Uma eventual ausência de Lula
na viagem à China, ou mesmo do poder, pode impactar os mercados diz
analista (Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O presidente Lula (PT) foi diagnosticado com pneumonia leve na
noite desta quinta-feira (23) e irá atrasar sua ida à China,
anteriormente marcada para amanhã (25). Em princípio, a viagem está
remarcada para domingo.
Segundo a assessoria do presidente, Lula passou por exames no
Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, nesta quinta-feira. A previsão é
de que o presidente fique na China até o dia 30, quando visitará o Banco
dos BRICS acompanhado da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que
assumirá a presidência da Instituição.
A perspectiva de a doença do presidente se agravar, adiando a ida à
China ainda mais ou mesmo mantendo-o fora do poder por algum tempo, pode
impactar os mercados. Analista consideram essa possibilidade um risco
para o andamento das atividades financeiras e da estabilidade política e
econômica do país.
Percepção dos analistas
“Eu trabalho com a criação de cenários alternativos e certamente um
cenário que se deve levar em consideração seria termos a ausência do
Lula e isso realmente traria problemas muito sérios ao Brasil. Mesmo que
você tivesse o Geraldo Alckmin assumindo a presidência, que tem um
perfil mais voltado ao mercado, as turbulências das forças políticas que
elegeram o Lula seriam muito grandes. No curto prazo, certamente
qualquer adoecimento do Lula pode ser um problema para a economia no
sentido de que é mais um fator de turbulência interferindo nos
negócios”, afirma Carlos Honorato, economista, mestre e PhD em
Administração pela FEA-USP e professor da FIA Business School.
O economista Alcântara Macedo considera que a saúde de um dirigente
de uma nação como o Brasil sempre traz impacto nos mercados. “No caso do
presidente Lula, a fragilidade da sua saúde, seja pela idade ou saúde,
já está precificada nos mercados brasileiros. Em relação à não ida a
China, temos que esperar 24 horas, no máximo 72 horas, para avaliar o
peso disso nos mercados e o impacto da leitura por parte do mercado”.
Para Honorato, o que precisa ser observado é que o Brasil se encontra
em um ambiente de muita turbulência. “Temos o interesse de mercado de
pressionar o Banco Central e as políticas econômicas para uma mudança,
então qualquer fator adicional de instabilidade pode impactar os
mercados até porque o clima já não está muito bom”.
“Em relação à viagem da China, pode ser uma pena dependendo de quando
isso for adiado, porque dentro do nosso campo estratégico ir a China e
ter o encontro com o presidente Xi Jinping realmente nos colocaria num
alinhamento desse novo pano de fundo global. As pessoas podem não
encarar isso, mas a aliança China e Rússia está dando o tom de uma nova
geopolítica global em que o Brasil tem espaços para se aproveitar disso
para fazer um pouco de barganha entre os dois lados. Portanto, a não ida
dele imediatamente pode nos atrasar um pouco em relação à inserção
nesta nova ordem para barganhar dos dois lados”, diz o professor da FIA
Business School.
Segundo dados do governo, a China é, desde 2009, o maior parceiro
comercial do Brasil e uma das principais origens de investimentos em
território brasileiro. Em 2022, a corrente de comércio atingiu recorde
de US$ 150,5 bilhões.