Atuação:
Consultoria multidisciplinar, onde desenvolvemos trabalhos nas seguintes áreas: fusão e aquisição e internacionalização de empresas, tributária, linhas de crédito nacionais e internacionais, inclusive para as áreas culturais e políticas públicas.
Proposta de compra foi feita pela Pedra Angular Açúcar e Álcool Participações e Administração; juiz analisa oferta na quinta
Helio de Freitas, de Dourados
Usina São Fernando teve falência decretada em junho do ano passado (Foto: Arquivo)
A
empresa Pedra Angular Açúcar e Álcool Participações e Administração,
que representa um grupo formado por três investidores brasileiros,
apresentou a única proposta de compra da Usina São Fernando, localizada
em Dourados, a 233 km de Campo Grande.
Com
pelo menos mil funcionários e responsável em injetar R$ 50 milhões na
economia local em sete meses, a usina pertencia à família do pecuarista
José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula e já condenado na
Operação Lava Jato.
Na
sexta-feira (16) às 13h50, um representante da empresa entregou um
envelope lacrado na 5ª Vara Cível de Dourados com a proposta para
comprar a indústria. Iniciado no dia anterior, o prazo terminou no dia
seguinte e nenhuma outra proposta foi apresentada.
A
Pedra Angular representa um grupo de investidores formado pelo
economista Winston Fritsch que integrou a equipe do Plano Real em 1993,
no governo Itamar Franco, Rodrigo Aguiar que presidiu a Tonon Bioenergia
e trabalhou em bancos e Paulo Vasconcellos, também do mercado
financeiro e fundador da Energias Renováveis do Brasil.
Na
quinta-feira (22), o juiz Jonas Hass Silva Júnior, que decretou a
falência da usina e comanda o processo de venda, vai abrir o envelope e
avaliar a proposta.
Vai ouvir credores
Ele pode decidir de imediato se aceita ou não a oferta, mas o Campo Grande News
apurou que o magistrado deve submeter a proposta aos credores da São
Fernando, na assembleia marcada para o dia 1º de março. Se não tiver
quórum, a segunda convocação foi marcada para 12 de março.
Desde
junho, quando foi decretada a falência, a usina é gerenciada pela
administradora judicial VCP (Vinícius Coutinho Consultoria e Perícia),
com sede em Campo Grande.
Essa
é a segunda tentativa de venda da São Fernando. A primeira ocorreu no
dia 20 de setembro, quando foi fixado valor de R$ 716 milhões para a
venda, mas nenhuma proposta foi apresentada.
Nessa segunda tentativa não
houve valor mínimo estipulado.
Em
outubro do ano passado, o grupo liderado por Winston Fritsch apresentou
proposta de R$ 890 milhões para comprar a São Fernando, mas o BNDES,
maior credor da usina, foi contra a transação.
O
banco público alegou que a proposta contrariava a Lei de Falências,
pois a alienação do ativo deve ser aprovada por dois terços dos
credores. Para o BNDES, o grupo ofereceu um “valor irrisório” pelo ativo
e queria pagar em 20 anos, sem correção.
Para
o banco, o leilão aberto era “a melhor forma de dar transparência à
alienação do ativo e a maneira mais eficaz de se apurar o que de melhor o
mercado pode oferecer”. Entretanto, a única proposta foi exatamente do
grupo rejeitado pelo BNDES.
O
que até recentemente reduzia a capacidade de setores mais atrasados
tecnologicamente de competir pode tornar-se mortal no futuro próximo.
Mais da metade dos setores industriais está tão atrasada com relação à
adoção de tecnologias digitais – responsáveis por um enorme salto de
produtividade e competitividade do setor manufatureiro no resto do mundo
– que, se nada fizer para mudar o quadro com presteza, acabará excluída
da que vem sendo chamada de quarta revolução industrial. Perderá não
apenas o mercado internacional, que sempre lhe foi difícil de conquistar
e manter, mas até o doméstico. Sua sobrevivência está condicionada à
sua capacidade de ganhar competitividade, por meio de inovação e novas
tecnologias, o que exige investimentos e capacidade gerencial.
Este é o quadro sobre o estado de boa parte da indústria brasileira
traçado pela própria entidade representativa do setor, a Confederação
Nacional da Indústria (CNI), em seu mais recente documento sobre o
tema, Oportunidades para Indústria 4.0: aspectos da demanda e oferta no Brasil, cujas principais conclusões foram mostradas em reportagem do Estado.
O que vem sendo chamado de Indústria 4.0 é o emprego do conjunto de
recursos propiciados por tecnologias de robótica, inteligência
artificial e outros, que vem possibilitando grandes ganhos de
produtividade e de competitividade em todo o mundo.
Os setores mais atrasados tecnologicamente precisam com urgência de
investimentos, “pois não terão competitividade principalmente em relação
aos países que competem diretamente com o Brasil”, adverte o gerente
executivo de Política Industrial da CNI, João Emílio Gonçalves. São
setores que tradicionalmente apresentam baixos índices de inovação,
exportam pouco e têm, em média, produtividade inferior à média mundial.
O que até recentemente lhes reduzia a capacidade de competir pode
tornar-se mortal no futuro próximo. E esse futuro chegará depressa. “A
mudança tecnológica é grande e vai ocorrer muito mais rápido do que
outras revoluções”, observa Gonçalves. Há setores da indústria
brasileira bastante avançados em termos de competitividade em escala
mundial – como a indústria extrativista, de alimentos e bebidas e de
celulose e papel –, mas também esses precisam manter-se atentos à
evolução da concorrência externa.
Houve tempos em que, diante de desafios como os atuais, a indústria
correu para os gabinetes ministeriais em troca de medidas de apoio, em
geral baseadas em incentivos fiscais, créditos subsidiados e
sobretaxação de similares importados. Muitas vezes foi atendida. Mas, do
ponto de vista das políticas públicas, também para a indústria os
tempos mudaram.
A crise fiscal, o acatamento pela Organização Mundial do Comércio
(OMC) de queixas de competidores externos contra medidas protecionistas
tomadas pelo Brasil e, agora, a nova revolução industrial trazem
desafios que exigem respostas rápidas. Não se trata mais de discutir
incentivos fiscais, benefícios adicionais para este ou aquele setor. É,
como adverte a CNI, uma questão nova que afeta toda a indústria
nacional, que exige medidas inovadoras. Assegurar a competitividade da
indústria é essencial para o crescimento da economia.
Há, decerto, setores acostumados à generosa proteção do Estado
brasileiro que continuam a demandar a manutenção dos benefícios de que
gozaram até o passado recente – em alguns casos, até o ano passado. É o
caso da indústria automobilística, que foi beneficiada pelo programa
Inovar-Auto (condenado em vários pontos pela OMC) e aguarda o novo
programa de incentivos, chamado Rota 2030.
Dirigentes internacionais de montadoras instaladas no Brasil chegaram
a ameaçar com o fechamento de suas unidades no País caso o novo
programa não seja aprovado. Há resistência dentro do governo ao
programa, que prevê incentivos na forma de créditos fiscais para
empresas que comprovem a intenção de investir em pesquisa e
desenvolvimento no País.
Políticas creditícias e tributárias que sejam benéficas para todos – e
não para alguns segmentos escolhidos pelo governo – e um efetivo
programa de educação, capacitação e formação profissional de jovens
seriam muito mais úteis para o País (O Estado de S.Paulo, 14/2/18)
ADM,
Bunge e Cargill se tornaram símbolos da agricultura empresarial nos
EUA, com alcance nacional e receitas bilionárias. Mas uma cláusula pouco
notada na recente reformulação fiscal aprovada no país está obrigando
esses titãs agrícolas a estudar a possibilidade de partir para algo mais
frequentemente associado a pequenas cidades americanas: o
cooperativismo.
A Bunge, que tem valor de mercado superior a US$ 10 bilhões,
confirmou ao "Financial Times" que estuda até abrir sua própria
cooperativa. Isso porque a reforma tributária aprovada em dezembro nos
EUA criou um forte desestímulo para que os agricultores vendam seus
produtos a tradings, favorecendo, em vez disso, as vendas para
cooperativas.
Empresas menores, desde uma processadora de amêndoas da Califórnia
até uma refinaria de etanol de Nebraska, também estão avaliando formar
uma cooperativa ou estabelecer parcerias com cooperativas a fim de
manter suas relações com os produtores rurais.
A situação ilustra como até cláusulas relativamente obscuras da lei
tributária estão tendo consequências imediatas, amplas e, às vezes,
surpreendentes sobre o mundo dos negócios americano. Orrin Hatch,
presidente da Comissão de Finanças do Senado, reconheceu que a lei está
"tendo efeitos não premeditados sobre os mercados agrícolas", e prometeu
encontrar uma solução que "não escolha vitoriosos e perdedores".
A cláusula da lei tributária em questão, conhecida como Artigo 199A,
permite que agricultores que vendem produtos a cooperativas deduzam 20%
da receita de seu rendimento tributável no Imposto de Renda federal. Os
que vendem para outros tipos de empresas podem abater também 20%, mas do
lucro líquido – ou seja, um valor menor. Em alguns casos, a nova
dedução pode "zerar completamente o Imposto de Renda federal devido de
um agricultor", segundo um estudo de Scott Greenberg, do centro de
análise e pesquisa Tax Foundation.
Embora os dirigentes do Congresso tenham prometido corrigir a
disparidade, as tradings estão examinando estratégias de sobrevivência
para o caso de uma solução legislativa demorar a sair.
"Temos um Plano
A, um Plano B e talvez até um Plano C que podemos acionar no caso de o
Congresso deixar de fazer o que deveria. Mas acreditamos que fará",
disse Soren Schroder, CEO da Bunge. Entre as alternativas estão "criar
cooperativas ou parcerias com cooperativas". Mas, de acordo com ele,
"seria uma besteira ter de recorrer a isso".
A Cargill disse ter esperança de que a Comissão de Finanças do Senado
tome providências para mudar a lei. "Como está agora, a cláusula criará
uma proliferação de cooperativas agrícolas e de outros setores. A
Cargill continuará a planejar formas de manter a competitividade no
mercado americano", informou. Juan Luciano, CEO da ADM, disse na semana
passada que sua equipe foi tranquilizada de que haverá uma correção no
"futuro próximo".
Mas muitos produtores rurais já mudaram os contratos de vendas na
direção das cooperativas, ao fazer os planos de comercialização das
safras deste ano, conforme um executivo de uma empresa de grãos do
Meio-Oeste americano.
Nas áreas agrícolas dos EUA, as cooperativas, controladas por seus
membros – algumas grandes, como a CHS, de Minnesota, que registrou
receita de US$ 32 bilhões em 2017 -, concorrem com Bunge, ADM, Cargill e
outras empresas na compra de milho, trigo e soja dos produtores.
Outras companhias também buscam alternativas. Se a lei continuar como
está, "o agricultor nunca mais voltará a fazer negócios com uma empresa
privada. Se tivermos de nos transformar em uma cooperativa, faremos
isso", disse Dale Beyer, diretor financeiro da Minn-Kota Ag Products,
uma revendedora de grãos e insumos de controle familiar com sede em
Dakota do Norte.
Na Califórnia, processadoras privadas de amêndoas já estão em
processo de se transformar em cooperativas, a fim de manter sua
competitividade. "Se um agricultor fornece a uma não cooperativa, fica
em desvantagem de 13 a 14 centavos de dólar por libra-peso (453,59 g), o
que é bem significativo", afirmou Jeff Tatsumura, diretor da auditoria e
consultoria K-Coe Isom.
A Green Plains, produtora de etanol de milho com ações negociadas na
bolsa de Nova York, disse a analistas, na semana passada, que já formou
uma cooperativa no Estado do Kansas para adquirir grãos dos agricultores
em condições mais competitivas.
Segundo o Conselho Nacional de Cooperativas Agrícolas dos EUA e a
Associação Nacional de Grãos e Rações, a intenção do Congresso com a
legislação foi reeditar o tratamento fiscal anteriormente dado a membros
de cooperativas agrícolas.
Greenberg, da Tax Foundation, disse que a nova dedução das
cooperativas vale também para as empresas não agrícolas. "O que mais
preocupa", escreveu ele, "é que isso poderá criar uma nova grande brecha
no sistema tributário dos EUA" (Financial Times )
Passados quatro anos de uma das maiores brigas
societárias no Brasil, Ternium e Nippon Steel deram as mãos e encerraram
um longo imbróglio público, fato que há algum tempo parecia difícil. As
empresas anunciaram nesta quinta-feira, 8, acordo de governança para a
Usiminas, assim como compromissos para resolução dos litígios judiciais
em curso.
Na prática, as empresas mesclaram sugestões antigas de ambas
para alcançarem uma resolução. Uma delas foi sugerida pela Nippon, que
foi a alternância para a indicação do presidente executivo e do
presidente do conselho de administração da Usiminas. Uma sugestão da
Ternium feita há dois anos foi a adoção de mecanismos de saída para os
sócios. Ambas estão no acordo.
A Ternium havia admitido que aceitaria a alternância de
poder, desde que o mecanismo de saída fosse adotado. Na época, a Nippon,
contudo, rebateu a proposta e disse que não a aceitaria, por
considerá-la contra os interesses da Usiminas. Isso porque na sua
opinião a cláusula de saída tratava-se de uma espécie de “roleta russa”,
e que caso essa cláusula fosse ativada a companhia compradora pagaria
mais pelas ações do que seu valor de mercado, fazendo que decisões de
curto prazo na Usiminas fossem tomadas para recuperar o valor investido.
Em relação à alternância das indicações, a regra também
valerá para a diretoria – três nomes serão indicados por cada sócio, a
cada quatro anos. Nessa primeira rodada os nomes já foram selecionados. A
Ternium pretende manter Sergio Leite na presidência executiva e a
Nippon Steel deve indicar Ruy Hirschheimer para presidente do conselho
de administração.
Com o acordo, será encerrada uma série de ações na Justiça
na qual a Nippon Steel tentava conduzir o ex-presidente Rômel de Souza,
que foi demitido pelo conselho de administração e substituído por Sergio
Leite.
Em relatório enviado ao mercado, o BTG Pactual disse que o
acordo é uma notícia positiva para a empresa e que tira pressão das
ações da Usiminas no curto prazo. Na opinião dos analistas que assinam o
documento, a administração da siderúrgica tem feito um bom trabalho,
melhorando o desempenho das operações. Agora o conselho estará mais
unido, o que diminui o risco do investimento.
Governo diz haver fortes indícios de manipulação de preços no setor, prejudicando os consumidores.
Com fortes indícios de manipulação de preços nos combustíveis, o
governo colocou a Polícia Federal e o Conselho Administrativo de Defesa
Econômica para investigar as empresas do setor. A decisão vem depois de
investigações feitas pelo próprio Cade mostrarem que esse é realmente um
problema grave: desde 2012, de 17 casos já julgados, 12 resultaram em
condenação por formação de cartel. E há ainda oito processos em
andamento.
Para o governo, por conta desses cartéis, os benefícios da nova
política de preços para gasolina e diesel adotada pela Petrobrás acabam
não chegando ao consumidor final: a reclamação é que as altas de preços
são quase automaticamente repassadas às bombas, mas as reduções não
chegam aos consumidores, conforme informou o blog da colunista Eliane
Cantanhêde. “O consumidor tem o direito a escolher preço mais baixo, mas
isso só acontece quando há concorrência”, disse o ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco.
Na quarta-feira, 7, a Petrobrás anunciou que passará a divulgar
diariamente os preços médios da gasolina e do diesel que saem de suas
unidades, e não mais somente os porcentuais de reajuste, como vinha
sendo feito, para tentar dar maior transparência ao mercado.
No mesmo dia pela manhã, o presidente do Cade, Alexandre Barreto, se
reuniu com Moreira Franco e com o diretor-geral da Polícia Federal,
Fernando Segovia, para discutir o tema. À tarde, Moreira Franco enviou
ao Cade documento solicitando oficialmente providências.
Barreto já havia dito que o fato de a queda de preços na refinaria
não ser repassada às bombas pode ser considerado um “indício de cartel”,
mas que a investigação tem de ser acompanhada de outros elementos.
Investigações
As maiores multas aplicadas pelo Cade no setor foram para cartéis no
Espírito Santo, de R$ 67, 2 milhões, Caxias do Sul (RS), de R$ 65
milhões, e Piauí, de R$ 41,3 milhões. O Cade condenou ainda outros
esquemas em São Paulo, Bahia, Paraná, Amazonas, Minas Gerais e Maranhão.
Para o advogado e ex-conselheiro do Cade Olavo Chinaglia, essas
investigações têm efeitos pontuais no local de atuação do esquema, mas,
para que haja um impacto nacional, é necessário também olhar para a
distribuição dos produtos e discutir o monopólio da Petrobrás no refino
de petróleo.
“Se o objetivo é baratear para o consumidor, limitar a discussão
sobre o fornecimento de combustíveis à intervenção do Cade é desviar o
foco do problema principal, que é o marco regulatório brasileiro e a
maneira como a Petrobrás se relaciona com as distribuidoras”, afirma.
Em nota, a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis
(Fecombustíveis) disse que o mercado é “livre e competitivo” e que cabe a
cada distribuidora e posto decidir se vai ou não repassar os reajustes
aos consumidores “de acordo com suas estruturas de custo”.
A federação disse ainda que os postos de combustíveis têm absorvido
parte da elevação dos custos cobrados pelas distribuidoras e ressaltou
que os reajustes divulgados pela Petrobrás nas refinarias são
porcentuais médios, aplicados de maneira diferente nos Estados.
O
professor Raj Sisodia, guru do mundo dos negócios que conquistou a
atenção de empresários do porte de Abilio Diniz, está navegando por
novas águas. Fundador do movimento Capitalismo Consciente, que incentiva
as empresas a se pautar por um propósito e não somente pelo lucro, o
indiano naturalizado americano propõe uma nova abordagem para o
feminismo no mercado de trabalho. O assunto está em voga, especialmente
depois dos escândalos sexuais que abalaram diversas indústrias, de
Hollywood ao turismo. Nessa guerra dos sexos, sobram acusações e falta
diálogo, especialmente nas redes sociais. Mas Sisodia acredita que a
questão não é sobre sexo ou gênero, mas sobre poder. “Esses homens
poderosos sentem que podem fazer qualquer coisa a qualquer pessoa”, diz o
professor. “É uma questão de acabar com essa noção de dominação
masculina.” Em visita ao Brasil, Sisodia conversou com a DINHEIRO sobre
como a valorização de conceitos femininos, como compaixão, empatia e
incentivo, pode não só ajudar a acabar com essa disputa, mas também a
formar líderes melhores. “O trabalho já tem muito de masculino.
Precisamos elevar o feminino”, diz Sisodia.
Confira a entrevista:
DINHEIRO – O sr. propõe um novo enfoque para a questão do feminino no mundo do trabalho. Qual seria?
RAJ SISODIA – O enfoque é a liderança. Por
toda a nossa história, a liderança sempre foi ensinada e vista por um
ponto de vista masculino. Praticamente toda instituição na sociedade foi
liderada por homens, usando um leque limitado de recursos masculinos. É
o que chamamos de hipermasculinidade. Dominação, agressividade,
competição, resultados a todo custo, sempre com um estilo militarizado.
Claro que também existem conceitos masculinos que são positivos, como
força, disciplina e coragem. Mas o que se vê na sociedade é que valores
femininos, como cuidado, compaixão, incentivo, vulnerabilidade, empatia,
são vistos como fraquezas, sem um lugar no conceito de liderança. Eles
pertencem ao lar e à família. As mulheres e os valores femininos foram
suprimidos. Entretanto, valores masculinos e femininos existem tanto nos
homens como nas mulheres. E mesmo os homens não se permitem demonstrar
esse lado. Garotos são ensinados, desde criança, a não demonstrar
emoções, ou serão ridicularizados. Isso é bastante prejudicial, pois
invalida um aspecto importante da própria humanidade. Os líderes
precisam ser mais femininos.
DINHEIRO – A ideia, então, é mais avançada
do que se supõe em relação a essa demanda por mais mulheres no mercado
de trabalho e em cargos de liderança. Não adianta apenas aumentar a
presença feminina, é preciso também tornar a cultura empresarial mais
feminina?
SISODIA – Uma combinação de masculino e
feminino. O trabalho já tem muito de masculino. Precisamos elevar o
feminino. Não somente isso: promover a masculinidade e a feminilidade
maduras. Não queremos substituir um pelo outro. Nós queremos a força, a
coragem e a disciplina masculinas, mas não a competição excessiva e a
agressividade. A ideia é se tornar uma pessoa completa. Como disse Carl
Jung (psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica), todo homem
tem uma mulher interior e toda mulher tem um homem interior.
DINHEIRO – O que os líderes devem fazer para se tornarem essa pessoa completa?
SISODIA – O primeiro passo é
autoconhecimento. É preciso entender o seu modo padrão, quais qualidades
que expressa com mais evidência. A partir desse conhecimento, há
diversos exercícios, que apresento no livro Liderança Shakti (HSM,
2016), sobre como cultivar outros aspectos. Mas é uma jornada de longo
prazo de desenvolvimento pessoal.
DINHEIRO – Essas características estão
relacionadas ao gênero da pessoa, ou um homem pode reunir mais
qualidades femininas em seu estilo de liderança, por exemplo?
SISODIA – A questão é ser uma pessoa
completa. Não se trata de ser mais masculino ou feminino. A linguagem,
algumas vezes, pode ser uma barreira. Homens não querem ser chamados de
femininos e mulheres não querem ser chamadas de masculinas. Então, tento
usar a ideia de energias masculina e feminina. Mas também podemos falar
de força versus amor. Nós queremos os dois. Então, podemos adotar uma
linguagem que não tem relação com gênero. Uma frase que utilizo é que o
líder deve se tornar um “sábio tolo de amor forte”. Ele precisa ter a
habilidade de ser duro, mas amável. Deve ter sabedoria, mas também a
ingenuidade de uma criança. Seu modo padrão pode ser o de uma pessoa
sábia e rigorosa. Entretanto, deve aprender a ser carinhoso e
desenvolver um senso de humor. Outra pessoa pode ser brincalhona e
rigorosa. Donald Trump, por exemplo, é um tolo rigoroso, o tempo todo.
Ele precisa desenvolver a sabedoria e o seu lado amoroso.
DINHEIRO – O sr. está propondo essa
discussão em meio a uma grande crise entre os sexos, com acusações de
assédio sexual aparecendo em diversas indústrias. Como o sr. espera que
homens e mulheres reajam?
SISODIA – Isso é resultado da
hipermasculinidade e do patriarcado na sociedade. Homens têm todo o
poder e as mulheres são secundárias. É uma questão de poder, e tem de
acabar. Não é sobre sexo, é sobre poder. Esses homens poderosos sentem
que podem fazer qualquer coisa a qualquer pessoa. Eles abusam de
mulheres e também de outros homens. É uma questão de acabar com essa
noção de dominação masculina. Eu acredito que este é o século em que
veremos a igualdade para as mulheres. O século 19 marcou o fim da
escravidão. O século 20, em grande medida, marcou o fim das ditaduras e
do totalitarismo. O século 21 marcará o fim da opressão do feminino e
das mulheres.
DINHEIRO – A sua proposta é de uma jornada
interior para que os líderes encontrem o seu lado feminino. Porém, o
que acontece hoje no mercado é que as mulheres recebem o equivalente a
70% do salário dos homens, para a mesma função. Essa não é uma agenda
mais urgente para o feminismo?
SISODIA – Acredito que são processos
paralelos. Pagamento igualitário pode ser uma questão de legislação. Nos
Estados Unidos, temos a Equal Rights Amendment, proposta muitos anos
atrás (a emenda constitucional foi redigida em 1923 e ainda não foi
ratificada por todos os Estados americanos). Mas isso vai acontecer,
assim como o casamento gay, que há 20 anos não era permitido. Na minha
visão, é uma questão de políticas públicas. E, nos EUA, em resposta a
Trump, muitas mulheres estão acordando para a política.
DINHEIRO – Os homens podem liderar essas
transformações, ou se trata de uma atribuição que deve ser encabeçada
exclusivamente pelas mulheres?
SISODIA – Eu vejo que as mulheres querem
que os homens sejam seus aliados. Não acredito que isso seja um
problema. Assim como homens não se comportam de uma maneira madura,
algumas vezes, mulheres também podem encarar a questão como uma batalha
dos sexos. Mas acredito que essa seja uma abordagem errada. Meu livro
trata de acabar com essa guerra, trazer conciliação. Homens e mulheres
completam um ao outro. Não é preciso haver vencedores e perdedores.
DINHEIRO – Mas os homens precisam ser mais femininos…
SISODIA – Precisamos do masculino. Haverá
exércitos, polícias e pontes para serem construídas. Os homens
construíram o mundo, de diversas maneiras. Mas as mulheres poderiam ter
feito mais, se fosse permitido. Hoje, o que está acontecendo é que os
meninos estão ficando para trás em relação às meninas. Elas estudam mais
e tendem a ser mais focadas, em idade escolar.
DINHEIRO – Como a discussão sobre gênero e os direitos dos homossexuais e transexuais se encaixa nesse modelo?
SISODIA – Eu tento não entrar nessa
questão de gênero. Estou falando de qualidades femininas e masculinas.
Homens e mulheres apresentam as duas qualidades, assim como homossexuais
e transexuais.
DINHEIRO – No fundo, a ideia é eliminar
essa questão do gênero da liderança, focando apenas nas qualidades que
um ser humano precisa ter para ser um bom líder?
SISODIA – Exato. Precisamos ser uma pessoa
completa. A maioria das pessoas tem pai e mãe, certo? Mas, algumas só
têm um dos dois. Nesse caso, elas precisam que esse pai ou essa mãe
reúna as qualidades de ambos: cuidado, compaixão, incentivo e também
regras, disciplina, força. Um líder, quase sempre, é uma só pessoa e ele
precisa ser completo, da mesma forma.
DINHEIRO – Por que o sr. resolveu tratar desse tema, num momento tão conturbado?
SISODIA –Trabalhando com as empresas do
capitalismo consciente, eu percebi que muitos valores presentes eram
associados ao feminino. São qualidades que as mulheres, naturalmente,
têm. Eu já vinha falando sobre a ascensão dos valores femininos, que vem
acontecendo há algum tempo. Um dos motivos para isso é a educação. O
ano de 1989 foi um marco por vários motivos, como a queda do Muro de
Berlim. Mas também foi o ano em que, pela primeira vez, os EUA tiveram
mais mulheres graduadas na faculdade do que homens. Cada vez mais
empregos requerem nível universitário. Os números mostram que essas
vagas serão dominadas por mulheres. Valores femininos se tornarão um
padrão, simplesmente porque as mulheres vão dominar o mercado de
trabalho. Esse ponto de virada está se aproximando.
DINHEIRO – Considerando os líderes políticos atuais, quem o sr. elegeria como o mais bem balanceado em relação a essa questão?
SISODIA – É uma pergunta difícil. Trump é
como uma criança durona. Barack Obama é sábio e amável e tinha alguma
firmeza. Hillary Clinton seria durona, como Trump, mas sábia, e não
infantil. Para responder, na verdade, eu teria de voltar no tempo e
pensar em alguém como Abraham Lincoln, Nelson Mandela ou Mahatma Gandhi.
O Dalai Lama também é assim. Mas, no mundo político atual, são poucos.
DINHEIRO – E Angela Merkel?
SISODIA – Ela é uma das mais poderosas
mulheres do mundo, mas é resultado quase que exclusivamente de pura
masculinidade. Ela veio do mundo comunista, onde não havia muitas
qualidades femininas. Eram todos iguais, mas viviam como homens.
DINHEIRO – E no mundo dos negócios?
SISODIA – Herb Kelleher, da companhia
aérea Southwest Airlines, é um líder que chega bem perto. O encontrei
algumas vezes. É brilhante, simpático e bem humorado, mas duro quando
tem de ser. Howard Schultz, da Starbucks, também reúne essas qualidades.
Paul Polman, da Unilever. Richard Branson, da Virgin, também. São
poucos, porque o nosso protótipo de líder não é esse.
A sociedade brasileira não deseja a
privatização da Petrobras, algo inclusive apontado por pesquisas feitas
por institutos respeitáveis, afirmou nesta quarta-feira o presidente da
petroleira estatal, Pedro Parente.
A afirmação foi feita após o governador do
Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), pré-candidato à Presidência
da República, defender a privatização da empresa em evento em Brasília,
segundo publicações na mídia nesta quarta-feira.
“Essa é uma questão que evidentemente os
candidatos colocam da maneira que acham apropriado fazer”, afirmou
Parente, em um encontro com jornalistas.
“Sob o ponto de vista da Petrobras,
qualquer discussão sobre eventual possibilidade de privatização, neste
momento, teria um efeito perturbador desse processo, e não achamos que
consulta o interesse da nossa empresa”, disse Parente.
O mandato de Parente termina em abril de 2019. O executivo evitou fazer comentários sobre seu futuro na empresa.
“Acho uma questão que é muito cedo para
pensar, porque depende do grupo vencedor das eleições, depende se as
condições para a gestão da empresa permitem um gestão adequada”,
afirmou.
O executivo frisou que seu objetivo na companhia é buscar seguir o plano estratégico traçado.
“Vamos continuar trabalhando com muito foco
e disciplina e deixando questões extra empresa fora da empresa. Sobre o
quadro hoje (eleitoral), vejo como absolutamente indefinido”