domingo, 15 de setembro de 2013

Genética incompleta



 



Celso Ming

Por que os clássicos que se dedicaram a rastrear a origem e o destino do povo brasileiro, não encontraram aí o DNA do imigrante?
A leitura do último livro do professor Fernando Henrique Cardoso – Pensadores que Inventaram o Brasil – é fascinante pela síntese, erudição, qualidade do texto e pela percepção acurada da história do pensamento dos brasileiros sobre si mesmos.



Mas Fernando Henrique não poderia avaliar o que os inventores do Brasil não inventaram. E ali estão Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha, Paulo Prado, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr., Antonio Candido, Florestan Fernandes, Celso Furtado e Raimundo Faoro. Paradoxalmente, nenhum deles leva em conta as contribuições do imigrante na formação do Brasil moderno.

Gilberto Freyre, no consagrado Casa Grande e Senzala, observa, de passagem, que “os portugueses triunfaram onde outros europeus falharam”. Ele se refere a franceses, alemães, holandeses e nórdicos. Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, quando contrasta a capacidade de adaptação do português com a dos demais europeus, nota que “colonos de pura estirpe germânica” regrediram a métodos predatórios e dissipadores, mesmo em clima temperado. Mas não foi além. Os demais silenciam sobre a importância do imigrante na construção da riqueza e da cultura nesta terra.

E, no entanto, o Brasil vem sendo cada vez mais plasmado pela herança de sírios, libaneses, alemães, italianos, japoneses, espanhóis, poloneses e suíços que desembarcaram aqui a partir da segunda metade do século 19, inicialmente para substituir a mão de obra escrava (veja o gráfico).

A história da indústria, por exemplo, foi escrita pelos Matarazzos, pelos Gerdaus e milhares de outros. A economia do engenho de açúcar e da escravidão foi substituída pela usina de açúcar e de etanol e, no lugar dos senhores de engenho, encontramos cada vez mais sobrenomes italianos. Entre os campeões da soja, do algodão e do gado, sucedem-se descendentes de imigrantes. Os novos bandeirantes que vêm abrindo as fronteiras do agronegócio nacional são gaúchos, barrigas-verdes e paranaenses. Carregam no seu jeito de falar sotaques alemães e italianos.

Sem toda essa gente, não dá para contar a história das artes plásticas, da arquitetura e da medicina no Brasil. O primeiro grande ídolo brasileiro do futebol chamava-se Friedenreich. Depois vieram Bauer, De Sordi, Bellini, Altafini, Sani, Rivellino, Piazza, Taffarel… No automobilismo, Fittipaldi e Piquet foram campeões mundiais. Nas passarelas, a rainha é Bündchen.

Ah, a política… Dos 13 últimos presidentes da República do Brasil, 6 levam sobrenomes europeus: Kubitschek, Goulart, Medici, Geisel, Collor (aportuguesamento de Koeller) e Rousseff.

Os imigrantes contribuíram para a reorganização do trabalho. Inventaram o colonato. Desenvolveram aqui uma nova ética do trabalho, que não se identifica com a protestante, baseada no dogma da predestinação, de que nos fala Max Weber, mas mudou o jeito do brasileiro de encarar a vida, com muito suor no rosto, calos nas mãos e vontade de chegar lá.

Até mesmo o movimento sindical brasileiro tem dívidas com os imigrantes anarquistas espanhóis e italianos, que não se dedicaram aqui a demolir o Estado, como na Europa, mas a conquistar para nativos e forasteiros os direitos do trabalhador.

Por que os rastreadores da identidade do brasileiro só reconhecem a importância da contribuição do português, do índio e do negro e ignoram a do imigrante? Talvez porque a maioria deles escreveu e foi reconhecida ainda na década de 30, quando o Brasil estava em guerra com três dos principais países de onde provieram nossos imigrantes: Alemanha, Itália e Japão.

No entanto, mesmo para o professor Darcy Ribeiro, que lançou seu livro em 1995, o que conta para a constituição do Povo Brasileiro e para sua cultura são elementos fornecidos pelo português, pelo índio e pelo negro. Não há lá traço de imigrante.

O Brasil mudou e vai sendo reinventado, mas até agora não surgiu nenhum grande pensador que incorporasse às nossas raízes a contribuição à brasilidade proporcionada por essa gente que trocou tudo o que tinha – pátria, família, idioma, amizades, cultura, pertences – pelo sonho de refazer sua vida no Brasil.

Empresas substituem empregado experiente por jovem para cortar custos

Confident business partners walking down in office building and discussing work - stock photo

Novo perfil. Cenário de incertezas provoca mudança nas contratações e já começa a aparecer no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que mostra crescimento do emprego com carteira assinada apenas para profissionais de até 24 anos

15 de setembro de 2013 | 2h 07

ALEXA SALOMÃO , LUIZ GUILHERME GERBELLI - O Estado de S.Paulo
As empresas estão mudando o perfil de contratação. Na busca pela redução de custos, os trabalhadores mais velhos estão sendo trocados por jovens com boa formação, mas com salários mais baixos.

A mudança começa a aparecer no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Além da menor criação de vagas formais ao longo deste ano, dados compilados pelo Estado mostram que o emprego com carteira assinada tem crescido somente para profissionais de até 24 anos. 

Essa movimentação no mercado de trabalho está ligada à deterioração da conjuntura econômica e do ambiente dos negócios, diz Betania Tanure, professora da PUC-MG e fundadora da consultoria BTA, especializada em gestão empresarial. "Neste momento, a maioria das empresas vislumbra um cenário de incerteza que pouco se viu no Brasil nos últimos anos. Nem o ambiente de 2008 e 2009, após a crise, gerou o grau de incerteza no meio empresarial que hoje se vê pois, naquele momento, do ponto de vista macro, o País tinha instrumentos para lidar com a crise que hoje se mostram insuficientes."

O que azedou o humor das empresas foi a queda de resultados. A consultoria de Betania realiza pesquisas regulares com as 500 maiores empresas em operação no Brasil. Uma delas identificou que boa parte dos ganhos previstos não vão se concretizar. No levantamento de abril, 15% das empresas declararam que não conseguiriam cumprir as metas neste ano. Na atualização do levantamento, em agosto, o porcentual subiu para 48%. Ou seja, quase metade das maiores empresas do País identificou uma deterioração dos resultados, sem possibilidade de recuperação no ano. 

Pesa também o cenário de longo prazo. A pesquisa identificou que a expectativa para os próximos cinco anos, a partir de 2013, não é animadora. Para 63% das empresas, o cenário é "mediano". Trata-se de uma virada para pior. No ano passado, quando traçaram o cenário para cinco anos, a maioria das empresas (53%) vislumbrava um período "excepcional". Hoje, apenas 35% tem esse nível de otimismo.

Salários. O menor salário pago aos admitidos em relação aos desligados também deixa evidente a troca pelo mais barato. Em julho, essa diferença chegou a 7,3% e vem crescendo desde abril. "Como o número de admitidos continua forte, isso sugere que as empresas possam estar trocando os mais caros pelos mais baratos", afirma Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria.


Identidade e boa-fé


 

Passei a infância achando que o Brasil era perfeito. Só entendi que vivíamos sob ditadura quando os exilados começaram a voltar. Até então, para mim, a imagem do certificado da Censura Federal antes dos programas de televisão era a coisa mais normal do mundo. Nesse tempo, ensinavam nas escolas que o Brasil era uma democracia racial. 

Na quarta série, havia apenas um menino negro na minha classe. Ele viajava para a Disney nas férias e usava roupas de grife. Tinha colega que dizia que era adotado. Eu tinha dez anos e não entendia que essa suspeita era indicativo de que o preconceito racial já estava entre nós. 

Mas o mito da democracia racial faliu. O autoengano coletivo não resistiu ao processo de redemocratização pelo qual passou o país. 

Hoje, pode-se divergir quanto às maneiras de lidar com a questão, mas todos reconhecem que o Brasil é racialmente injusto. Entendemos melhor a necessidade de eliminar o insidioso racismo brasileiro, que pode ser invisível, mas é palpável e deixa vítimas reais.

"No Brasil a questão é de nível social, não racial. Veja o caso do Pelé." Perdi as contas das vezes em que ouvi isso. Você também deve ter ouvido --ou falado-- a mesma coisa. No entanto, nunca entendi, no caso, a diferença entre "racial" e "social". A relação direta entre negritude e vulnerabilidade social sempre foi óbvia e observável ao longo de toda a história do Brasil. 

Quando, a partir da Abolição, em 1888, o governo brasileiro ignorou a necessidade de implementar políticas para a integração social dos ex-escravos, deixando-os à própria sorte, criou um dever para as gerações futuras. 

Parte grande da população brasileira descende dessa gente que sobreviveu à desumanização pela escravatura e ao descaso continuado das autoridades. Descender de gente escravizada, que sofreu uma experiência trágica sob condições degradantes por anos a fio, deixa marcas profundas no indivíduo. 

Os efeitos negativos sobre a autoestima, a autoconfiança e o acesso aos bens sociais se projetam por gerações. Quando se fala de "afrodescendente", evoca-se esse legado da escravidão, esse ônus pessoal derivado de uma injustiça histórica. 

O governo brasileiro reconhece esse problema.
Está longe de resolvê-lo, mas tem investido em sua solução. Um dos instrumentos que utiliza são políticas de ação afirmativa. 

Em 2002, o Itamaraty foi pioneiro em criar programas para a promoção do acesso de afrodescendentes a cargos públicos federais. Com base nessas ações, na semana passada, Mathias de Souza Lima Abramovic foi aprovado na primeira fase do vestibular para a carreira diplomática como cotista afrodescendente. No entanto, foi denunciado por ser branco demais. 

Não conheço todas as etnias que se escondem sob os nomes Souza, Lima e Abramovic, mas sei que a identidade de uma pessoa não é feita apenas de elementos visíveis. Só Mathias sabe o preço que pagou por sua afrodescendência. Até prova em contrário, prefiro acreditar em sua boa-fé. 

Divulgação Alexandre Vidal Porto é escritor e diplomata. Mestre em direito pela Universidade Harvard, trabalhou nas embaixadas em Santiago, Cidade do México e Washington e na missão do país junto à ONU, em Nova York. Escreve aos sábados, a cada duas semanas, no caderno "Mundo".

sábado, 14 de setembro de 2013

Fluxo de turistas estrangeiros ao Brasil sobe 5,5% em agosto, segundo Embratur


14/9/2013 14:43
Por Redação, com ABr - de Brasília

Pão de Açúcar
Vista aérea do Pão de Açúcar, um dos monumentos naturais do Rio de Janeiro, uma das cidades mais visitadas do país

Com base em dados preliminares da Polícia Federal, que consideram apenas o ingresso pelos aeroportos internacionais, o Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) divulgou que o número de turistas que vieram ao Brasil cresceu 5,5% em agosto deste ano, superando a média mundial da entrada de turistas estrangeiros, que teve um aumento de 5% no mesmo período, de acordo com informação da Organização Mundial do Turismo (OMT).

O aumento é de 17 mil visitantes do exterior em agosto. No total, visitaram o país no mês 346 mil estrangeiros. Os dados ainda estão sujeitos a revisão, informou o assessor econômico da Presidência da Embratur, Leandro Garcia, pois não incluíram os números de estrangeiros que entraram no país por via terrestre.

No ano passado, o Brasil, com 4,5% de visitantes do exterior, também superou a média mundial de ingresso de turistas estrangeiros, que foi 3,8%. A Embratur está trabalhando com a expectativa de atingir, pela primeira vez, um número próximo a 6,2 milhões de turistas estrangeiros este ano.

Em termos de divisas, porém, os gastos dos visitantes estrangeiros deverão ser menores em dólar, em razão da desvalorização do real ante a moeda norte-americana.

– Vai haver crescimento, mas ele não será tão grande como o aumento na entrada de turistas pela desvalorização cambial – disse.

No ano passado como um todo, o movimento na economia brasileira gerado pelos gastos dos visitantes estrangeiros alcançou US$ 6,6 bilhões. De acordo com a Embratur, os aeroportos de Brasília, do Rio de Janeiro e de São Paulo apresentaram os maiores índices de entrada de estrangeiros em agosto, da ordem de 8,7%, 6,7% e 5,2%, respectivamente.

México e Colômbia foram os países que mais enviaram turistas ao Brasil em agosto, com incremento de 32% e 30,4%, respectivamente, em comparação a agosto de 2012. Segundo o assessor econômico da Embratur, os dois países têm se destacado no crescimento da entrada de turistas, nos últimos meses. Na União Europeia, o Reino Unido exerce a liderança entre os visitantes estrangeiros ao Brasil, com expansão de 15,1% sobre agosto do ano passado. Seguiram-se França, com alta de 12,6%, e Espanha (10,9%).

O maior número de turistas estrangeiros que vem para o Brasil, tradicionalmente, são originários da Argentina e dos Estados Unidos, disse Leandro Garcia. Não há, entretanto, dados fechados quanto ao ingresso de argentinos em agosto, uma vez que a grande maioria dos turistas daquele país costuma entrar no Brasil por via terrestre. Considerando somente a via aérea, houve queda de 4% em relação ao mesmo mês do ano passado. Também pelos aeroportos internacionais, entraram no país 1,1% a mais de norte-americanos em agosto, informou Garcia.

Além do carnaval, a Copa do Mundo de Futebol, em 2014, leva a Embratur a projetar o ingresso no país de 600 mil turistas estrangeiros somente no mês da competição (julho), o que poderá elevar o total de visitantes do exterior no ano que vem para 7,2 milhões.

– Será um salto de 6 milhões para 7,2 milhões – indicou Garcia.

Bancos vetam compra em real no exterior Publicidade

 
SHEILA D'AMORIM
FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA


  Em meio ao sobe e desce da cotação do real em relação ao dólar nos últimos meses e diante da expectativa de que a volatilidade continue, os bancos decidiram suspender o pagamento de compras no exterior com cartão de crédito diretamente em reais. 

A alternativa, que serve para o consumidor tentar congelar uma determinada cotação no ato da compra em vez de esperar a conversão que é feita pelos bancos no fechamento da fatura do cartão, está sendo sustada este mês. 

Pelo menos três dos cinco maiores bancos de varejo do país (Bradesco, Itaú e Santander) aderiram à orientação da Abecs, entidade que representa o segmento de cartões. 

Oficialmente, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica ainda avaliam se seguirão o os principais concorrentes. 

O BB quer discutir a decisão com órgãos de defesa do consumidor no país. Mas, segundo a Folha apurou, a tendência é apoiar a Abecs. 

Em carta a clientes, o Itaú alega que "muitas vezes o estabelecimento [fora] deixa de informar que a compra continua sendo uma transação internacional e será lançada na fatura em dólares, com incidência do IOF de 6,38% e possibilidade de variação entre a cotação do estabelecimento e a cotação da data de fechamento da sua fatura". 

A mensagem do Bradesco diz que, a partir de setembro, "transações realizadas no exterior diretamente em real não serão mais aprovadas". 

A mudança não afetará compras nos free shops localizados em aeroportos brasileiros porque toda a transação acontece dentro do país. 


CONFUSÃO

 
Segundo Ricardo Vieira, diretor-executivo da Abecs, as operações no exterior em reais provocavam reclamações dos clientes, que achavam a cobrança indevida. 

Um problema é o IOF (Imposto sobre operações financeiras) -muitos clientes alegam que não devem pagar o imposto porque a compra foi convertida para reais. 

Pela regra brasileira, porém, toda compra com cartão de crédito fora do país é sujeita à cobrança de 6,38% de IOF, mesmo que o valor de conversão da moeda seja fixado no momento da compra.
Outro porém é que essas transações embutem uma taxa de administração cobrada pelas empresas que processam a operação fora do país. 

Numa situação hipotética, uma pessoa que comprou um sapato de US$ 100 no exterior e optou por pagar no cartão de crédito uma quantia equivalente a R$ 250 na hora da compra, por exemplo, não sabe que esse total incluiu uma taxa de administração. Com isso, o valor efetivo do sapato em dólar foi de US$ 103.
A confusão aumenta com a cobrança do IOF. Segundo os bancos, muitos clientes dizem não reconhecer o valor e se recusam a pagá-lo.

Vieira afirma que o problema cresceu com a instabilidade cambial e, sobretudo, com o crescimento das compras pela internet em sites no exterior, muitos dos quais oferecem transação em reais.

Governo tenta entender 'vazio' de leilão

 
VALDO CRUZ
DIMMI AMORA
SHEILA D'AMORIM
DE BRASÍLIA




Aposta do governo Dilma para recuperar a confiança da economia brasileira e garantir a retomada do crescimento, o Programa de Investimento em Logística falhou logo no seu primeiro teste. 

Dos dois leilões de concessão de rodovias escolhidos para inaugurar o programa, um deles, o trecho da BR-262 (MG-ES), não atraiu investidor. Deu "vazio", no jargão. 

O outro trecho, da BR-050 (MG-GO), registrou oito concorrentes interessados.

O número é o mesmo de interessados do último leilão realizado, em 2012. O governo dizia contar com no mínimo cinco participantes, mas esperava que houvesse mais de dez interessados.
O vencedor será conhecido na próxima quarta-feira. 


IRRITAÇÃO

 
O fracasso parcial irritou a presidente Dilma Rousseff, que cobrou explicações de sua equipe. Um assessor presidencial afirmou à Folha que até ontem o governo não tinha "nenhum indicativo" de que o resultado negativo pudesse ocorrer. 

O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que foi a falta de interessados foi uma "surpresa". "Você tem oito propostas para uma rodovia e nenhuma para a outra. Então, deve ter tido algum problema que ainda não detectamos." Segundo ele, pode ter havido algum problema de "natureza política", que o governo ainda tem de avaliar. 

Em primeira análise, a equipe acredita que não se trata de uma falha generalizada do programa, mas de um caso "específico e localizado", já que o leilão da BR-050 foi bem-sucedido despertou interesse. Este trecho é considerado pelos empresários como um "filé". 

O problema é que a BR-262 também era apontada pelo governo como outro "filé" e havia sido colocada em leilão exatamente para garantir sucesso pleno já na largada. 

Agora, a ordem dentro do governo é "parar e entender as especificidades" da BR-262 para evitar que isso contamine as próximas rodadas. O governo planejava leiloar neste ano, além dos dois trechos de ontem, mais sete rodovias. 

Dentro do Palácio do Planalto, a avaliação é que uma das causas do fracasso do leilão da BR-262 seria insegurança jurídica, provocada por ameaça de políticos do Espírito Santo de entrar na Justiça contra o leilão, por causa do valor dos pedágios, considerado muito elevado. 

Outro ponto levantado por investidores seria o risco de o Dnit não cumprir a sua parte na duplicação do trecho e isso não ser compensado pelo governo no contrato. 

Para o governo, porém, essa argumentação não faz sentido, porque, desde o início das discussões com o setor privado, a participação do Dnit já estava prevista e nenhuma empresa questionou. 

O ministro César Borges (Transportes) disse que o governo tem a opção agora de reabrir o leilão da BR-262 com os mesmos estudos ou refazê-los para iniciar uma nova concorrência. 

Há também a opção de retirar a rodovia do programa de concessões.
Borges afirmou que os outros seis leilões previstos para este ano estão mantidos.
"Não fico frustrado. Saímos empatados. Vamos para frente agora porque queremos ser vitoriosos e o programa é importante para país."

Ministro Celso de Mello deve apoiar novo julgamento, dizem colegas


VALDO CRUZ
SEVERINO MOTTA
DE BRASÍLIA


O ministro mais antigo do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, deve votar na uarta-feira a favor do recurso que garante um novo julgamento para 12 dos 25 condenados pelo mensalão. A avaliação foi feita por ministros da corte ouvidos pela Folha

Em conversas reservadas, eles lembram que na primeira sessão do julgamento do caso, em agosto de 2012, Mello fez uma defesa clara da admissibilidade do recurso conhecido como embargos infringentes. Por isso, seria difícil para ele tomar outra posição nesta fase do processo. 


Alan Marques/Folhapress
O ministro Celso de Mallo, o mais antigo do STF, é dono da palavra final sobre novo julgamento do mensalão
O ministro Celso de Mallo, o mais antigo do STF, é dono da palavra final sobre novo julgamento do mensalão

Na avaliação dos ministros, Mello teria condições de mudar de opinião se a discussão fosse sobre outra ação. Como a defesa dos embargos foi feita na abertura do próprio julgamento do mensalão, o ministro não teria espaço para mudar de ideia. 

Editoria de Arte/Folhapress
Um colega de Celso de Mello lembra que o ministro apontou a existência dos embargos infringentes como argumento para rejeitar um dos primeiros pedidos feitos pelos réus, que queriam o desmembramento do processo para que os acusados fossem julgados na primeira instância e tivessem a opção de recorrer ao Supremo depois. 

Para explicar a situação de Celso de Mello, um dos seus colegas usou uma metáfora, dizendo que apertaram tanto o parafuso que ele ficou espanado -uma referência aos duros votos dos ministros Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes na última quinta-feira. 

Em sua avaliação, se Mello mudasse de opinião, poderia ficar a impressão de que o fez por pressão dos colegas. 

Na última sessão, ao citar a possibilidade de aceitação dos embargos infringentes, Gilmar Mendes disse que a realização de um novo julgamento significaria afirmar que o Supremo seria um "tribunal juvenil, de irresponsáveis que não sabem votar". 

Com o sentimento de que o jogo já foi jogado, ministros que foram contrários à possibilidade de realização de um novo julgamento já dizem que a sessão da última quinta-feira pelo menos permitiu que se delimitasse o alcance dos embargos infringentes. 

De acordo com o regimento interno do Supremo, é necessária uma condenação apertada, com pelo menos quatro votos favoráveis ao réu, para que embargos infringentes sejam apresentados. 

A avaliação do grupo que deve sair derrotado é que alguns ministros planejavam avançar e apoiar teses de advogados que atuam na defesa dos réus -alguns acham que não seria preciso ter quatro votos a favor para ter direito a um novo julgamento, o que poderia aumentar o número de réus beneficiados. 

Essa possibilidade, segundo os ministros, está afastada. Há a expectativa de que Celso de Mello, em seu voto, seja específico a respeito deste tema, limitando os embargos infringentes aos casos em que os réus obtiveram no mínimo quatro votos a favor. 

Apesar de constarem no regimento interno, uma lei de 1990 que regulou os processos no Supremo e no Superior Tribunal de Justiça não prevê os embargos infringentes. Na quinta-feira, a discussão sobre o tema acabou empatada no STF, com cinco ministros a favor e cinco contra. 

Se os recursos forem aceitos, ex-integrantes da cúpula do PT como o ex-ministro José Dirceu e os operadores condenados em 2012 por organizar o esquema do mensalão terão novo julgamento. 

Dirceu, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e os deputados petistas José Genoino (SP) e João Paulo Cunha (SP) poderão ser absolvidos de um dos crimes pelos quais foram condenados, ou ter penas reduzidas.