terça-feira, 10 de setembro de 2013

Liminar proíbe Receita de fiscalizar arbitragens

 
 
 
 
 
Uma liminar da Justiça Federal de São Paulo proibiu a Receita Federal de exigir informações de arbitragens feitas pelo Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá. A decisão barra uma das investidas do Fisco feitas contra diversas câmaras arbitrais em busca de checar a veracidade de informações prestadas por empresas em declarações fiscais. Como as arbitragens são sigilosas, as empresas que delas participam teriam menos receio de mostrar, nos processos, detalhes que não contariam se questionadas diretamente pela Receita.

No caso da Câmara Brasil-Canadá, a Receita a intimou, em maio, a entregar informações como confirmações sobre se foi ou não prolatada sentença em determinados procedimentos arbitrais entre janeiro de 2009 e dezembro de 2012. Foi exigido inclusive que a Câmara deixasse seus procedimentos arbitrais, inclusive os ainda em curso, à disposição da fiscalização tributária.

A liminar em favor da Câmara foi expedida no dia 23 de julho pela 4ª Vara Federal Cível de São Paulo. "A exigência se refere a dados atinentes às partes envolvidas nos autos acima mencionados, e não acerca da documentação relativa às próprias atividades da impetrante", diz na decisão o juiz federal Luciano dos Santos Mendes, substituto na 4ª Vara.

Seu argumento é que tanto o Regulamento da Câmara Arbitral quanto a Lei de Arbitragem — a Lei 9.307/1996 — garantem o sigilo dos procedimentos arbitrais, oponível ao interesse do Fisco. O regulamento ainda proíbe julgadores, partes e peritos a divulgar informações de terceiros a que tenham acesso devido ao ofício desempenhado na Câmara. Segundo o juiz Luciano Mendes, profissionais liberais como advogados e contadores podem incorrer inclusive em infração penal se revelarem informações de clientes a terceiros, salvo se obrigados pela Justiça.

O entendimento do juiz não é único. De acordo com o jornal Valor Econômico, pelo menos mais uma câmara arbitral conseguiu liminar que impede a Receita Federal de ter acesso a informações de julgamentos dos últimos cinco anos. Ambas as decisões impedem a Receita Federal de multar ou aplicar qualquer outro tipo de punição contra as câmaras.

O Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem (CBMA), com sede no Rio, foi outro fiscalizado, assim como a Câmara FGV de Conciliação e Arbitragem do Rio de Janeiro, uma das mais procuradas do país no setor. Ela foi a primeira a ser notificada. O processo começou logo após o Carnaval. No Termo de Fiscalização, a Receita exigiu a entrega das sentenças com a ameaça de multá-la em caso de desobediência, por descumprimento de obrigação acessória. A Fundação Getulio Vargas, patrocinadora da Câmara, já disponibilizou todos os documentos ao Fisco.


Alvos na mira

O alto valor recebido em honorários pelos árbitros é o que parece ter acendido o sinal de alerta da Receita, pois indicaria grandes valores de transações levadas a julgamento. Nas notificações, o Fisco pede às câmaras que informem valores recebidos pelas partes e seus advogados nos processos terminados.

Outra preocupação é com o pagamento de contribuições previdenciárias pelas empresas, incidentes sobre os altos salários de executivos. É comum esses profissionais serem remunerados com planos de previdência privada, ações na Bolsa de Valores e outros programas de marketing de incentivo que reclamam a não incidência das contribuições ao INSS. Como conflitos envolvendo demissões de altos executivos costumam ser resolvidos em arbitragem e não em ações na Justiça, obter essas decisões permitiria à Receita apurar possíveis dribles previdenciários.

Tributaristas temem ainda uma investida sobre planejamentos tributários de terceiros. De posse de sentenças arbitrais, o Fisco teria mais munição para desqualificar planejamentos tributários ao avaliar operações societárias — como fusões, cisões e compra de participações acionárias — consideradas sem outro propósito que não seja o de somente economizar em tributos. As informações obtidas nas câmaras serviriam, por exemplo, para contestar explicações dadas pelas empresas em julgamentos administrativos que impugnam autuações fiscais.

“Pediram tudo, sem um critério”, conta Carlos Suplicy de Figueiredo Forbes, vice-presidente do Comitê Brasileiro de Arbitragem (CBar). “Por isso, o foco da fiscalização ainda é um mistério, não conseguimos entender.” Outro aspecto intrigante em relação aos objetivos do Fisco é que, devido a um convênio com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, boa parte das arbitragens feitas pelo centro da FGV Rio envolvem órgãos públicos, o que exige que elas sejam divulgadas. “Não são comuns contratos de empreitada ou disputas societárias”, explica Forbes.

Segundo ele, os procedimentos arbitrais não foram pinçados pelos fiscais, mas exigidos em massa, por período. “Ocorre que a informação não é do centro, que só a administra. Se entrego informações que não são minhas, mas de terceiros, não é o Fisco quem está quebrando o sigilo, mas eu.”

Clique aqui para ler a liminar em favor da Câmara Brasil-Canadá.

Salomão acena com nova Lei de Arbitragem mais ampla


Se ainda havia receios quanto à limitação do escopo da arbitragem no Brasil, eles foram dissipados pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça, Luís Felipe Salomão. Na manhã desta segunda-feira (9/9), na sede da Federação do Comércio do Rio de Janeiro, o ministro, que preside a Comissão de Reforma da Lei de Arbitragem (Lei 9.307/96), afastou qualquer possibilidade de se enfraquecer o instituto no país.

O ministro elencou uma série de novas hipóteses de aplicação da lei, hoje não previstas. Salomão acenou com a possibilidade de estender o uso da solução extrajudicial nas relações de consumo, na relação trabalhista, na administração pública e no Direito Societário. O ministro aventou a hipótese de se prever prazos de prescrição no processo e anunciou a intenção de aprofundar e regular melhor as possibilidades de concessão de cautelares — aspectos em que a legislação hoje é omissa. (Na foto, ministro Luís Felipe Salomão, advogado Rodrigo Cândido de Oliveira, Orlando Diniz e ministro Paulo de Tarso Sanseverino)

O ministro evitou entrar em detalhes e concordou apenas em relacionar tópicos do que se discute na comissão — que deverá apresentar as propostas de aperfeiçoamento da lei até o dia 30 deste mês. Mas advertiu que nos casos das relações de consumo e trabalhistas, o processo só seria válido com anuência e iniciativa do consumidor e do trabalhador. Salomão ressalvou, no entanto, que no possível uso da arbitragem para relações de consumo e de trabalho, não se pretende massificar os processos arbitrais.

“O instrumento próprio para solução de grandes volumes de casos é a mediação”, explicou. O ministro reafirmou que o exemplo ideal é a Lei Modelo sobre Arbitragem Comercial Internacional elaborada pela Uncitral, Comissão das Nações Unidas para o Direito Comercial Internacional. Informou, ainda, que a Comissão do Senado trabalha nesse campo com a Comissão criada pela Secretaria da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça, e que os dois colegiados atuam no sentido de regular, num mesmo contexto, tanto a mediação judicial quanto a extrajudicial.

“No capítulo da mediação há muito que evoluir”, afirmou, lamentando que até hoje ainda não exista a disciplina de Mediação nos cursos de Direito. Mas a boa notícia, segundo ele, é que a Ordem dos Advogados do Brasil já se dispôs a defender a inclusão da matéria no currículo básico dos cursos de Direito.

“Aprendemos a fazer petição inicial, mas não aprendemos a mediar. Eu acredito num processo que é cultural que vai demandar uma mudança de perspectiva, que não virá senão através de gerações”, concluiu.

Participaram do evento, também, o ministro do Superior Tribunal de Justiça Paulo de Tarso Sanseverino; o advogado Igor Mauler Santiago; o desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Luciano Rinaldi; o presidente do Centro de Mediação e Arbitragem da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CAM-CCBC), Frederico Straube, e o presidente do Comitê Brasileiro de Arbitragem, Lauro Gama Jr, além do presidente da Fecomércio, Orlando Diniz, e do advogado Rodrigo Candido de Oliveira, coordenador e mediador do encontro.

Consultor Juridico

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

UNIVERSIDADES BRASILEIRAS: DESAFIOS DA INTERNACIONALIZAÇÃO

 

 

 

 

Enquanto em Harvard, nos EUA, a média de alunos estrangeiros chega a 20%, nas estaduais paulistas (as mais ‘internacionais’ do país) o percentual não passa de de 2%. E ainda, a maioria vem de países vizinhos, como Argentina e Colômbia, ou Portugal.

As universidades de elite de todo o mundo têm pelo menos uma obsessão comum: a busca por estudantes e professores estrangeiros. Egressos de outros países trazem um repertório diversificado de ideias, problemas e soluções, o que enriquece o ambiente de ensino –e, no caso dos alunos importados, também o caixa das instituições.

No Brasil, porém, o movimento de internacionalização está engatinhando. Além da falta de uma política de atração de estrangeiros, ensinar em português é um grande empecilho.
Em países como Holanda, Alemanha e Dinamarca, a maioria das universidades dá aulas em inglês, para permitir a o intercâmbio de alunos e docentes. Recentemente, até a vetusta Universidade Sorbonne aderiu a aulas no idioma de Shakespeare.

“A quantidade de disciplinas em inglês é o principal fator de internacionalização em universidades de países de língua não-inglesa”, analisa Laura Ripoll, da Universidade de Girona, na Espanha, que criou metodologia para analisar a internacionalização de universidades de seu país.

A ausência do inglês nas salas de aula é reflexo da pouca fluência nacional, como mostra o Ciência sem Fronteiras, programa federal que já enviou cerca de 50 mil alunos para o exterior e planeja chegar a 100 mil.

As seis universidades que mais receberam bolsistas brasileiros quando o programa foi lançado eram portuguesas. A campeã foi a Universidade de Coimbra (709 alunos). Portugal acabou sendo retirado do programa.


Mobilidade engessada


Enquanto em Harvard, nos EUA, a média de alunos estrangeiros chega a 20%, nas estaduais paulistas é de 2%. A maioria vem de países vizinhos, como Argentina, Colômbia e Portugal.

A universidade mais “internacional” do Brasil, UFABC, e a melhor do país, USP, ainda não têm planos de dar aulas em inglês. A Unicamp chegou a estudar a possibilidade, mas o assunto saiu da pauta do conselho universitário.

A resistência vem da própria comunidade acadêmica, que alega que aulas em inglês afetariam a igualdade nas condições de acesso e permanência na escola.

As estaduais paulistas já podem promover concursos para docentes em outros idiomas. “Nas universidades federais, no entanto, um estrangeiro teria de ser concursado em português para dar aula”, diz Leandro Tessler, ex-coordenador de relações internacionais da Unicamp.

Avalizado por especialistas, para quem a inserção internacional é uma necessidade imposta pela globalização cada mais acentuada de pesquisa e ensino, o RUF 2013 incorporou três subindicadores para aferir o grau de reconhecimento das universidades brasileiras no exterior.

Entre os líderes da lista desse indicador, há quatro universidades públicas e uma privada. Nenhuma delas têm aulas em inglês.

Sabine Righetti
(Folha de SP – 09/09/2013)

Alta do dólar ajuda exportador a fisgar bons negócios e recuperar mercados



 
 
O preço do produto brasileiro no exterior nos últimos três meses está 10% mais competitivo. Cálculos da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) indicam que o impacto maior da desvalorização do real se dará nas vendas de produtos manufaturados, e a perspectiva de alta no valor da receita exportada na balança comercial brasileira, no próximo ano, é de, no mínimo, US$ 7 bilhões.

Os cosméticos (foto) estão entre os setores beneficiados pela valorização do dólar frente ao real - a moeda norte-americana neste ano já acumula alta superior a 16% - ao lado de veículos, produtos químicos, máquinas, calçados, têxteis, joias e móveis. São beneficiados segmentos do agronegócio, como suco de laranja e açúcar refinado.

“Ainda temos um mercado internacional retraído e há outras moedas, além do real, desvalorizando-se. Não sabemos se o dólar ficará em R$ 2,30 ou R$ 2,40. Mas de uma coisa temos certeza: a situação está bem melhor para as exportações demanufaturados. Já começamos a ver luz no fim do túnel”, assegura o presidente da AEB, José Augusto de Castro.

De janeiro a julho, o comércio externo teve déficit de US$ 4,9 bilhões, com exportações de US$ 135,2 bilhões e importações de US$ 140,2 bilhões. 

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, a partir do cenário atual já é possível projetar um incremento leve nas exportações do setor este ano. Ele observa que, nos sete primeiros meses do ano, o valor das exportações foi praticamente o mesmo do ano passado, que já havia sido o pior em 25 anos (US$ 1,09 bilhões). Por outro lado, em pares de calçados, a exportação cresceu quase 11% neste período. “O motivo é justamente o dólar valorizado, que fez com que o exportador brasileiro conseguisse um preço mais competitivo no mercado externo”, explica.

Ricardo Wirth, calçadista do Vale dos Sinos, ressalta que as empresas da região tentam voltar sua produção ao mercado externo. “O dólar desvalorizado foi o fator que mais nos prejudicou nos últimos anos. A curto prazo, a situação continuará difícil, mas acreditamos em melhora.”

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Têxteis (Abit), Fernando Pimentel, reforçou a premissa de que as coisas vão, finalmente, melhorar para o setor. Ele lembrou que é preciso esperar para ver o que deve acontecer com a economia norte-americana. “A alta do dólar é favorável ao setor, mas não dá para prever ou fazer estimativas de curto prazo”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Moveleira (Abimóvel), Daniel Lutz.

As boas perspectivas quanto ao futuro animam micro e pequenos empresários, de acordo com o presidente do Sebrae, Luiz Barretto. Ele enfatiza que, 
nesse primeiro momento, o impacto está ocorrendo principalmente na receita dos exportadores, que recebem mais em real pelos produtos. “Para as 
empresas que exportam, a alta do dólar já está contribuindo para tornar seus produtos mais competitivos”, acredita Barretto.

A área de comércio exterior do governo comemora a alta do dólar, e isso ficou claro na recente declaração do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. No dia em que a moeda norte-americana bateu R$ 2,45, Pimentel disse considerar “ótima” a cotação do dólar. Pela primeira vez em sete anos a diferença entre o total de empresas exportadoras que abriram as portas e as que encerraram atividades foi positiva. 
De janeiro a julho, surgiram 19 empresas.

Fonte: http://jcrs.uol.com.br

Impacto do dólar nas compras de brasileiros no exterior preocupa



 






A alta do dólar pode estar beneficiando os exportadores, mas, de outro lado, a forte dependência do país de insumos e bens intermediários importados preocupa a área econômica. Há produtos que não são fabricados no Brasil e precisam ser trazidos de fora. Mesmo com a queda das tarifas de importação de alguns produtos, a variação cambial tem sido pesada. Assim, será inevitável o impacto da nova realidade cambial nos preços ao consumidor no fim deste ano e a partir de 2014.

A indústria de veículos sente o impacto dos dois lados da balança. O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan Yabiku, diz que o setor “festeja e chora” ao mesmo tempo o valor do dólar. 
 
No curto prazo, de acordo com ele, há impactos para a indústria automotiva porque grande parte dos insumos é importada. “Mesmo assim, o governo reduziu os impostos para parte desses insumos, diminuindo um pouco esse impacto.” Como ponto positivo do preço da moeda norte-americana, aponta o estímulo à retomada das exportações.
 
A exportação de veículos apresentou, em julho, o melhor desempenho para o mês de toda a série histórica. O volume de carros embarcados cresceu 2,4% ao chegar a 52.456 unidades, contra 51.233 em junho, segundo dados da Anfavea.
 
Na comparação do montante exportado em julho com o do mesmo mês do ano passado, o crescimento alcançou 75,9%. No acumulado do ano, o aumento foi 24,9%, com 318.610 veículos vendidos no mercado exterior, ante 255.194 registrados no mesmo período de 2012. De acordo com o presidente da entidade, este também foi o acumulado dos sete meses. A Anfavea revisou as projeções para as exportações, de 4,6% para mais de 20%.
 
Apesar do câmbio, compras no exterior seguem atrativas. Mesmo com o avanço do dólar este ano, o brasileiro tem motivos de sobra para fazer compras nos Estados Unidos. Em Miami, um dos destinos favoritos, uma cesta de 18 produtos - como tablet, perfume, tênis e produtos infantis - somava R$ 6.884,00 em janeiro, quando a cotação era de R$ 1,99. Quando a cotação chegou a R$ 2,37, o total subiu para R$ 8.199,00 - alta de 9%. Ainda assim, revela o levantamento, os mesmos produtos, se comprados no Brasil, custariam 59,8% a mais: R$ 13.105,00.
 
A diferença seria ainda maior se considerado o dólar do fim de janeiro de 2012 (a R$ 1,74), quando a mesma seleção sairia a R$ 6.019,00. Nesse caso, o valor no Brasil seria 117% mais caro.Um mesmo produto, se adquirido aqui, pode ser até três vezes (200%) mais caro do que nos EUA.
 
É o caso de um tapete de atividades para bebê (Gymini Amiguinhos da Natureza Tiny Love). No site do Walmart para entrega em Miami, o item sai a R$ 120,72; e em Nova Iorque, a R$ 123,66. Na versão brasileira do mesmo site, custa R$ 368,00. Segundo especialistas, além da alta do dólar, o varejo brasileiro sofre, sobretudo, com a carga tributária elevada. Para os brinquedos, diz o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), os impostos representam 39,7% do preço.
 
Os fabricantes brasileiros, sejam de brinquedos ou de  outro produto que sofre a concorrência dos importados, dizem que a tributação é positiva porque evita enxurrada de mercadorias de fora no mercado interno, fazendo concorrência predatória.Segundo Alípio Camanzano, presidente do site Decolar.com, o brasileiro consegue comprar com vantagem até a cotação do dólar chegar a R$ 3,00. Para ele, o pior é a volatilidade da moeda. 
 
“O dólar tem que parar de pular. Mesmo com o avanço atual da moeda, o poder de compra do brasileiro nos EUA ainda é um diferencial”, destaca Camanzano, lembrando que as vendas de passagens em agosto subiram 45% ante igual mês de 2012.A percepção de Camanzano está em linha com os dados divulgados pelo Banco Central (BC). 
 
Em julho, os brasileiros gastaram US$ 2,21 bilhões no exterior, alta de 10,1% em relação ao mesmo mês de 2012. Esse foi um dos motivos que ajudaram o País a registrar déficit em transações correntes de US$ 77,7 bilhões nos 12 meses encerrados em julho, correspondendo a 3,39% do Produto Interno Bruto (PIB). 
 
O número é maior que os 2,21% de julho de 2012.O fato é que os brasileiros vão cada vez mais para Miami e Nova Iorque. Segundo a Greater Miami Convention, entre 2002 e 2012 houve alta de 70,11% no número de turistas, para 689,9 mil. No ano passado, gastaram US$ 1,49 bilhão na cidade. Em Nova Iorque, diz a NYC & Company, houve avanço de 838,63% no fluxo em 10 anos, para 826 mil. Em 2011, os brasileiros gastaram US$ 1,62 bilhão na Big Apple. 
 
Mesmo com a cotação da moeda americana em alta, a empresária de moda Andréa Galvão é categórica ao afirmar que vai continuar viajando. Ela esteve em Nova Iorque em maio e vai a Miami em novembro. Com procura em alta, as agências criam pacotes. A CVC lançou uma viagem para Black Friday, queima de estoque do varejo norte-americano em 29 de novembro. “O brasileiro gosta de comprar nos Estados Unidos. Sempre foi mais barato.
 
Em média, as pessoas que vão para comprar ficam entre três e cinco dias. Mas é preciso contabilizar, por exemplo, gastos com passagem aérea, hotel e alimentação”, diz Maria Dolores, gerente de uma agência de turismo.Segundo agências de viagem, uma passagem de ida e volta para Nova Iorque custa entre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil se comprada com um mês de antecedência. Três noites em um hotel três estrelas sai por R$ 1,5 mil. Para Miami, a passagem custa cerca de R$ 2 mil, e a estadia por R$ 1 mil. Segundo pesquisa da Decolar.com, passagem e hotel somam até 40% dos gastos de um viajante.    Fonte: redação com agências 

OMC revisa para baixo crescimento do comércio internacional em 2013 e 2014



 
 
O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo (foto), confirmou nesta segunda-feira que a entidade revisou para baixo as perspectivas de crescimento do comércio internacional para 2013, que agora ficou situado em 2,5%, ao contrário dos 3,3% calculados anteriormente.

Os intercâmbios comerciais em 2014 também serão menores do que os esperados, com uma nova projeção de 4,5%, contra os 5% estimados. Em sua primeira entrevista coletiva como principal responsável da OMC, Azevêdo explicou que a principal razão desta revisão é que os analistas esperavam que a economia da União Europeia começasse a subir no segundo trimestre do ano, algo que não aconteceu.

Um ligeira recuperação foi recém observada no trimestre atual, comentou o diplomata brasileiro, que assumiu suas funções de diretor-geral da organização no começo do mês. Os analistas "esperavam uma recuperação mais rápida da economia europeia, que a melhora começasse no segundo trimestre e que como resultado o comércio iria melhor". No entanto, a economia europeia na realidade "chegou ao fundo do poço" entre abril e junho, e uma melhora "começou a ser vista no terceiro trimestre", explicou. "Essa brecha foi a causa que da projeção ser revisada para baixo, o que provocou um ajuste nos números", acrescentou.

A OMC apresentará neste mês, em uma data ainda por confirmar, seu relatório anual com as previsões completas da evolução do comércio internacional. 

Fonte: EFE

Delfim defende regulação em commodities


Por Luiz Henrique Mendes | De São Paulo
Luis Ushirobira/Valor / Luis Ushirobira/Valor 
 
Para Delfim, incentivo do governo brasileiro à concentração na área de frigoríficos é um grave erro, porque cria oligopsônio na compra e oligopólio na venda.
 
O processo de globalização da economia resultou em uma estrutura perversa no mercado de commodities, em que pouco mais de uma dezena de tradings agrícolas controlam bilhões de produtores rurais. Em escala global, as tradings atuam como um oligopsônio na aquisição de produtos agrícolas, limitando o poder de negociação dos agricultores, e como um oligopólio na venda desses produtos.

Para equilibrar esse processo, o Estado, que de algum modo aceitou e até promoveu a consolidação dessa estrutura, terá de agir e lançar mão de instrumentos de regulação, tais como agências específicas para isso. Essa é a avaliação do economista Antônio Delfim Netto, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura.

Em entrevista ao Valor, Delfim, aos 85 anos, diz que a política de concentração dos frigoríficos brasileiros, capitaneada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foi um "grave erro", e é parte desse processo global da oligopolização da produção global de alimentos. "Mesmo quando há grandes economias de escala, estruturas oligopsônicas e oligopolísticas são contra o aumento da produtividade", afirma.

Na entrevista, Delfim tratou de algumas das principais discussões da economia agrícola. Em meio ao debate sobre a desaceleração da China, ele não crê que haverá uma "debacle" nos preços agrícolas. O período de forte alta nas cotações, porém, já passou e o Brasil, segundo Delfim, não soube aproveitar o boom para investir em infraestrutura.

Sobre a política agrícola nacional, o ex-ministro elogia o último Plano Safra, válido para o ciclo 2013/14. De acordo com ele, o plano ataca aquele que talvez seja o principal gargalo da agricultura atualmente: a política de seguro rural. Para Delfim, a ausência de uma política de seguro agrícola consistente foi responsável pela pecha de caloteiros - externada até mesmo pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) - que os agricultores ganharam.

O ex-ministro ressalta, ainda, o papel que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem no desenvolvimento da agricultura nacional. Segundo ele, a estatal continua a ser um elemento "distintivo" do país. Na opinião de Delfim, a perda de participação da Embrapa em mercados cobiçados como os de sementes de soja e milho não é um problema. "A Embrapa não foi feita para substituir o setor privado", diz.

Na seara política, Delfim diz que a bancada ruralista no Congresso Nacional também cumpre sua função de maneira adequada. Em questões polêmicas, como a indígena e a ambiental, o papel de árbitro cabe ao Estado, afirma. Nos casos de exploração de trabalho análogo à escravidão no campo, não há como tergiversar, diz Delfim. "Só pondo na cadeia", afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: O Brasil foi beneficiado na última década pelo explosão da demanda chinesa. Esse ciclo acabou?

Antônio Delfim Netto : A demanda por produtos agrícolas depende, no fundo, do crescimento da população e da urbanização. Mas eu não vejo que você vai ter uma redução muito importante da taxa de crescimento da demanda de produtos agrícolas nos próximos anos. O que vai mudar, seguramente, é a estrutura da demanda. Você vai caminhar mais para produtos proteicos, porque o mundo está melhorando seu nível de renda. Mas não vejo nenhuma razão para imaginar uma debacle nos preços agrícolas. Teremos, no fundo, uma relativa estabilização. Os preços, provavelmente, vão voltar a declinar lentamente como sempre acontece, o que não significa que a demanda global vai diminuir.

Valor: Mas o maior salto já foi?

Delfim : O principal salto foi o avanço espetacular da China, que não vai se repetir. Mas imaginar que a China vai reduzir a sua demanda dramaticamente é um erro. Ela vai continuar crescendo 4,5%, 5% ao ano. E mais importante: vai aumentar muito a urbanização, o que reduz a oferta de produtos agrícolas de um lado e aumenta a demanda de outro, porque aumenta a renda.

Valor: O sr. acha que o Brasil aproveitou bem o boom da China?

Delfim : O Brasil não aproveitou bem o boom das commodities. Durante dez anos, tivemos um crescimento das relações de trocas importante, o que significa que a renda crescia mais do que o PIB. Teria sido o momento para fazer as mudanças estruturais que nós precisamos. Mas optamos por um caminho um pouco diferente. Usamos muito mais desses recursos na redistribuição de renda do que no aumento da eficiência produtiva, o que é compensado por um aumento do bem-estar visível. Mas um dos aspectos mais difíceis de entender é que você sacrificou uma parte das vantagens da melhoria das relações de troca para valorizar o câmbio e para combater inflação - ou seja, você jogou fora uma parte desses recursos.

Valor: De algum modo, o Brasil é refém da "maldição" dos recursos naturais, se é que ela existe?

Delfim : Não tem maldição nenhuma. O Brasil aproveitou esses recursos e desenvolveu um setor agrícola extremamente eficiente. A agroindústria, que talvez seja um quarto do PIB, é um setor altamente eficiente. É um setor sofisticadíssimo, mas muito prejudicado por falta de estrutura, de transportes, de portos, por falta de armazenagem e por falta de uma política importante, que é a política de seguro de safra.

Valor: O último Plano de Safra avançou na questão do seguro?

Delfim : Evoluiu muito. Esse último plano de safra é dos melhores que já foram produzidos no Brasil. Ele atentou para algumas coisas críticas. Está começando a haver uma consciência de que o país não tem conseguido fazer chegar a essa gente o progresso da tecnologia na pequena propriedade. No fundo, se abandonou um sistema de assistência técnica que já foi muito eficiente no Brasil e esse plano começou a reconstruí-lo. Se você conseguir mobilizar a pequena agricultura com os avanços da tecnologia que estão na gaveta, vai produzir uma revolução.

Se conseguirmos mobilizar a pequena agricultura com os avanços da tecnologia, haverá uma revolução

Valor: Num artigo de 2004, o sr. dizia que, depois do completo desastre que foi a política agrícola do governo Collor e da pecha de caloteiros no governo FHC, o relação do governo com o setor começava a melhorar. Isso se comprovou?

Delfim : Melhorou. O problema da agricultura é que ela é uma atividade de altíssimo risco. A agricultura depende da vontade de São Pedro. Como a agricultura precisa de crédito, o fato de a receita ser altamente influenciada pelas variações climáticas coloca uma dificuldade gigantesca. Por quê? Quando, por efeito do clima, há uma queda da oferta de produtos, os preços não sobem para suprir a renda. O agricultor vê seu patrimônio desaparecer. Como não há seguro de safra, ele fica devendo. Na próxima vez, você tem um acordo com o governo. Mas o governo é pior do que o pior dos banqueiros. Cada negociação de dívida é uma tragédia, ou foi uma tragédia no passado. Você embutia custos espantosos, taxas de juros gigantescas. Desse ponto de vista, houve uma avanço muito grande. Já começou no Fernando Henrique e veio avançando. Para a agricultura funcionar tranquilamente, ela tem que ter seguro de safra. Ou seja, se houver um acidente, a tua renda é complementada e você pode honrar os seus compromissos.

Valor: Nesse sentido, qual é o papel do Estado na política agrícola? 

Delfim : Provavelmente, a pesquisa não se sustenta simplesmente com financiamento privado. O Estado produziu, ou pelo menos divulgou, todas a grandes invenções, da internet até a semente do milho transgênico.

Valor: Como o senhor vê a atuação da Embrapa. É natural que ela perca participação nos mercados mais cobiçados como soja e milho?

Delfim : A Embrapa não foi feita para substituir o setor privado. Ela é um instrumento de pesquisa. O mundo se aproveita das pesquisas da Embrapa. Quando você diz que a Embrapa reduziu participação, ela não reduziu o seu papel. Ela está se sofisticando e é claro que os ganhos são menores, na margem. A base é muito mais alta. Mas a Embrapa foi e é um instrumento distintivo, que distingue a economia brasileira do resto do mundo. O que você não pode é pensar que essas coisas acontecem por acaso. E não é só no Brasil, não. A soja nos EUA também dependeu do departamento de agricultura [USDA]. O Estado é um fator importante no processo de desenvolvimento.

Valor: O sr. acha que o Estado deve intervir nos preços agrícolas?

Delfim : O Estado precisa de um estoque regulador por causa da flutuação da agricultura, da oferta. A política de estoques é fundamental. Não para perturbar, mas para regular o mercado quando há um acidente climático.

Valor: O Estado brasileiro incentivou uma concentração entre frigoríficos? O sr. concorda com isso?
Delfim : Isso é um grave erro, porque cria organismos que são um oligopsônio na hora de comprar e oligopólios na hora de vender. Você não pode ter milhões de produtores e dois sujeitos comprando tudo o que eles produzem. Aliás, essa é uma tragédia que está acontecendo no mundo. O número de empresas que transacionam commodities se reduziu dramaticamente. O monopólio é muito ruim. Estruturas oligopsônicas e oligopolíticas são contra o aumento da produtividade, mesmo quando se diz que há grandes economias de escala. A estrutura em que você reduz a quantidade de oferta ou reduz a quantidade de compradores é uma estrutura perversa.

Valor: Mas uma das alegações, no caso dos frigoríficos, é que a concentração ajudaria a melhorar a sanidade da cadeia produtiva.

Delfim : A política sanitária é coisa do governo. Você não precisa de gente grande para comprar gado bom. Você pode ter gente pequena comprando gado da melhor qualidade do ponto de vista da sanidade.

Valor: E o que fazer para combater esse processo de concentração?

Delfim : O Estado não pode deixar que se formem monopólios. Quando existir um monopólio, ele tem que ter uma agência reguladora independente e que ele não possa se apropriar dela.

Valor: No caso do Brasil, o Estado escolheu os vencedores?

Delfim : Isso não importa. A política em si é que está equivocada. Não é que se escolheu A ou B. Pode até ter escolhido pessoas ou empresas que vão progredir. Mas o que está errado é a política.

Valor: Na área política, como o sr. vê o papel da bancada ruralista? Existem polêmicas na questão ambiental, na questão indígena...

Delfim : A bancada ruralista faz o seu papel. A questão indígena está definida na Constituição. Sempre há dois lados. Se você entrega tudo para antropólogos, vai para um lado. Se você entrega para empresários agrícolas, vai para o outro. É por isso que tem que ter o Estado para arbitrar.

Valor: E como conciliar produção agrícola e preservação ambiental?

Delfim : Não há contradição entre a preservação do meio ambiente a agricultura. Só um agricultor muito burro não preserva o meio ambiente. O que há é uma certa contradição entre algumas pessoas que gostariam muito de voltar para a Idade da Pedra e aqueles que acham que não têm que tomar conhecimento de nada, e querem colocar um trator onde puder. De novo: por isso é que existe o Estado, Deus meu!

Valor: E o que fazer com os frequentes casos de exploração de trabalho análogo à escravidão?

Delfim : Pondo na cadeia.

Valor: O que o senhor acha da proposta de expropriar a terra de quem fizer esse tipo de exploração?

Delfim : Não é uma solução, mas seguramente é uma forma de impedir que isso aconteça. Tem que ser uma punição draconiana.