sexta-feira, 22 de maio de 2015

Por que homens confiam mais que mulheres na busca de emprego


Ingram Publishing/Thinkstock
Homem em escritório
Homem em escritório: eles também foram mais propensos a dizer que a faculdade os preparou bem e que seu primeiro emprego seria bem pago
 
Akane Otani, da Bloomberg


Na hora de procurarem seu primeiro emprego depois da faculdade, homens levam uma clara vantagem sobre mulheres: eles se sentem mais seguros de que terão sucesso, e uma maior proporção deles espera um bom salário, mostram novos dados.

Apenas 16 por cento das universitárias disseram ter “confiança absoluta” em conseguir um emprego depois de se formar, frente a 27 por cento dos universitários, segundo o motor de busca de emprego Monster, que consultou 1.500 adultos em abril.

Os homens não somente foram mais propensos a se sentir melhor em relação à possibilidade de arrumar emprego.

Eles também foram mais propensos a dizer que a faculdade os preparou bem para sua carreira e que seu primeiro emprego seria bem pago: 48 por cento deles esperavam ganhar mais de US$ 50.000 por ano no seu primeiro emprego, crença compartilhada por apenas 33 por cento das mulheres, concluiu a pesquisa.
 

Sugestões


A pesquisa pode estar baseada em uma amostra relativamente pequena, mas enfatiza investigações anteriores que sugeriram que homens tendem a ter mais confiança e assertividade em relação às suas capacidades do que as mulheres.

Em uma famosa revisão interna, a Hewlett-Packard concluiu que seus funcionários eram mais propensos a solicitarem promoções quando acreditavam que reuniam 60 por cento das qualificações listadas, ao passo que suas funcionárias se abstinham de se candidatar a menos que achassem que tinham 100 por cento das qualificações.

Outros estudos sugeriram que mulheres podem negociar menos do que homens e experimentam mais ansiedade quando estão negociando.

Uma conclusão comum de tais pesquisas é que as mulheres precisam ser mais enérgicas e se defender mais. Outros, no entanto, dizem que apontar para as mulheres por não serem suficientemente audazes é não entender a ideia.

“Isto não é um problema de confiança das mulheres. Na verdade, nem sequer se trata delas”, diz Anna Beninger, diretora de pesquisa da Catalyst, uma organização sem fins de lucro que defende o avanço das mulheres no trabalho.

“Trata-se mesmo dos desafios substanciais enfrentados pelas mulheres em um patamar organizacional”.


Apoio


Vários estudos apoiam o ponto de vista de Benninger.
No ano passado, analisamos dados da Bloomberg e descobrimos que mesmo com níveis similares de experiência e formação, as mulheres com MBA recebem salários mais baixos do que os homens.

Mulheres também têm mais dificuldades do que homens para achar um patrocinador, uma figura fundamental que possa atuar como defensor delas no local de trabalho; nem homens nem mulheres gostam delas como chefes; e são penalizadas com maior frequência por tentarem negociar a compensação.

Em outras palavras, a “falta de confiança” exibida pelas mulheres poderia ser um realismo frio, não um traço inerente do seu caráter.

O Brasil está mal com Joaquim Levy. Mas estaria pior sem ele




Ueslei Marcelino/Reuters
Ministro da Fazenda, Joaquim Levy
Tarefa ingrata: o ministro Levy tem de dar duro para desmontar, peça por peça, tudo o que foi feito nos últimos anos
 
 
 
São Paulo - O ministro Joaquim Levy, autoridade principal da economia brasileira, não tem uma política econômica para o Brasil. Aliás, não se espera mesmo que tenha — e, se tivesse, o governo do qual faz parte não permitiria que ela fosse aplicada. O que o ministro tem é uma lista de tarefas sérias a executar, todas urgentes e possivelmente indispensáveis.

Sabe-se que está fazendo o máximo de esforço para cumpri-las, mas seu horizonte fica por aí — tudo o que Levy faz e tem feito desde que assumiu o Ministério da Fazenda deste segundo mandato da presidente Dilma Rousseff é uma tentativa de frear a disparada do país rumo ao desastre.

Trata-se de carpintaria pesada, quando se leva em conta que todos os problemas imediatos da área econômica foram construídos pelo próprio governo ao longo dos últimos oito anos, peça por peça, com uma bateria permanente de medidas taticamente ineptas, estrategicamente tolas e administrativamente amadoras.

O trabalho de Levy, como se vê, não é construir — é desmanchar. Seria mais simples se tivesse de “desconstruir”, como se diz, a obra de um governo anterior. No caso, ele tem de “desconstruir” a pré-ruína econômica construída pela presidente que o nomeou, por seu patrono e antecessor, o ex-presidente Lula, e pelo partido de ambos. Que Deus ajude o ministro Levy nessa tarefa ingrata.

O Brasil vive no momento uma situação curiosa: para ficar a favor do que o governo precisa fazer no presente, trabalho que consiste basicamente em tirar as contas públicas do caos, o ministro da Fazenda tem de ficar contra o que esse mesmo governo fez no passado. Ou, mais exatamente, o que vinha fazendo até outro dia, quando as regras mais elementares da gestão econômica foram abandonadas em troca de índices de popularidade e exigências de marketing eleitoral.

Além disso, Levy tem de ficar descobrindo o tempo todo meios e modos de alterar a conduta de um governo economicamente neurastênico: quer que ele dê um jeito nos problemas indiscutíveis que estão aí, mas não admite que tenha tomado uma única decisão errada até hoje.

Exige mudanças, porque precisa mostrar resultados “já”, mas proíbe o ministro de dizer que está mudando seja lá o que for. Para completar esses infortúnios, seus maiores inimigos estão dentro do próprio governo, de seu partido e de toda a constelação de CUTs, MSTs e similares que vivem da máquina pública — sem contar empreiteiras, empresários dependentes do BNDES, devedores em busca de leniência e outros tantos adversários intransigentes do Tesouro Nacional.

Contra isso tudo, Levy conta com uma única peça de artilharia — Dilma, Lula, o PT e o resto do sistema não têm ninguém para colocar em seu lugar nem sombra de uma política alternativa para a área econômica. Podem não gostar do que ele está tentando fazer, mas precisam desesperadamente dos resultados que pode dar. Ruim com Levy? Talvez. Pior sem ele? Com certeza.

Após 12 anos e meio de governo petista, a soma final das esperanças possíveis do Brasil de 2015 ficou reduzida a isto: o melhor que temos pela frente, hoje, é a perspectiva de que as coisas não piorem.

Estará de bom tamanho se o governo continuar obrigado a manter o ministro Levy no cargo ­— ele certamente não pretende enfiar o país em novas aventuras fracassadas e pode até desfazer o grosso da situação de deboche que a presidente Dilma e seu entorno criaram nas finanças do Estado.

Será um alívio se os brasileiros forem poupados de novos experimentos econômicos que nem o Professor Pardal teria vontade de testar. Crescimento zero em 2015, como diziam antigamente os locutores de futebol, vai ser considerado “empate com sabor de vitória”.

Teremos repetido, nesse caso, o resultado de 2014, e o atual governo — o segundo pior de toda a história econômica da República, logo após o do presidente Floriano Peixoto — terá dado um passo importante para segurar essa vice-liderança; a outra opção é superar o marechal e levar o título de pior de todos. Fica, Levy.

BTG Pactual e P2 concluem venda da LAP para SunEdison



Rafa Rivas/AFP
Energia eólica
Energia eólica: a capacidade instalada da LAP deve chegar a 330 megawatts no fim de 2016
 
Da REUTERS


São Paulo - O BTG Pactual, o fundo de infraestrutura P2 e a GMR oficializam nesta quinta-feira a venda conjunta de 100 por cento da empresa de energia renovável Latin America Power (LAP) para o grupo norte-americano SunEdison por valor não revelado.

A venda acontece quase três anos após o BTG Pactual e o P2Brasil, fundo de infraestrutura que tem Pátria Investimentos e Promon como sócios, terem investido juntos 450 milhões de dólares para ficarem com 43,8 por cento cada da LAP. O restante ficou com a GMR.

A capacidade instalada da LAP, que opera pequenas centrais hidreletricas e usinas eólicas no Chile e no Peru, deve chegar a 330 megawatts no fim de 2016. A expectativa é que a companhia coloque em operação outros 660 MW nos próximos cinco anos.

Segundo executivos do BTG e do P2, o objetivo inicial era que o desinvestimento fosse feito entre 2017 e 2018, mas a busca de investidores internacionais por projetos que rendem bons dividendos fez ambas as casas anteciparem o ciclo.

"Foi um valor significativamente acima do que esperávamos", disse à Reuters o sócio de Investimentos em Infraestrutura do BTG Pactual, Renato Mazzola, sobre a venda. A SunEdison vai realizar a compra por meio da Terraform Global, subsidiária criada para operar ativos de energia fora de Estados Unidos e Canadá. A empresa pediu no início do mês autorização para realizar uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) e recebeu injeção de 1,6 bilhão de reais em ativos da 
Renova Energia.

A operação acontece num momento em que países como Peru, Chile, Colômbia e México ganham maior atenção dos investidores internacionais interessados em ativos na América Latina, em detrimento do Brasil.

Segundo André Sales, sócio do fundo P2, o ambiente de negócios contribuiu para atrair estrangeiros para a LAP.

De parte do BTG Pactual, essa é a segunda transação anunciada pelo grupo comandado por André Esteves em menos de um mês. No fim de abril, a companhia informou que o grupo de private equity Carlyle investiu 600 milhões de dólares para ficar com 8 por cento do capital da rede hospitalar Rede D’or São Luiz, no qual o BTG é um dos sócios.

Na LAP, o investimento do BTG foi feito por meio do fundo de infraestrutura II, no qual a fatia de recursos próprios do banco é de cerca de 20 por cento.

Vinci vende fatia na Equatorial por R$ 700 milhões



Agência Brasil
Dinheiro
Dinheiro: a transação iniciou com valores das ações a R$ 32 e encerrou o leilão a R$ 33,91
 
Mônica Scaramuzzo, do Estadão Conteúdo


São Paulo - O Fundo de Investimento em Participações (FIP) PCP, gerido pela Vinci Capital Gestora de Recursos, vendeu nesta quarta-feira, 20, em leilão na Bolsa toda a participação que detinha na concessionária Equatorial Energia, por cerca de R$ 700 milhões, ou cerca de 10,5% das ações da companhia, apurou o jornal O Estado de S. Paulo.

O FIP PCP, que reúne recursos de ex-sócios do Banco Pactual, já tinha vendido em leilão, no fim de fevereiro, 10% dos papéis da empresa, levantando cerca de R$ 520 milhões.

O fundo era, até fevereiro, o maior acionista individual da companhia, que controla as distribuidoras Cemar, do Maranhão, e Celpa, do Pará.

Com o leilão realizado em Bolsa naquele mês, a gestora de recursos Squadra tornou-se a maior sócia individual da concessionária de energia, com cerca de 20% de participação. A Squadra já era acionista da companhia desde 2008.

Na operação realizada hoje, a transação iniciou com valores das ações a R$ 32 e encerrou o leilão a R$ 33,91. De acordo com fontes de mercado, investidores nacionais e estrangeiros compraram os papéis. “

O apetite demonstra uma mudança de visão dos investidores, que já estão olhando o mercado de outra maneira”, afirmou uma fonte.

No dia 24 de fevereiro, quando o FIP PCP fez a primeira operação os papéis começaram ofertados a R$ 25,50, encerrando o leilão a R$ 26,50.

A venda foi realizada por meio da corretora do BTG. Procurado, o banco não quis comentar.

No primeiro leilão, a corretora previa vender 3% das ações, mas acabou concretizando a venda de 10% dos papéis que estavam nas mãos do FIP - até então, dono de 22% da empresa.

Em 12 meses, as ações da empresa acumulam valorização de 56% e o valor da companhia está em quase R$ 6,7 bilhões.


Reestruturação


A Equatorial era considerada uma das piores companhias do setor de energia em 2004, quando foi adquirida à época pela GP Investments.

Um ano depois, o FIP PCP, gerido por ex-acionistas do banco Pactual, comprou participação no negócio e, em 2006, a companhia passou a ter seus papéis negociados em Bolsa.

Em 2007, em meio ao plano de reestruturação da companhia, a gestora GP saiu do negócio. A reestruturação da empresa foi feita com base em disciplina financeira e de gestão, que envolveu pesados cortes.

A empresa encerrou o primeiro trimestre deste ano com lucro líquido de R$ 85 milhões, alta de 484% ante o mesmo período do ano passado, quando totalizou R$ 15 milhões. 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

We Do Logos anuncia fusão com a Logovia




Divulgação
 
Carmelo Queiroz, CGO; Gustavo Zimmermann, CTO; Pedro Assis, CFO e Gustavo Mota, CEO
Carmelo Queiroz, CGO; Gustavo Zimmermann, CTO; Pedro Assis, CFO e Gustavo Mota, CEO


São Paulo – A We Do Logos, startup especializada em vendas de serviços de design, anunciou a fusão com a Logovia, player do mesmo segmento. Desde janeiro, as empresas vêm operando juntas e o objetivo é consolidar o mercado na América Latina. 

Mesmo com a fusão, as duas marcas continuarão existindo. “Vamos manter o trabalho que já vínhamos fazendo nas duas marcas. Ou seja: o We Do Logos vai continuar atuando com um modelo mais voltado para consultoria, acompanhando o cliente e mantendo um relacionamento mais próximo, e a Logovia vai continuar atuando como uma plataforma self-service e mais acessível para o pequeno empresário”, explica Carmelo Queiroz, que assume o cargo de Diretor de Expansão da We Do Logos.

Com a fusão, os números chegam a 100 mil designers cadastrados e 30 mil clientes. Segundo Gustavo Mota, CEO do We Do Logos, a expectativa é fechar o ano com uma base de 300 mil usuários e um faturamento de oito milhões de reais. 

“Hoje, a cada dez projetos criados em sites de concorrência criativa no Brasil, nove são realizados em nossas plataformas. As duas empresas têm um time apaixonado pelo que faz, além do mesmo objetivo: democratizar o design gráfico gerando renda para nossos freelancers. Agora, vamos fazer isso com muito mais potência e consolidar o mercado”, diz, em nota, Mota.

O juiz soltou os presos; já Karl Max deixou de estudar e foi vender droga


Lenio Streck_Oficial




Homenagem



Esta coluna é em homenagem à fundamentação do direito. Portanto, esta coluna é uma ode aos magistrados que fundamentam as decisões de acordo com o direito. Que decidem por princípios e não por políticas ou opiniões morais.

O exemplo de sala: o genro que mata o sogro e quer receber sua meação
 
Na sala de aula na semana passada, apresentei um caso para discussão, versando sobre o genro que mata o sogro e depois reivindica, em juízo, a sua meação da herança. No caso concreto, em primeiro grau o genro venceu a demanda; em apelação, perdeu por maioria de votos. Todos os alunos acertaram qual seria a decisão correta. Mas a maioria acertou apenas de modo intuitivo, teleológico, com raciocínios tipo “não é justo ou correto que ele receba a sua metade...”. Ou, “é imoral que receba a meação”. Também perguntei ao Chico, porteiro da Universidade, que me deu a mesma resposta. Mas a minha pergunta aos alunos foi: qual é a resposta jurídica[1] para o caso e não a opinião pessoal sobre o problema. Ou seja, não me venham com chorumelas.


A decisão do juiz paulista
 

Por que estou contando isso? Para falar da decisão de um juiz de direito da comarca de Franca (ler aqui), que concedeu liberdade provisória para 21 pessoas, acusadas de integrar uma quadrilha de falsificação de agrotóxicos (operação lavoura limpa), sob o argumento — político e moral — de que não há como justificar a manutenção das prisões em um país em que os réus da operação "lava jato" estão em casa.  De acordo com a decisão publicada dia 12 de maio último,

“em um país onde os integrantes de uma organização criminosa que roubou bilhões de reais de uma empresa patrimônio nacional [Petrobras] estão em casa por decisão do STF, não tenho como justificar a manutenção da prisão do réu neste processo, que proporcionalmente causou um mal menor à sociedade, embora também muito grave”.

Os 21 réus foram presos em dezembro de 2014, a partir de operação deflagrada pela Polícia Civil e pelo MP. A quadrilha vendia agrotóxicos falsificados para sete estados, principalmente nas regiões norte de São Paulo e sul de Minas Gerais, e faturava até R$ 10 milhões por mês com a venda dos produtos ilegais.  Foram centenas de agricultores prejudicados. Em sua decisão, o juiz Wagner Carvalho Lima assinalou que a comarca não tem tornozeleiras eletrônicas à disposição. Por isso, ele impôs que os acusados não poderão sair da região de Franca.


A opinião do porteiro da Unisinos sobre o caso decidido pelo juiz
 

Bingo. Também perguntei para o mesmo porteiro se era justo que os réus da operação lavoura limpa não tivessem tratamento igual aos da "lava jato" e ele respondeu: “— Ora, professor, não seria justo que os ladrões de agrotóxico, que são peixes menores, ficassem presos...”.

“Só que não, seu Chico”. Eis o problema.  O direito tem especificidades. Se uma lei — e o exemplo, ao que lembro, é de Paulo de Barros Carvalho — diz que três pessoas disputarão uma cadeira no Senado, nenhum jurista pensará que haverá uma peleia pelo móvel de uma das Casas do Parlamento. Mas talvez o marceneiro, sim. Por isso é que as respostas de um e de outro devem ser diferentes. Por vezes até “fecham”. Por vias tortas, um relógio estragado também acerta a hora duas vezes por dia.


O que é, afinal, decidir?
 

Decisões judiciais não são teleológicas. E não são frutos de escolha, como tenho dito à saciedade em várias colunas e livros (em especial Verdade e Consenso). Juiz deve decidir por princípios e segundo o Direito. E o Direito não é moral, não é sociologia, não é opinião pessoal e tampouco é o que o Chico-porteiro pensa. Direito é um conceito interpretativo e é aquilo que é emanado pelas instituições jurídicas, sendo que as questões a ele relativas encontram, necessariamente, respostas nas leis, nos princípios constitucionais, nos regulamentos e nos precedentes que tenham DNA constitucional, e não na vontade individual do aplicador. Ou seja, ele possui, sim, elementos (fortes) decorrentes de análises sociológicas, morais, etc. Só que estas, depois que o direito está posto, não podem vir a corrigi-lo.

Indo no ponto: A indignação pessoal do magistrado não é “razão de decidir”. Seu protesto não pode virar uma impostura e conspurcar o direito.  Decidir é um dever e não uma opção ou escolha: o direito não aconselha meramente os juízes e outras autoridades sobre as decisões que devem (ought to) tomar; determina que eles têm um dever (have a duty to) de reconhecer e fazer vigorar certos padrões, como diz Dworkin em seu Taking Rights Serioulsy.

Dito de outro modo: pode até estar correta a soltura dos réus da operação lavoura limpa. Assim como o porteiro está certo em falar do caso do genro e da necessidade da soltura dos réus. O problema é que o juiz não poderia ter decidido como decidiu. A sociedade quer saber o que o direito (conforme o conceito acima) tem a responder neste caso. Isso se chama de responsabilidade política do juiz e o seu dever de prestação de contas (accountability). Simples. Não pagamos o bom salário de sua excelência para fazer juízos de valor sobre os erros ou acertos do STF ou do parlamento da República. Juiz fala nos autos do processo, como dizia o grande Paulo Brossard.

Claro: se você quer saber o significado de um significante, “pergunte por aí”, não é mesmo? Tudo muito simples, não fosse o Direito um empreendimento (extrema e justificadamente) complexo. Fosse trabalho do jurista confirmar os pré-conceitos da sociedade, do homem médio (essa figura metafísica que, ainda hoje!, habita boa parte da  resumisistica e manualística em Pindorama), para que precisaríamos de uma Constituição? De uma carta de direitos? De códigos legais?

Sempre que me deparo com decisões como esta, fico num dilema. Uma mistura de tédio, preguiça e melancolia enfrentam um “sentimento de dever”, por assim dizer. Volto à carga para explicar o óbvio: decisões jurídicas corretas têm de ser universalizáveis, sob pena de contrariarem o fundamento da democracia — a igualdade! Ou abro um bom vinho?  Que tal fazer os dois? Vamos lá.


Numa palavra final.
 

Volto a Dworkin: você pode chegar à resposta adequada a Constituição a respeito de questões políticas e morais controvertidas, como as cotas em Universidades, por exemplo, através de um programa televisivo parcial, ou mesmo jogando uma moeda para cima. Você pode, mas será um irresponsável moral se o fizer. Não há valor em acertar por acaso.

Por isso, retomo aqui um conceito no qual venho insistindo em minhas colunas e livros: a responsabilidade política dos juízes. Quando se cobra do julgador o dever de fundamentar suas decisões, de argumentar com princípios, de responder aos argumentos das partes, de ser coerente etc., não se está propriamente oferecendo a garantia de que suas decisões serão, percorrido este caminho, juridicamente corretas. Não se trata de uma obrigação de resultado, mas de meio[2]: agir responsavelmente em busca da resposta correta tem um valor em si.

De novo: sei lá eu se o juiz da operação lavoura limpa acertou ou errou ao conceder a liberdade aos 21 imputados. Como disse, é provável que sim. Agora, o que posso dizer a vocês (na verdade, devo dizer a vocês — mesmo que uma parcela não goste que eu escreva coisas sofisticadas, porque preferem o mundo do senso comum dos livros resumidinhos, fofinhos e mastigadinhos) é que uma decisão como esta não honra o caráter democrático com que o Direito deve estar comprometido em Estados Constitucionais. A decisão não é legítima, porque não amparada em argumentos de princípio. Não é universalizável, porque não posso simplesmente fazer um bypass no Direito Penal-Processual Penal por conta da (absolutamente constrangedora e, até, criminosa) situação carcerária do país. E, registre-se, nem o juiz deve ter compromissos com os erros institucionais do passado, não é disso que trata o dever de coerência e integridade. Desde quando dois erros fazem um acerto (Ah, mas se o Supremo soltou os caras da "lava jato", então anything goes)?

Enfim. Feita a coluna, hora do vinho, do livro... Até que me apareça uma nova decisão, um novo problema, um novo sentimento de dever. Ao fazer o que faço, lembro-me de Sísifo. A diferença é que não fui condenado a rolar a pedra pela montanha: eu a rolo porque acredito no que faço. Faz escuro, mas...eu canto, dizia o poeta.

Post scriptum 1: Por que Karl Max desistiu de estudar e foi vender drogas
 

Não poderia me furtar a fazer uma brevíssima observação sobre a entrevista da Secretária Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Regina Miki, também presidente do Conselho Nacional de Segurança Pública e presidente da Comissão Nacional de Segurança Pública nos Portos (Conportos). Uau! Como ela consegue fazer tudo isso? Esse governo Dilma sobrecarrega os seus militantes, pois não? Mas, enfim... Diz a secretária que não existe estudo que relacione o uso de drogas com a prática de crimes. Diz que quem diz isso está no senso comum. Hum, hum. Por isso é que minha coluna se chama Senso Incomum! Mas, porque a doutora não vai dizer isso em Harvard? Em Munique, Oxford... O mundo espera por isso. Por que Pindorama sempre é vanguarda? Aliás, já que não há (sic) nenhum estudo, a drogadição e tudo o que se relaciona a esse fenômeno nem existe. 

Como diria o padre Quevedo: Isto não ecxiste! Consequentemente, não se sabe qual é a razão de o país viver esse caos. Aliás, como não há um estudo sobre o caos — morrem mais de 60 mil pessoas por ano vitimas de homicídio e centenas de milhares de assaltos cujas cifras ninguém conhece e dos quais são investigados menos de 8% — ele, o caos, também não existe! A secretária Regina Miki acaba de esclarecer tudo. Bingo!

Outra afirmação dela: “Para o senso comum, se eu não estiver envolvida com droga, com roubo, com quadrilha eu não serei alvo potencial de homicídio”. Como se mede esse senso comum, doutora Miki? Quem disse isso? Alguém pode me dizer se conhece pessoas que pensam assim, fora a própria Secretária? E no que isso explica o caos da segurança pública de Pindorama? O comentarista da ConJur de nome “Palpiteiro da web” matou a charada da “ciência da entrevista da secretária”: 

Primeiro ela diz que “não existe estudo que relacione o uso de drogas com a prática de crimes”. Em seguida, arremata: “(...) o que se tem certeza é que o sistema prisional hoje está superlotado por gente que cometeu ‘pequenos furtos ou roubos para a manutenção de um vício”. Binguissimo!

Desculpem-me, mas não tenho paciência para essas coisas. Essa conversa sessentaoitista do tipo é 
“proibido proibir” e/ou outros argumentos quetais próprios de um infantilismo revolucionário que faria Lenin (que falou da doença infantil...bem, todos sabemos do que trata) corar, já se esgotou. Até Karl Max largou o estudo e foi vender drogas no Rio (não resisto em fazer essa blague — ver aqui). A militância começa a irritar até mesmo os que podem simpatizar, se entendem o que quero dizer!

Mal sabe (ess)a esquerda brasileira que os que mais sofrem com a violência são justamente... os pobres (— putz, não há estatísticas sobre isso...) que a secretária visa a defender (a secretária deve saber o que é tiroteio entre polícia e traficantes, bala perdida-achada, etc, pois não?). Pindorama é jabuticaba. Punir por aqui é visto como algo ruim. E construir presídios é atraso. Acredita-se no homem bom “russoniano” (sic). E, no limite, acredita-se, como disse um preclaro Secretário da Segurança (substituto) de um governo de esquerda no RS nos anos 90, em reunião em que os policiais clamavam por maiores recursos para combater os roubos que assolavam os pampas: assalto acirra a luta de classes (portanto, assaltantes podem ser revolucionários! — pobre Karl, não o do Rio, mas o alemão barbudo). Pois é: assalto acirra a luta de classes... Enfim. A culpa da desastrada entrevista deve ser do Pedro Canário, o entrevistador. Esse Pedro...


Post scriptum 2:  O funk da aula: eis por quê Karl Max largou o direito! É só um beijinho no ombro!

https://www.youtube.com/watch?v=tY6OSEraFfg

 Digam-me, depois de olharem este vídeo, se eu é quem sou birrento, implicante, ou se, de fato, é o réu — ensino jurídico de cursinhos e faculdades tipo-balão — que não se ajuda? O final é magnífico e mostra porque Pindorama não tem mais jeito (depois nos queixamos quando o “mercado” paga R$ 17 ao causídico por uma audiência):

“Vamu aprendê isso aí. Porque isso não é difícil. Na verdade é só um decoreba básico, com muito beijinho no ombro”. (sic)

Mostrei o vídeo para D. Rosane, que repetiu, suspirando, a já clássica frase da mulher do sujeito que chega em casa com piercing no umbigo (ver aqui): “— Meu Deus”. Fujamos para as montanhas. A salvação está no cume.

[1] Estou examinando com os alunos a obra de Dworkin que trata disso (caso Riggs v. Palmer e a formação dos princípios).
[2] Isso está, também, no Levando o Direito a Sério, de Francisco Motta. Esse conceito de epistemologia da responsabilidade é amplamente estruturado por Dworkin em seu Justice for Hedgehogs. Ver também do mesmo Motta, Ronald Dworkin e a decisão jurídica – no prelo.
caricatura lenio luis streck 02 [Spacca]
 é jurista, professor, doutor e pós-Doutor em Direito.


TCU pode declarar empresas inidôneas, decide Plenário do Supremo




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O poder de sanção do Tribunal de Contas da União não se limita à administração pública. Por isso, o órgão tem o poder de declarar empresas privadas inidôneas para participar de licitações e contratar com o poder público. Foi o que decidiu nesta quinta-feira (21/5) o Plenário do Supremo Tribunal Federal, por maioria de votos. Ficou vencido o ministro Marco Aurélio, relator da matéria.

A questão foi levada ao Supremo por meio de Mandado de Segurança interposto por uma empresa de informática declarada inidônea pelo TCU. A companhia alegava que não foram respeitados os princípios do contraditório e da ampla defesa, e declaração de inidoneidade poderia condená-la à falência, trazendo inclusive problemas para os funcionários.


Marco Aurélio: sanção do TCU não pode ir além do que Constituição permite


Fellipe Sampaio/SCO/STF

O ministro Marco Aurélio concordou com o dispositivo do pedido, mas não com a argumentação. No entendimento dele, o artigo 46 da Lei Orgânica do TCU dá ao órgão o poder de sanção a empresas privadas. Entretanto, esse artigo contraria o que diz o artigo 71 da Constituição Federal.

De acordo com Marco Aurélio, o dispositivo constitucional, que define as competências e poderes do TCU, traz uma lista exaustiva, e não exemplificativa. Por isso, não poderia uma lei especial ir além do que autoriza a Constituição.

Ele lembrou que a Lei de Licitações, no artigo 87, diz que a administração pública pode aplicar sanções administrativas a empresas. Entretanto, o parágrafo 3º do artigo diz que essa competência é “exclusiva do Ministro de Estado, do Secretário Estadual ou Municipal, conforme o caso”.


Divergência

O ministro Luis Roberto Barroso foi o primeiro a votar depois do relator e quem inaugurou a divergência. O ministro Teori Zavascki foi o primeiro a acompanhá-lo. De acordo com Teori, sempre que o Supremo julga os poderes de sanção de entes privados, como as entidades do chamado Sistema S (Sesi, Senai, Sesc etc.), ressalvam a submissão deles aos tribunais de contas. Portanto, completou o ministro, não há conflito entre a competência de sanção do TCU e a do ministro de Estado.

O voto do ministro Celso de Mello foi o que detalhou os argumentos da divergência. Segundo ele, “a base normativa que legitima, a partir da própria Constituição Federal, o exercício desse dever-poder de fiscalizar, controlar e reprimir eventuais fraudes ou ilicitudes se perpetrem no seio da administração, na verdade é a base normativa que autoriza o Tribunal de Contas a proceder como fez”.

Além de Celso, Teori e Barroso, divergiram do relator os ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Rosa Weber. O ministro Ricardo Lewandowski estava em compromisso oficial e chegou atrasado na discussão — preferiu não declarar voto.