Flavio Santana/Biofoto
Luiza Helena Trajano: "você fica mais inteligente quando assume a postura de que não sabe tudo"
Cecília Araújo, da Na prática
São Paulo - Luiza Helena Trajano começou sua carreira
na área de vendas, aos 12 anos, quando abriu mão das férias escolares
para trabalhar. Depois dessa experiência, começou uma longa trajetória
dentro da rede de lojas fundada por sua tia – também Luiza, que dá nome
ao grupo. Formada em Direito pela faculdade municipal de Franca, cidade
onde nasceu, Luiza é hoje uma das três mulheres mais poderosas do Brasil
segundo lista da revista Forbes. Aos 58 anos, é presidente da rede Magazine Luiza, que tem 740 lojas, em 16 estados, e 23 mil funcionários.
No grupo, passou por todos os departamentos: da cobrança à gerência,
das vendas à direção comercial. Desde 1991, quando se tornou
superintendente, começou uma ascensão para cargos mais estratégicos que
culminou na presidência, ocupada por ela desde 2008. Ainda assim, faz
questão de manter o olho na operação e não se distanciar do dia a dia da
empresa, motivo pelo qual continua encarregada do serviço de
atendimento ao consumidor – ela informa seu próprio e-mail para os
clientes que não conseguiram resolver seus problemas.
Atendimento e inovação
Em bate-papo com o Na Prática,
Luiza destaca que todos os funcionários do Magazine são vendedores,
inclusive ela própria. “Meu negócio é vender. Sempre fiz outras coisas,
mas nunca saí da mesa da venda. Não sou presidente de empresa, sou
vendedora até hoje. Gosto de lidar com pessoas, e vender nada mais é que
se conectar com pessoas”, diz. “O perfil que buscamos no Magazine é de
quem quer ser protagonista da sua história, gosta de pessoas e de
servir. A regra de ouro é: faça aos outros o que gostaria que fosse
feito a você”, completa.
Para Luiza, duas coisas distinguem uma boa empresa e um bom
profissional: “Só terá sucesso quem souber dar importância ao
atendimento e estiver pronto para a inovação”, diz. “Quem paga nosso
salário é o cliente. Ele é o nosso patrão. Eu passo 50% do meu tempo
cuidando de atendimento. A estratégia nasce é na ponta”, acrescenta. E
afirma que, assim como os mais velhos estão aprendendo a usar a
tecnologia a seu favor com muito sacrifício, os jovens tecnológicos têm
que aprender a lidar com pessoas – com paciência e capacidade de servir.
Liderança com sacrifícios
Ela também ressalta que se tornar uma liderança requer sacrifícios. “O
líder quer sempre ir além do que já sabe. Quer estar tocando na banda, e
não vendo a banda passar. Não importa o instrumento, ele quer fazer
parte. E isso exige sacrifício”, conta Luiza. “Para ser uma pessoa que
conhece de tudo, você sacrifica seu sono, seu lazer... Com ritmo e
rotina, você não precisa perder tudo. Mas não tem um jeito de você
querer vencer na carreira desde pequena e ganhar de todos os lados. Há
preços a pagar, e eu sempre escolhi aqueles de que eu dava conta.”
Para dar conta de sua rotina atribulada, Luiza revela que dorme pouco –
de 3 a 4 horas por dia –, reclama pouco e descentraliza muito. “Tenho
bastante gente trabalhando junto comigo, e eu ensino muito, tenho
facilidade de formar pessoas. Também tenho uma inteligência de resolver
problemas, e não criar problemas, e não fico levando coisas de um dia
para o outro. Outra coisa que faço é estar inteira em todo lugar aonde
eu vá. Acredito que, dessa forma, é possível dar o melhor de mim às
pessoas e tirar o melhor delas também”, diz.
Sobre as dificuldades e fracassos em seu caminho, Luiza afirma que
sempre os leva como aprendizados. “É um treinamento pessoal a gente
aceitar feedbacks. Por isso, tenho um canal direto com nossos
funcionários e nossos clientes”, conta. Ela também diz valorizar muito a
transparência nas relações. “Você fica mais inteligente quando assume a
postura de que não sabe tudo, mas que pode aprender com outras pessoas.
E, quando você é transparente, vem muito respeito junto. Eu me sinto
muito respeitada na minha posição de líder”, pontua.
Cultura e empreendedorismo
Para Luiza, o maior desafio de profissionalizar uma empresa – seja ela
familiar ou não – é não perder a cultura do fundador à medida que vai
ganhando escala. “O Magazine Luiza foi treinado para aceitar o novo, é
uma empresa que tem uma cabeça bem aberta para mudanças. E nossa
experiência com o e-commerce foi um exercício grande nesse sentido”,
diz.
Luiza destaca ainda a importância de empreender mesmo dentro da empresa
de que faz parte.
“Empreender não é só você ter um negócio próprio.
Hoje, você tem que ser empreendedor dentro da empresa em que você está,
não importa qual seja a sua função. E o que significa isso? É não
desistir, ter a capacidade de estar sempre construindo, tocar a empresa
como se fosse sua, falar a verdade – se você não está satisfeito você
confronta, se não você sai. É você sentir que não está ali como um a
mais”, conclui.