SÃO PAULO (Reuters) – A associação de montadoras no
Brasil, Anfavea, defendeu nesta terça-feira o fim do Imposto de
Importação zero para veículos elétricos, como forma de fomentar a
internalização da produção no país e previsibilidade de investimentos do
setor.
As vendas de veículos elétricos e híbridos no país, apesar de ainda
serem baixas em relação ao total, têm crescido de forma acelerada nos
últimos anos, avançando quase 17% em 2022, ante uma expansão geral do
mercado de leves de 7,7%. Considerando apenas o mês passado, as vendas
deste segmento dispararam 71% sobre um ano antes, apesar dos preços
unitários elevados, que ultrapassam a casa dos 150 mil reais.
“O que defendemos é que não podemos abrir este mercado para inundar o
mercado brasileiro com produtos de países de custo muito mais baixo”,
disse o presidente da Anfavea, Márcio Leite, oriundo do grupo
Stellantis, em apresentação a jornalistas sobre os números da indústria
em janeiro. “O Brasil ainda está caminhando em termos de competitividade
e não podemos matar nossa indústria de autopeças.”
“É fundamental termos uma regra e que ela dê previsibilidade para o
setor”, acrescentou o presidente da Anfavea, referindo-se à falta de
prazo para o imposto zerado acabar. Hoje, veículos com motores a
combustão pagam 35% de Imposto de Importação.
Carros híbridos atualmente são produzidos no país com componentes
importados por Toyota e Caoa Chery, com os totalmente elétricos sendo
importados por diversas marcas.
A defesa do fim do Imposto de Importação zero vem no momento em que o
setor se prepara para definições de investimentos no país nos próximos
anos, disse Leite. Ele afirmou ser favorável ao tributo zerado nos casos
em que os modelos não tenham altos volumes de vendas, como os de luxo, e
que sejam usados como “indutores dessa tecnologia, sem competir com
empregos locais”.
Posição similar foi assumida pela entidade nos planos automotivos em
gestões petistas anteriores, como o Inovar-Auto, que acabou sendo
reprovado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) ao ter aumentado o
Imposto sobre Produtos Industrializados de 30%, paralelo ao Imposto de
Importação de 35%, sobre modelos importados por marcas sem investimento
em produção local.
Montadoras como Renault, Caoa Chery e JAC têm importado compactos elétricos, como Kwid, iCar e E-JS1, respectivamente.
O presidente da Anfavea não mencionou quando o imposto zero deveria
ser revisto. Um projeto de lei do senador Irajá (PSD-TO) foi apresentado
em 2022 na Comissão de Assuntos Econômicos, prevendo isenção do Imposto
de Importação para elétricos e híbridos até o fim de 2025.
“Não estamos dizendo que tenha que ocorrer hoje, mas precisamos de previsibilidade”, afirmou.
MERCADO
Em janeiro, montadoras instaladas no Brasil produziram 152,7 mil
carros, picapes, utilitários esportivos, vans comerciais, ônibus e
caminhões, queda de 20,3% na comparação com dezembro, mês
tradicionalmente mais aquecido, mas que no ano passado foi atingido por
férias coletivas e jogos da Copa do Mundo.
Comparada com janeiro de 2022, a produção do setor subiu 5%.
Os licenciamentos de janeiro caíram 34,1%, para 142,9 mil veículos
novos, frente a dezembro. Mas na comparação com o mesmo mês do ano
passado, quando a crise na oferta de componentes estava mais
pronunciada, houve um crescimento de 12,9%.
Segundo o presidente da Anfavea, para além da falta de componentes,
situação que apresentou melhora nos últimos meses, há agora indicações
de que a demanda dos consumidores possa estar enfrentando fraqueza
diante dos juros elevados, que encarecem os financiamentos.
Durante a pandemia, o mercado lidou com a situação de não conseguir
produzir carros em volume suficiente para atender à demanda dos
consumidores.
“Começamos a ter sinal de desaceleração da demanda no mês de janeiro”, disse Leite.
A indústria apurou exportações de 27,7 mil veículos montados em janeiro, avanço de 19,3% na base anual, segundo a Anfavea.
(Por Alberto Alerigi Jr.)