quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Fusão sem banco vira tendência


Por Talita Moreira | De São Paulo
Regis Filho/ValorFrederico, da Tivit: companhia tem equipe interna de fusões e aquisições
 
Quando a empresa de serviços de tecnologia Tivit anunciou a compra da chilena Synapsis, em agosto deste ano, toda a operação havia sido planejada dentro de casa. O objetivo, o preço e a estrutura do negócio foram definidos por uma equipe da própria empresa, sem a assessoria de um banco de investimentos ou de uma butique financeira.

"A Tivit conhece bem o seu setor e faz muitas aquisições. Não havia necessidade", afirma o diretor de desenvolvimento corporativo da companhia, André Frederico. Por isso, nem mesmo o fato de a Synapsis ter sido o maior negócio de sua história - num valor de R$ 330 milhões - fez a empresa pensar em recorrer a um assessor financeiro externo.

Casos como esse estão em alta no Brasil. Levantamento feito pela britânica Dealogic a pedido do Valor mostra que nunca foi tão significativo o número de fusões e aquisições de médio e grande portes em que o comprador lançou a operação sem ajuda de um assessor financeiro. De acordo com o estudo, 64% das transações de mais de US$ 100 milhões anunciadas neste ano no país foram estruturadas sem auxílio externo. Juntas, essas operações somam US$ 18,8 bilhões. Esse percentual nunca foi tão alto, aponta a série histórica iniciada em 1995.

O número chama ainda mais a atenção num ano em que o mercado de capitais - a mais importante fonte de receitas para os bancos de investimentos - não teve um grande volume de operações até agora.

A tendência de dispensar os serviços de um assessor financeiro é mais forte entre grandes companhias globais, acostumadas a ir às compras, e em setores com histórico de fusões e aquisições, como o de tecnologia.

Algumas empresas acabam criando times próprios para avaliar passos estratégicos. O frigorífico JBS é uma delas e atuou dessa forma na compra da Tyson Foods, anunciada no fim de julho. Procurada pelo Valor, a companhia não deu entrevistas alegando estar em período de silêncio devido à oferta inicial de ações da unidade JBS Foods.

Na Tivit, a equipe de fusões e aquisições comandada por Frederico conta com mais duas pessoas. Antes da empresa de tecnologia, o executivo trabalhou no Merrill Lynch (depois adquirido pelo Bank of America) e pela gestora de fundos de private equity Pátria Investimentos. "Ajuda a ter a uma visão dos dois lados", diz.

As aquisições não assessoradas também estão em alta nos Estados Unidos, onde a crise levou muitos bancos a reduzir suas equipes de fusões e aquisições e arranhou a confiança nas instituições financeiras.

Aqui, os motivos são outros. Para Alessandro Farkuh, diretor responsável pela área de fusões e aquisições do Bradesco BBI, operações fechadas sem assessor são "um sinal de maturidade do mercado brasileiro". Companhias do país fizeram investimentos nos últimos anos e ganharam experiência para agir sozinhas em algumas situações, afirma.

"A barra vai ficando mais alta à medida que as empresas se tornam mais sofisticadas", reitera Roberto Barbuti, corresponsável pelo banco de investimentos do Bank of America Merrill Lynch (BofA) no Brasil.



Diferentemente do que ocorre numa emissão de ações ou dívida, em que é necessária a intermediação de uma instituição financeira, nos processos de fusões e aquisições a contratação de um banco para estruturar a operação é opcional. "Se a empresa não vê valor, não é obrigada a chamar ninguém", diz Barbuti.

O trabalho de um assessor financeiro é caro - até porque, muitas vezes, leva mais de um ano para ser concluído. As comissões pagas pelas empresas muitas vezes não vão muito além de 1% do valor da aquisição, mas podem chegar a até 15% em casos específicos. Por isso, o custo é um fator que pesa na decisão das companhias.

Muitas acabam optando por contratar um banco apenas nos casos em que a intenção é vender, e não comprar um ativo. "Na venda, o assessor é fundamental para organizar o processo, encontrar candidatos, e deixar a empresa livre para tocar o dia a dia", afirma Farkuh, do Bradesco BBI.

Também houve, nos últimos anos, um aumento da presença de fundos de private equity nas fusões e aquisições brasileiras. À medida que conhecem melhor o mercado local, alguns gestores dispensam os serviços de bancos e butiques financeiras, já que têm internamente ferramentas para analisar os negócios. É o caso da própria Tivit, controlada pela britânica Apax Partners.

"Estruturamos os negócios internamente, mas entramos muito a fundo na análise com a ajuda de advogados, para fazer a assessoria legal, e de auditores, que fazem a due diligence [na empresa-alvo]", diz Frederico, da Tivit.

Para conquistar clientes, os bancos apostam em "provocar" mais as empresas, levando ideias de operações que nem sempre estão no radar delas. "O que a gente faz é oferecer uma leitura mais ampla do mercado, discutir como o investidor vai receber aquela operação, analisar o impacto no capital da companhia", afirma Barbuti.

Oferecer financiamento para as operações também pode fazer diferença. "O relacionamento comercial e de crédito com os clientes não faz a diferença sozinho, mas ajuda", diz Farkuh.

Um banqueiro que preferiu não ser identificado afirma que, apesar do crescimento no número de operações não assessoradas, não houve redução dos negócios na instituição para a qual trabalha. Segundo ele, é importante mostrar que o banco é um anteparo nas negociações, evitando desgastes entre partes que podem ser sócias no futuro.

Para Rogério Gollo, sócio da consultoria PwC, o mercado de assessoria financeira ainda tem muito a crescer no Brasil. À medida que empresas de médio porte passarem a fazer mais aquisições, vão recorrer aos bancos de investimentos, pois não têm a mesma estrutura das grandes companhias para preparar essas operações. "O mercado de fusões e aquisições no Brasil é dez vezes menor que o dos Estados Unidos. Com a estabilidade e o tamanho que o país tem, não vai ser sempre assim", afirma.

10 novidades do mercado que você precisa saber


Eike Batista terá bens bloqueados, decreta Justiça

Mike Hewitt/Getty Images
Torcedor dos Estados Unidos
 
Wall Street especula que o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, manterá a promessa sobre taxas de juros baixas quando encerrar sua reunião de política monetária mais tarde
São Paulo - Veja o que você precisa saber.

1 - Eike Batista terá bens bloqueados, decreta Justiça. Eike Batista já é considerado, tecnicamente, réu da ação penal que o acusa decrimes contra o mercado de capitais. Quem afirma é o juiz Flávio Roberto de Souza, titular da 3ª Vara Criminal da Justiça Federal, para o jornal O Globo.

2 - Conselho da Oi autoriza venda de fatia na Africatel. O Conselho de Administração da Oi autorizou a venda das participações da companhia na Africatel Holdings, representativas de 75 por cento do capital da Africatel, e/ou seus ativos, informou a operadora de telecomunicações no fim da terça-feira.

3 - Cosan aprova cisão parcial e incorporação de parcela. Os Conselhos de Administração das empresas Cosan e Cosan Logística aprovaram protocolo e justificação de cisão parcial da Cosan e incorporação da parcela cindida pela Cosan Logística, conforme fato relevante divulgado ao mercado na noite de terça-feira.

4 - Embraer e Republic Airways assinam contrato para 50 jatos. A Embraer assinou contrato com a Republic Airways para pedidos firmes de 50 jatos E175 no valor estimado de 2,1 bilhões de dólares, com base em preços de lista, informou a companhia em comunicado nesta quarta-feira.


 
5 - China injeta US$81 bi em bancos para sustentar economia. O banco central da China está injetando um total de 500 bilhões de iuanes (81,35 bilhões de dólares) de liquidez nos principais bancos do país, de acordo com a mídia, um sinal de que as autoridades estão intensificando os esforços para sustentar a economia.

6 - Ações europeias sobem com expectativas sobre o Fed. As ações europeias subiam nesta quarta-feira, espelhando o rali em Wall Street na véspera causado por uma notícia que mudou as expectativas de investidores sobre o comunicado do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, que será divulgado mais tarde.

7 - Ações asiáticas sobem com especulação sobre Fed e China. As ações asiáticas avançaram cautelosamente nesta quarta-feira após Wall Street subir por especulação de que o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, manterá a promessa sobre taxas de juros baixas quando encerrar sua reunião de política monetária mais tarde.

8 - S&P corta classificação da Venezuela a "CCC+". A agência de classificação de risco Standard & Poor's cortou nesta terça-feira o rating soberano de longo prazo da Venezuela para "CCC+", ante "B-", pela contínua deterioração da situação econômica, que pode levar a uma contração da economia de até 3,5 por cento este ano.

9 – Opções do Alibaba serão listadas em 29 de setembro. Investidores que buscam fazer hedge de suas apostas ou especular com as ações doAlibaba Group depois de sua esperada oferta na sexta-feira, poderão negociar suas opções em duas semanas, já que bolsas de opções dos Estados Unidos devem listar contratos da companhia.

10 - Inflação na zona do euro supera expectativas em agosto. O aumento de aluguéis e nos preços de conserto de carros impulsionou a inflação na zona do euro em agosto ligeiramente acima da primeira expectativa, uma boa notícia para o Banco Central Europeu (BCE) mas não o suficiente para mudar radicalmente o cenário econômico.

Chilena Cencosud não descarta aquisições no Brasil


No entanto, o foco da empresa neste momento é a reestruturação

Dayanne Sousa, do
Maglio Perez/Criative Commons
O alemão Horst Paulmann, fundador do Cencosud
O alemão Horst Paulmann: "estamos sempre de olhos abertos", declarou

Atibaia, SP - Apesar do desempenho mais fraco em vendas das marcas do Cencosud no Brasil, o fundador e presidente do Conselho de Administração do grupo varejista chileno, Horst Paulmann, não descarta a possibilidade de aquisições no País.

"Estamos sempre de olhos abertos", declarou durante a convenção da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). O empresário considerou, porém, que o foco da empresa neste momento é a reestruturação, dizendo que agora os executivos trabalham para implantar melhorias nas marcas.

Entre as ações de melhoria das operações no Brasil, Paulmann comentou a necessidade de "descentralizar" os processos. "Cada marca para nós é um país distinto", comentou. 

Mais cedo, ele já havia apontado a necessidade de aumentar a participação de brasileiros na administração da operação local e considerou que é preciso nomear diretores brasileiros para todas as bandeiras do grupo no País.

O Cencosud é a quarta maior rede de supermercados do Brasil, segundo a Abras, e comanda redes como a sergipana G.Barbosa, a mineira Bretas e a fluminense Prezunic. 

"Na Bretas e na G.Barbosa, duas de nossas marcas no Brasil, nomeamos diretores brasileiros, mas agora falta um para a Prezunic", disse Paulmann durante a convenção.

O empresário descartou que preocupações com a desaceleração da economia brasileira afetem os planos de investimento. "Todo país tem movimentos de alta e baixa na economia, não estou preocupado", comentou. Questionado, ele não quis dizer, porém, se a companhia tem um plano para inauguração de novas lojas este ano.

O Cencosud informou em sua divulgação de resultados que durante o primeiro semestre de 2014 inaugurou apenas uma unidade nova no Brasil, de quase 1,4 mil metros quadrados de área. 

Confrontado com a tendência apontada por consultores e analistas de migração dos consumidores para novos formatos de loja que não os hipermercados (como lojas de vizinhança), Paulmann afirmou que o grupo "tem muita confiança em hipermercados grandes".

O fundador do Cencosud ainda comentou os resultados de vendas mais fracas da companhia no Brasil. Ao responder sobre por que as marcas da empresa têm crescido menos do que a concorrência, ele citou o tempo de atuação do grupo no País. "O Pão de Açúcar e o Carrefour estão no Brasil há muito mais tempo e nós, somente há seis anos", declarou.

"Temos redes de pessoas excelentes e o que precisamos é entender o Brasil e trabalhar melhor", afirmou. "Não é fácil entender o Brasil", acrescentou. Questionado sobre a possibilidade de trazer para o Brasil as operações do grupo de lojas de departamento e de materiais de construção, ele disse apenas que "tudo é possível".

Ciência reconstitui último combate do rei Ricardo III


O último rei da Inglaterra morreu devido ferimentos causados por seus inimigos, que teriam perfurado seu crânio quando estava caído e sem capacete, diz estudo

Pascale Mollard-Chenebenoit, da
Getty Images
Modelo facial do rei britânico Ricardo III
Modelo facial do rei britânico Ricardo III: soberano morreu aos 32 anos

Paris - Ricardo III, último rei da Inglaterra e morto em combate no século XV, sucumbiu aos ferimentos causados por seus inimigos, que teriam perfurado seu crânio quando estava caído e sem capacete, sugere um estudo científico publicado nesta quarta-feira na revista The Lancet.

As feridas na cabeça sustentam os relatos da época, segundo os quais Ricardo III, preso em um lamaçal, teria abandonado seu cavalo antes de ser morto por seus inimigos, de acordo com este estudo realizado a partir da análise de sua ossada.

O soberano morreu aos 32 anos na batalha de Bosworth em 22 de agosto de 1485, após um curto reinado de dois anos. 

Após sua morte, a dinastia dos Tudor passou a governar, criando para Ricardo III uma imagem de tirano sanguinário, imortalizada posteriormente por William Shakespeare.

Em sua peça teatral "Ricardo III" (1592), o soberano grita no campo de batalha: "Um cavalo, meu reino por um cavalo!", uma frase que virou célebre.

A ossada do rei foi descoberta em Leicester (centro da Inglaterra) em setembro de 2012, durante a construção de um estacionamento municipal.

As análises de DNA - que ainda não foram divulgadas - confirmaram que o esqueleto encurvado com feridas de guerra era do último rei Plantagenet, caído não muito distante daquele local e enterrado discretamente pelos irmãos franciscanos.

Uma equipe da Universidade de Leicester, liderada por Jo Appleby, especializado no estudo de ossaturas, utilizou várias técnicas, incluindo tomografia computadorizada, para estudar os restos mortais do soberano, de 500 anos de idade.

Os pesquisadores contabilizaram nove feridas na cabeça provocadas por armas cortantes como espadas, facas e punhais.

O esqueleto também apresentava uma grande ferida na pélvis que poderia ter sido causada após a morte.
 

Espada ou alabarda


A leitura do estudo impressiona porque detalha com enorme precisão uma das lesões produzidas na ossatura e que levanta a hipótese sobre as armas utilizadas pelos inimigos.

"As lesões no crânio nos levam a crer que ele não usava capacete, ou porque o perdeu ou porque a proteção foi retirada à força", explica Sarah Hainsworth, professora de engenharia de materiais e coautora do estudo.

Em contrapartida, Ricardo III ainda tinha armadura para proteger o resto do corpo, como não há qualquer vestígio de ferimentos nos braços ou mãos, ressalta.

"As duas lesões que supostamente causaram a morte do rei são as localizadas na base do crânio", indica Guy Rutty, patologista da Universidade de Leicester.

Uma delas poderia ter sido causada por uma arma com lâmina alongada, como uma espada ou alabarda. A outra, muito profunda, teria sido causado pela ponta de uma espada ou a ponta de uma alabarda, acrescenta.

Os dois ferimentos corroboram a ideia de que o rei estava no chão, talvez de joelhos. A cabeça devia estar inclinada para a frente, expondo a base do crânio, diz o estudo.

"As feridas na cabeça de Ricardo coincidem com os relatos da batalha, que sugerem que ele deixou seu cavalo, depois de ter ficado preso em um lamaçal", diz Rutty.

A especialistas em restos humanos do Museu de História Natural de Londres, Heather Bonney, lembra a dificuldade de interpretar as feridas de antigas ossadas.

Ricardo III será enterrado em 26 de março de 2015 na catedral de Leicester. A cerimônia será o ápice de uma semana consagrada ao rei organizada pelas associações de apaixonados que tentem reabilitar a imagem do soberano.

Carência de recursos é entrave para ciência e tecnologia


Interesse dos brasileiros pela área vem aumentando ao longo dos anos, destaca pesquisa do Centro de Gestão e Estudos Estratégico

Andreia Verdélio, da
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Robótica
Carência e descontinuidade de recursos e burocracia são entraves para o setor de ciência, tecnologia e inovação

Brasília - A carência e a descontinuidade de recursos, além da burocracia excessiva para o desenvolvimento de pesquisas são apontadas por especialistas ouvidos pela Agência Brasil como os maiores entraves e desafios a serem enfrentados pelo setor de ciência, tecnologia e inovação (CT&I).

Embora os benefícios para a saúde ainda sejam os mais lembrados quando se fala no assunto, a presidenta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, diz que o setor está presente em praticamente tudo no dia a dia das pessoas. Segundo ela, os últimos 20 anos foram de crescimento para a área. “O Brasil começou tarde como educação e como ciência e, em poucos anos, conseguimos dar um salto. Conseguimos a estabilidade econômica que nos permitiu olhar para outros gargalos do país. Houve a expansão da universidade pública brasileira e a compreensão de que ciência não é gasto, é investimento”, disse a professora.

O interesse dos brasileiros pela área também vem aumentando ao longo dos anos, destaca a pesquisa Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil, realizada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégico. Os últimos dados do estudo apontavam crescimento do interesse pelo setor, de 41% para 65%, de 2006 para 2010. O estudo com dados de 2014 deve ser divulgado ainda este ano.

Para o presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), Sérgio Gargioni, o próximo governante do país terá de pensar estrategicamente no aumento do orçamento para a pesquisa no Brasil. “O orçamento em geral tem valor razoável, mas sempre há contenção ou encargos adicionais. Pelo número que se vê, o orçamento do ano que vem é pífio, então precisamos que ele seja ampliado e que os recursos sejam para atender o interesse dos pesquisadores”, disse Gargione.

O Projeto de Lei Orçamentária Anual, enviado para aprovação pelo governo federal ao Congresso Nacional, tem previsão de destinar R$ 7,234 bilhões para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em 2015, o que representa um aumento de R$ 365 milhões se comparado ao reservado para 2014.

O presidente da Academia Brasileira de Ciência (ABC), Jacob Palis, defende que os investimentos no setor alcancem o percentual de 2% do Produto Interno Bruto. “Atualmente esse percentual fica em torno de 1,2%, já houve a intenção de aumentar, mas o país tem tantas necessidades que às vezes esses investimentos ficam perdidos. Países como a China já estão atingindo 2%, com bons projetos. E a ciência brasileira está madura para fazer boas propostas e competente para desenvolver os projetos, para que nossos produtos tenham valor agregado e o país não exporte apenas produtos primários”, disse Palis.

A Academia Brasileira de Ciências apresentou um documento aos presidenciáveis com propostas e contribuições para a área. O documento foi subscrito pela Confap e pela SBPC. Além do aumento dos investimentos, a entidade sugere a ampliação da cooperação internacional, a criação de condições favoráveis para aproveitamento dos jovens do programa Ciência sem Fronteiras, a criação de novos institutos para interação da ciência com o setor empresarial, o fortalecimento do papel do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT) como órgão assessor da Presidência, a criação de incentivos ficais para empresas doadoras, como já é feito na área cultural e a equiparação dos salários entre os professores do ensino básico e os dos colégios federais.

A presidenta do SBPC destaca outro “problema gravíssimo” em relação ao financiamento. Segundo ela, os principais recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) vinham do CT-Petro, o primeiro fundo setorial do Brasil, para estimular a inovação na cadeia produtiva do setor de petróleo e gás natural. “Com a aprovação da nova lei do petróleo, o CT-Petro deixou de existir como tal e o dinheiro vai para o Fundo Social do Pré-Sal, de onde sairá 50% dos recursos para saúde e educação. Então o FNDCT vai minguar, mas estamos lutando pelo restante do fundo social, por pelo menos 10% para ciência, tecnologia e inovação”, disse Nader.

“Só temos esse dinheiro porque cientistas brasileiros, ao longo de quatro décadas, junto com a Petrobras, desenvolveram uma tecnologia, que não foi importada, para perfurar e achar a camada pré-sal. Então nada mais justo do que ter uma porcentagem da receita. O clamor das ruas foi por saúde e educação e estávamos brigando por isso. Mas saúde também depende de ciência e tecnologia e se o Brasil quer apostar e ser uma nação de primeiro mundo tem que investir em ciência, tecnologia e inovação”, disse Helena Nader.

Nesse caminho, a inovação ocorre quando os resultados de uma produção científica chegam ao mercado, quando eles são incorporados à sociedade. Para o presidente da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica e Inovação (Abipti), Cláudio Violato, movimentos positivos podem ser vistos nesse campo, como os programas que estimulam a pesquisa e o desenvolvimento no ambiente empresarial e a criação dos fundos setoriais há alguns anos, para alocação de recursos específicos em 16 áreas, como biotecnologia, engenharia de transportes e informática e automação.

Violato diz que o contingenciamento de recursos por parte da União interfere na continuidade das pesquisas. Para ele, o futuro do Brasil depende da capacidade de inovar, de empreender, e o governo é um instrumento importante de promoção e financiamento. “Quando ele [o governo] suspende os recursos, prejudica e retarda um processo de pesquisa, tudo o que foi feito até então está perdido. Então, às vezes, se gasta o dinheiro sem chegar a um resultado”, disse Violato.

Além do contingenciamento, outro entrave citado pelos especialistas para garantir recursos públicos é a legislação sob a qual os centros de pesquisa precisam trabalhar. A Lei 8.666, de 21 de junho de 1993, que normatiza as licitações e os contratos públicos, na avaliação dos especialistas, é burocrática e atrasa os trabalhos. “Essa lei é totalmente incompatível com pesquisa e desenvolvimento. Ciência não é como um projeto de engenharia, temos que considerar alternativas”, disse Violato.

Os especialistas defendem o Regime Diferenciado de Contratações (RDC) para atividades de pesquisa e desenvolvimento. Segundo Sérgio Gargione, o tempo desperdiçado com burocracia acaba se refletindo no atraso das pesquisas. “Ciência não é como uma obra, com resultados pré-determinados. A pesquisa pode demorar dois anos, cinco anos, dez anos e há um entendimento errôneo em controlar compras e despesas de insumos, quando o investimento principal é o pesquisador”, disse o presidente da Confap.

O chamado Código de CT&I, em tramitação no Congresso Nacional, é constituído pelo Projeto de Lei (PL) 2.177/2011, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 290, o RDC para o setor e a elaboração da Lei da Biodiversidade, a cargo do Ministério do Meio Ambiente. Esta última será tratada em um segundo momento, para não travar as demais propostas.

Entre as modificações previstas no código, estão uma abertura maior na relação com a iniciativa privada, a flexibilização dos recursos, com a definição do que é custeio e o que é investimento em pesquisas e a definição dos conceitos de atividade meio e atividade fim.

Para Sérgio Gargione, é preciso um entendimento de que as questões emergenciais do país não vão sair da pauta se não os problemas estruturais não forem revistos. “A visão de que uma empresa tem que ser sustentável e competitiva também serve para o país. Para fazer todo o sistema funcionar, é preciso continuidade de recursos, sem burocracia e com agilidade de decisão. A comunidade científica produz menos do que deveria porque esse aparato não funciona. Em qualquer outro país o 1% [do PIB] rende muito mais.”

O presidente da Abipti, Cláudio Violato, defende a existência de uma forma de avaliar a produção dos grupos de pesquisa. “Não adianta aplicar os recursos, com incentivos fiscais ou diretos, apenas porque o grupo existe, tem que ver também se ele está produzindo, gerando resultados e tramitando no mercado”.

Para Violato, o empreendedorismo precisa estar presente no dia a dia da educação. “Precisamos desenvolver o clima de inovação, começar a incutir nos jovens a possibilidade de empreender, de desenvolver novas tecnologias. O brasileiro é muito criativo, mas na hora de arriscar, o ambiente brasileiro não favorece de fato. A Lei de Inovação já criou esse ambiente dentro da universidade e agora há que se medir os resultados e fazer as correções de rumo”, disse Violato.

Sancionada em 2004, a Lei de Inovação contempla diversos mecanismos de apoio e estímulo à alianças e ao desenvolvimento de projetos cooperativos entre universidades, institutos tecnológicos e empresas nacionais.

Sem sócio brasileiro, fábrica da Foxconn empaca


As negociações pararam e nem o governo acredita mais na concretização do mega investimento

Murilo Rodrigues Alves, do
Reuters
Fachada da Foxconn
Fachada da Foxconn: a construção da fábrica de telas no país foi o primeiro grande anúncio do governo Dilma

Brasília - A construção da fábrica de telas para celulares, TVs e computadores da taiwanesa Foxconn no Brasil empacou depois que a companhia desistiu de buscar um sócio brasileiro para o projeto. Segundo o governo informou à época do anúncio, em 2011, o investimento chegaria a US$ 12 bilhões.

Para sair do impasse gerado pela falta de um parceiro brasileiro, a saída seria aumentar a participação acionária do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para mais de 30%. Mas o banco não aceita ultrapassar o limite estabelecido em sua política para o BNDESPar, seu braço de participações acionárias.

Além do apoio fundamental do BNDES, a equipe econômica do governo contava com a sociedade de um grande empresário brasileiro - chegou-se a falar em Eike Batista, antes da crise. Sem sócio, as negociações pararam e nem o governo acredita mais na concretização do mega investimento.


Visita à China


A construção da fábrica de telas no País foi o primeiro grande anúncio do governo Dilma Rousseff, feito em fevereiro de 2011, logo após a posse, durante visita da presidente à China.

O então ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, chegou a divulgar, depois de se reunir com Terry Gou, fundador da Hon Hai, controladora da Foxconn, que a taiwanesa investiria US$ 12 bilhões no período de quatro a seis anos.

A ideia, segundo o ministro, era construir um complexo industrial que empregaria até 100 mil pessoas no Estado de São Paulo.

O desenho do negócio apontava para uma primeira etapa do investimento de US$ 4 bilhões, dos quais 30% (US$ 1,2 bilhão) seriam bancados pelo BNDES e US$ 500 milhões por Eike. Além de procurar mais sócios, o governo tentou convencer Terry Gou a entrar com capital, além da tecnologia.
O Palácio do Planalto tinha tanta certeza do negócio que Mercadante chegou a divulgar um cronograma: de 2011 a 2013, a companhia fabricaria telas para celulares e tablets e, a partir deste ano, telas para Tvs.

De acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, a empresa taiwanesa investiu, desde 2005, aproximadamente R$ 1 bilhão, tendo gerado 7 mil postos de trabalho. A Foxconn tem hoje três unidades no País. Em Manaus e Indaiatuba, monta celulares. Em Jundiaí, monta smartphones e fabrica notebooks, computadores e periféricos.


Conjuntura


O jornal O Estado de S. Paulo perguntou ao ministro Aloizio Mercadante, porta-voz do anúncio, quais empecilhos travaram as negociações para a construção da fábrica de telas da Foxconn no Brasil.

A assessoria de imprensa da Casa Civil, hoje ocupada por Mercadante, informou que a posição do ministro-chefe estaria contemplada na resposta do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). "Em relação à construção de unidade de fabricação de telas, o investimento previsto não foi realizado até o momento, devido à conjuntura internacional e pelo fato de a empresa não ter conseguido um sócio nacional", disse o ministério.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação afirmou, ainda, ter informações de que a Foxconn estuda fazer novos investimentos e abrir novas unidades no Brasil. Os projetos, entretanto, não teriam relação com construção da fábrica de telas. A empresa, segundo o ministério, poderia confirmar a informação. Procurada, a Foxconn disse que não se pronunciaria.


BNDES


A reportagem apurou que alguns desses projetos esperam aprovação de aportes do próprio BNDES. Sobre a instalação da fábrica de telas, o banco confirmou à reportagem que participou das negociações, sem sucesso.

"O banco continua em contato com a Foxconn e tem trabalhado para viabilizar investimentos no Brasil em setores de alto conteúdo tecnológico", informou, por meio da assessoria. "As tratativas até o momento não tiveram resultados conclusivos."

Segundo fontes, o limite de 30% de participação acionária do BNDESPar em empresas segue em vigor e, só em poucos casos, esse limite é ultrapassado - em 2008, na crise financeira global, algumas participações do BNDES em empresas superaram esse limite de 30%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Para eleitores, Dilma é a que mais representa bancos


Dilma é vista pela maior parte do eleitorado (42%) como a principal representante dos interesses do setor financeiro na corrida eleitoral, segundo o Ibope

Daniel Bramatti e José Roberto de Toledo, do
REUTERS/Ueslei Marcelino
A presidente Dilma Rousseff (PT)
Dilma: por outro lado, a presidente é vista como a principal representante dos interesses dos pobres por 44%
São Paulo - Empenhada em associar Marina Silva (PSB) aos bancos, a presidente Dilma Rousseff é vista pela maior parte do eleitorado (42%) como a principal representante dos interesses do setor financeiro na corrida eleitoral.

Além de medir as intenções de voto e a avaliação de governo, o Ibope apresentou aos entrevistados uma lista de segmentos econômicos e sociais e perguntou qual dos candidatos representa melhor cada um deles.
No caso do setor financeiro, Marina ficou em terceiro lugar, com 20%, atrás de Aécio Neves (PSDB), com 25% - uma mostra de que a ofensiva de Dilma e de seu marqueteiro, João Santana, teve efeitos limitados, ao menos até o momento.

A campanha de Dilma exibiu na TV um vídeo de 30 segundos no qual afirma que a proposta de Marina de dar autonomia ao Banco Central vai entregar aos banqueiros "um poder que é do presidente e do Congresso, eleitos pelo povo". Marina contra-atacou e acusou a presidente de ter criado o "bolsa banqueiro".

Na segmentação do eleitorado por classes sociais, Dilma é vista como a principal representante dos interesses dos pobres por 44% dos brasileiros. A seguir vem Marina (29%) e Aécio (11%).

Em relação aos ricos, há uma divisão maior: 36% acham que é a petista quem mais os defende, e 34% apontam o candidato do PSDB nessa posição.

A candidata do PSB, cuja atuação no Ministério do Meio Ambiente a colocou em situação de confronto com o agronegócio, é vista por 31% como a melhor defensora dos interesses da agricultura. Os índices de Dilma e Aécio são 36% e 17%, respectivamente.

Dilma é considerada pela maior parcela do eleitorado como a principal defensora dos trabalhadores (45%), dos aposentados (43%), dos jovens (38%), dos funcionários públicos (40%), da indústria (42%) e do comércio (42%).

Marina se destaca no quesito meio ambiente (50%). O Ibope perguntou aos entrevistados se eles tomaram conhecimento das novas denúncias de corrupção envolvendo a Petrobras: 65% responderam que sim, e 32%, que não. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.