sábado, 26 de outubro de 2013

A classe média vai ao inferno

As metrópoles se tornaram ambientes hostis a qualquer um que precise se deslocar

RUTH DE AQUINO
25/10/2013 20h35
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Era uma vez o sonho de morar na grande cidade. O paraíso das oportunidades, do emprego bem remunerado, do hospital equipado e do acesso mais amplo aos serviços públicos. O centro do lazer cultural e do bem-estar. A promessa da mobilidade social e funcional.

A metrópole virou megalópole e, hoje, São Paulo e Rio de Janeiro se tornaram ambientes hostis ao cidadão de qualquer classe social que precise se deslocar da casa para o trabalho. As “viagens” diárias dificultam conciliar família e profissão. Os serviços públicos são muito ruins. E o transporte coletivo – negligenciado por sucessivos governos como “coisa de pobre” – é indigno.

Hoje, mais da metade da população (54%) tem algum carro. O Brasil privilegiou a indústria automobilística, facilitou a compra de veículos, e a classe média aumentou em tamanho e poder de consumo. Todos acreditaram que chegariam ao paraíso. Ficaram presos no congestionamento.

Quem mais fica engarrafada nas ruas é a classe média, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). A pesquisa, com base em dados de 2012, revela que os muito pobres e os muito ricos gastam menos tempo no deslocamento casa-trabalho do que a classe média. Os ricos, porque podem morar perto do trabalho – sem contar os milionários e os governadores, que andam de helicóptero. Os muito pobres, sem dinheiro para a passagem, tendem a se restringir a trabalhar bem perto de onde moram ou acordam às 4 horas da manhã para evitar congestionamento. Como não se investiu em trem e metrô – muito menos em sistemas inteligentes de transporte –, estouramos os limites da civilidade. E que se lixem os impactos ambientais, a poluição e a rinite.

Nesse cenário, qualquer falha, incidente, obra, desastre ou atropelamento transforma o caos “normal” em catástrofe. Tombou a carreta? O ônibus atropelou o ciclista? O trem sofreu pane? O bueiro explodiu? O cano estourou? A linha de nosso reduzido metrô enguiçou? O asfalto cedeu? Os motoristas de ônibus pararam por melhores condições? Pronto, não se chega mais a lugar nenhum. Até os atalhos se tornam sucursais do inferno.

Hordas de passageiros brigam para entrar num vagão, derrubam idosos, não têm cuidado com as crianças e as grávidas. Alguns se transformam em Black Blocs sem máscaras e depredam. Motoristas se fecham e se xingam uns aos outros. Esse cotidiano penoso torna o cidadão ao lado um inimigo, um adversário. É preciso chegar à frente dele, roubar seu lugar.

Vivemos uma situação de guerrilha urbana diária, provocada pela falta crônica de planejamento e a ausência de investimentos públicos em serviços de qualidade. Governos sucessivos erraram nas prioridades e no modelo de desenvolvimento. Somos o país da improvisação e precipitação.

“Investir em transporte de massa, em trem e metrô, criar sistemas articulados e decretar o fim do império do automóvel particular é uma providência imediata”, afirma o urbanista Augusto Ivan, nascido em Minas e radicado no Rio. “Quando surgiu, o automóvel era chamado ‘carro de passeio’. Deveria voltar a ser apenas isso. Só assim mudaremos o cenário pavoroso de congestionamento. Precisamos taxar a circulação de carros em áreas mais conflagradas, a exemplo da Inglaterra, que estipulou uma ‘congestion charge’. É simples: ou paga para circular ou não entra.”

O urbanista e vereador Nabil Bonduki (PT-SP) calcula que, para melhorar minimamente a circulação em São Paulo, “seria preciso retirar 25% dos carros das ruas”. Não dá para fazer isso sem criar um transporte coletivo de qualidade. “Nem falo apenas de unidades de trens, metrôs e ônibus. Mas de um sistema, que inclui até calçadas e iluminação, além de conexão. Um sistema que a população considere seguro e confortável.” A aglomeração excessiva em cidades segregadas, um fenômeno típico de Terceiro Mundo, obriga a longos deslocamentos. “Da porta para dentro de casa, a classe média melhorou muito de vida. Mas o espaço público não acompanhou a melhoria.”

As grandes cidades brasileiras deixaram de ser cidades há muito tempo, diz o urbanista Luiz Carlos Toledo. “Hoje são conglomerados metropolitanos com problemas estruturais. Nossas grandes cidades estão parando. A ponta do iceberg são os engarrafamentos, mas, como nas montanhas de gelo, o buraco está literalmente mais embaixo, onde passam os canos que nos abastecem de água, retiram o esgoto das nossas casas e recebem as águas pluviais. Tudo isso, e não só a mobilidade, está indo para o buraco pela cegueira dos governantes, pela ganância dos especuladores e por todos nós, que acreditamos que existirá sempre um jeitinho para corrigir esses problemas, ou tempo para uma mudança de rumos.” É o que diz Toledo – e eu assino embaixo.  

Havaianas para vestir


A Alpargatas vai colocar a mais conhecida marca de chinelos do mundo em roupas casuais e peças de moda praia

Por Carlos Eduardo VALIM

Nos últimos 52 anos, poucas marcas sofreram uma mutação tão grande quanto a Havaianas. Lançada como apenas mais um calçado feito de borracha, a sandália evoluiu até se tornar objeto do desejo de consumidores pelos quatro cantos do mundo. Na Europa, exemplares de algumas coleções assinadas por estilistas renomados, como a grife Valentino, da Itália, chegam a custar o equivalente a R$ 500. Agora, a brasileira Alpargatas pretende aproveitar a força da marca também em roupas esportivas. A coleção de “Havaianas para vestir” chega às lojas em meados de 2014. 
 
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Estilo: campanhas de mídia ousadas e bem-humoradas ajudaram a popularizar a grife
 
O foco serão os segmentos casual e o de moda praia, integrantes do estilo descontraído que a Alpargatas expõe no marketing do produto. Na verdade, a entrada da Alpargatas no setor de vestuário começou em outubro do ano passado, com a compra de 30% da marca carioca Osklen, pela qual já pagou R$ 67,5 milhões e o restante dependerá da evolução das receitas da grife. Ao levar a Havaianas para camisetas, bermudas, vestidos e até biquínis, a direção da Alpargatas espera gerar dividendos com o que os especialistas chamam de extensão de marca. 
 
E que marca! No balanço do trimestre março-junho, as famosas sandálias colaboraram com 47% da receita líquida de R$ 843,2 milhões da empresa. O número é obtido a partir das vendas em milhares de pontos de venda espalhados pelo mundo, incluindo as 442 lojas exclusivas, das quais 288 no Brasil e 154 no Exterior. É para movimentar esse canal que o presidente da Alpargatas, Márcio Utsch, concebeu a estratégia de diversificação do portfólio.
 
Hoje, boa parte das vendas acontece nas redes multimarcas, daqui e do Exterior. O último lançamento global, da coleção 2013/2014, foi composto de 103 modelos, contemplando os mais variados estilos de clientes, do careta ao moderninho. Depois de se tornar sinônimo de sandálias – é citada por 71% dos brasileiros ouvidos na pesquisa Brand Tracking realizada pela Millward Brown –, a Alpargatas espera ver o chinelo outrora apresentado como “as legítimas, que não deformam nem soltam as tiras”, vestindo crianças e jovens de todas as idades, dos pés à cabeça.
 
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O hotel de luxo do general


Figueiredo Filho, neto de João Baptista, o último presidente militar do Brasil, decide apostar em turismo. Seu empreendimento já desperta a cobiça de investidores globais, como o bilionário Donald Trump

Por Wilson AQUINO

No escritório do economista Paulo Figueiredo Filho, 30 anos, de frente para a praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, duas molduras com livros do bilionário americano Donald Trump decoram uma das paredes. 

A extensa dedicatória do magnata americano para Figueiredo Filho termina com um apelo comercial: “Boa sorte e vamos tentar fechar negócio.” O economista é neto do último presidente do regime militar brasileiro, João Baptista Figueiredo (1918-1999), que governou o País entre 1979 e 1985. Desde 2011, Figueiredo Filho é o CEO da Polaris, empresa de projetos e investimentos da família, fundada em 1982 pelo engenheiro Paulo Figueiredo, seu pai e primogênito do general. 
 
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Dono do pedaço: Figueiredo Filho, CEO da Polaris, começou a carreira
com condomínios de luxo, na Barra da Tijuca, no Rio
 
A Polaris está à frente de um fundo de investimento que vai aplicar R$ 235 milhões na construção de um hotel na Barra, com a proposta de inaugurar no Brasil o conceito lifestyle, luxo com um jeitão descolado. 
 
Trump é um dos empresários que querem emprestar sua marca ao hotel, que, pelas contas de Figueiredo Filho, deve faturar R$ 80 milhões por ano. “Estive com Trump recentemente em seu clube de verão, na Flórida, e ele foi muito simpático”, afirma o neto do ex-presidente. No entanto, há outros gigantes internacionais da hotelaria interessados no empreendimento. 
 
“Estamos conversando, também, com quatro redes (Intercontinental, Starwoods, Hilton e Wyndham Hotel Group), todas desesperadas para operar no Brasil”, disse. Em dois meses, o contrato será assinado com uma delas e o nome do ex-presidente Figueiredo passará a ser associado também ao hotel de luxo. O neto demonstra ter a mesma autoconfiança do avô. Segundo ele, seu hotel vai desbancar o tradicional Copacabana Palace, no bairro de mesmo nome, e o sofisticado Fasano, em Ipanema, sobre os quais faz ressalvas. “No segmento de luxo carioca você compete com esses hotéis, mas o Copa não é uma marca internacional e o Fasano é muito pequeno, não tem área de eventos, que é importante”, afirma Figueiredo Filho. 
 
Seu hotel deve ser concluído a tempo de faturar com a Olimpíada 2016. Segundo o CEO da Polaris, os hotéis tradicionais desprezaram uma geração que estava florescendo e não tem tanta preocupação com luxo ostensivo, mas sim com estilo de vida.“A diferença começa logo na entrada. “Não vamos ter lobby”, afirma. “Teremos uma imensa sala de estar com um bar no meio servindo drinques exóticos e aperitivos, além de som a cargo de DJ.” O check-in será feito em um espaço separado, onde as pessoas ficarão sentadas, aguardando o registro. “Não vai ter ninguém em pé com a barriga no balcão”, diz. 
 
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Para poucos: o hotel na Barra da Tijuca terá diária de até R$ 10 mil 
 
Esses mimos serão incluídos no preço. “É caro, para poucos, sim”, reconhece. “Mas há gente disposta a pagar por isso.” Outro diferencial são as grifes que assinam o projeto arquitetônico. A lista inclui o escritório americano WATG, um dos maiores no ramo de hotelaria de luxo, e David Bromstad, responsável pelos cenários da cerimônia do Oscar e que em 2012 ganhou o prêmio de melhor designer de hotéis do mundo. O paisagismo está a cargo do Witkin Hults Design, premiado escritório da Flórida, que irá revitalizar a Praça do Ó, vizinha ao empreendimento. 
 
“Os hotéis que se constroem no Brasil, inclusive alguns que estão na orla, são umas porcarias”, detona o neto, que, a exemplo do avô, não tem papas na língua. “Parecem caixas de papelão revestidas de porcelanato.” O parentesco com o último general presidente, diz Figueiredo Filho, tanto ajuda quanto atrapalha. “O aspecto positivo é que as pessoas sabem quem você é e não te esquecem”, afirma. “Realmente dá um tempero na relação e ajuda a divulgar os trabalhos.” Por outro lado, às vezes, fecha portas. 
 
“Há um segmento revanchista da sociedade, que coloca todos os militares no mesmo saco: você é neto de ditador, não vamos receber”, afirma. Antes de ingressar no mercado hoteleiro, a família Figueiredo lançou um condomínio de casas de luxo na Barra da Tijuca, o Disegno. “Falaram que não venderíamos, mas comercializamos 80% no lançamento”, contou Figueiredo Filho, que vendeu 22 mansões, entre 600 e mil metros quadrados, a preços que variam de R$ 2,4 milhões a R$ 5 milhões. O último representante da ditadura implantada em 1964 preferia lidar com cavalos – é famosa sua frase “prefiro cheiro de cavalo ao do povo –, mas, certamente, ficaria orgulhoso com o tino comercial do neto.
 
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"A revolução tecnológica ajudou a libertar a mulher"

Aline Santos, vice-presidente global da Unilever

Decorridos quase 40 anos da revolução feminista, as mulheres se tornaram o maior contingente do mercado de trabalho

Por Rosenildo Gomes FERREIRA

Apesar disso, são raras aquelas que ocupam uma posição em cargos de alta direção nas grandes empresas. Uma dessas exceções é a paulistana Aline Santos, 46 anos, vice-presidente sê­nior global da Unilever. Graduada em a­dministração, ela comanda, de seu escritório na avenida Juscelino Kubitschek, em São Paulo, a divisão de produtos para o lar, que garante receita anual de € 3,5 b­ilhões para o grupo anglo-holandês. Casada e mãe de dois meninos, Aline diz que graças aos programas de diversidade e à mudança da mentalidade corporativa a situação da mulher mudou. Mas, os desafios persistem: “O homem mata um leão por dia. A mulher mata, tempera, assa, serve e depois ainda lava a louça”. 

DINHEIRO – Pode-se dizer que para as mulheres ainda é mais difícil subir na carreira do que para os homens?
 
ALINE SANTOS – A resposta curta e simples é sim. Qualquer carreira executiva em alto nível exige sacrifícios e isso independe de sexo. Mas, no caso da mulher, o sacrifício é ainda maior. Os primeiros passos em direção à independência foram dados sem referências, na base de tentativa e erro, com a mulher tendo de provar, a todo instante, o seu valor. Por conta disso, aderiram ao power dressing, vestindo-se  com terninhos com ombreiras e usando cabelos curtos para serem mais bem aceitas no universo masculino. 
 
 
DINHEIRO – Por que as mulheres ainda precisam provar, se elas já apresentam nível educacional, por exemplo, mais elevado que o dos homens?
 
ALINE – Acredito que as mulheres já não precisam provar nada. O que elas querem é se sentir realizadas profissionalmente. E isso não significa, necessariamente, chegar ao topo de uma organização, mas aceitar quem você é, sua identidade e buscar seus sonhos. A mulher atual é muito diferente daquela que chegou ao mercado de trabalho na década de 1960, em meio à revolução feminista. Quanto aos homens, eles ainda veem o poder de forma muito vertical, baseados na hierarquia. Eu enxergo de forma horizontal, a partir das pessoas com as quais estou fazendo networking, com quem estou trocando ideais e a minha quantidade de amigos. 
 
 
DINHEIRO – Isso tem relação com o fato de as pessoas, no geral, e as mulheres, em particular, estarem buscando uma melhor qualidade de vida?
 
ALINE – Sem dúvida. Pela primeira vez na história das mulheres, elas nasceram livres para poderem ser o que desejam, sem precisar seguir um papel pré-estabelecido pela sociedade. Quando ingressei no mercado de trabalho, na década de 1980, eu tinha de ser perfeita em tudo que eu fazia: no trabalho e como mãe, uma verdadeira supermulher. Esse modelo gera um estresse desgraçado, um cansaço tremendo, além de frustrações e culpas que, com certeza, as mulheres do mundo não iriam aguentar por muito tempo. 
 
 
DINHEIRO – Esse pensamento nasce por geração espontânea ou porque a mulher percebeu que, mais que ser parecida com o homem, era melhor ela ser ela própria?
 
ALINE – A segunda hipótese, com certeza. Outro elemento que ajudou nessa transformação foi a grande mudança na forma como as pessoas vivem e se relacionam com o mundo. Isso nos garantiu a possibilidade de fazer opções que antes não eram possíveis. Graças a diversas ferramentas tecnológicas eu posso gerenciar, no mundo inteiro, um negócio que movimenta mais de € 3,5 bilhões. A revolução tecnológica ajudou a libertar a mulher.
 
 
DINHEIRO – O papel social do homem também mudou?
 
ALINE – Certamente. Acho que é muito clichê falar que o homem está perdido, que não sabe exatamente qual é o seu papel na sociedade. Acho que o homem que divide as tarefas do lar e tem prazer em ser pai é muito mais macho. Porque ele é seguro de sua masculinidade e não precisa ganhar mais ou ser o todo-poderoso na empresa na qual trabalha. 
 
 
DINHEIRO – Mesmo com todas essas mudanças, por que o salário da maioria das mulheres continua inferior ao dos homens?
 
ALINE – Essa, infelizmente, é uma verdade no mercado de trabalho. Obviamente, sou uma profissional bastante privilegiada. Mas nada do que tenho foi dado de bandeja. Sempre tive de batalhar. 
 
 
DINHEIRO – Todos os diretores da Unilever têm o mesmo salário?
 
ALINE – A política para reajuste salarial da empresa é preto no branco. Não existem áreas cinzentas. É totalmente relacionada ao que cada profissional entrega. E isso é um fator interessante, porque, ao atrelar a bonificação ao desempenho final e não ao tempo que as pessoas gastam no escritório, a vida dos profissionais, especialmente das mulheres, muda completamente. Na Unilever, a cultura do home office está disseminada. No meu caso, tenho todos os equipamentos para desempenhar minhas funções, com qualidade, a partir da minha casa. A lém disso, existe uma mentalidade dentro da empresa de aceitar o trabalho com jornada flexível, o que dá plenas condições para que os funcionários tenham a possibilidade de cumprir agendas pessoais, podendo concluir o trabalho em seu período de folga.  
 
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Jornais alemães anunciam a vitória de Angela Merkel, nas eleições de outubro 
 
DINHEIRO – Por que tão poucas empresas adotam esse tipo de política? É medo da mudança? 
 
ALINE – Não tenho resposta para isso. Mas me parece que existe uma inércia muito grande na cultura das empresas. Muitos gestores acreditam que a maneira como eles fazem negócio e tocam a empresa é a certa. No entanto, é preciso lembrar que o mundo mudou e que quem não tentar se adaptar deixará de ser competitivo, independentemente do tipo de empresa ou do setor no qual atua. 
 
 
DINHEIRO – Isso inclui a adoção de políticas de diversidade, por exemplo?
 
ALINE – Sem dúvida. Para ser bem-sucedida, uma empresa precisa dos melhores recursos humanos e é para isso que serve a inclusão. No entanto, esses recursos precisam de adubo durante seu crescimento. Não adianta apenas atrair 50% de mulheres e não fazer nada para ajudá-las a crescer. Há muitas coisas que se resolvem com políticas de incentivo, mas outras se resolvem apenas com a mudança de cultura. E isso leva tempo e necessita de uma liderança forte e convicta de que essa estratégia vai trazer resultados. 
 
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A americana Betty Friedan, líder feminista, durante discurso:
"A mulher atual é muito diferente da que chegou
ao mercado em meio à revolução feminista"
 
DINHEIRO – Como foi sua experiência ao ser promovida para a alta direção da Unilever Brasil?
 
ALINE – Ao receber o convite, no final da década de 1990, eu pensei em recusar, pois tinha acabado de ser mãe de meu primeiro filho e não queria ter uma vida maluca de vice-presidente. Mas fui convencida de que a empresa teria flexibilidade e criaria condições para que eu tivesse uma vida facilitada. Um detalhe curioso é que não existia banheiro feminino no andar da diretoria. Então, minha primeira providência como vice-presidente foi quebrar parte do banheiro masculino e fazer um para mulheres, com espelho do teto ao chão e secador de cabelos. O máximo! Aí o chefe colocou uma placa “Banheiro Aline Santos”, achando que somente eu usaria o espaço. Não viam as oito secretárias passarem anos tendo de caminhar até outro andar para usar o banheiro. 
 
 
DINHEIRO – A sra. diria que situação da mulher melhorou desde então?
 
ALINE – O que eu sinto é que não existe hoje o milhão de barreiras que tive de enfrentar no passado. E na questão de gênero, se existe discriminação, é pelo lado positivo. Na Unilever, existem mecanismos que medem o resultado e definem as regras para promoções. Acredito que nenhuma mulher gostaria de ser promovida apenas por ser mulher. Isso é contraproducente para nós. A meritocracia é fundamental na trajetória de qualquer profissional.
 
 
DINHEIRO – Quais são as mulheres que a sra. admira na cena empresarial e política?
 
ALINE – Tive a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas, tanto homens quanto mulheres. Uma delas é a Sheryl Sandberg, diretora de operação do Facebook. Ela faz um trabalho de mentoring para algumas executivas da Unilever nos Estados Unidos. Outra é a Indra K. Nooyi, presidente mundial da PepsiCo, com a qual tenho um contato frequente. Elas são uma referência para mim. Jamais um modelo, pois as mulheres não querem mais seguir modelos, e sim trilhar o seu próprio caminho. 
 
 
DINHEIRO – O fato de Angela Merkel, primeira-ministra da Alemanha, ter sido a única entre os líderes da Europa a ser reeleita mostra que na política a força da mulher está maior?
 
ALINE – Sem dúvida. Ela é uma mulher impressionante, tem um pensamento consistente e transmite credibilidade em tudo que diz. É um grande exemplo para homens e mulheres de qualquer país.  
 
 
DINHEIRO – O que explica o fato de a mulher ainda estar tão sub-representada na política, especialmente no Brasil? A política ainda é um território masculino?
 
ALINE – Creio que não. A Unilever recebe 48 mil candidatos a trainee por ano e a maior parte deles é composta por mulheres. Muitas candidatas com as quais converso dizem ter interesse pela política e querem mudar o mundo. Mas isso não implica que desejem atuar dentro de partidos políticos. Hoje, graças às mídias sociais, você não precisa estar na política para mudar o mundo. É possível ter um papel de ativista e influir por uma mudança global. 
 
 
DINHEIRO – As mulheres administram negócios de forma diferente da dos homens?
 
ALINE – Certamente. Algumas características são bem peculiares das mulheres. Nós somos mais inclusivas, mais agregadoras e intuitivas e isso foi potencializado pelo papel de mãe. E, atualmente, o que se valoriza é o trabalho colaborativo. No mundo de hoje, quem está sozinho ou isolado não vai a lugar nenhum. E nós, mulheres, temos facilidade de extrair o melhor das outras pessoas. Não temos vergonha de perguntar a opinião alheia e mostrar desconhecimento sobre determinados assuntos. A dupla jornada nos ensinou a realizar múltiplas tarefas, o que garante uma produtividade incrível. A intuição é outro elemento característico da mulher e deve ser valorizado no mundo corporativo. O homem mata um leão por dia. A mulher, mata o leão, tempera, assa, serve e depois ainda lava a louça do jantar. 


"O País deve abrir as portas aos profissionais estrangeiros"

Steve Ingham, CEO da Michael Page

A recuperação econômica nos Estados Unidos e em alguns países da Europa pode dar novos contornos ao mercado global de trabalho para executivos

Por Carlos Eduardo VALIM

A recuperação econômica nos Estados Unidos e em alguns países da Europa pode dar novos contornos ao mercado global de trabalho para executivos. Mas poucas pessoas no planeta têm uma visão tão privilegiada das mudanças no topo quanto o inglês Steve Ingham, CEO da Michael Page, a maior empresa de recrutamento de executivos do mundo, com operações em 25 países. Para ele, o Brasil deve ter uma boa movimentação em postos de trabalho no próximo ano, devido aos investimentos por conta da Copa do Mundo e das eleições. Mas, para o crescimento ser sustentável, o governo precisa tomar as decisões difíceis para que os investimentos não desapareçam. Entre as medidas preconizadas, Ingham defende a importância de deixar de lado qualquer tipo de xenofobia. “O País deve abrir as portas aos profissionais estrangeiros”, afirma.

DINHEIRO – Há, no mundo, uma recuperação do mercado de empregos para executivos?

INGHAM – As análises variam completamente de região para região. O mercado americano está bom de novo. O Brasil também vai bem. O México apresenta um crescimento ainda maior. A Ásia idem. E até mesmo na Espanha estamos detectando um crescimento, por surpreendente que possa parecer para muitas pessoas. Gradualmente, as coisas estão melhorando. Só na Europa as coisas ainda estão problemáticas.
 
DINHEIRO – O momento brasileiro está descolado do restante da América Latina?
 
INGHAM – O crescimento é desigual por toda a região, de acordo com as políticas adotadas e com a variação dos preços das commodities mais importantes para cada país. O mercado brasileiro está num momento diferente do restante do continente. No Brasil, acontece um arrefecimento, enquanto o México entrou em um momento de grande expansão. Os resultados dos países na Costa do Pacífico também são melhores que os do lado do Atlântico.
 
DINHEIRO – Mas há expectativas de reaquecimento para o Brasil?
 
INGHAM – No próximo ano, haverá eleições por aqui, não? Por isso, haverá investimentos do governo para ganhar votos. Mas o problema é que as medidas fundamentais não estão sendo adotadas, como a flexibilização de leis trabalhistas e o controle do orçamento. Sem rigidez nos limites de gastos, os investidores começam a dificultar os empréstimos e aumentam os juros para o dinheiro que vai financiar os investimentos. Há muitas batatas quentes com que lidar, o que torna difícil se chegar a uma decisão sobre cada uma delas. Principalmente em um ano eleitoral. Os políticos fazem aquilo que dá votos. Mas é uma pena constar que fazer a coisa certa traz impopularidade na política. Por isso, os governos buscam fazer apenas o suficiente e esperam que tudo dê certo no final. É diferente de como funciona nas empresas, nas quais tomar as decisões certas traz reconhecimento.
 
DINHEIRO – Há uma percepção de que o salário do executivo brasileiro está inflacionado. Por que isso acontece?
 
INGHAM – Em alguns mercados há uma forte demanda por pessoas bem preparadas, mas a oferta às vezes é pequena. No Brasil, há muitas empresas bem-sucedidas em busca de gente cada vez melhor. Então, a guerra por talentos no Brasil inflaciona os salários. Houve uma situação extrema em 2011, em especial, para posições técnicas. Para atrair as pessoas, os pacotes de bonificações ficaram muito elevados, principalmente nos bancos. O câmbio da época também fazia com que alguns salários de executivos no Brasil fossem maiores, em libras esterlinas ou dólares, do que os dos seus chefes globais.
 
DINHEIRO – O peso principal então está nas bonificações?
 
INGHAM – Existe uma visão geral das companhias premiarem mais pelo desempenho. Vai ga­nhar mais quem entregar resultados. Os paraquedas de ouro ficaram muito impopulares, depois que grandes executivos deixaram empresas em dificuldades com uma bolada no bolso. A questão problemática é que muita gente foi contratada para fazer recuperações complexas de empresas, algo que leva tempo, mas está sendo cobrada por resultados de curto prazo. É como acontece com os técnicos de times de futebol. Vemos isso na Premier League, a principal divisão do futebol inglês. Depois da saída do Alex Ferguson, do Manchester United, que permaneceu 26 anos no cargo, não sobraram técnicos trabalhando por muito tempo em suas equipes. Excetuando o treinador do Arsenal, o tempo máximo de permanência de um técnico atual é de dois anos.
 
DINHEIRO – No Brasil é pior ainda. Para os comentaristas esportivos daqui, a Pre­mier League é a referência em termos de permanência no cargo. Aqui pouquíssimos times que começaram o campeonato ainda têm os mesmos treinadores.
 
INGHAM – Dessa forma, não dá para se avaliar um trabalho. Não dá tempo para os resultados aparecerem. Seja numa empresa ou num time de futebol, não adianta cobrar em curto prazo quando os objetivos propostos são para longo prazo. Mas é o que está acontecendo em muitas empresas.
 
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Carlos Brito, presidente da AB InBev, a exceção que confirma a regra
 
DINHEIRO – As carreiras dos altos executivos estão se internacionalizando?
 
INGHAM – Sem dúvida essa é uma das principais tendências atuais. O mundo está menor. O jovem de São Paulo não pensa apenas em fazer carreira por aqui. Ele quer o mundo. É assim em todos os lugares. Mas isso assusta os governos.
 
DINHEIRO – De que forma?
 
INGHAM – Vemos governos de todo o mundo lutando contra a imigração. É uma preocupação maior em países com alto índice de desemprego. No Reino Unido, é assim. Somos um país multicultural e que se beneficiou disso. Mas os governos não querem dar vistos para todo mundo. Com isso, acabam restringindo também a chegada dos melhores cérebros. O Brasil deve abrir as portas aos profissionais estrangeiros, se quiser ter uma indústria de tecnologia forte Ao tentar proteger os empregos locais, os países perdem a oportunidade de ter pessoas que podem criar negócios novos e empregar mais gente.
 
DINHEIRO – Que outro setor brasileiro precisa bastante de estrangeiros?
 
INGHAM – O Brasil sente falta de gente especializada em petróleo e gás. E nós estamos procurando essas pessoas em locais com gente experiente na exploração de petróleo, como Aberdeen, na Escócia, e Perth, na Austrália. É normal essa realocação de pessoas. Na Espanha, por exemplo, temos muitos talentos, enquanto na Cidade do México e em Bogotá há um mercado com muita demanda. Como se fala espanhol em todos esses lugares, é natural transferir essas pessoas.
 
DINHEIRO – As empresas também se beneficiam com essa experiência multicultural?
 
INGHAM – É importante para as empresas que as pessoas em altos cargos tenham experiências internacionais, se elas desejam de fato serem companhias globais. Pessoas de lugares diferentes possuem talentos diferentes. Temos um exemplo disso na própria Michael Page. Um executivo inglês, que sempre trabalhou na Inglaterra, foi transferido para Xangai. Lá ele aprendeu muitas coisas novas, e por fim acabou indo para Taiwan abrir o nosso escritório local. Na minha época era diferente. Comecei há 27 anos na sede londrina da Michael Page e permaneço lá. Hoje minha trajetória seria diferente.
 
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Ratan Tata, dono da Tata e da Jaguar Land Rover
 
DINHEIRO – Mas algumas características são desejadas para as pessoas de todas as partes do mundo, não?
 
INGHAM – Procuramos em todos os lugares pessoas focadas, ambiciosas e que sabem o que querem. Também precisam ter boa capacidade de comunicação, uma característica necessária para se fazer qualquer trabalho. Em alguns casos, avaliamos muito as experiências profissionais e os conhecimentos técnicos, como para cargos de engenheiros. Acima de tudo, é preciso ter integridade e honestidade. É essencial ser alguém em quem se pode acreditar.
 
DINHEIRO – Existe uma tendência de exportação de executivos brasileiros?
 
INGHAM – Existem alguns casos, como o do presidente da cervejaria Inbev, Carlos Brito. Mas ainda é raro encontrar altos executivos brasileiros na Europa e nos EUA. Na América Latina, isso já acontece bastante. Muitas empresas transferem o executivo para cuidar de uma operação menor na região, antes de voltar e assumir a presidência no Brasil. Mas uma tendência grande nos últimos anos foi a da volta de brasileiros ao País, porque aqui havia mais oportunidades.
 
DINHEIRO – Pode-se dizer que se tornou mais difícil gerenciar empresas depois da crise mundial iniciada em 2008?
 
INGHAM – A crise ensinou que as pessoas precisam estar preparadas para tudo, porque podem precisar mudar todo o plano de negócios rapidamente.
 
DINHEIRO – A preocupação no Brasil e em outros países do Brics está em que a recuperação econômica americana tire os holofotes e os investimentos daqui. Os recursos financeiros e as contratações podem sumir se isso acontecer?
 
INGHAM – Se os EUA consomem mais, ajudam a América Latina e a Europa. Os países que mostrarem eficiência podem ganhar mais com isso. Não importa o produto, hoje tudo precisa ser feito em alto volume. Veja o exemplo da Foxconn, que fabrica eletrônicos para muitas empresas de tecnologia. As companhias vão buscar investir onde se produz com mais vantagens. 
 
DINHEIRO – Mas há dúvidas se somos eficientes...
 
INGHAM – No Brasil, a infraestrutura ainda é um problema. A China está conseguindo superar esse empecilho e outros por meio de muitos investimentos. A indiana Tata Motors e a sua controlada Jaguar Land Rover, por exemplo, estão contratando chineses e depois levando-os para serem treinados no centro do Reino Unido, para ganhar experiência com os melhores trabalhadores. A empresa indiana também afirmou estar avaliando a Arábia Saudita e o Brasil para a instalação de novas fábricas. Eles vão fazer o estudo do ambiente de negócios local, e se acharem que aqui vão encontrar problemas, como sindicatos problemáticos ou excesso de impostos, podem decidir não vir. No Reino Unido, o grupo Tata não pode nem ouvir falar de sindicatos, já que, na sua opinião, eles têm prejudicado a produtividade de suas fábricas. Para uma empresa indiana, é difícil entender isso.

Por que não te calas, FMI?


Primeira mulher a ocupar a direção do FMI, a francesa Christine Lagarde assumiu o posto em 2011 com a promessa de dar mais poder aos emergentes (Por Luís Artur Nogueira)

por Luís Artur Nogueira

O Fundo Monetário Internacional (FMI) anda flertando com o ostracismo e a irrelevância. Dado o histórico negativo de previsões, e de políticas e intervenções equivocadas, há tempos o seu receituário econômico não é mais levado em consideração pelas principais potências globais. É o caso do Brasil, que já superou a fase do “Fora FMI” e hoje é credor do órgão. Quem ainda se arrisca a fazê-lo, como a Espanha e a Grécia, amarga longos períodos de recessão e desemprego elevado – no caso espanhol, a taxa é de incríveis 26,3%. 
 
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Eis que na semana passada, justamente quando o Brasil obteve êxito no leilão do pré-sal e cravou a menor taxa de desemprego da história para o mês de setembro (5,4%), o Fundo divulgou um relatório com críticas ao País. Um documento inoportuno e desatualizado. A avaliação, feita por uma missão do FMI que veio ao País em maio, teve como foco principal a situação das contas públicas do governo federal. “O excessivo microgerenciamento na política fiscal enfraqueceu a credibilidade do modelo fiscal de longo prazo”, diz o relatório. 
 
De fato, houve erros nas manobras fiscais executadas no fim de 2012, apelidadas jocosamente pelo mercado de contabilidade criativa. Desde então, o Ministério da Fazenda e o Tesouro Nacional admitiram a falha inúmeras vezes e deixaram claro que a meta do governo é buscar a transparência das contas públicas. Até mesmo uma redução nos aportes do Tesouro para o BNDES, que piora a dívida bruta, já foi anunciada. Numa tentativa de justificar o imenso atraso na publicação do relatório, o FMI culpou o governo brasileiro, que pediu correções nos cálculos de endividamento público. 
 
O órgão só não explicou por que, mesmo assim, decidiu divulgar um texto desatualizado tanto tempo depois. Ao avaliar o potencial econômico do Brasil, o FMI voltou a liderar o coro dos pessimistas de plantão. Proferiu obviedades como a de que o País precisa aumentar a sua taxa de investimentos para garantir um crescimento sustentável do PIB de 3,5% ao ano. Talvez por defasagem ou completa miopia dos seus autores, o texto ignorou o fato de que há um programa de concessões em infraestrutura em andamento, da ordem de R$ 450 bilhões, cuja objetivo é exatamente turbinar o volume de investimentos. 
 
Além disso, o BNDES tem incentivado a compra de máquinas e equipamentos a taxas de juros reais negativas, iniciativa que também ajudará a encorpar a Formação Bruta de Capital Fixo. Primeira mulher a ocupar a direção do FMI, a francesa Christine Lagarde assumiu o posto em 2011 com a promessa de dar mais poder aos emergentes. Até agora não cumpriu a missão. Há duas semanas, em uma reunião em Washington, o chamado G-24, grupo que reúne países em desenvolvimento como o Brasil, Índia e México, reivindicou mais voz no organismo através de uma revisão nas cotas. 
 
A atual distribuição de forças, pasmem, remonta à Segunda Guerra Mundial, quando o órgão foi criado. Além de justa e necessária, uma maior participação dos emergentes poderia ajudar o Fundo a traçar melhor as suas análises globais, sem o velho blá-blá-blá recessivo. Afinal de contas, olhar apenas para o retrovisor sem observar o que vem pela frente não é o tipo de postura que o mundo espera do FMI. Na ausência de algo melhor a dizer, o silêncio é uma contribuição eloquente.

PayPal paga o táxi


O CEO mundial David Marcus veio ao Brasil fechar acordo com o 99Táxis, maior aplicativo de táxi do país

Por João VARELLA

O mercado brasileiro de ferramentas de pagamentos online cresceu com soluções locais. PagSeguro, MoIP e BCash! são algumas das opções que prosperaram por aqui. Há dois anos, porém, a chegada do PayPal, maior empresa de pagamento digital do mundo, sacudiu esse setor. De lá para cá, a base de clientes da companhia, que pertence ao site de leilões eBay, multiplicou-se por sete, atingindo os atuais 7,2 milhões de clientes. Embora o número seja expressivo, ainda é pouco para quem conta com mais de 136 milhões de consumidores no mundo que utilizam a sua plataforma e tem a vocação de liderança nos 194 países em que atua – no Brasil, não há dados do setor, mas sabe-se que ele não lidera.
 
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Mobilidade: David Marcus, CEO do PayPal, apelou ao celular para dar uma guinada
no mercado brasileiro de pagamento digital
 
O PayPal, no entanto, está renovando sua aposta no Brasil. E a forma de crescer aceleradamente será por meio de pagamentos por celular. Na quinta-feira 24, por exemplo, o CEO global da empresa, David Marcus, esteve no Brasil oficialmente para apresentar o Check-In, aplicativo que permite esse tipo de pagamento. “Vamos oferecer essa solução aos grandes varejistas”, disse Marcus. O primeiro a usá-la será a pequena rede de cafeterias Suplicy, dona de dez lojas no Estado de São Paulo. Extraoficialmente, Marcus veio ajustar os últimos detalhes da parceria com a 99Táxis, maior aplicativo de táxis do Brasil, como apurou com exclusividade a DINHEIRO. 
 
De uma tacada só, o PayPal passará a ser adotado por 13 mil taxistas e 500 mil clientes que usam o aplicativo. A 99Táxis diz intermediar 20 mil corridas por dia. “Os taxistas não serão obrigados a aceitar o PayPal, mas acreditamos que a adesão será grande”, diz Paulo Veras, fundador e diretor do 99Táxis. “Quanto mais formas de pagamento, maior o faturamento do motorista.” Uma versão beta do 99Táxis com PayPal deve ser lançada nas próximas semanas. O sistema de pagamento móvel já é utilizado nos Estados Unidos, Austrália, Japão e Reino Unido. 
 
O Brasil é o primeiro país da América Latina a contar com o Check-In. Conhecido por seu sistema de pagamento em sites de comércio eletrônico, o PayPal tem investido pesado em soluções móveis. Marcus era vice-presidente de mobilidade, antes de assumir a posição de CEO, em abril de 2012. Desde então, o executivo imprimiu um novo ritmo a essa área, lançando uma nova versão do seu aplicativo para smartphones. Ele criou também um leitor de cartão que pode ser adaptado em celulares e desenvolveu um programa de pagamentos para iPads. “Daqui a cinco anos, só vai usar carteira física nos EUA e na Europa quem quiser”, afirma Marcus. “Quem sabe no Brasil também.”
 
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