 113,5 bilhões, segundo o Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest), do Ministério do Planejamento. Mesmo assim, o setor de energia, onde Petrobras e Eletrobras lideram os recursos, deveria responder por quase a metade do PAC 2, o que não ocorre na prática.

— Em 12 meses, o endividamento da Petrobras cresceu R$ 68 bilhões. Isso é um sinal financeiro de como a empresa está agravando a sua situação — disse.

Segundo os cálculos de Roberto Afonso, a partir de dados do Dest, as duas estatais tiveram déficit primário de 0,71% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) no ano passado (0,09% para Eletrobras e 0,62% para Petrobras). Para efeito de comparação, ele lembra que o superávit primário do governo central foi de 1,57% do PIB em 2013:

— Se ainda estivessem computadas dentro do setor público (como ocorreu no passado), as duas empresas consumiriam quase a metade do superávit primário feito pela União — afirma Afonso.

Ele diz ainda que as duas empresas investiram 2,2% do PIB no ano passado, segundo o Dest, mas, para isso, tomaram 1,58% do PIB em operações de crédito. Como as estatais estão sendo chamadas a puxar os investimentos em infraestrutura, logo acabam se endividando e gerando déficits, avalia o pesquisador do Ibre/FGV.

— Para investir, elas estão precisando se endividar cada vez mais e isso acaba por deprimir a avaliação de mercado dessas empresas, que, aliás, já gastaram 0,28% do PIB com juros. A decisão de se endividar segue apenas o interesse do governo, por isso não faltam ações na Justiça e na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) questionando isso — afirmou Afonso.

Procurado, o Dest informou em nota que “não se manifesta sobre valores de mercado de empresas de capital aberto, cuja controladora é a União, por sua condição de coordenadoria e governança das estatais.” O Dest diz ainda que as empresas têm seus próprios canais de relação com investidores e prestam contas à CVM.

A Petrobras não comentou o teor da reportagem. A Eletrobras, em nota, informou que, quanto à desvalorização das ações, é preciso levar em conta que, em janeiro de 2010, foi aprovada a forma de pagamento dos dividendos relativos a exercícios sociais de 1979 a 1984, 1989, 1996 e 1998, no valor total de cerca de R$ 10 bilhões, dividendos estes que estavam embutidos no valor das ações daquele período. Segundo a Economatica, porém, seus cálculos já são ajustados conforme o pagamento de proventos, como dividendos.

A Eletrobras informa ainda que, em setembro de 2013, apresentava dívida líquida positiva, com saldo de cerca de R$ 1 bilhão a receber de financiamentos feitos pela companhia. O próximo balanço da empresa será publicado no dia 27. Este ano, a empresa ainda terá o impacto desfavorável da escassez de chuva que já se refletiu nas ações do setor elétrico na Bovespa pelo temor do racionamento.

Feldmann, da USP, defende que o governo tire as ações de Petrobras e Eletrobras do mercado, para preservar os investidores das possíveis manipulações.