Agência Brasil
São Paulo – Em seu discurso inicial de defesa para o Senado, a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) adotou um tom mais emocional do que técnico. Reforçou a tese de que o processo de impeachment em
curso é um golpe contra a democracia e voltou a repetir elementos dos
discursos que marcaram os 110 dias em que esteve apartada do poder. Veja
íntegra do discurso.
A sessão de hoje — uma das principais do julgamento final — começou com
meia hora de atraso com casa lotada. Dilma Rousseff falou durante cerca
de 44 minutos aos senadores.
Da galeria do plenário, era ouvida atentamente pelo ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, seu padrinho político, que acompanhou o discurso
ao lado do cantor Chico Buarque e outros 30 convidados da petista.
A presidente afastada abriu sua fala inicial lembrando que foi eleita
por 54 milhões de votos e que jamais “praticaria atos contrários aos
interesses daqueles” que a elegeram. Ela admitiu que, nessa jornada
longe do cargo, ouviu muitas críticas e as acolhia com humildade. “Até
porque, como todos, tenho defeitos e cometo erros”, disse.
Ditadura
Em mais de um momento, Dilma lembrou de sua luta contra a Ditadura
Militar e disse que, apesar do medo da morte e das sequelas da tortura,
resistiu. “Aos quase setenta anos de idade, não seria agora, após ser
mãe e avó, que abdicaria dos princípios que sempre me guiaram”, afirmou.
Voltou a afirmar que, com o processo de impeachment em curso, sente
novamente, na boca, “o gosto áspero e amargo da injustiça e do
arbítrio”. Diante disso, afirmou que luta pela democracia. “Não luto
pelo meu mandato por vaidade ou por apego ao poder”, afirmou.
Golpe
“No passado, com as armas, e hoje, com a retórica jurídica, pretendem
novamente atentar contra a democracia e contra o Estado do Direito”,
disse. “São pretextos, apenas pretextos, para derrubar (...) o governo
de uma mulher que ousou ganhar duas eleições presidenciais
consecutivas”.
De acordo com ela, a continuidade de seu mandato não é o único aspecto
em jogo neste processo. “O que está em jogo é o respeito às urnas, à
vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição”, disse.
“Quem afasta o Presidente pelo “conjunto da obra” é o povo e, só o povo,
nas eleições. E nas eleições o programa de governo vencedor não foi
este agora ensaiado e desenhado pelo Governo interino e defendido pelos
meus acusadores”, afirmou.
"A forma só não basta. É necessário que o conteúdo de uma sentença seja
justa. Nunca haverá justiça em uma eventual condenação minha", afirma.
Democracia
A presidente afastada afirmou que não abriu mão do cargo porque respeita
o Estado democrático de direito. "Jamais o faria porque não renuncio à
lei", disse. "A violência do preconceito me assobrou e, em alguns
momentos, muito me magoaram".
E voltou a agradecer o empenho das mulheres que a acompanharam nesse
período de luta: "Bravas mulheres brasileiras que tenho a honra de
representar como primeira presidente da República", afirmou.
"Tenho a consciência tranquila, não pratiquei crime de responsabilidade.
Cassar meu mandato é como me submeter a uma pena de morte política",
disse.
Emocionada, a presidente afastada relembrou da tortura e do câncer que
combateu antes das eleições de 2010. Disse que temeu a morte nessas duas
ocasiões, mas que, hoje, só teme a "morte da democracia".
Veja a íntegra do discurso de Dilma e continua acompanhando o interrogatório no blog ao vivo de EXAME.com
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