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Anielle Guedes, fundadora da Urban 3D, que quer revolucionar a construção civil
São Paulo – A falta de moradia adequada é um dos maiores desafios
globais hoje. No Brasil, mais de 11 milhões de pessoas vivem em favelas,
segundo dados do último Censo. E a jovem empreendedora Anielle Guedes quer ajudar a acabar com esse problema.
Com apenas 23 anos, Anielle é dona da Urban 3D, uma startup
que tem chamado a atenção da ONU e do governo norte-americano. A
empresa quer “apenas” revolucionar uma das indústrias mais estratégicas
do mundo: a construção civil. Como? Usando tecnologias de ponta como robótica, impressão 3D, internet das coisas e softwares avançados de gestão.
“Queremos tirar a construção civil da idade da pedra. Ainda hoje esse
setor usa processos extremamente artesanais, com muita perda de
material. Queremos trazê-lo para o que chamamos de manufatura avançada”,
explica.
Como funciona?
O processo da Urban 3D funciona assim: A empresa vende sua tecnologia
para construtoras interessadas. A partir daí, elabora um projeto e
constrói uma fábrica de concreto pré-fabricado usando os aparatos
tecnológicos mais modernos.
“Na fábrica eu tenho um robô que é capaz de ler um projeto em 3D. Nessa
leitura, ele vai identificar onde tem parede de concreto, quais são os
buracos, onde estão os canos etc. Então, ele imprime um molde em 3D e
depois entra com o concreto”, explica a empreendedora.
As placas depois recebem sensores que serão usados para rastreamento em
estoque, transporte e para acompanhamento dentro da obra.
O próprio material usado nessas placas também pode ser diferente: a
startup oferece ao cliente a possibilidade de usar concreto reciclado e
até mesmo materiais como plástico na massa, tornando a obra mais
sustentável e mais barata.
Imagem do braço robótico, uma das estruturas da fábrica de concreto da Urban 3D
Com isso, a expectativa é que seja possível erguer um prédio de 12
andares em apenas algumas semanas, com economia de 30% em relação ao
custo de um prédio feito com concreto pré-fabricado.
Em relação a um
processo que não usa o pré-fabricado, a economia pode ser muito maior e
chegar a 80%.
“É como se comparássemos a cozinha da avó a uma cadeia de fast food. O modo de produzir é muito diferente”, compara Anielle.
E completa: “Com isso, vamos transformar a indústria em algo mais
eficiente pra que haja mais acesso a moradia e infraestrutura adequada. É
uma solução de mercado para que isso exista”.
Imagem da fábrica automatizada de concreto da Urban 3D
Fundada em 2015, a startup tem hoje duas construtoras clientes, uma em
São Paulo e uma em Minas Gerais, além de um contrato em discussão na
região Nordeste e outras empresas interessadas no Sul do país, Rio de
Janeiro e interior de São Paulo. Os contratos já existentes estão em
fase de elaboração do projeto executivo, para então iniciar a construção
da fábrica.
A empresa já recebeu um aporte com valor não revelado e está neste
momento com sua segunda rodada de investimentos aberta. “Tem muita gente
interessada, no Brasil e no exterior. Porque isso é algo que precisa
ser feito, a indústria precisa dessa mudança. Se não formos nós, outra
pessoa vai fazer”, afirma a empreendedora.
Causa da moradia
Anielle chama a atenção pela inteligência. A jovem foi tradutora da
anistia internacional aos 12 anos e iniciou duas graduações (física e
economia), que abandonou por serem “muito engessadas”.
Ela já palestrou em mais de 14 países em organizações como ONU, G20 e
Banco Mundial e está entre os 30 jovens mais talentosos abaixo de 30
anos da Revista Forbes 2016.
Em 2014, Anielle foi fazer uma pós-graduação na Singularity Universtiy,
da Nasa, onde entrou em contato com muitas das tecnologias que usa hoje
em seu negócio.
Porém, o interesse pelo problema da moradia veio antes. Em 2012, ela
trabalhou como tradutora para uma equipe do MIT (Massachusetts Institute
of Technology), que veio ao Brasil estudar as favelas e para isso
passou um tempo vivendo em algumas favelas e São Paulo.
“Conheci um pouco dessa realidade de perto e vi como a falta de
infraestrutura afeta várias áreas da vida da pessoa. Não é só não ter
uma casa. É não ter um endereço fixo, e isso te impedir de arrumar
trabalho. Ou viver em condições insalubres, e seus filhos ficarem muito
doentes”, conta.
“Essa foi uma experiência impactante para mim e me fez estar
comprometida com a causa da moradia. Do outro lado, o que encontrei foi
uma indústria completamente ineficiente. É como se tivesse oferta de um
lado e demanda do outro e elas não estivessem se cruzando”, completa a
empreendedora.
Os desafios de fazer esses dois lados se cruzarem, no entanto, são
muitos. Afinal, não é fácil quebrar paradigmas numa indústria tão
poderosa como a da construção civil -- a começar pela predominância dos
homens à frente das empresas do setor.
“Hoje fica claro para mim que existe um preconceito inerente. É como se,
por ser mulher e jovem, eu tivesse que provar 30 vezes mais a minha
capacidade. É como se automaticamente eu não tivesse credibilidade. Já
ouvi muita coisa, como ‘Tem um engenheiro homem por aí?’. Mas acredito
que esse tipo de coisa se dissipa com fatos e realizações”, afirma.
Considerando os planos ambiciosos de Anielle, isso não será problema.
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