Pela conjunção de uma série de fatores, o Brasil passa hoje pelo que
alguns chamam de “Era dos Escândalos”. Seja na TV ou no rádio, nos
jornais ou no computador, na fila do banco ou nas conversas do trabalho,
somos bombardeados diariamente por incontáveis manchetes e notícias
sobre corrupção, envolvendo partidos, empresas e a classe política como
um todo.
Há quem atribua esse efeito a uma escalada dos esquemas que desviam
recursos públicos, enquanto outros defendem que assistimos a um aumento
sistemático da força empreendida em investigar e tornar públicos esses
crimes. De uma maneira ou de outra, a verdade é que vivemos um momento
político ímpar. Nunca antes se falou tanto em corrupção, assim como
nunca antes uma bandeira como essa foi levantada por parcela tão
expressiva da população. Extirpar esse câncer que corrói o tecido social
de nossa Pátria passou a ser questão de honra para muitos, em razão do
aclaramento da consciência cívica dos brasileiros.
Diante desse cenário, nossa responsabilidade cívica vai além do voto,
princípio básico de uma democracia. Hoje, falar, pensar e fazer
política deixou de ser uma atividade exercida a cada quatro ou dois
anos, mas algo perene, enraizado em nossas relações e permeando o nosso
dia a dia. Com a sociedade civil organizada não seria diferente.
A luta contra a corrupção e o resgate da dignidade no exercício do
Poder já mobiliza instituições civis por todo o Brasil, de organizações
de classe a grupos, institutos e ONGs. É uma batalha diária pela
mobilização em prol da retomada do protagonismo político, norteada pela
visão da política como ferramenta única de transformação social, não
podendo ser vista como algo simples, sem interesse ou importância. Como
dizia Platão: “A desgraça de quem não gosta da política é que são
governados pelos que gostam”. Alguns gostam e a utilizam em proveito
próprio e esses são aqueles que devem ser banidos da vida pública.
E assim, fazendo parte desse coro que clama por medidas emergenciais
de mudança, que a Maçonaria do Estado de São Paulo busca seu
protagonismo e resgate do seu passado histórico de lutas e conquistas
para a construção de nossa Pátria. A Ordem Maçônica esteve presente em
momentos fundamentais da história do Brasil, como a Independência do
Brasil, a Proclamação da República, a Abolição da Escravatura, a
redemocratização do País e outros eventos marcantes, sempre altiva e
coadjuvante no progresso e evolução de nossa gente e de nossa Pátria.
Hoje lutamos pela mudança desse cenário caótico tornando público esse
ímpeto da Maçonaria de estar inserida com outras sociedades civis
organizadas, fazendo coro por uma renovação nacional. Com esse foco, os
maçons paulistas instituíram e têm ampliado sistematicamente o Grupo
Estadual de Ação Política (GEAP-SP). Essa iniciativa reúne associados
das três Obediências Maçônicas do Estado, o Grande Oriente de São Paulo
(GOSP), Grande Loja do Estado de São Paulo (GLESP) e o Grande Oriente
Paulista (GOP), e tem um objetivo único e simples – lutar para a
construção de uma classe política brasileira composta por pessoas
dotadas de valores éticos e compromissadas com a Pátria e o bem comum.
Entendemos que o Brasil é um país promissor que necessita investir na
educação de base para o surgimento de uma nova geração comprometida com
todos esses nobres princípios.
Essa proposta não é utópica ou ingênua, mas um exemplo de mobilização
da sociedade civil que já funciona e se expande. O GEAP coordena grupos
locais e incentiva que as Lojas Maçônicas estejam cada vez mais
próximas do processo político ideário, principalmente nesse ano de
eleições municipais. Combater a ignorância do voto nulo e o desprezo ao
voto, a única ferramenta capaz de realizar as mudanças tão necessárias
para um País livre do julgo da corrupção e voltado ao seu progresso como
uma das maiores nações do mundo.
Assim, os maçons passaram a receber os candidatos eletivos e deles
buscando compromissos que visam resgatar a ética e a cidadania. Mais do
que isso, esse grupo político atua identificando potenciais lideranças
maçônicas ou de outras esferas sociais que possam representar esses
ideais da transformação da sociedade. Todos esses candidatos podem,
então, solicitar o apoio da Maçonaria, sendo possível orientá-los sobre o
processo de filiação aos partidos políticos antes mesmo das coligações
serem feitas, participando assim da formação estratégica dessas
lideranças, sejam esses candidatos maçons ou não, mas que sejam
comprometidos com a ética, com a probidade administrativa e com a
moralidade pública.
O mais importante, porém, é a contrapartida exigida. Fazendo parte ou
não da maçonaria, todos os candidatos que buscam esse apoio assinam um
termo de compromisso, garantindo não apenas a sua conduta e intenções,
mas se predispondo a realizar visitas periódicas depois de eleito para a
prestação de contas de suas ações enquanto representante da população.
Esse é um exemplo de atuação da sociedade civil organizada, que não
apenas ajuda a identificar e apoiar nomes que possam substituir os
lugares ocupados pelos corruptos no Poder Público, mas fiscaliza suas
ações após o processo eleitoral. Um trabalho que deve ser realizado de
forma constante e coletiva, já que nenhum de nós é tão bom quanto todos
nós juntos.
Nosso papel é fazer uma interface entre o discurso maçônico e a
prática cidadã atuando na evolução da sociedade por meio do exercício
direto da política. É uma forma de revolução pacífica, cívica e
democrática, permitindo, assim, a construção de um País melhor para
todos e para as gerações futuras (Benedito Marques Ballouk Filho é
advogado e Grão-Mestre Estadual do Grande Oriente de São Paulo,
representante de mais de 24 mil maçons presentes em centenas de
municípios paulistas)
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