Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado de açúcar encerrou a semana cotado a 19.71 centavos
de dólar por libra-peso no vencimento outubro/2016, com queda de 64
pontos em relação à semana anterior e muita pressão sobre o spread
outubro/março em função, provavelmente, de rolagem por parte dos fundos,
que carregam (ainda) uma posição comprada de 330 mil lotes.
Independentemente da imensa posição mantida pelos fundos, da tomada de lucros no mercado futuro, da trajetória do real em relação ao dólar, do volume de cana a ser moído nesta safra ou a quantidade de açúcar a ser entregue na expiração do contrato de NY com vencimento outubro/2016, o fato que preocupa àqueles que se debruçam para analisar a oferta e demanda de açúcar e etanol no Brasil são os números.
Resolvemos fazer o seguinte
exercício que gostaríamos de dividir com vocês. Existe consenso entre
os principais analistas do mercado, e podemos incluir entre eles
executivos em posição de comando das mais importantes empresas do setor,
que dificilmente a expansão do canavial no Brasil ultrapassará os
2.5-3.0% ao ano de crescimento para as próximas 5 safras. Nosso
pretencioso exercício de futurologia abrange a safra 2017/2018 até a
safra 2021/2022.
Primeiramente, para analisar o consumo potencial no Brasil, tanto de etanol quanto de açúcar, estimamos que a mistura de etanol na gasolina vá se manter em 27%, muito embora saibamos que esse número – como se vai demonstrar a seguir – dificilmente se manterá de pé e o Brasil vai continuar privilegiando a produção de açúcar por esse ter um melhor retorno para os produtores.
Com a provável retomada da economia brasileira a partir de 2017, e assumindo conservadoramente o crescimento do PIB para os anos seguintes, é factível que a frota brasileira de veículos leves ultrapasse os atuais 35.8 milhões de unidades para 46.2 milhões de unidades em meados de 2022 e, com ele, o crescimento do consumo de combustível Ciclo Otto. Chegaríamos ao final do período analisado consumindo 63.4 bilhões de litros. Ora, esse incremento corresponde à necessidade que em 2021/2022 estejamos moendo no Brasil um adicional de 126 milhões de toneladas de cana comparativamente ao ano safra em curso.
Ainda fazendo parte do mesmo exercício, assumimos que o Brasil manterá sua participação no mercado mundial de açúcar e que o consumo doméstico seguirá o crescimento vegetativo. Ocorre que, a menos que tenhamos expansões de grande magnitude por parte dos países produtores que competem com o Brasil, no atual cenário, se analisarmos a oferta e a demanda mundial de açúcar, sem considerar o Brasil, temos um déficit de 33.5 milhões de toneladas para a safra 2017/2018. Como o Brasil deve produzir 40 milhões de toneladas no ano que vem e consumir cerca de 11.6 milhões de toneladas, vai deixar disponível para o mundo 28.4 milhões de toneladas, insuficientes para atender às 33.5 milhões de toneladas acima citadas, gerando um déficit de 5.1 milhões de toneladas.
Já deu para perceber que o número não fecha pois do lado da oferta temos um setor que não consegue expandir além de 2.5% ao ano e do lado da demanda temos a perspectiva de uma economia se recuperando e o consumo mundial de açúcar e doméstico de combustível impossibilitados de atenderem ao volume demandado.
As alternativas são: a) a expansão do canavial, já descartada porque assumimos o crescimento pífio de 2.5-3.0% ao ano; b) a retomada de investimentos no setor que, dada a falta de transparência na formação de preços dos combustíveis e seu reflexo no preço do hidratado afugentam qualquer investidor que saiba usar as quatro operações aritméticas; c) a importação de gasolina e ou etanol de milho para atender à demanda que não consegue ser atendida pelo etanol; d) aumento substancial no preço da gasolina para trazer o consumo nos níveis que pode ser atendido pela oferta.
Pela simulação que fizemos, a oferta de etanol no Brasil terá que ser reduzida entre 14 e 16%, afetando a atual mistura do etanol na gasolina de 27% proporcionalmente. Como os investimentos possíveis no setor apontam para um aumento na capacidade de cristalização (produção de açúcar), a oferta de etanol pode ser ainda mais afetada enquanto a diferença entre o açúcar e o hidratado se mantiver nos altos prêmios do primeiro em relação ao segundo.
Para zerar essa situação de aperto entre a oferta e demanda, tanto do etanol quanto do açúcar, o mundo perfeito seria que em 2021/2022 o Brasil produzisse 214 milhões de toneladas de cana a mais do atual nível de produção de 660-670 milhões (Centro-Sul e Norte/Nordeste), ou seja, uma tarefa improvável para não dizer impossível.
A solução, se a buscarmos nos livros de economia, é aumento de preço nos combustíveis. Achamos improvável a importação de 6.7 bilhões de litros anuais a partir de 2017/2018 que é o déficit que a análise mostra porque não há logística para isso, dizem os especialistas. Enquanto isso, tem muita gente apostando que a safra 2017/2018 no Centro-Sul não atinge as 600 milhões de toneladas de cana.
Assim sendo, da mesma forma que tivemos cinco anos de superávits mundiais de 2010/2011 até 2014/2015, nada impede que tenhamos a mesma história só que do lado do déficit. Não temos dúvidas que estamos apenas no início de um período de bastante volatilidade. Apertem bem os cintos que a viagem vai ser punk.
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E o Lula, hein? Quando será que ele vai ser preso? Depois que defenestrarmos definitivamente a mais incompetente presidente da história republicana brasileira? A torcida é grande e minha garrafa de Blue Label espera impaciente ser sorvida (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.)
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