Atuação: Consultoria multidisciplinar, onde desenvolvemos trabalhos nas seguintes áreas: fusão e aquisição e internacionalização de empresas, tributária, linhas de crédito nacionais e internacionais, inclusive para as áreas culturais e políticas públicas.
terça-feira, 2 de maio de 2017
A nova onda das empresas fundadas por “ex-googlers”
É cada vez mais comum encontrar empreendedores que saíram da gigante do Vale do Silício para fundar a própria startup
Por
Pedro Henrique Tavares
São Paulo – Nos Estados Unidos há um termo para se referir aos funcionários do Google:
os googlers. Em 71 cidades espalhadas pelo mundo, de São Francisco a
Tóquio, passando por São Paulo, existem mais de 72 000 deles. É gente
que costuma ter orgulho da empresa onde trabalha e gosta das regalias
sempre presentes nos locais de trabalho, como comida gratuita, dos
salários acima da média do mercado e da autonomia para definir projetos.
Para os jovens que desejam entrar no mercado de tecnologia, o Google é
um dos lugares dos sonhos. No entanto, uma parte dos googlers desiste
dessa vida. São engenheiros e executivos que largaram o conforto dos
escritórios para empreender. Não existem dados oficiais a respeito, mas
atualmente há pelo menos cinco dezenas de empresas nos Estados Unidos
fundadas por ex-googlers. Em escala menor, a mesma tendência começa a
ocorrer no Brasil.
Diego Nogueira e Davi Reis, fundadores da WorldSense, startup
com sede em Belo Horizonte, estavam na primeira turma de engenheiros
contratados pelo Google no Brasil em 2005. Nogueira e Reis passaram
quase dez anos trabalhando na companhia, aprimorando os sistemas de
busca, de mapas e também o desenvolvimento de algoritmos para o software
de publicidade. Em 2015, a dupla pediu demissão, fundou a própria
empresa e criou uma ferramenta de propaganda online.
A WorldSense faz o casamento entre, de um lado, os anunciantes e, de
outro, blogs e sites de notícias em busca de publicidade. Com seu
sistema, encontra palavras-chave do interesse dos anunciantes nos textos
e coloca junto delas um link com a propaganda.
“Ficamos muito tempo com a ideia de criar esse recurso. Mas só depois
que saímos do Google é que conseguimos colocá-la em prática”, diz Reis.
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Especialistas são unânimes em dizer que a experiência de trabalhar
numa grande empresa costuma ser parte fundamental na formação de um bom
profissional. No caso das gigantes do Vale do Silício, essa tendência
geralmente é ainda mais forte. Com muito dinheiro e uma imagem positiva,
companhias como Google e Apple conseguem atrair alguns dos melhores
talentos do mundo. E esse seleto grupo, formado em grande parte por
engenheiros, é treinado e motivado a produzir num ambiente de alta
excelência.
Quando um desses funcionários decide sair da empresa para empreender,
leva com ele todo o aprendizado. Um exemplo é o americano Marc Benioff,
fundador da Salesforce, maior empresa de software de gestão de vendas
do mundo. Quando perguntado sobre sua formação, Benioff sempre cita o
período que trabalhou como estagiário na Apple nos anos 80.
O caso mais famoso envolvendo um ex-googler é o de Kevin Systrom,
fundador e presidente do aplicativo de fotografia Instagram. Antes de
criar o aplicativo em 2010, juntamente com o brasileiro Michel Krieger,
Systrom trabalhou no Google como gerente de marketing. Com a venda do
Instagram ao Facebook por 1 bilhão de dólares há cinco anos, Systrom
tornou-se bilionário antes de completar 30 anos de idade, algo notável
mesmo para o Vale do Silício. “Companhias como Google conseguem formar
bons empreendedores porque promovem a troca de conhecimento. As pessoas
saem de lá muito preparadas”, diz Alex Cowan, professor de
empreendedorismo na escola de negócios Darden School of Business, da
Universidade de Virgínia.
Cartão de visita
Para parte dos empreendedores, a vivência profissional em grandes
empresas de tecnologia também pode ser a senha para receber
investimentos. No ano passado, o fundo First Round Capital, um dos
principais grupos que investem em startups nos Estados Unidos, fez uma
avaliação de todas as 300 empresas em que havia investido nos dez anos
anteriores (o aplicativo de transporte Uber é uma delas).
As startups em que pelo menos um fundador trabalhou numa grande
companhia de tecnologia — como Google, Amazon, Apple, Facebook,
Microsoft ou Twitter — tiveram, na média, um desempenho financeiro 160%
melhor do que as demais. Segundo o fundo, as habilidades adquiridas
pelos empreendedores e as redes de contatos formadas por eles são alguns
dos fatores que favorecem as startups. Uma das conclusões é que
empreendedores que passaram por grandes empresas são mais preparados
para enfrentar as adversidades comuns numa startup.
No Brasil, o que chama a atenção é a falta de experiência dos
empreendedores, algo que tem dado ainda mais valor aos ex-googlers. Uma
pesquisa recente da Escola de Administração da Fundação Getulio Vargas
perguntou a investidores em operação no mercado brasileiro o que os leva
a negar um investimento numa empresa de tecnologia. Para 93% deles, a
falta de uma equipe experiente é um problema. Há outras questões, claro,
mas elas não aparecem com tanta frequência. Baixa demanda para os
produtos ou serviços oferecidos é apontada por 51% dos entrevistados,
falta de inovação por 35% e falhas no modelo de negócios por 12%.
O empreendedor paulista Deli Matsuo acredita que seu currículo pesou
quando ele captou 1,5 milhão de reais para sua startup, a Appus, em 2015
(outro 1,5 milhão de reais foi investido do próprio bolso). Durante
seis anos, ele foi chefe do departamento de recursos humanos do Google
na América Latina. Em 2011, ele saiu para trabalhar na RBS, grupo da
área de comunicação com sede em Porto Alegre. Três anos depois, ao
participar de um projeto para criar um software de análise de dados para
o setor de recursos humanos da RBS, teve a ideia de empreender.
Hoje, a Appus desenvolve programas que usam os dados dos funcionários
para fazer um acompanhamento da satisfação no trabalho, do
comportamento deles e também para construir planos de carreira mais
adequados. “No Google, já se usava ferramentas desse tipo e vi que
poderia aplicar a mesma tecnologia em outras empresas”, diz o
empreendedor. Entre os clientes estão o banco Itaú, a siderúrgica Gerdau
e o Grupo Boticário, de produtos de beleza. A startup tem 20
funcionários e escritórios comerciais em São Paulo e Porto Alegre.
De todos os ex-googlers brasileiros, o mais famoso é Ariel Lambrecht,
um dos fundadores do aplicativo de transporte 99 (o antigo 99táxis).
Depois de receber um aporte de 100 milhões de dólares da chinesa Didi
Chuxing e do fundo americano Riverwood no começo do ano, a 99, com
140 000 taxistas e 10 000 motoristas particulares, consolidou-se como a
grande rival do Uber no Brasil.
Antes de criar a empresa, Lambrecht trabalhou quatro anos no escritório do Google em Dublin, na
Irlanda, como gerente de produto.
Hoje, ele tenta reproduzir na 99 parte do que aprendeu na companhia.
Pelo menos uma vez por semana, a 99 organiza confraternizações entre os
funcionários para compartilhar o que tem sido feito na empresa. “O
principal aprendizado que trouxe do tempo que trabalhei na Irlanda é a
transparência. Lá todo mundo sabia o que estava sendo desenvolvido pelos
colegas”, diz Lambrecht. Aos poucos, o Google vai fazendo escola no
Brasil.
Este pequeno país está entre os mais inovadores do mundo
O líder da agência de ciência e tecnologia de Singapura explica como um país de 5 milhões de habitantes está entre os mais inovadores do mundo
Por
Lucas Amorim
São Paulo – Singapura, um país com uma área menor do
que a da cidade de São Paulo, está em sexto lugar no ranking Global
Innovation Index, que mede a inovação em diferentes partes do mundo. (O
Brasil ocupa a 69a posição.) Para Lim Chuan Poh, presidente do conselho
da Agência de Ciência, Tecnologia e Pesquisa, ligada ao governo de Singapura,
a receita é centrar os investimentos em setores com grande impacto
econômico em vez de tentar atirar para todos os lados. Em uma viagem
recente a São Paulo, Poh concedeu a seguinte entrevista a EXAME.
EXAME – 1) Como Singapura chegou ao topo do ranking de inovação?
Lim Chuan Poh – Conseguimos graças aos investimentos do governo em ciência e educação.
A agência que comando foi criada em 1991 e, desde então, tem seu
orçamento ampliado todos os anos. Nossa prioridade é manter pesquisas
relevantes no setor industrial, responsável por cerca de 20% de nosso
PIB.
EXAME – 2) Como o país escolhe os investimentos em inovação?
Lim Chuan Poh – Estamos constantemente nos
perguntando: qual o futuro dessa tecnologia? O que vai criar mais valor?
Sabemos que não podemos fazer tudo, mas escolhemos setores em que somos
fortes ou em que queremos ser fortes nos próximos anos. Todos os anos
fazemos mais de 1 000 projetos — 55% são com multinacionais, 38% com
pequenas e médias empresas de outros países e 7% com empresas locais.
EXAME – 3) Quais são os segmentos prioritários?
Lim Chuan Poh – Avançamos bastante na área
aeronáutica. Um de nossos parceiros antigos é a fabricante brasileira de
aviões Embraer. Atualmente estamos começando a trabalhar num projeto de
automatização da linha de produção da companhia aqui no Brasil. Também
investimos muito na área biomédica e em soluções para as cidades
inteligentes do futuro.
EXAME – 4) Como o país atrai talentos?
Lim Chuan Poh – O importante é ter as portas
abertas. Qualquer um que puder contribuir será bem-vindo. Temos uma
mentalidade oposta à de Trump. Enquanto o Ocidente se fecha, a Ásia se
abre.
EXAME – 5) Qual o papel da educação?
Lim Chuan Poh – Nossa agência oferece bolsas de
estudo para pessoas de Singapura estudarem fora e também para
estrangeiros estudarem lá. Temos um grande programa sobre o vírus da
zika e queremos atrair estudantes brasileiros. As pesquisas em
microcefalia feitas aqui podem ser valiosas para nós.
EXAME – 6) Qual é o grau de interação entre as várias esferas do governo envolvidas com inovação?
Lim Chuan Poh – É muito grande. Os projetos costumam
dar certo quando trabalhamos em conjunto. Antes de fazermos pesquisa
com veículos autônomos, por exemplo, conversei com o ministro dos
Transportes. A partir disso, as regulações foram mudadas rapidamente e
hoje Singapura é referência nessa área.
EXAME – 7) Como o Brasil pode aprender com a experiência de Singapura?
Lim Chuan Poh – Fazemos o que é apropriado para
Singapura. O Brasil precisa realizar um estudo profundo para entender as
próprias necessidades. Antes de tudo, o país precisa de vontade
política para fazer acontecer. Estudei os casos de Holanda, Suíça,
Suécia, Japão e Coreia do Sul. Cada um encontrou seu caminho. Em comum,
eles têm vontade política e foco para saber em que áreas do conhecimento
investir.
Pedido de recuperação judicial da Seara Agroindustrial afeta americana CHS
A CHS Inc, maior cooperativa agrícola dos Estados Unidos, está entre
os maiores credores da operadora brasileira de commodities Seara
Agroindustrial, que pediu recuperação judicial na última semana,
disseram duas fontes com conhecimento direto do tema à Reuters nesta
sexta-feira.
A CHS confirmou ser um dos credores da Seara, mas não quis dar mais detalhes.
As
duas fontes, que pediram anonimato já que os números exatos não são
públicos, estimaram os créditos da CHS com a Seara Agroindustrial --que
não tem nenhuma relação com a Seara unidade de alimentos processados da
brasileira JBS-- em cerca de 200 milhões de dólares.
A Seara Agroindustrial pediu recuperação judicial na última semana para reestruturar 2,1 bilhões de reais em dívidas.
A
Seara Agroindustrial gerencia fazendas, fornece transporte ferroviário e
rodoviário para grãos e negocia soja e milho produzidos por produtores
ou entregue por cooperativas em quatro Estados brasileiros.
A
companhia está sediada em Sertanópolis, município que fica perto de
Londrina, a segunda maior cidade do Paraná, uma das potências agrícolas
do Brasil.
A CHS disse em nota à Reuters que "manteve uma operação de
originação de grãos com a Seara por diversos anos", mas foi
surpreendida pela decisão da companhia de pedir proteção judicial contra
credores.
"A CHS Brasil e a CHS Inc estão ativamente gerenciando a
situação para entender e responder a qualquer possível impacto ao nosso
negócio e aos nossos funcionários", disse a empresa.
A CHS disse que
espera que "embarques de produtos cheguem conforme o planejado, sem
interrupção, e que ficará em contato com clientes com relação a pedidos e
embarques de produtos", acrescentou.
Operadores internacionais de
grãos no Brasil geralmente mantém relações comerciais com companhias
regionais de commodities com o objetivo de originar volumes de grãos
destinados para mercados de exportação.
Em nota na última semana,
quando pediu recuperação judicial, a Seara disse que a crise econômica
do Brasil, em especial os apertados mercados de crédito, havia minado
acentuadamente sua habilidade de manter as operações
(Reuters)
Doria estende Cidade Linda e lança concurso “Bairro Lindo do Mês”
"É um convite para a população cuidar dos seus bairros", diz o prefeito da capital paulista
Por
Estadão Conteúdo
São Paulo – A Gestão Doria lançou
nesta terça-feira, 2, o projeto Faça Seu Bairro Lindo, que deverá
funcionar como uma “extensão” do Cidade Linda, que realiza mutirões de
zeladoria urbana da cidade de São Paulo nos fins de semana.
Inicialmente, o programa deve abranger atividades mensais nas 32
prefeituras regionais, com varrição de ruas, pintura de postes e
retirada de cartazes e lambe-lambes irregulares. “É um convite para a
população cuidar dos seus bairros”, diz o prefeito da capital paulista,
João Doria (PSDB).
Após a conclusão da agenda mensal, será escolhido o ‘Bairro Lindo do
Mês’ por uma comissão ligada à Secretaria Municipal de Prefeituras
Regionais.
As regiões serão avaliadas por efetividade, engajamento (número de
participantes) e abrangência das ações (tamanho do local atendido). “Vai
ser uma competição saudável para mostrar qual bairro é o mais lindo”,
explica Doria.
De acordo com o secretário de Prefeituras Regionais, Bruno Covas, o
programa deve atender duas demandas identificadas no Cidade Linda: o
interesse de moradores por participar de atividades de melhorias na
cidade e a necessidade de descentralizar as atividades, atendendo todos
os bairros. Ele salienta, contudo, que o novo programa não deve afetar a
agenda do Cidade Linda.
As sete primeiras ações ocorrem neste sábado, 6, em áreas escolhidas
pelas prefeituras regionais do Butantã, na zona oeste, do Jaçanã, na
zona norte, da Vila Mariana, na zona sul, e da Mooca, São Miguel
Paulista, Itaquera e Cidade Tiradentes, na zona leste. Das 32 atividades
previstas para maio, 14 ocorrerão em praças e parques da cidade.
Até o fim do ano, o objetivo é ter realizado ao menos uma ação em
cada um dos 96 distritos, inclusive, ampliando para serviços de tapa
buraco e limpeza de bueiros, por exemplo.
Para participar, os voluntários precisam entrar em contato com as
prefeituras regionais, que cederão os equipamentos necessários nas datas
dos mutirões.
Incêndios em ônibus colocam Rio em estado de atenção
Segundo a Polícia Militar, criminosos teriam ateado fogo aos veículos em represália a um intenso confronto na Cidade Alta, em Cordovil
Por
Estadão Conteúdo
Rio: a capacidade de atuação da Polícia
Militar está limitada diante do tamanho da crise de segurança (Rômulo
Vidal / PMERJ/Divulgação).
Rio – Ao menos cinco ônibus foram incendiados em vias de acesso ao município do Rio de Janeiro
na manhã desta terça-feira, 2, o que levou o Centro de Operações do Rio
de Janeiro (COR) a decretar estado de atenção na cidade a partir das
10h50. É possível, no entanto, que o número de veículos seja ainda
maior.
Oficialmente foram confirmados incêndios em dois pontos da Avenida
Brasil – nas pistas laterais, na altura da passarela 17, no bairro da
Penha, e outro na entrada do bairro de Bonsucesso, ambos na zona norte.
Foram registrados também episódios no bairro de Cordovil, também na zona
norte.
“O estágio de atenção é o segundo nível em uma escala de três e
significa que um ou mais incidentes impactam, no mínimo, uma região,
provocando reflexos relevantes na mobilidade”, informou o Centro de
Operações.
Algumas regiões estavam interditadas nesta manhã, enquanto equipes da Polícia Militar e dos bombeiros atuam nos locais.
Em comunicado oficial, a Polícia Militar informou que criminosos
teriam ateado fogo aos veículos em represália a um intenso confronto com
criminosos na Cidade Alta, em Cordovil.
Na operação, 26 pessoas foram presas e 17 fuzis foram apreendidos.
Nenhum dos detidos foi identificado como responsável pelos incêndios aos
coletivos. Três policiais ficaram feridos, mas sem gravidade.
Tropas especiais de policiamento foram enviadas para Cidade Alta, em
Cordovil, onde uma guerra de facções criminosas gera pânico à população
desde o início da manhã desta terça-feira, afirmou o comandante Silva,
do 16º Batalhão de Polícia Militar (BPM), ao telejornal RJTV, da Rede
Globo.
Segundo ele, a capacidade de atuação da Polícia Militar está limitada
diante do tamanho da crise de segurança, por isso, as tropas especiais
teriam sido convocadas.
O cerco aos traficantes permanece no início da tarde desta
terça-feira. “Tudo se iniciou com a tentativa de invasão de uma das
facções na Cidade Alta”, afirmou o comandante.
O que o compositor Belchior buscava no Sul?
A região era o seu outro lado do mundo, teoriza Fernando Dourado
Aos 32 anos, J.D. Salinger publicou o livro "O apanhador no
campo de centeio", até hoje uma história que intriga até o mais
implacável dos leitores. Pois bem, quem esperava que o autor estivesse
apenas nos primórdios de uma carreira literária tão longeva quanto ele
próprio foi, teve que lidar com uma frustração que só estancou com sua
morte, aos 90 anos. Isso porque o escritor passaria quase seis décadas
na mais completa reclusão e anonimato. Até o fim a vida, não voltaria a
publicar, aparecer em público e muito menos a falar de sua obra
consagrada. Muitos tentaram se aproximar e outros tantos especularam
sobre suas razões mais íntimas. Afinal, respeitou-se a opção de um homem
mítico que mais parecia refém de outra esfera.
Na mesma toada,
lembro de Belchior no palco do teatro do Parque, no Recife, na década de
1970. Tímido, nitidamente acanhado diante do sucesso repentino, o
cearense boa gente empunhava o microfone e chegava a rir da reação
mesmerizada de uma plateia que delirava com "Paralelas". Mais adiante,
Elis Regina transformaria algumas de suas músicas em clássicos,
dando-lhes uma roupagem de gala, como só ela sabia fazer. Os anos se
passaram e eis que Belchior sobrevivia incólume aos modismos mesmo
porque o lugar que ocupava em nossos corações era só dele. Mais tarde,
voltei a vê-lo em São Paulo e no Rio, sempre com a mesma sensação de
reencontro comigo mesmo e com os anos trepidantes da juventude.
Então
veio o sumiço e o alerta, ambos ditados pela memória coletiva e que
ressoariam em uníssono. O que é feito de Belchior? Acharam-no no
Uruguai. Por trás do sorriso à repórter da Globo, percebia-se uma
resistência em explicitar as razões que o teriam levado a sair do Brasil
da forma como saiu, como se fugisse de um tsunami aterrador. É sabido
que as palavras também servem para esconder o que sentimos. Veio então
novo interregno e, afinal, soubemos que morava no interior do Rio Grande
do Sul. No imaginário dele talvez, certamente o extremo sul da
fronteira brasileira representava o outro lado do mundo, um lugar
indevassável, a milhares de quilômetros do Ceará, onde não seria
importunado. Foi o momento Sailinger do poeta.
No fundo, jamais
conheceremos totalmente os bastidores de uma depressão ou desencanto.
Seja o que tenha sido, ele deixou saudades.
http://www.amanha.com.br/posts/view/3940
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