Lula Marques/Bloomberg
Ilan Goldfajn:
Anna Edgerton e Raymond Colitt, da Bloomberg
O Banco Central do Brasil está monitorando a percepção de risco dos investidores no país como uma das condições para um corte de juros, disse seu presidente, Ilan Goldfajn, em entrevista.
Goldfajn concedeu entrevista uma semana após a instituição sinalizar que
pode haver espaço para cortes de juros se atingidas determinadas
condições, o que inclui as medidas do governo para melhorar as contas
públicas.
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O governo do presidente Michel Temer está tentando convencer um
Congresso polarizado a aprovar uma série de medidas de austeridade,
entre elas limites aos gastos públicos e reduções nos benefícios
previdenciários.
As condições para um afrouxamento monetário não serão atingidas com uma
única legislação ou em uma data específica, disse Goldfajn.
A cúpula do BC está olhando mais para os investidores para verificar se
eles confiam no sucesso de Temer, disse ele, em seu escritório em
Brasília.
Quando o ajuste fiscal de Temer estiver no caminho certo “você vai ver
imediatamente que o risco Brasil -- medido por CDS, medido pelo Emerging
Markets Bond Index e por prêmio de risco -- vai cair”, disse Goldfajn,
50. “As expectativas de inflação vão melhorar e tudo isso vai dar um
sinal de que estamos resolvendo a questão fiscal”.
Em 31 de agosto o BC manteve a taxa Selic inalterada em 14,25 por cento,
nível mais alto em quase 10 anos, pela nona reunião seguida.
O Comitê de Política Monetária informou nas atas da reunião que está
monitorando todos os dados disponíveis para determinar quando deve
iniciar a primeira redução dos juros desde 2012. No mercado de swaps, os
traders apostam que os cortes começarão neste ano.
Apreciação do real
Questionado se o real, moeda de melhor desempenho do mundo neste ano,
está descolado dos fundamentos, Goldfajn disse: “Não, porque ao lado do
fato de que ele se apreciou, existe outro fato, que ele se depreciou
muito mais do que os outros no ano passado”.
Exportadores e alguns economistas alertam para o risco de a valorização
do real reduzir o superávit comercial e ampliar o déficit em
conta-corrente. Se os investidores perceberem uma piora nas contas
externas, o real se ajustará automaticamente, disse Goldfajn.
Mesmo com o governo Temer apresentando as medidas certas para combater
os problemas fiscais do país, a economia se recuperará apenas
gradualmente no ano que vem, disse o presidente do BC.
“Há varios obstáculos, o caminho é longo, nós vamos ter que trabalhar
bastante, mas eu acho que está ficando claro que nós estamos no caminho
certo”, disse Goldfajn, que é doutor em Economia pelo Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).