terça-feira, 16 de julho de 2013

Petrobras e a ilusão cognitiva do curto prazo

Petrobras anunciou, na última semana, mudanças contábeis que tendem a elevar seu lucro e a distribuição de dividendos. As ações preferenciais (PETR4) e ordinárias (PETR3) reagiram positivamente no pregão posterior ao anúncio. Mas o ponto que interessa é: o valor da companhia se alterou por causa da mudança? Como a análise fundamentalista vê a questão?

Na reportagem “Mudança contábil amplia dividendos e lucro da Petrobras”, publicada no Valor de 12 de julho, os repórteres Natalia Viri, Renato Rostás e Daniela Meibak explicam por que o resultado da Petrobras irá melhorar no curto prazo. Tradicionalmente, as dívidas referenciadas em outras moedas são atualizadas a cada divulgação de resultado pelo câmbio de fechamento. Com a desvalorização recente do real, o incremento da dívida lançada no passivo tem como contrapartida uma despesa de variação cambial na demonstração de resultados, reduzindo, portanto, o lucro. Essa prática contábil possui como desvantagem o aumento da volatilidade do resultado, pois, caso o real volte a se apreciar nos trimestres seguintes, o impacto será contrário, gerando uma receita de variação cambial. Importante ressaltar que, enquanto a dívida não é amortizada, esse sobe e desce do resultado é meramente contábil, sem reflexo no caixa da companhia.

Como a Petrobras também possui receita em dólar, a administração resolveu alterar a contabilização da variação cambial. Esta parcela da receita funciona como uma espécie de proteção, um “hedge” econômico. Enquanto a dívida aumenta devido à apreciação da moeda americana, o faturamento em moeda estrangeira também se eleva. Segundo a reportagem, 20% das exportações previstas para os próximos sete anos servem para proteger a variação cambial de 70% da dívida líquida em dólar. Com isso, a atualização da dívida, a partir de agora, passará a ser lançada no patrimônio líquido e não imediatamente na demonstração de resultados. O impacto da variação cambial da dívida só irá a resultado quando as exportações que a suportam também forem contabilizadas. Dessa forma, a variação cambial do faturamento da exportação tende a compensar a da dívida.

Como a despesa de variação cambial do último trimestre não será levada a resultado, o lucro da companhia aumentará. De acordo com analistas consultados pela reportagem, as perdas financeiras de R$ 10 bilhões devem se reduzir para R$ 3 bilhões. As ações, tanto preferenciais quanto ordinárias, reagiram bem ao anúncio, subindo 3,88% e 7,25%, respectivamente, no pregão da última quinta.

Mas o valor intrínseco da companhia se alterou por causa da mudança da prática contábil? A resposta é não. Como dito anteriormente, essas remarcações da dívida possuem apenas efeito contábil, logo sem reflexo no caixa. Assim, um analista que utiliza o fluxo de caixa descontado para avaliar o valor da companhia não deveria alterar sua percepção sobre a mesma.

É verdade que o aumento dos dividendos no curto prazo pode animar o investidor de acordo com a teoria do ‘pássaro na mão’. Segundo essa corrente, os acionistas são céticos em relação ao bom uso do dinheiro pelos gestores das empresas, logo preferem receber os recursos excedentes a deixá-los ao poder discricionário da administração. Mas isso justifica uma apreciação de mais de 7% das ações ON em apenas um dia? E mais, há uma preocupação sobre a capacidade financeira da companhia de suportar os pesados investimentos nos próximos anos. Alguns analistas não descartam uma oferta de ações no médio prazo, o que diluiria os atuais acionistas. Logo, um aumento dos dividendos sem geração de caixa adicional deve ser considerado negativo — e não positivo.

O maior beneficiado com essa distribuição maior de dividendos são os acionistas votantes, entre eles a União, o acionista controlador, pois tais ações não possuem a garantia dos dividendos mínimos como ocorre com as preferenciais. Expliquei em detalhes como funciona o cálculo do dividendo mínimo da Petrobras no post “Dividendos da Petrobras: corte poderia ter sido pior”, de 19/02/2013. Para parte do mercado, esta alteração teve como principal propósito aumentar o superávit fiscal do governo.

Como o argumento para a valorização das ações da Petrobras era tão consistente como uma manteiga ao sol, os papéis entregaram parte dos ganhos no pregão da última sexta. As ações votantes caíram 1,68% e as preferenciais, 2,34%.

Embora haja incertezas (como a necessidade ou não de uma nova capitalização), as ações da Petrobras estão atrativas levando em conta a análise por múltiplos. Além disso, a aceleração da produção do pré-sal deve gerar um impacto positivo sobre o resultado com aumento relevante do retorno sobre o patrimônio líquido. Contudo, isso não significa que o investidor deva se entusiasmar por análises superficiais, com foco no curto prazo. A aposta em Petrobras deve ter em vista um horizonte mais largo. Vai uma dica para separar notícias relevantes de quimeras como esta da Petrobras: sempre se pergunte se a nova informação irá alterar o valor da companhia.

Por André Rocha

André Rocha é analista credenciado pela Apimec e atua há 20 anos como especialista na avaliação de companhias listadas na bolsa.

Título de OGX em dólar cai por medo de maior calote privado da AL



NOVA YORK  -  A venda pela BlackRock de 70% de sua carteira de títulos da OGX, companhia de petróleo e gás de Eike Batista, antes da queda recorde de valores dos papéis pode ter evitado que a gestora sofra com perdas multimilionárias como outros fundos, entre os quais a Pimco. Isso porque, enquanto a BlackRock vendia, a Pimco, uma das maiores gestoras de fundos de renda fixa do mundo, instensificava a compra de títulos da OGX. 

Relatório mais recente da BlackRock enviado a autoridades regulatórias mostra uma exposição atual de US$ 69 milhões em bônus da petroleira, posição que já chegou a mais de US$ 220 milhões. 

Os preços dos títulos da OGX com vencimento em 2018, que têm valor de face total de US$ 2,56 bilhões, afundaram para um recorde negativo de 16 centavos de dólar. Os papéis valiam 77,6 centavos no fim de março e 89,7 centavos em setembro de 2012, o que faz a petroleira ganhar a posição de pior performance de ativos do gênero em mercados emergentes.

O abismo em que caíram os títulos, deflagrado pelo fracasso da companhia em entregar a produção de óleo prometida, mostrou que a decisão da BlackRock foi acertada em meio ao que poderia se tornar o maior default privado da história do mercado latino-americano. O Credit Suisse estima que a OGX vai terminar o ano com apenas US$ 13 milhões em caixa.   

"Sem receita, os acionistas não têm muito com o que contar e estou certo de que no fim da história os detentores de títulos também não", disse Arthur Byrnes, que administra cerca de US$ 1 bilhão em ativos, como diretor sênior da Deltec Asset Management. Deltec vendeu todos os bônus que detinha da OGX, afirmou. "A grande lição dessa história é que não se deve comprar promessas", concluiu.

Os relatórios da BlackRock mostram que a maior gestora do mundo vendeu US$ 160 milhões em títulos da OGX nos últimos seis meses. No movimento contrário, a Pimco aumentou a posição em bônus da OGX com vencimentos em 2018 e 2022, de junho de 2012 a março, saindo de US$ 170 milhões para US$ 576 milhões.  

Tanto Pimco quanto BlackRock declinaram em comentar as posições e estratégias dos fundos em relação aos títulos de OGX. A companhia de Eike Batista também não quis responder sobre a situação de sua dívida e negou que esteja reestruturando o débito em dólar. 

O fundo de alto retorno da BlackRock (High Yield Portfolio), que tem sob administração US$ 10 bilhões e gerou retorno de 91% em cinco anos, vendeu toda a carteira de US$ 114 milhões de títulos da OGX entre junho de 2012 e março de 2013, quando os papéis eram negociados a 88,2 centavos de dólar, conforme relatórios entregues às autoridades reguladoras.  

Se a OGX não pagar a dívida, será o maior default privado da história da América Latina, segundo dados compilados pela agência Moody's, quase o dobro da moratória do argentino Banco de Galicia y Buenos Aires, em 2002. 

"Uma reestruturação da dívida parece ser iminente", disse Jack Deino, gestor da Invesco, que administra US$ 1,8 bilhão em títulos de mercados emergentes. 
(Bloomberg News)

Confiança da indústria cai ao menor nível desde abril de 2009, diz CNI

Por Lucas Marchesini | Valor
 
BRASÍLIA  -  O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) caiu 4,9 pontos e chegou a 49,9 pontos em julho, menor patamar desde abril de 2009, quando o Brasil enfrentava os efeitos da crise financeira internacional pós-quebra do banco americano Lehman Brothers, apontou a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O indicador varia de zero a cem pontos e leituras abaixo de 50 indicam pessimismo. Em junho, o indicador era de 54,8 pontos, de acordo com pesquisa divulgada nesta terça-feira. Em julho do ano passado, estava em 54,5 pontos. Sua média histórica é de 58,8 pontos. O índice de julho, portanto, está bem abaixo desse patamar.

“Há dois motivos para a queda da confiança em julho. O primeiro é a retomada da elevação dos juros e, o segundo, os protestos da população”, avaliou, em nota, o gerente executivo da Unidade de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca.

Apesar de os três setores que compõe a pesquisa terem registrado queda de confiança, apenas o de transformação está abaixo da linha dos 50 pontos. Esse ramo saiu de 54,1 pontos em junho para 49,2 pontos em julho.

Já o da indústria da construção passou de 55,2 pontos para 51,2 pontos entre este mês e o passado. A indústria extrativa por sua vez indicava 57,5 pontos em junho e agora aponta 52,3 pontos.

A pesquisa aponta também que os empresários do setor estão pessimistas quanto à economia brasileira nos próximos seis meses. O indicador saiu de 52,5 pontos em junho para 46,8 pontos em julho.

Quando a pergunta é sobre a situação atual da economia brasileira, o indicador atinge 34,1 pontos, ante 41,6 pontos em junho.

A série histórica do Icei vai até 2007, mas o levantamento passou a ser mensal a partir de 2010. De 2007 a 2009, a pesquisa era trimestral.

O levantamento foi feito entre 1º e 12 de julho com 2.475 empresas, das quais 874 são pequenas, 973 são médias e 628 são grandes.
(Lucas Marchesini | Valor)

Surge, enfim, o nome da mudança

O milagre da onda de passeatas foi a reabilitação dele, o filho do Brasil, o homem, o mito: Luiz Inácio da Silva

GUILHERME FIUZA

A revolta das ruas produziu um milagre. Não as votações espasmódicas do Congresso Nacional, nem a revogação de aumentos das tarifas de ônibus. Esses foram atos oportunistas, que logo sumirão na poeira da história, embora tenham sido celebrados como vitórias revolucionárias. O milagre também não foi a reação do governo Dilma Rousseff, que propôs ao país um plebiscito para reformar a política. Outros governantes já usaram alegorias para embaçar o debate. Como a alegoria de Dilma é especialmente fajuta, não será comentada neste espaço. O milagre da onda de passeatas foi a reabilitação dele – o filho do Brasil, o homem e o mito, Luiz Inácio Lula da Silva. 

A opinião pública brasileira é um show. A pesquisa Datafolha que registrou queda na avaliação do governo Dilma quase à metade revelou que, hoje, a eleição presidencial iria para o segundo turno. A não ser que Lula entrasse no páreo. Aí ele seria eleito em primeiro turno. O povo, revoltado com tudo isso que aí está, puniu Dilma nas pesquisas porque quer mudança. E sua opção de mudança é Lula. Viva o povo brasileiro!

A pesquisa revelou mais. Quem teria, hoje, o melhor preparo, entre os candidatos, para resolver os problemas econômicos do Brasil? Em primeiro lugar, disparado: Lula. É um resultado impressionante. A maioria do eleitorado deve estar escondendo alguma informação bombástica. Devem ter algum segredo, guardado a sete chaves, sobre o novo Lula. Diferentemente do velho, esse aí não deve ter nada a ver com Dilma, Guido Mantega, Gilberto Carvalho, José Dirceu, enfim, a turma que estourou as contas nacionais para bancar o populismo perdulário.

Não, nada disso. O novo Lula – esse que a voz do povo descobriu e não quer nos contar – é um administrador moderno, implacável com o fisiologismo. Um Lula que jamais daria agências reguladoras de presente a Rosemary Noronha, para ela brincar de polícia e ladrão com os companheiros (é bem verdade que a polícia só chegou ao final da brincadeira). Esse Lula, que hoje seria eleito para desenguiçar a economia brasileira, sabe que politizar e vampirizar uma Anac compromete o serviço da aviação. O povo foi às ruas por melhores serviços de transportes, e o novo Lula não faria como o velho Lula – aquele que transformou as agências do setor num anexo do PT e seus comparsas. Jamais.

O povo brasileiro é muito sagaz. Descobriu o que nem um sociólogo visionário descobriria: o sujeito que pariu Dilma, montou seu modelo de administração e dá pitaco nele até hoje fará tudo completamente diferente, se for eleito presidente em 2014. Quem poderia supor uma guinada dessas? Só mesmo um povo sacudido pela revolta das ruas faria essa descoberta genial. O grande nome da oposição a Dilma é Lula. É ele quem saberá levar as finanças nacionais para onde Dilma, segundo a pesquisa, não soube levar. O eleitor brasileiro é, desde já, candidato ao Prêmio Nobel de Economia por essa descoberta impressionante.

Como se sabe, Lula manteve a política econômica de Fernando Henrique – até porque seu partido não tinha política de governo, não tinha projetos administrativos (continua não tendo), não tinha nada. Para manter a militância acesa, o ex-operário assumiu a Presidência criticando o Banco Central. Auxiliado pelo vice José Alencar, inaugurou o primeiro governo de oposição da história. (Longe dos holofotes, pedia pelo amor de Deus para o BC continuar fazendo o que estava fazendo, já que ele não entendia bulhufas daquilo.) A conjuntura internacional foi uma mãe para o filho do Brasil, e ele torrou o dinheiro do contribuinte na maior festa de cargos e propaganda já vista neste país. Lançou então a sucessora, que fez campanha dizendo que o PT acabara com a inflação.

O único erro de cálculo dos companheiros foi esquecer que a desonestidade intelectual tem pernas curtas. E a conta do charuto do oprimido chegou: eis a inflação de volta. (Ao negar esse fato, Mantega foi convidado pelo companheiro Gilberto Carvalho a dar um passeio na feira.)

Mas vem aí o novo Lula, ungido pela sabedoria das massas, para salvar a economia brasileira. Qual será seu segredo? Será a substituição de Guido Mantega por Marcos Valério? Pode ser. Até porque o país não suporta mais amadorismo.

O marciano, o Brasil e Aristóteles

16 de julho de 2013
Autor: Denis Rosenfield  
 
Denis Rosenfield2 
 
 
A presidente, com humildade, deveria ter reconhecido desde o início os seus erros e os de seu antecessor, resgatando o princípio de não contradição e a clareza e a distinção de ideias

Um marciano desembarcou no Planeta Terra e, desta vez, optou por conhecer o Brasil. Há muito tempo atrás, antepassados seus, tinham visitado a Grécia clássica. Lá tomaram conhecimento da filosofia de Aristóteles que os apaixonou. Levaram, inclusive, os manuscritos mais elaborados para seu planeta, deixando para os terráqueos o duro trabalho de edição de suas obras por séculos a fio.

Particularmente, tinham sido atraídos pelo princípio de não contradição, que passou a ser ensinado em todas as escolas. Mais especificamente, qualquer político deveria fazer provas duríssimas, aplicando esse princípio aos assuntos públicos. Afinal, tratava-se de algo maior: a prevalência do bem comum.

Nosso amigo marciano ficou, então, surpreso com o que estava ocorrendo em nosso país, pois tudo o que via percebia como uma infração às regras mais elementares da lógica e, neste sentido, de como entendia a política. Nas manifestações da última quinta feira, anunciada como “greve geral” ou como “dia nacional de lutas”, ele não conseguia compreender o que bem podia significar uma “greve” de movimentos sociais “organizados”, como CUT e MST, aparelhados pelo PT e financiados pelos governos petistas, contra o próprio governo petista. Traduzindo em miúdos, isto significa uma “greve” do PT contra o PT. O princípio de não contradição estaria sendo infringido!

Como podia acontecer que, no décimo terceiro ano de um governo petista, o PT se sentisse tão incomodado com o seu próprio governo. Cansado de si mesmo? Desorientado consigo? O que diriam, então, os cidadãos confrontados com tal confusão? Como pode alguém fazer oposição a si mesmo?

Ficou particularmente intrigado com uma expressão de muito uso no governo do ex-presidente Lula e posta à prova no da presidente Dilma. Trata-se de uma tal de “herança maldita”. Não conseguia bem perceber o que significava. Em sua formação intelectual, além de Aristóteles, tinha lido muito Descartes, quando de outra incursão de seus antepassados ao Planeta Terra. Tinha aprendido com o filósofo francês um critério de verdade baseado na clareza e distinção das ideias. Lógico como era, tratou de aplicar esse critério à expressão “herança maldita”.

Ora, qual não foi a sua estupefação ao constatar que o que o ex-presidente Lula considerava como herança “maldita” de seu antecessor tinha sido “bendita”, assegurando-lhe o êxito de seu primeiro mandato. Ficou sabendo que o primeiro governo petista tinha mantido as linhas básicas de sua política econômica e, mesmo, social. Tinha tucanado. A lógica do governo teria sido uma, a retórica outra. Ou seja, fazia uma coisa e dizia outra. Não há princípio de não contradição que resista, além do problema de ordem propriamente moral de não reconhecimento.

Perseguindo ainda a clareza e a distinção das ideias, terminou por compadecer-se com a presidente Dilma, pois ela se encontrou em uma sinuca de bico. Do ponto de vista moral, teve uma atitude digna ao qualificar a herança de seu antecessor como “bendita”, quando, na verdade, ela é “maldita”. Está agora recolhendo os seus frutos que crescem nas ruas em manifestações autônomas. O seu discurso está, neste sentido, impregnado de contradições, apesar de ter, no início de seu mandato, mantido a coerência ao ter reconhecido o legado do ex-presidente Fernando Henrique. Aliás, de sua própria iniciativa, fez uma “faxina ética”, tendo depois recuado ao seguir novamente o seu antecessor.

Contudo, os dilemas de nosso marciano não pararam por aí. Seus princípios e critérios não cessavam de ser postos à prova — e que provação! Não conseguia entender o que o governo e o PT entendiam por “movimentos sociais” quando confrontou duas manifestações, a monstro de duas semanas atrás e a esquálida desta última quinta, tendo sido esta uma caricatura daquela.

Em uma manobra de grande inabilidade, o governo federal partiu para a cooptação e a burocratização de movimentos autônomos .
 

Ele próprio, apenas poucas décadas atrás, tinha entrado em contato com outro grego, naturalizado francês, de nome Cornelius Castoriadis. Em privado, era chamado Corneille, porém isso também o confundia por lembrar o célebre dramaturgo francês. O problema, porém, não era esse. O que estava em questão era a distinção feita por esse filósofo entre “autonomia” e “heteronomia”.

Autonomia designava movimentos populares autônomos, genuínos, que brotavam da sociedade por ela mesma, lutando contra governos que os oprimiam ou não atendiam às suas reinvindicações. Heteronomia, por sua vez, significava movimentos controlados por aparatos partidários e burocráticos, de uso corrente na esquerda, cujo objetivo consistia precisamente em substituir e aniquilar uma manifestação independente da sociedade civil.

Ora, as manifestações de duas semanas atrás se caracterizaram, precisamente, por serem autônomas, nascidas do próprio seio da sociedade civil, ultrapassando qualquer “aparelho” que tenha procurado controlá-las. Foi um espetáculo de liberdade. Uma expressão da mais legítima indignação com distintos governos de diferentes partidos, sejam eles do PT, PMDB ou PSDB, tanto no nível federal, quanto estadual e municipal.

Em uma manobra de grande inabilidade, o governo federal e o PT, em vez de procurarem atender a uma indignação generalizada dos cidadãos brasileiros, partiram para a cooptação e a burocratização de movimentos autônomos. Colocaram em pauta a heteronomia. Sindicatos financiados com recursos públicos e movimentos sociais organizados como o MST, também financiados pelo governo, usurparam a bandeira da liberdade e da moralidade. O resultado foi um fiasco total. Ruas comparativamente vazias, burocratização das marchas, uniformização dos discursos e indignação fingida.

A presidente, com humildade, deveria ter reconhecido desde o início os seus erros e os de seu antecessor, resgatando o princípio de não contradição e a clareza e a distinção de ideias. Poderia ter aberto um novo caminho. Nosso amigo marciano, por sua vez, confuso, preferiu voltar ao seu planeta. Pelo menos lá reina a coerência e a racionalidade.

Fonte: O Globo, 15/07/2013

segunda-feira, 15 de julho de 2013

BNDES adiou cobrança de contratos bilionários de empresas de Eike Batista

15 de julho de 2013 | 2h 06

EDUARDO BRESCIANI / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
 
Contratos de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) sofreram alterações para beneficiar empresas de Eike Batista. As mudanças adiaram prazos, estenderam recursos e relaxaram exigências. Documentos enviados ao Congresso e obtidos pelo 'Estado' mostram que foram firmados 15 contratos no valor de R$ 10,7 bilhões com empresas do grupo de janeiro de 2009 a dezembro de 2012 com juros baixos, garantias em ações das próprias companhias ou bens que ainda seriam adquiridos.

Uma das prorrogações foi assinada a apenas quatro dias do prazo em que a empresa deveria ter feito o pagamento. Em 15 de setembro de 2012 a UTE Parnaíba, que tem a MPX como sócia, deveria ter pago ao BNDES R$ 242,7 milhões. No dia 11 de setembro de 2012, porém, um aditivo mudou o pagamento para março de 2013.

O adiamento ocorreu também em contrato de R$ 240 milhões firmado em dezembro de 2009 com a empresa UTE Porto de Itaqui Geração de Energia S.A., que tem a MPX como sócia. O contrato original previa amortização equivalente a cinco parcelas em junho de 2012, mas um aditivo postergou a quitação em 13 meses.

Outro acordo, com a Porto do Pecém Geração de Energia, na qual a MPX está envolvida, o BNDES prorrogou a exigência de desempenho técnico em seis meses: de dezembro de 2011 para junho de 2012.

Juros baixos. No entanto, as vantagens oferecidas a projetos ligados ao empresário não se resumem a adiamentos. O maior dos contratos individuais entre BNDES e empresas de Eike, de R$ 1,4 bilhão, foi firmado em julho de 2009 para a implantação de uma termoelétrica dentro do complexo industrial de Pecém, em São Gonçalo do Amarante (CE), que tem como acionista a MPX. 

A unidade está em operação e, segundo o contrato, os pagamentos do financiamento do BNDES serão realizados até junho de 2026. Os juros cobrados são de 2,77% ao ano acima da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), atualmente em 5% ao ano. A taxa é inferior à Selic, que foi elevada pelo Banco Central para 8,5% ao ano na semana passada, usada pelo Tesouro para levantar recursos no mercado. 

Há taxas de juros ainda mais favoráveis ao grupo. Em dezembro de 2009, um contrato de R$ 407,7 milhões com a LLX Sudeste para a compra de equipamentos para a construção do porto de Sepetiba, em Itaguaí (RJ), tem juros fixos de 4,5% ao ano. Na época da assinatura do contrato, a Selic era em 8,75%. O BNDES justifica que, em linhas específicas, outras empresas também receberam juros subsidiados (leia mais abaixo). 

Garantias. As garantias também chamam a atenção. Penhor de ações das próprias companhias, cartas de fiança assinadas por empresas do grupo e bens que ainda seriam comprados estão entre as garantias ofertadas pelo grupo EBX.

Num contrato que assina como pessoa física, no valor de R$ 1,344 bilhão, para a construção de um estaleiro pela OSX, Eike oferece entre as garantias dividendos uma de suas empresas, com sede na Holanda. Firmado em 2012, o contrato prevê amortizações a partir de 2016 e pagamento até 2034.
Projetos de infraestrutura, como estaleiros, usinas e portos, geralmente são financiados no longo prazo. No caso de Eike, a maior parte dos empréstimos vence na próxima década.

Ações da Embraer atingem maior patamar desde março de 2008


Por Daniela Meibak | Valor
Embraer/Divulgação

SÃO PAULO  -  As ações da fabricante de aeronaves Embraer atingem o maior patamar desde março de 2008, quando considerados valores em reais, corrigido pela inflação. Sem correção, o preço seria o maior valor histórico do papel.

Os ativos estão entre as maiores altas neste ano da BM&FBovespa. Em 2013 a companhia acumula uma valorização de quase 50%, enquanto o Ibovespa recua quase 24%.

Hoje a Embraer divulgou dados de entregas e pedidos. No segundo trimestre de 2013 a empresa registrou uma carteira de US$ 17,1 bilhões e 366 pedidos até junho, na comparação com 200 unidades no mesmo período do ano passado, perfazendo US$ 12,9 bilhões. A reação do mercado era positiva, com uma alta de 0,99% das ações ordinárias por volta das 15h50, a R$ 21,41.

Pedidos

A Embraer mostrou recuperação na sua carteira de pedidos firmes, na opinião de analistas. Os números são destaque, na opinião da equipe de análise da Concórdia. A corretora afirmou que a empresa tem apresentado boa recuperação em sua carteira após o período de redução no valor consolidado, que aconteceu em função da crise econômica global e problemas enfrentados pelo setor aéreo.

“Além disso, a companhia segue focada no desenvolvimento de produtos e serviços voltados ao segmento de defesa e segurança, que vem ganhando representatividade em seu resultado consolidado e possui boas perspectivas futuras”, afirma a corretora. A equipe lembra que a Embraer tende a se beneficiar com a recente variação cambial, uma vez que sua receita é auferida em dólares e apenas parte de seus gastos estão expostos à moeda.

Segundo Sandra Peres, da Coinvalores, os dados vieram positivos e ficaram acima do que era esperado. Para a analista, a surpresa ficou com os jatos executivos. As entregas no segmento subiram 45% no trimestre e avançaram 24,24% nos seis meses iniciais de 2013. Ela explica que o desenvolvimento dos países emergentes está trazendo uma demanda maior por jatos executivos, para realizar pontes aéreas sem depender da aviação comercial.

O Citi está no lado mais pessimista e afirma que a qualidade das entregas foi fraca, com de 22 jatos comerciais no trimestre, ante a estimativa de 27 unidades pelo banco. O analista Stephen Trent afirma que a dependência da empresa com uma única companhia aérea não tem precedentes.

A Embraer, segundo o relatório do banco, tem 38% da sua carteira de pedidos firmes na aviação comercial vindos da SkyWest, com grande parte dessas ordens sem geração de receita por pelo menos sete anos. “Sete anos é muito tempo para uma companhia aérea, é quase uma eternidade.”