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Energia: na quinta-feira, o Ministério de Minas e Energia afirmou que
pretende abrir uma consulta pública sobre o tema"ainda este ano
Da REUTERS
São Paulo - A intenção do governo de abrir ainda neste ano uma ampla discussão para rever parâmetros de cálculo dos preços spot da energia elétrica
no Brasil tem gerado tensão no mercado e ajudado a elevar os preços de
contratos de eletricidade para entrega a partir de 2017.
A mudança no Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), que é utilizado
no mercado de curto prazo mas também influencia contratos mais longos, é
elogiada por especialistas porque poderia levar mais realismo ao custo
da energia e incentivar investimentos em geração.
No entanto, a incerteza sobre seus efeitos práticos reduziu a liquidez e
aumentou a cautela nas operações de compra e venda de energia. A
cotação de contratos de longo prazo de energia convencional no mercado
livre de eletricidade, no qual grandes consumidores negociam diretamente
com comercializadores e geradores, já subiu mais de 27 por cento desde a
primeira fala do governo sobre a possível revisão.
Na quinta-feira, o Ministério de Minas e Energia afirmou à Reuters que
pretende abrir uma consulta pública sobre o tema "ainda neste ano" para
que "entidades e a sociedade possam participar do debate", mas não disse
quando uma eventual mudança entraria em vigor.
"Para o ano que vem ainda tem essa incerteza, ainda não foi definido se
vai ter uma mudança ou não. Então os agentes acabam deixando para
comercializar sua energia um pouco mais à frente", afirmou o sócio da
consultoria Focus Energia, Alan Zelazo.
"Há um componente enorme de insegurança. Dependendo de como você
calibrar isso, pode ter um efeito no preço brutal, então tem muita
incerteza no ar... os preços de mercado estão subindo bastante. Com a
incerteza regulatória fica difícil fazer qualquer previsão", disse o
sócio da comercializadora Compass Energia, Marcelo Parodi.
No Brasil, os preços spot são calculados por modelos matemáticos que
simulam as condições futuras de operação do sistema com base em
informações como o nível de chuvas nas hidrelétricas e o consumo, entre
outros fatores.
Segundo o ministério, o objetivo da revisão é "alinhar cada vez mais a
realidade física elétrica com a realidade teórica", o que envolverá uma
análise do "conjunto de dados e métodos usados atualmente e possíveis
aprimoramentos".
Para o professor da Pontífice Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-RJ) Alexandre Street, que conduz um estudo sobre os modelos que
calculam o preço spot, se essa mudança fosse tecnicamente bem conduzida,
o PLD poderia ficar mais alto em média, mas também deveria apresentar
uma menor volatilidade.
"Incluir mais realismo no modelo... mitigaria os grandes picos de PLD
decorrentes da inconsistência entre o que o modelo planeja e o que é
realizado de fato... as grandes variações de PLD são fortemente
reduzidas quando o modelo incorpora restrições simples, de transmissão,
critério de segurança, dentre outras", explicou.
Mudança complexa
Street elogiou a intenção de rever os cálculos e disse que adotar dados
mais refinados, e até auditados, sobre produtividade de usinas,
cronogramas de entrada de obras e projeções de carga, por exemplo, será
um passo vital para que o preço reflita melhor a realidade do mercado.
O especialista defende que dar realismo a esses dados de entrada é até
mais importante que alterar os parâmetros que definem o quanto de
"pessimismo" será adotado na simulação de cenários futuros --a chamada
aversão a risco dos cálculos, que foi alterada pela última vez em 2013.
Ele levantou dúvidas, no entanto, sobre a possibilidade de implementar a
mudança planejada de maneira tecnicamente apropriada antes de 2017, que
é quando o mercado especula que a revisão poderá entrar em vigor.
"Precisamos de robustez... para que essa revisão não seja apenas mais
uma e dê os resultados que se espera... essa revisão deve ser ampla,
deve envolver os agentes, universidades e o governo. Precisamos testar
os seus impactos... isso é coisa para no mínimo um ano", afirmou.
A Apine, associação que reúne investidores em geração de energia, disse
que as empresas ainda não estão envolvidas na discussão e não conhece as
mudanças que poderão ser adotadas, mas vê a iniciativa com bons olhos.
"Preço mais realista é positivo para todo mundo, é o que mantém a
estrutura de investimento viável... muitas vezes as pessoas esquecem
desse fato, pensam que o interesse do consumidor é só energia barata e
acabam esquecendo que se é artificialmente barata acaba comprometendo a
expansão", afirmou o presidente da Apine, Guilherme Velho.
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