O líder da agência de ciência e tecnologia de Singapura explica como um país de 5 milhões de habitantes está entre os mais inovadores do mundo
São Paulo – Singapura, um país com uma área menor do
que a da cidade de São Paulo, está em sexto lugar no ranking Global
Innovation Index, que mede a inovação em diferentes partes do mundo. (O
Brasil ocupa a 69a posição.) Para Lim Chuan Poh, presidente do conselho
da Agência de Ciência, Tecnologia e Pesquisa, ligada ao governo de Singapura,
a receita é centrar os investimentos em setores com grande impacto
econômico em vez de tentar atirar para todos os lados. Em uma viagem
recente a São Paulo, Poh concedeu a seguinte entrevista a EXAME.
EXAME – 1) Como Singapura chegou ao topo do ranking de inovação?
Lim Chuan Poh – Conseguimos graças aos investimentos do governo em ciência e educação.
A agência que comando foi criada em 1991 e, desde então, tem seu
orçamento ampliado todos os anos. Nossa prioridade é manter pesquisas
relevantes no setor industrial, responsável por cerca de 20% de nosso
PIB.
EXAME – 2) Como o país escolhe os investimentos em inovação?
Lim Chuan Poh – Estamos constantemente nos
perguntando: qual o futuro dessa tecnologia? O que vai criar mais valor?
Sabemos que não podemos fazer tudo, mas escolhemos setores em que somos
fortes ou em que queremos ser fortes nos próximos anos. Todos os anos
fazemos mais de 1 000 projetos — 55% são com multinacionais, 38% com
pequenas e médias empresas de outros países e 7% com empresas locais.
EXAME – 3) Quais são os segmentos prioritários?
Lim Chuan Poh – Avançamos bastante na área
aeronáutica. Um de nossos parceiros antigos é a fabricante brasileira de
aviões Embraer. Atualmente estamos começando a trabalhar num projeto de
automatização da linha de produção da companhia aqui no Brasil. Também
investimos muito na área biomédica e em soluções para as cidades
inteligentes do futuro.
EXAME – 4) Como o país atrai talentos?
Lim Chuan Poh – O importante é ter as portas
abertas. Qualquer um que puder contribuir será bem-vindo. Temos uma
mentalidade oposta à de Trump. Enquanto o Ocidente se fecha, a Ásia se
abre.
EXAME – 5) Qual o papel da educação?
Lim Chuan Poh – Nossa agência oferece bolsas de
estudo para pessoas de Singapura estudarem fora e também para
estrangeiros estudarem lá. Temos um grande programa sobre o vírus da
zika e queremos atrair estudantes brasileiros. As pesquisas em
microcefalia feitas aqui podem ser valiosas para nós.
EXAME – 6) Qual é o grau de interação entre as várias esferas do governo envolvidas com inovação?
Lim Chuan Poh – É muito grande. Os projetos costumam
dar certo quando trabalhamos em conjunto. Antes de fazermos pesquisa
com veículos autônomos, por exemplo, conversei com o ministro dos
Transportes. A partir disso, as regulações foram mudadas rapidamente e
hoje Singapura é referência nessa área.
EXAME – 7) Como o Brasil pode aprender com a experiência de Singapura?
Lim Chuan Poh – Fazemos o que é apropriado para
Singapura. O Brasil precisa realizar um estudo profundo para entender as
próprias necessidades. Antes de tudo, o país precisa de vontade
política para fazer acontecer. Estudei os casos de Holanda, Suíça,
Suécia, Japão e Coreia do Sul. Cada um encontrou seu caminho. Em comum,
eles têm vontade política e foco para saber em que áreas do conhecimento
investir.
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