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Marcelo Odebrecht: e-mail de 2005 consta no dossiê de pedido de prisão de Antonio Palocci
Ricardo Brandt (enviado especial), do Estadão Conteúdo
Fausto Macedo, do Estadão Conteúdo
Mateus Coutinho e Julia Affonso, do Estadão Conteúdo
Curitiba e São Paulo - Em um e-mail de janeiro de 2005 enviado por Marcelo Bahia Odebrecht - preso pela Operação Lava Jato há 1 ano e 3 meses - para executivos do grupo ele afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria se disponibilizado para "ajudar a destravar qualquer dificuldade para fazer acontecer".
O documento em poder da força-tarefa, em Curitiba, integra o pedido de
conversão da prisão do ex-ministro Antonio Palocci, feito nesta
sexta-feira, 30, de temporária (de 5 dias) em preventiva (sem prazo).
Palocci foi detido alvo da 35ª fase, batizada de Omertà, acusado de
receber R$ 128 milhões em propinas da Odebrecht para o PT, entre 2008 e
2013.
"Lula ficou de eleger 3 projetos e conduzir o assunto através de um
grupo (Palocci, Dilma e Min. Transportes) ficando disponível para ajudar
a 'destravar' qualquer dificuldade para fazer acontecer", escreve
Odebrecht, em e-mail de 19 de janeiro de 2005, para 9 executivos do
grupo.
O assunto tratado era da agenda que o pai, Emílio Odebrecht, teria
acertado com o ex-presidente. "Segue a agenda que meu pai repassou com
Lula em sua reunião de 6ª."
Para a Lava Jato, Palocci, que era tratado como "Italiano" nas mensagens
cifradas da Odebrecht, seria um dos canais do grupo com o governo
federal na obtenção de vantagens na Petrobras - e em outras áreas de
negócios -, mediante o pagamento de propinas. "Pediu para que nós
liderássemos os três projetos (acertou-se que envolveríamos outras
empresas junto com a ABDIB). Ele ficou de retornar via o Italiano para
nós, de como conduziríamos os próximos passos", complementa Odebrecht,
na mensagem. "(Se o italiano não retornar eu o procuro semana que vêm)."
O delegado Filipe Hille Pace, que pediu a prisão preventiva de Palocci,
destaca de no e-mail Odebrecht também relata que o próprio Lula se
prontificou a "destravar" qualquer dificuldade que a Odebrecht tivesse
"junto à estes projetos que lhe foram prometidos".
Lula, nem a ex-presidente Dilma Rousseff, são alvos desse inquérito. O
documento, segundo o delegado, foi anexado para comprovar que Palocci
era interlocutor do Grupo Odebrecht em supostos negócios escusos com o
governo federal.
"Marcelo Odebrecht obteve de seu pai, Emilio Alves Odebrecht, a
informação de que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha
ficado de escolher três projetos, possivelmente da esfera federal, para
serem entregues para execução/contratação pela/da Odebrecht, tendo
designado Antonio Palocci e outros para conduzirem o assunto",
interpreta o delegado.
"Amigo"
O delegado da Lava Jato reuniu ainda um e-mail de 2014 para mostrar que
"amigo do pai" seria referência ao ex-presidente Lula. "Deve ser
ressalvado que o documento investigativo foi utilizado, neste momento,
apenas para expor os motivos que permitiram concluir que o 'amigo do
pai' de Marcelo Bahia Odebrecht é Luiz Inácio Lula da Silva."
Lula virou réu da Lava Jato em Curitiba na última semana, mas é alvo de
outras apurações. No documento em que pediu a conversão da prisão de
Palocci, Pace registrou "as novas análises - especialmente o e-mail que
segue abaixo - corroboram parte da acusação criminal feita recentemente
pelo Ministério Público Federal em face do ex-Presidente da República,
por meio da qual lhe imputam ter se utilizado de pessoas próximas a ele
para a prática dos crimes pelos quais é processado".
Para o inquérito de Palocci, o delegado destaca que novos relatórios
trouxeram dados dessa ligação do ex-ministro com Lula e que "eventuais
desdobramentos e investigações a partir do conteúdo" serão repassados
para investigadores da equipe da Lava Jato.