quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O que a imprensa internacional falou sobre o impeachment





REUTERS/Ueslei Marcelino
Dilma Rousseff no Senado antes de seu impeachment
Dilma Rousseff: imprensa falou sobre como resultado já era esperado pelo PT e pela ex-presidente
 
 
 
São Paulo – Após a conclusão da votação do Senado pelo impeachment e cassação do mandato de Dilma Rousseff, a imprensa internacional já repercutia o assunto. Veículos americanos, europeus e latino-americanos deram destaque ao assunto em seus websites.

O jornal The New York Times ressalta que a votação coloca fim aos anos de governo do PT na Presidência da República. “Seu impeachment não deve restaurar a confiança pública nos líderes do Brasil”, escreve o jornal.
Publicidade

A reportagem cita o PMDB, partido do agora presidente Michel Temer. O texto fala sobre escândalos de corrupção nos quais o partido está envolvido atualmente.

O assunto também foi abordado pelo El País, periódico espanhol. “Brasil chega assim à troca de seu governo mais traumático e esquizofrênico das últimas décadas”, escreve o periódico. O texto lembra que o processo já tinha resultado claro. El País chama a resistência do PT de simbólica, por conta dessa previsibilidade da votação.
 
Clarín, jornal da vizinha Argentina, deu grande destaque para o assunto em sua página inicial. “Se acaba uma era no Brasil”, era o título do texto. A matéria chama o processo de impeachment de “polêmico”. O jornal ainda relembra que é o segundo impeachment após a redemocratização do Brasil.

Clarín fala sobre a imagem frágil de Michel Temer frente à população. O cenário caótico, de acordo com o jornal, se completa com a situação econômica complicada pela qual o Brasil passa.

O também argentino La Nación disse que o processo foi "polêmico, intenso e dramático". O texto ainda afirma que Temer terá um duro desafio até 2018: tirar o Brasil de uma situação econômica complicada.

O francês Le Monde chamou a última semana de “maratona”. O jornal ainda fala que Michel Temer, que assume agora de forma definitiva o cargo, já tem compromisso marcado na China, a reunião do G20.

“Senadores começaram a comemorar e aplaudir depois que o resultado eletrônico foi anunciado, concluindo um processo que foi iniciado em dezembro”, escreve o americano Washington Post.

O jornal ainda relembra que o Brasil viu diversas manifestações pedindo o impeachment da ex-presidente ao longo do último ano.


Michel Temer toma posse às 16h no Senado




REUTERS/Adriano Machado
Michel Temer
Michel Temer: Temer, que ocupa a Presidência de forma interina desde o afastamento de Dilma em maio, pretende realizar ainda nesta tarde sua primeira reunião ministerial na condição de presidente efetivo
 
 
Da REUTERS


Brasília - O presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB-AL), convocou uma sessão solene para as 16h desta quarta-feira para dar posse a Michel Temer como novo presidente da República, logo depois que o Senado condenou a presidente afastada Dilma Rousseff no julgamento do impeachment.

Temer, que ocupa a Presidência de forma interina desde o afastamento de Dilma em maio, pretende realizar ainda nesta tarde sua primeira reunião ministerial na condição de presidente efetivo, segundo uma fonte do governo.

Publicidade
Após a reunião, Temer embarcaria para China entre 19h e 21h, segundo a fonte do governo, que pediu anonimato.

Além desse roteiro, é possível que Temer grave um pronunciamento à nação.

Veja quem são os traidores que votaram pra manter direitos políticos e regalias de Dilma


Principais culpados dessa patifaria, além do PT e parte do PMDB: Rede de Marina Silva, Lewandowski e Renan Calheiros.

Eles, cinicamente, diziam que 'tá certo ganhar, mas, não precisa esmagar. Que Dilma tem direito de ter sua aposentadoria, segurança etc. Ou seja, quebrou o país e ganhou prêmios'.

Fim da picada.

Patifaria total.

É o acordão funcionando. A próxima vítima é a Lava Jato, querem apostar?

O povo tá lascado se não tomar as ruas aos milhões pela Faxina Geral.

Agora, todos falarão em 'união', 'recuperação do país', e 'comemorar a coisa meia boca' feita, a constituição rasgada no dia 31/08/2016 no Senado Federal.



VEJA QUEM VOTOU (SIM) PRA CASSAR DIREITOS E REGALIAS DE DILMA E QUEM VOTOU E (NÃO) PRA MANTER A RAINHA LOUCA COM DINHEIRO DOS IMPOSTOS DOS BRASILEIROS



FONTE: SENADO FEDERAL

Fusão da Cnova e Via Varejo repara erros do passado






ALEXANDRE BATTIBUGLI
Loja do Ponto Frio no Shopping Vila Olímpia
Ponto Frio: a fusão entre Cnova e Via Varejo tem potencial para criar valor para a empresa e os acionistas
 
 
 
São Paulo – Depois de operarem de forma separada por anos, as donas das lojas online e física da Casas Bahia e Ponto Frio irão se unir. Para analistas ouvidos por Exame.com, a união poderá corrigir uma estratégia que não fazia sentido no momento atual, de competição interna por preços e estruturas duplicadas.

A Cnova Brasil, que opera o comércio eletrônico das duas marcas e do Extra.com.br e Cdiscount.com.br, será incorporada completamente pela Via Varejo, responsável pelo varejo físico. 

As duas companhias estão dentro do Grupo Pão de Açúcar.

Segundo a empresa, a fusão, anunciada no começo do mês, tem potencial para criar valor para a Via Varejo e seus acionistas por simplificar a estrutura de governança.

Os analistas do BB Investimentos Maria Paula Cantusio e Victor Penna comentam, em relatório, que "não fazia sentido manter as operações separadas e conservar estruturas duplicadas, como equipe, logística, marketing e estoque para as mesmas marcas".

Além disso, as duas empresas eram concorrentes e prejudicavam uma à outra.

"A dinâmica de competição dos dois canais é diferente e a Cnova adotou uma política de preços agressiva para ganhar mercado. Canibalizava inclusive a Via Varejo", disse o analista Guilherme 

Assis, do banco Brasil Plural. "Não dava lucro e ainda queimava caixa".

Preços bem mais baixos para ganhar mercado no comércio eletrônico não foi uma estratégia usada apenas pelo grupo, mas permeou todo o setor nos últimos anos, afirma Ricardo Neves, sócio e líder de varejo e consumo da consultoria PwC.

No entanto, as operações de e-commerce tinham margens pequenas e não eram eficientes ou lucrativas, diz ele. Com a queda na renda e consequentemente no consumo, essa tática se tornou inviável, ainda mais dentro de um mesmo grupo, como o caso da Cnova e Via Varejo.

Nunes afirma que, hoje, a tendência é a união do físico e online. O lançamento do comércio eletrônico do Carrefour em julho é um exemplo. Além disso, a integração entre os canais tem ajudado a Magazine Luiza a se destacar.
 

Separadas no nascimento


As vendas físicas e online da Casas Bahia e Ponto Frio operavam de forma separada por uma decisão do francês Casino, controlador do Grupo Pão de Açúcar.

O plano era reunir todas operações globais de comércio eletrônico do conglomerado francês em uma mesma empresa, para ganhar com sinergias e ter mais força para negociar com fornecedores multinacionais, como Whirpool, Samsung ou Apple.

Outro motivo era valorizar as ações das empresas de comércio eletrônico na bolsa, já que os investidores tendem a encontrar mais valor em negócios do ramo se comparados a varejistas.

No entanto, a estratégia não deu tão certo, nem globalmente e nem no Brasil, explica o analista da Brasil Plural.

"Lá fora, o Casino enfrentou problemas em seu caixa e precisou vender operações no Vietnã e Tailândia, por exemplo, e a Cnova NV irá fechar o seu capital", afirma ele. "Já no Brasil, o problema foi a competição entre duas empresas do mesmo grupo".

Ano passado, a Cnova Brasil sofreu outro percalço: foram descobertas fraudes na gestão de estoques, que geraram perdas contábeis de R$ 400 milhões ao seu patrimônio.

"Há muitos desafios internos para resolver, ainda que alguns tenham sido aparentemente solucionados depois das investigações, em especial os relacionados à governança corporativa e à contabilidade", afirmam os analistas do Banco do Brasil.
 

Milhões em sinergia


Com a união das duas empresas no Brasil, desaparecem o conflito de interesses e a competição entre duas empresas do mesmo grupo.

Para incorporar completamente a operação da Cnova Brasil, a Via Varejo irá abrir mão de sua participação de 22% da Cnova NV, a companhia global, e ainda desembolsar uma diferença de R$ 16,5 milhões.

Entre os ganhos com a operação, estão a integração das plataformas logística e comercial das duas plataformas e a unificação de equipes.

As empresas projetam sinergias de R$ 245 milhões já em 2017 e ganhos não recorrentes de R$ 325 milhões.


Empresas brasileiras correm para "ajustar" cultura interna





Germano Luders/Exame
João Teixeira, presidente do Banco Votorantin
João Teixeira, presidente do Banco Votorantim (à frente), e seus diretores: há quase dois anos, eles se dedicam a reformular a cultura do banco


São Paulo — A cada três meses o presidente do banco Votorantim, João Teixeira, e três dos 15 diretores da companhia dedicam uma manhã a um encontro que não trata de dados financeiros ou outros indicadores numéricos.

Ao longo de 4 horas eles ouvem 17 representantes de todas as áreas a respeito de termos até pouco tempo atrás estranhos ao vocabulário interno, como “modelos mentais” dos funcionários que ajudam ou atrapalham a execução da nova estratégia do banco.
Publicidade

As informações para a reunião surgem do acompanhamento mensal que esses executivos fazem há mais de um ano com mais de 300 funcionários de diferentes níveis hierárquicos. O pano de fundo é a discussão sobre a cultura do banco. Eis um dos conceitos mais difíceis de definir na gestão — mas ao mesmo tempo fundamental para o sucesso das companhias.

Cultura é a manifestação prática dos valores da empresa. Empresas com cultura forte são normalmente vistas como superiores — por conseguir executar a estratégia de modo eficiente. O problema é quando os valores dizem uma coisa; e a prática, outra. O banco Votorantim está justamente no processo de tentar conectar as duas pontas — ou seja, de corrigir sua cultura.

No fim da década passada, uma sucessão de erros de gestão culminaram em dívidas e prejuízos recordes. Como resultado, um chacoalhão alterou a um só tempo o controle acionário, boa parte da cúpula e, por fim, a estratégia da companhia.

Teixeira assumiu o banco no auge da crise, em 2011, logo depois que o Banco do Brasil tornou-se sócio da família Ermírio de Moraes e passou a deter 50% das ações da companhia. Nos três primeiros anos, viveu o que chama de “modo de sobrevivência”, um período intenso de corte de custos. Desde o final de 2014, o esforço passou a ser a definição de uma nova estratégia para voltar a crescer com lucro.

Muitas delas, porém, entram em conflito com hábitos cultivados por décadas. Um exemplo: a equipe de produtos para o varejo poderia passar a oferecer empréstimos aos funcionários dos clientes corporativos da área de atacado. Mas, num modus operandi sedimentado ao longo de décadas, as pessoas de áreas distintas simplesmente não se comunicavam.

Parte do trabalho com os 17 “embaixadores” da nova cultura é monitorar se tabus como esse estão dando lugar a um novo jeito de trabalhar. “Nos últimos dois anos trabalhamos para evitar que aspectos tradicionais da cultura do banco joguem contra a estratégia”, afirma Teixeira.

Uma pesquisa realizada pela especialista em comportamento organizacional Betania Tanure, e obtida com exclusividade por EXAME, mostra que a preocupação dos diretores do Banco Votorantim coincide com a de muitos outros executivos de empresas brasileiras atualmente. Numa amostra de 2 000 executivos de 500 companhias de grande porte, 69% dos entrevistados afirmam precisar de uma mudança estratégica.

O problema: boa parte deles não acredita que a cultura corporativa atual seja capaz de tirá-la do papel. Trata-se de um dilema tão antigo quanto a existência das grandes corporações. Quando o assunto é a gestão de pessoas, falar é a parte fácil. Difícil é fazer com que as pessoas de fato façam o que precisa ser feito, sobretudo quando para isso é preciso alterar hábitos arraigados.

Uma das frases mais célebres do lendário guru de gestão Peter Drucker é: “Culture eats strategy for breakfast”. Numa tradução livre: “A cultura pode sabotar qualquer estratégia”. Em tese, a equação deveria ser simples. A diretoria desenha uma nova estratégia, depois escreve uma missão e um punhado de valores condizentes.

Os valores são incorporados à rotina dos funcionários e, assim, ajudam a formar uma nova cultura. Diversos estudos em todo o mundo, porém, revelam que esse processo está longe de ser assim tão harmonioso. Um dos levantamentos mais extensos nesse sentido foi realizado por especialistas da escola de negócios Fuqua, da Universidade Duke.

Entre 5 000 executivos de grandes companhias americanas e europeias, mais de 90% dizem que a cultura é importante para os resultados. Mas apenas 15% afirmam que a cultura organizacional vigente é a ideal. Para os autores, o assunto só desperta atenção quando algo dá muito errado.

Um exemplo: quando a montadora alemã Volkswagen reconheceu que fraudava sistematicamente dados sobre o consumo de combustível de seus automóveis. “Normalmente, só depois que os resultados ruins aparecem existe a consciência da inadequação da cultura. E a cultura, na prática, não muda rapidamente”, diz Betania.

Diga-se a favor da maioria que, se existe um consenso sobre o tema, é o de que forjar uma cultura eficiente está longe de ser uma tarefa simples. A primeira dificuldade: ela está lá e é condição vital para que a máquina continue a funcionar. Mas ninguém pode vê-la ou tocá-la. Está entranhada no comportamento de todos os funcionários e no jeito como as decisões são tomadas.

Uma pesquisa global feita pela consultoria Deloitte com cerca de 7 000 executivos neste ano revela que menos de um terço deles afirma entender de fato o conceito de cultura. Lou Gerstner, o lendário executivo que reergueu a gigante de tecnologia IBM nos anos 90, costuma dizer que é mais fácil reconhecer do que definir uma empresa com cultura forte. Nessas companhias, os sinais dela estão por toda parte.

Em vez de desfilar as habituais platitudes sobre filosofia de trabalho, a varejista online Amazon tem um documento com 14 mandamentos para sua equipe. Segundo uma recente reportagem do jornal The New York Times, uma piada interna diz que os “amazonianos” seguem tão fielmente os chamados princípios de liderança que costumam repassá-los até para seus filhos.

Os símbolos da cultura que prega a inovação e o questionamento contínuo estão nos detalhes: um dos prédios da companhia leva o nome de “Day One”, como uma lembrança de que todos os dias devem ser como o primeiro de existência da companhia.

As reuniões não começam com apresentações de PowerPoint — e sim com cerca de meia hora de leitura silenciosa de seis páginas de texto preparadas por quem vai conduzir o encontro. “Quando você tem de expressar suas ideias em frases e parágrafos completos, é preciso ter mais clareza sobre suas ideias”, disse o fundador Jeff Bezos.

“A cultura de uma empresa é criada devagar, ao longo do tempo, pelas pessoas e pelos eventos. Para o bem ou para o mal, é algo estável, duradouro e difícil de mudar”, escreveu Bezos em sua carta aos acionistas deste ano. Por vezes, a determinação na hora de cristalizar crenças e hábitos parece beirar o fanatismo religioso.

É o caso da varejista de calçados americana ­Zappos, comprada pela Amazon em 2009, mas que manteve a gestão independente. Todos os funcionários passam as três primeiras semanas de trabalho no call center, atendendo clientes. Após esse período, a empresa oferece 3 000 dólares para que o recém-contratado deixe a companhia caso não tenha se identificado com o estilo de trabalho.

Todos os anos, os funcionários escrevem conjuntamente um livro, aberto ao público na internet, sobre o que acham a respeito da cultura da companhia. Reed Hastings, fundador da americana Netflix, considera sua cultura tão importante que montou uma apresentação de 124 páginas para detalhá-la. O documento já foi visto quase 15 milhões de vezes desde 2009.

O pesquisador americano James Heskett, professor emérito na escola de negócios da Universidade Harvard, foi um dos primeiros a estabelecer uma correlação direta entre cultura e resultados financeiros. Nos últimos 30 anos, Heskett analisou dados de mais de 200 empresas dentro e fora dos Estados Unidos.

De acordo com ele, uma cultura eficiente influencia positivamente aspectos não financeiros do negócio — como retenção de funcionários, relacionamento com o cliente e lealdade dos consumidores a produtos e serviços.

A conclusão foi que quase metade da diferença de lucro operacional entre algumas das empresas e suas concorrentes diretas se deve à cultura. “Diversos aspectos entram na conta, como a retenção e a produtividade dos funcionários”, disse Heskett a EXAME (veja entrevista na pág. 78).

 

Vida ou morte


Se criar uma cultura eficiente não é fácil, mudá-la é ainda mais complicado. A natureza humana joga contra. Mesmo em questões de vida ou morte, mudar, em geral, significa um esforço hercúleo. Estatísticas americanas mostram que apenas 20% dos pacientes com problemas cardíacos adotam novos hábitos necessários para aumentar sua expectativa de vida.

Quem se aventura num processo de mudança de cultura deve saber que esse é um caminho longo. Segundo: falar é importante, mas não basta. Atitudes tendem a ser mais eloquentes. É o que mostra a emblemática tentativa do banco Itaú de tirar o peso de sua hierarquia na última década. O banco fechou as portas do “gravatinha”, restaurante exclusivo para supervisores e gerentes, desativado em 2008.

Agora os funcionários de médio escalão fazem as refeições com seus subordinados. Na mesma época, Roberto Setubal, presidente do banco, enviou um e-mail a todos os funcionários no qual pedia para ser chamado simplesmente de Roberto — no lugar do pomposo “doutor” Roberto.

Desde 2010 ele lidera o chamado “encontro de líderes”, que reúne 6 000 executivos religiosamente uma vez por ano para discutir o “jeito Itaú de ser”. É algo novo dentro do que já foi um ambiente bem mais sisudo e formal. Os executivos da geradora e distribuidora de energia EDP no Brasil constataram na prática que esse processo exige persistência.

O primeiro esforço da subsidiária para unificar a cultura de suas operações, formada após uma série de aquisições, ocorreu em 2005, quando a companhia passou a ter ações negociadas em bolsa. Tudo aconteceu em poucas semanas. Primeiro, os diretores se reuniram e pensaram num conjunto de valores.

A lista foi publicada na intranet e impressa nos crachás. “Com o tempo, era algo que estava ali, mas ninguém lembrava que existia”, diz Miguel Setas, presidente da companhia no Brasil. Para sair do discurso e ter efeitos práticos, a nova tentativa de formação de cultura, iniciada em setembro de 2014, foi diferente.

Em vez de simplesmente comunicar os mais de 6 000 funcionários sobre a missão e os valores estabelecidos para a companhia, a diretoria decidiu consultá-los. Numa pesquisa, todos — desde eletricistas até funcionários dos escritórios — tiveram a chance de apontar os problemas mais frequentes no ambiente de trabalho. “Em geral se gasta uma semana para definir uma missão”, afirma Setas.

“Levamos oito meses para ouvir todo mundo.” Em outras proporções, algo semelhante aconteceu na empresa de fidelidade Dotz. Durante três meses, uma série de entrevistas com boa parte dos cerca de 300 funcionários ajudou a identificar que não havia uma visão única entre eles sobre o propósito da empresa. “O levantamento deixou claro onde estavam os pontos críticos”, diz Roberto Chade, presidente da Dotz.

Sem “aliados” do processo para manter a discussão constantemente ativa entre os funcionários, é muito provável que o assunto logo caia no esquecimento. No caso da EDP, foram recrutados voluntários de diversos níveis hierárquicos para conduzir encontros periódicos para discussão dos valores e de maneiras de colocá-los em prática. De início, os diretores esperavam que houvesse pelo menos 100 interessados.

Hoje há 200 deles, treinados especialmente para a função. Nem todos os encontros foram um sucesso. Mas as coisas melhoraram quando Miguel Setas, o presidente, apareceu de surpresa em alguns deles. “É difícil ganhar a adesão espontânea de toda a equipe, por isso o exemplo do líder é fundamental”, afirma Luis Gouveia, diretor de cultura organizacional da EDP.

A própria escolha desses embaixadores da cultura leva em conta a lógica de que o exemplo é tudo. Entre os voluntários, apenas os que eram considerados exemplares foram aceitos.

Na fabricante de material de construção Duratex, que iniciou um processo semelhante em meados de 2015, o critério de seleção dos multiplicadores foi o mesmo — foram escolhidos 16 funcionários para coordenar encontros mensais a partir de outubro. A tarefa deles é ir fundo nas razões que podem dificultar a mudança.

“Na hora de mudar, muitos dizem: ‘O que eu ganho com isso? Já estou fazendo minha parte’”, afirma Marcelo Linardi, gerente de relacionamento com o cliente do Banco Votorantim e um dos 17 eleitos “embaixadores da cultura”. Novos parâmetros de avaliação de desempenho e de distribuição de bônus costumam ser incentivos convincentes.

Na EDP, só havia metas financeiras para balizar esses dois processos. Hoje, mais de 3 000 funcionários são avaliados segundo indicadores como satisfação de clientes e desenvolvimento de fornecedores, identificados como pontos críticos da cultura da empresa. Quando o trabalho pode ser dado por encerrado? Em geral, o esforço extra para fortalecer uma nova cultura dura de dois a três anos.

Manter “embaixadores”, por exemplo, é saudável por um tempo. “Depois as pessoas passam a pensar de uma mesma maneira automaticamente”, diz a especialista Betania Tanure. Por definição, o fortalecimento da cultura é um processo que nunca acaba. Depende apenas — e isso não é pouco — da coerência entre o que se fala e o que se faz.


Economia brasileira "estava morrendo e dá sinais de vida"




Otavio Silveira / VOCÊ S/A
Bonecos de papel feitos com notas de 100 reais
São Paulo - "O cenário é melhor que há uns meses atrás, mas ainda é o inicio do processo. O paciente estava morrendo e agora dá sinais de vida; em algum momento vai sair da UTI e ir para o quarto".

A frase é de Silvia Matos, coordenadora do boletim macroeconômico do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV).
Publicidade

O balanço foi feito a partir dos dados do Produto Interno Bruto (PIB) no 2º trimestre de 2016 divulgados hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A queda da atividade foi de 0,6% em relação ao trimestre anterior e de 3,5% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, mas alguns números já aparecem positivos.
 

Investimento


É o caso do investimento, que caía há 10 trimestres consecutivos e subiu 0,4%. A taxa de investimento desabou quase dois pontos percentuais de um ano pro outro, mas pode ter achado um piso.

“Essa é a boa notícia do dado divulgado hoje. Com tudo que está acontecendo, era para se esperar que viesse mais tarde”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Ele diz que a produção ficou sucateada depois de tanto tempo sem investimento, e que o aumento dos índices de confiança após a mudança de governo faz com que o empresário já se prepare para uma melhora futura:

"Você teve uma destruição de estoque de capital e com as perspectivas melhorando para frente, o empresário precisa decidir se recupera o capital e isso deve ser suficiente para esse número reagir", resume Rodrigo Miyamoto, economista do Itaú Unibanco.
 

Indústria


Um caso parecido acontece na indústria, que subiu 0,3% no trimestre após 5 trimestres consecutivos de queda. Por muito tempo, ela foi capaz de produzir menos e viver de estoques acumulados, mas eventualmente eles vão se esgotando.

Mesmo com os sinais positivos, não espere recuperação forte: a ociosidade continua grande e a virada na confiança só vai acontecer para valer quando ficar provado que o novo governo tem capacidade de aprovar reformas fiscais profundas.

O motor da recuperação será “a estabilização do ciclo de inventário e a recuperação recente dos indicadores de sentimento dos consumidores e dos negócios, motivado pela expectativa de que a nova administração estará inclinada e será capaz de dar uma virada no cenário fiscal e aprovar as reformas estruturais necessários para tornar a economia mais flexível e produtiva”, diz a nota de Alberto Ramos, líder de pesquisa em América Latina do Goldman Sachs.
 

Consumo


No momento, mesmo com reação do investimento e indústria, o consumo das famílias continua em queda livre: 0,7% em relação ao trimestre anterior e 5% na comparação anual.

É o resultado da combinação perversa entre inflação e juros altos, crédito escasso e uma queda de quase 10% na renda per capita, a segunda pior do século, somados com uma taxa de desemprego em alta e que não deve ceder tão cedo.

"O consumo das famílias deve crescer muito pouco no ano que vem e por trás disso está o mercado de trabalho, que reage mais tarde à recuperação da atividade", diz Rodrigo.

É isso que também derruba o resultado dos serviços, cada vez mais significativos na economia e que caíram  2,1% em relação ao trimestre anterior e 3,3% na comparação anual.

Para Silvia, o otimismo com o novo governo pode ajudar também aqui ao gerar um ciclo positivo. A entrada de recursos externos valoriza o real, que assim pressiona menos a inflação, o que abre espaço para o Banco Central cortar os juros mais rápido.

Mas um real mais forte também tem um lado ruim, como mostraram os meses recentes. As importações voltaram a subir e o setor externo, que era o único fator positivo nos últimos trimestres, já não deve fazer esse papel.

"Com recessão profunda até junho, foi um momento de queda de importações. Agora tem essa virada por causa da mudança de perspectiva, do câmbio mais valorizado e crescimento fraco lá fora", diz Vale.
 

Previsões


Com os números de hoje, a MB Associados revisou a queda do PIB em 2016 de -3,3% para -3,1%, enquanto a previsão para o ano que vem segue em 2%.

“Acreditamos que a economia brasileira está respondendo bem à mudança de governo e equipe econômica”, diz a nota do Banco Fibra, que revisou a projeção para 2016 de -3,5% para 3% e manteve a de 2017 em 2,1%..

A média do mercado é mais baixa: o Itaú Unibanco e o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV) seguem prevendo um crescimento de apenas 1% em 2017.


Caiu! Dilma sofre impeachment e não é mais presidente





REUTERS/Ueslei Marcelino
Dilma Rousseff em seu último ato público antes do seu impeachment
Dilma Rousseff: julgada culpada pelo Senado, petista deixa a Presidência do Brasil
 
 
 
 
 
São Paulo – Dilma Rousseff não é mais presidente do Brasil. Com 61 votos a favor e 20 contra, o Senado julgou a petista culpada por cometer crimes fiscais quando estava no cargo. A votação foi o último capítulo do processo que se iniciou em dezembro do ano passado.

O resultado não foi surpresa. Nas horas anteriores à votação, membros do Partido dos Trabalhadores (PT) e aliados de Dilma já esperam por um revés. O discurso de defesa da petista não foi capaz de mudar o voto de um número suficiente de senadores. A votação interrompe um longo período de governo federal sob comando do PT. Este era o quarto mandato consecutivo do partido – dois de Luiz Inácio Lula da Silva (de 2003 a 2010) e dois de Dilma (de 2011 a 2016).
Publicidade

Ao longo dos últimos meses, o Brasil assistiu a um processo longo e, em alguns momentos, tumultuado. Tudo começou no final de 2015. O então presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha acatou um dos pedidos de impeachment contra Dilma Rousseff. A acusação foi escrita pelos juristas Miguel Reale Júnior, Hélio Bicudo e Janaína Paschoal.

A acusação afirmava que Dilma Rousseff havia cometido crimes de responsabilidade fiscal. Em muitos momentos, no entanto, se dizia que Dilma era julgada também pelo "conjunto da obra".

Um dos passos mais significativos foi a aprovação do pedido de abertura do processo na Câmara dos Deputados. Em abril deste ano, os deputados votaram pela abertura. Foram 367 votos a favor – eram necessários ao menos 342 votos. Ali, a desarticulação política do governo Dilma passou a ser notada de forma escancarada.

Depois disso, o processo seguiu para o Senado. O senador Antonio Anastasia (PSDB) foi escolhido como relator do processo. Em maio, ele apresentou relatório sugerindo instauração do processo de impeachment.

Após votação, o plenário do Senado decidiu que Dilma deveria ser afastada por até 180 dias do cargo. Na ocasião, 55 senadores votaram pelo afastamento e 22 pela permanência da presidente. Com o resultado, o vice-presidente Michel Temer arrumiu o governo de forma interina.

A partir desse momento, quem assume a responsabilidade pelo rito do impeachment é o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski. Foi sob o comando dele que a etapa final do processo aconteceu durante a última semana.

A sessão foi única, mas dividida em várias dias e serviu como julgamento. O ápice foi na segunda-feira com a defesa pessoal de Dilma no Senado. A petista se defendeu com um longo discurso, citando o regime militar e o enfrentamento de um câncer. Ao longo do dia, Dilma ainda respondeu a perguntas de 48 senadores (foram 349 minutos em respostas).

Dilma foi à Casa acompanhada do ex-presidente e seu padrinho político Lula. Ex-ministros e o músico Chico Buarque também faziam parte da comitiva da presidente. Mesmo com esse time, o pronunciamento de Dilma não foi suficiente para mudar muitos votos de senadores.

A última chance de salvação para a petista ficou nas mãos de seu advogado, José Eduardo Cardozo, que fez sua sustentação na terça-feira. A acusação também fez sua apresentação, com Janaína Paschoal e Miguel Reale Júnior.

Ao longo do processo, algo ficou claro: Dilma e o PT perdiam apoio a cada votação. No julgamento não foi diferente. Com a votação, Dilma é julgada culpada e tem seu mandato impedido. Chega ao fim sua permanência no cargo de chefe do executivo, assim como o governo federal sob comando petista.