Otavio Silveira / VOCÊ S/A
São Paulo - "O cenário é melhor que há uns meses atrás, mas ainda é o
inicio do processo. O paciente estava morrendo e agora dá sinais de
vida; em algum momento vai sair da UTI e ir para o quarto".
A frase é de Silvia Matos, coordenadora do boletim macroeconômico do
Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV).
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O balanço foi feito a partir dos dados do Produto Interno Bruto (PIB) no 2º trimestre de 2016 divulgados hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A queda da atividade foi de 0,6% em relação ao trimestre anterior e de
3,5% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, mas alguns números já
aparecem positivos.
Investimento
É o caso do investimento, que caía há 10 trimestres consecutivos e subiu
0,4%. A taxa de investimento desabou quase dois pontos percentuais de
um ano pro outro, mas pode ter achado um piso.
“Essa é a boa notícia do dado divulgado hoje. Com tudo que está
acontecendo, era para se esperar que viesse mais tarde”, diz Sérgio
Vale, economista-chefe da MB Associados.
Ele diz que a produção ficou sucateada depois de tanto tempo sem
investimento, e que o aumento dos índices de confiança após a mudança de
governo faz com que o empresário já se prepare para uma melhora futura:
"Você teve uma destruição de estoque de capital e com as perspectivas
melhorando para frente, o empresário precisa decidir se recupera o
capital e isso deve ser suficiente para esse número reagir", resume
Rodrigo Miyamoto, economista do Itaú Unibanco.
Indústria
Um caso parecido acontece na indústria, que subiu 0,3% no trimestre após
5 trimestres consecutivos de queda. Por muito tempo, ela foi capaz de
produzir menos e viver de estoques acumulados, mas eventualmente eles
vão se esgotando.
Mesmo com os sinais positivos, não espere recuperação forte: a
ociosidade continua grande e a virada na confiança só vai acontecer para
valer quando ficar provado que o novo governo tem capacidade de aprovar
reformas fiscais profundas.
O motor da recuperação será “a estabilização do ciclo de inventário e a
recuperação recente dos indicadores de sentimento dos consumidores e dos
negócios, motivado pela expectativa de que a nova administração estará
inclinada e será capaz de dar uma virada no cenário fiscal e aprovar as
reformas estruturais necessários para tornar a economia mais flexível e
produtiva”, diz a nota de Alberto Ramos, líder de pesquisa em América
Latina do Goldman Sachs.
Consumo
No momento, mesmo com reação do investimento e indústria, o consumo das
famílias continua em queda livre: 0,7% em relação ao trimestre anterior e
5% na comparação anual.
É o resultado da combinação perversa entre inflação e juros altos, crédito escasso e uma queda de quase 10% na renda per capita, a segunda pior do século, somados com uma taxa de desemprego em alta e que não deve ceder tão cedo.
"O consumo das famílias deve crescer muito pouco no ano que vem e por
trás disso está o mercado de trabalho, que reage mais tarde à
recuperação da atividade", diz Rodrigo.
É isso que também derruba o resultado dos serviços, cada vez mais
significativos na economia e que caíram 2,1% em relação ao trimestre
anterior e 3,3% na comparação anual.
Para Silvia, o otimismo com o novo governo pode ajudar também aqui ao
gerar um ciclo positivo. A entrada de recursos externos valoriza o real,
que assim pressiona menos a inflação, o que abre espaço para o Banco
Central cortar os juros mais rápido.
Mas um real mais forte também tem um lado ruim, como mostraram os meses
recentes. As importações voltaram a subir e o setor externo, que era o
único fator positivo nos últimos trimestres, já não deve fazer esse
papel.
"Com recessão profunda até junho, foi um momento de queda de
importações. Agora tem essa virada por causa da mudança de perspectiva,
do câmbio mais valorizado e crescimento fraco lá fora", diz Vale.
Previsões
Com os números de hoje, a MB Associados revisou a queda do PIB em 2016
de -3,3% para -3,1%, enquanto a previsão para o ano que vem segue em 2%.
“Acreditamos que a economia brasileira está respondendo bem à mudança de
governo e equipe econômica”, diz a nota do Banco Fibra, que revisou a
projeção para 2016 de -3,5% para 3% e manteve a de 2017 em 2,1%..
A média do mercado é mais baixa: o Itaú Unibanco e o Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV) seguem
prevendo um crescimento de apenas 1% em 2017.
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