Contra crise que abala a coalizão, petistas e peemedebistas
propõem que presidente deixe nas mãos dos partidos aliados as nomeações
de todos os cargos nas pastas que comandam, mas ouvem: 'Se forem essas
as concessões, não vou fazer'
08 de julho de 2013 | 2h 05
Vera Rosa - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Pressionada a fazer uma reforma na equipe
para garantir a governabilidade, a presidente Dilma Rousseff avisou ao
PT e ao PMDB que não entregará ministérios com "porteira fechada" a
nenhum partido da base aliada e disse não ter pressa para mudanças na
equipe. A fórmula que permite a ocupação linear de todos os cargos de um
ministério pela mesma legenda foi sugerida a Dilma como forma de
compensar eventual corte de pastas, em resposta aos protestos de rua,
mas ela não deu chance para a cobrança.
"Se forem essas as concessões, não vou fazer. Podem tirar o cavalinho
da chuva", disse Dilma durante reunião com 22 deputados que compõem a
coordenação da bancada do PT na Câmara, na sexta-feira.
Inconformada com as críticas à articulação política do governo, a
ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, fez um desabafo a um
colega, logo após a reunião. "Esse pessoal critica a articulação
política do governo, mas vive deixando um currículo e um pedido de cargo
na minha mesa. Eu não faço esse tipo de articulação política."
A redução do número de ministérios - hoje em 39 - foi proposta a
Dilma por congressistas e dirigentes do PT e do PMDB, nos últimos dias,
por ser considerada uma medida de marketing para adoçar a opinião
pública. O PMDB do vice Michel Temer reclama de estar sub-representado
na Esplanada, com seis ministérios - Minas e Energia, Agricultura,
Previdência, Turismo, Aviação Civil e Defesa - enquanto o PT controla
18.
Mesmo assim, em conversas reservadas, peemedebistas dizem que aceitam
trocar ministérios menos robustos por diretorias da Petrobrás, de
Furnas e da Eletrobrás. Querem, ainda, autonomia para nomear seus
indicados "de cima até embaixo" nas pastas que comandam.
Dilma, porém, se recusa tanto a cortar ministérios, nesse momento,
como a conceder o que no jargão político se chama de "porteira fechada",
incluindo as diretorias de estatais. Até agora, ela prefere insistir no
plebiscito sobre a reforma política para reverter o desgaste a investir
na redução do tamanho da máquina pública.
Mesmo com a ameaça de partidos aliados, como o PSB, o PDT e o PRB, de
não apoiarem o projeto de reeleição presidencial, em 2014, Dilma vem
dizendo que não se "intimidará" com pressões por estar em queda nas
pesquisas. "Não pensem que estou acuada", afirmou ela na reunião com os
petistas, conforme revelou o Estado na semana passada. Até governadores
do PSB que rejeitavam a candidatura do colega de Pernambuco, Eduardo
Campos, agora dizem ser preciso examinar melhor o quadro político antes
de fechar com o PT.
Dilma não confia em que os partidos queiram mesmo cortar na própria
carne com a redução de ministérios. Na avaliação da presidente, esse é
apenas um discurso para a plateia, nesse momento de crise, tanto que a
proposta de "porteira fechada" já ressurge como uma espécie de
"contrapartida".
Desastre. Escaldada por sofrer desgaste após chamar de volta para a
Esplanada representantes de partidos alvejados pela faxina ética de 2011
- que abateu seis ministros -, Dilma diz ter feito as mudanças
justamente para agregar adesões à campanha do segundo mandato. Diante
desse quadro, afirmam assessores, não será agora que fará fusões de
ministérios.
"Os problemas do governo não são os políticos, mas os tecnocratas,
que não têm compromisso com o projeto", afirmou o deputado André Vargas
(PT-SP). "Não estamos pedindo cargos nem andamos com currículo na mão
para entregar em gabinetes, mas achamos que a articulação política do
governo e a comunicação são um desastre."
Para o senador Jorge Viana (AC), o PT precisa arquivar o coro do
"Volta Lula" e se unir no apoio a Dilma, que, no seu diagnóstico, deve
melhorar urgentemente a relação com o Congresso. "Antecipar a campanha
de 2014 já foi um erro. Agora, esse discurso do "Volta Lula" não cabe
aqui, porque isso prejudica o governo que está em curso", insistiu
Viana, que é amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A cobrança por cargos e emendas ao Orçamento voltará a ser
apresentada nesta semana, quando entra em votação no Congresso a
derrubada dos vetos presidenciais a projetos que causam forte impacto
nas contas públicas, como o do fim do fator previdenciário.
O tema foi discutido ontem em duas reuniões de Dilma com ministros,
no Palácio da Alvorada. O titular da Fazenda, Guido Mantega, disse não
haver mais espaço para desonerações do setor produtivo e defendeu um
bloqueio na casa dos R$ 15 bilhões em gastos do Orçamento.
Da primeira reunião com Dilma, ontem, participaram os ministros
Gleisi, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Gilberto Carvalho
(Secretaria-Geral da Presidência), Aloizio Mercadante (Educação), Paulo
Bernardo (Comunicações) e José Eduardo Cardozo (Justiça).Na segunda
estavam Mantega, Gleisi, Miriam Belchior (Planejamento) e Pepe Vargas
(Desenvolvimento Agrário), além do senador José Sarney (PMDB).
Gleisi é uma das que vão deixar a equipe de Dilma para ser candidata
do PT ao governo do Paraná. Embora a presidente negue mudanças no
primeiro escalão, é provável que ela promova uma reforma até dezembro,
antes do prazo estabelecido por lei para que candidatos com cargos no
Executivo deixem as pastas, em abril de 2014.
No Palácio do Planalto, auxiliares de Dilma calculam que dez dos 39
ministros podem sair no fim do ano. Na lista dos pré-candidatos do PT,
dois são dados como praticamente certos na disputa dos maiores colégios
eleitorais: Alexandre Padilha (Saúde), em São Paulo, e Fernando Pimentel
(Desenvolvimento), em Belo Horizonte.
A maior preocupação de Dilma ao negar a reforma imediata foi abafar
rumores sobre a troca de Mantega num momento de alta da inflação,
expectativa de novo aumento dos juros e desconfiança do mercado sobre o
compromisso do governo com o ajuste fiscal.