quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Em recuperação judicial, Renuka vai leiloar usina por R$ 700 milhões


Em recuperação judicial, Renuka vai leiloar usina por R$ 700 milhões

Grupo indiano, que investiu pesado na promessa de expansão do setor e comprou quatro unidades no Brasil, foi abatido pela crise e enfrenta problemas para honrar compromissos há mais de um ano; venda de usina foi acordada com credores.

O grupo sucroalcooleiro Renuka do Brasil, controlado pela companhia indiana Shree Renuka e em recuperação judicial desde outubro do ano passado, vai colocar em leilão sua usina de açúcar e etanol na cidade de Promissão (interior de São Paulo), apurou o ‘Estado’. As ofertas deverão ser apresentadas até 19 de dezembro e preveem lance mínimo de R$ 700 milhões, conforme edital publicado na semana passada.

A decisão de leiloar uma das duas usinas do grupo, aprovada pelos atuais administradores da companhia, foi exigência dos credores, entre eles os bancos Itaú, Bradesco, BNDES, além de fornecedores. O grupo, que está em dificuldades financeiras, acumula dívida de cerca de R$ 2,4 bilhões. Segundo fontes, a expectativa é de que a usina de açúcar e etanol Mandhu, como é conhecida a unidade de Promissão, tenha capacidade de atrair investidores, pois possui também uma unidade do cogeração de energia a partir do bagaço de cana.

Controlada pelo grupo indiano Shree Renuka desde 2009, a Renuka do Brasil não consegue honrar suas dívidas com fornecedores de cana e bancos há mais de um ano. Diante das dificuldades, as conversas para a venda de uma das unidades do grupo ganharam mais força nos últimos seis meses.

Essa operação é considerada uma alienação de Unidade Produtora Isolada (UPI), o que em um processo de recuperação judicial permite que o comprador possa adquirir o ativo sem assumir débitos fiscais e trabalhistas, explicou uma fonte.

A consultoria Galeazzi & Associados é responsável pelo processo de reestruturação do grupo Renuka no País.

Próximos passos. O leilão da unidade Mandhu convocado para 19 de dezembro busca atrair um comprador que faça um lance mínimo de R$ 700 milhões. Caso não atraia um investidor para disposto a desembolsar este total no primeiro leilão, outra oferta deverá ser realizada em um segundo leilão, até 23 de janeiro de 2017.

Se ainda assim o valor mínimo não bater o mínimo esperado, os controladores indianos terão de se desfazer de sua participação acionária na segunda unidade produtora do grupo, a Revati, localizada em Brejo Alegre, também no interior de São Paulo, informaram fontes ao Estado.

A unidade Mandhu é considerada a melhor usina do grupo e tem capacidade para moer 6 milhões de toneladas por ano. A outra unidade tem capacidade de 4 milhões de toneladas.

Onda de investimentos. Estimulada pela expansão do setor sucroalcooleiro no Brasil, a Shree Renuka, que era uma das maiores produtoras de açúcar do mundo no início dos anos 2000, entrou no Brasil com a expectativa de avançar no País, o maior produtor global da commodity.

O grupo indiano tem quatro usinas no Brasil, sendo duas em São Paulo e outras duas no Paraná. 

Todas estão em recuperação judicial. No entanto, há dois processo distintos de recuperação em andamento – um para as unidades de São Paulo e outro para as unidades do Paraná.
 
São processos diferentes porque a Renuka do Brasil tem cerca de 60% de fatia nas unidades de São Paulo. Os 40% restantes estão nas mãos de acionistas da Equipav, grupo que atua em construção e é o fundador das duas usinas paulistas. Já as unidades no Paraná são 100% controladas pelos indianos.
 
Os planos de expansão dos indianos foram frustrados no Brasil com a crise que se abateu sobre o setor sucroalcooleiro. A operação ficou insustentável no ano passado, quando o grupo entrou com pedido de recuperação judicial na Justiça de São Paulo.
 
Procurados, o grupo Shree Renuka na Índia, Renuka do Brasil e Galeazzi não retornaram os pedidos de entrevista 

(O Estado de S.Paulo, 16/11/16)

Lucidez e audácia na condução dos destinos do país






Na opinião de Joel Malucelli, o Brasil poderá retomar o crescimento

Por Joel Malucelli*
Joel Malucelli, fundador do Grupo JMalucelli


Ao longo dos anos temos assistido, no cenário político nacional, desvios de condutas com ambições sórdidas que acabaram fragmentando nossas esperanças. Como empresário, venho convivendo, por décadas, com crises e promessas de novos governos que nos vendem terrenos férteis, paraísos e portos seguros e nos entregam pântanos, fraudes e estelionatos. Mas sempre acreditamos, pois este é o nosso país.

Vejo, agora, uma grande luz. Em pouco mais de 100 dias de governo do presidente Michel Temer, observo lucidez e audácia na condução dos destinos do Brasil, norteada por um cuidado especial na condução da política econômica. Ele adotou medidas essenciais para reequilibrar as contas públicas e colocar a economia nos trilhos do crescimento, além de medidas para fortalecer os programas sociais. 

Temer tem usado o diálogo como norte de ação ouvindo deputados, senadores, prefeitos, governadores, representantes de sindicatos e de entidades da sociedade civil e de empresários. Com Henrique Meirelles na condução da política econômica, o governo está trazendo o realismo de volta às contas públicas com a proposta de mudança na meta fiscal.

A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que limita os gastos públicos fará com que as despesas de um ano cresçam apenas o equivalente à inflação do ano anterior, o que poderá devolver o equilíbrio fiscal ao país. É uma proposta delicada, que pode desagradar muita gente, mas é necessária e seu resultado ainda haveremos de comemorar. Temer também exigiu que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) devolvesse R$ 100 bilhões em ativos pertencentes ao Tesouro Nacional e suspendeu recursos da instituição para obras no exterior, medidas corajosas para quem inicia um governo. Ressalta-se ainda o corte de 4.307 cargos em comissão que permitirá uma economia de R$ 230 milhões por ano aos cofres públicos e a redução do número de ministérios.

Eu acredito neste governo que está promovendo uma reforma na educação e que colocou como presidente da Petrobras um executivo de respeito como Pedro Parente, que vem conduzindo com equilíbrio a política internacional. Tenho certeza de que esse governo também será iluminado ao fazer as reformas política e previdenciária.

 *Fundador do Grupo JMalucelli.

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Copel prevê maior receita com linhas de transmissão





Estatal poderá embolsar R$ 162 milhões a mais no próximo ano

Da Redação

redacao@amanha.com.br

 Copel prevê maior receita em 2017 com novas linhas de transmissão


A entrada de novos projetos de transmissão deve incrementar a receita da Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel). De acordo com os cálculos de Luiz Fernando Vianna, presidente da estatal, o total poderá alcançar R$ 162,6 milhões no próximo ano. Estão previstas as entradas em operação de quatro novas linhas no ano que vem, com 1.385 quilômetros.  

Entre julho e setembro, a entrada de uma linha de 600 quilômetros na qual a Copel tem 49% aumentou a receita da companhia em R$ 48,7 milhões. Até dezembro, deve entrar ainda uma outra linha, na qual a Copel tem 24,5%, elevando o faturamento anual de transmissão em R$ 22,3 milhões. 
Segundo a companhia, os números de consumo do trimestre tem mostrado que a Copel já passou pela sua pior fase, o que gera uma expectativa positiva para o fim do ano.


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quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Não é impressão: os últimos anos estão mesmo mais incertos


Estudo mostra que índice de incerteza nos últimos dois anos foi mais alto até do que no auge da crise financeira em 2008 e 2009




São Paulo – Impeachment, golpe na Turquia, Brexit, eleição de Donald Trump: é grande a lista dos eventos que balançaram as economias e mercados só em 2016.

E o mundo está de fato com níveis de incerteza mais altos nos últimos anos, segundo um estudo lançado pelo Escritório Nacional de Pesquisa Econômica dos Estados Unidos.

O autor é Steven Davis, da Faculdade de Administração Booth da Universidade de Chicago. que criou com outros economistas um índice de incerteza mensal de janeiro de 1997 a agosto de 2016.

Estão contemplados 16 países que respondem por dois terços da produção mundial. Seu peso no índice é proporcional ao seu peso econômico.

O nível de incerteza leva em conta a frequência de artigos em jornais locais que falem ao mesmo tempo de economia, incerteza e questões de política pública.

Algumas medidas foram tomadas para corrigir possíveis distorções, como um grupo de controle humano paralelo que minimiza o risco de falsos positivos ou negativos.

O valor mediano do índice entre julho de 2011 e agosto de 2016 é 60% mais alto do que nos 14 anos e meio anteriores, além de ser 22% mais alto do que no auge da crise em 2008 e 2009.

O índice flutua de forma similar em jornais de esquerda e de direita, além de ser consistente com outras medidas de incerteza que usam critérios diferentes.

Isso importa porque “muitas análises teóricas mostram como a incerteza potencialmente afeta o investimento, contratação, consumo, custos de financiamento, preços de ativos, crescimento da produção e outros resultados econômicos”, diz o estudo.

O Brasil é um dos países contemplados pelo índice e citado como um exemplo de grande incerteza nos últimos tempos:

“Uma longa e severa recessão, uma onda extraordinária de investigações de corrupção e o recente impeachment e remoção da presidente se combinaram para virar o cenário político. O novo presidente do Brasil promete retomar o crescimento revertendo várias políticas grandes da sua predecessora. Seu sucesso nessa empreitada é altamente incerto”.

Outros eventos dos últimos anos que coincidem com aumento grande da incerteza captada pelo índice são os ataques do 11 de setembro em 2001, a invasão do Iraque em 2003 e a recente crise imigratória na Europa.


Estados conseguem fatia maior da repatriação no STF




Decisão de Rosa Weber beneficia Rio Grande do Sul e Santa Catarina

Da Redação

redacao@amanha.com.br
Ministra Rosa Weber


A decisão provisória do Supremo Tribunal Federal (STF) que determina que o governo federal pague aos estados do Piauí e Pernambuco o valor das multas cobradas com a Lei da Repatriação (destinada à regularização de ativos do exterior não declarados à Receita Federal) foi estendida para mais 16 unidades federativas – Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Santa Catarina, Roraima, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Tocantins. A ministra Rosa Weber acatou o pedido feito em conjunto pelos governadores que querem uma fatia maior dos recursos arrecadados pela União.

Os estados e municípios já recebem parte do percentual de 15% de Imposto de Renda (IR) pago por contribuintes que, em troca de anistia, declararam os valores mantidos em contas no exterior. O valor da distribuição, feita de acordo com critérios definidos pelo Tribunal de Contas da União (TCU), alcançou R$ 4 bilhões (21,5% dos R$ 46,8 bilhões arrecadados). Mas governadores já haviam sinalizado que iriam em busca de parcela da multa. Além do Imposto de Renda, a regularização dos recursos exige pagamento de 15% em multa. O argumento das administrações estaduais é o de que a partilha desse recurso está prevista tanto na Constituição como no Artigo 163 do Código Tributário Nacional. A decisão da ministra Rosa Weber (foto) ainda depende de um aval do plenário do STF.


Prorrogação

 
Paralelamente à possível mudança nas regras da partilha, o Senado já estuda um novo projeto de lei para reabrir o prazo de repatriação de ativos, encerrado em 31 de outubro. Inicialmente, a proposta apresentada pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), é de um prazo que de até 90 dias a partir da sanção da matéria. Mas esse limite será discutido com a Câmara para que haja consenso.

A principal diferença, principalmente do ponto de vista dos governos, é que nessa segunda oportunidade de regularização, as alíquotas cobradas em troca da anistia serão maiores. Tanto a parcela cobrada sobre o IR quanto sobre a multa passariam de 15% para 17,5% cada, somando 35% de taxação total sobre o recurso a ser regularizado.

Governadores que têm acompanhado a negociação em torno do novo prazo querem que o impasse sobre as multas seja solucionado já na tramitação do projeto. Esta semana, o governador de Goiás, Marconi Perillo, pediu apoio do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e chegou a afirmar, depois do encontro, que há um compromisso da pasta em garantir a partilha da multa no novo programa de repatriação. A decisão do STF pode contribuir para o pleito dos Estados.


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"Maioria do Supremo é de pessoas que se pavoneiam com uma vaidade absurda"


A exposição excessiva do Judiciário é prejudicial, pois se antes a sociedade não sabia praticamente nada sobre a capacidade dos seus integrantes, agora ela tem certeza de seus defeitos. A opinião é do professor, diplomata, ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente do governo Itamar Franco (1992-1994), Rubens Ricupero. "É como a nudez. À nudez, pouca gente resiste", sentencia.

Em entrevista à revista eletrônica Consultor Jurídico, Ricupero criticou duramente o Supremo Tribunal Federal. Os membros da corte, diz ele, se expõem demais, o que acaba diminuindo-os frente à população. 

“A imensa maioria é formada de pessoas que se pavoneiam com uma vaidade absurda e não são capazes de manter um comportamento como um magistrado deveria ter, de discrição.”

E os juristas do país, segundo o professor, pararam no tempo, tornando-se  “figuras intelectualmente anacrônicas”, que prejudicaram o Direito brasileiro, tornando-o obsoleto. “Enquanto o Direito anglo-saxônico olha o resultado, a efetividade, o nosso é muito formalista, envelhecido, sem ideias.”

E a influência do Direito anglo-saxônico fica visível na operação "lava jato", que investiga corrupção envolvendo a Petrobras e partidos políticos. Para Ricupero, a investigação "só se viabilizou porque os homens que a conduzem conhecem o Direito americano. E muitos estudaram lá. Por exemplo, a delação premiada que, finalmente, foi incorporada ao direito brasileiro, é uma instituição que existe há décadas nos Estados Unidos”.

Mesmo elogiando a inovação trazida pelos envolvidos na "lava jato", Rubens Ricupero não se furta de apontar problemas no caso que deu fama ao juiz Sergio Moro. O uso seguido de prisões preventivas, apontadas por advogados como uma forma de forçar delações premiadas, diz ele, contamina a operação.


Leia a entrevista:


ConJur — Desde a Ação Penal 470, o processo do mensalão, e agora com a operação "lava jato", o Judiciário tem ocupado lugar de destaque no noticiário e nas rodas de conversa. Essa exposição é boa ou ruim?
Rubens Ricupero —
Acho que é muito negativa, porque a exposição excessiva revela muito. É como a nudez. À nudez, pouca gente resiste. Porque, no fundo, a roupa foi uma invenção que, além de todos os outros benefícios, tem um benefício estético muito grande. Só pessoas que têm um corpo perfeito aguentam serem expostas a nu. A mesma reflexão se aplica ao caráter, à personalidade das pessoas. Pessoas que se expõem, como esses ministros — falando, gesticulando, mostrando egos superdimensionados—, na verdade, se diminuem aos olhos da população. O Supremo Tribunal Federal pode ser que não tenha sido melhor no passado, mas as pessoas não sabiam. Hoje em dia elas sabem.

O que tem por aí, em geral, é triste. A imensa maioria é formada de pessoas que se pavoneiam com uma vaidade absurda e não são capazes de manter um comportamento como um magistrado deveria ter, de discrição. O contraste com a Suprema Corte americana é chocante. Não garanto que os juízes da Suprema Corte americana sejam melhores do que os nossos, mas ninguém sabe. Porque eles se portam publicamente com muita discrição. É raríssimo alguém dar uma opinião. Recentemente, uma juíza da suprema corte fez uma declaração sobre o Trump, que era correta, mas ela logo depois pediu desculpas, dizendo que não era apropriado, que ela não deveria ter falado aquilo. Aqui eles falam sobre tudo, inclusive, questões que estão sendo julgadas. O Judiciário brasileiro, hoje, — incluindo aí os procuradores e promotores públicos — tem uma imagem melhor, sobretudo a nova geração. É o caso do juiz Moro, dos procuradores em Curitiba. Não só por causa da “lava jato”. São pessoas mais atualizadas.

O problema dos juristas brasileiros é que eles são, quase todos, figuras intelectualmente anacrônicas. O Direito brasileiro é um Direito muito envelhecido. E eu sou bacharel em Direito, e por isso posso falar disso. E meus dois irmãos eram magistrados, se aposentaram como desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo. O Direito brasileiro sempre foi de segunda mão. Sempre inspirado pela Itália, pela Alemanha, pela França. No passado ainda havia, aqui, juristas que se equiparavam, de certa forma, aos grandes juristas mundiais. Hoje, não há mais. O que impera é uma certa mediania.

E é um Direito que não acompanhou a evolução do tempo. Por isso é que, no caso do Direito Empresarial, nós temos coisas absurdas. Mesmo a reforma da Lei de Falência e os esforços que se fizeram são muito insuficientes. O número de recursos... Os casos não terminam. Nos Estados Unidos, quando houve a mega falência da Enron, aquela grande companhia de energia, em um ano, a falência estava liquidada. Era uma falência gigantesca.

ConJur — Algumas levam décadas, não?
Rubens Ricupero —
Levam. Enquanto que o Direito anglo-saxônico olha o resultado, a efetividade; o nosso é muito formalista, envelhecido, sem ideias. Tanto assim que a operação “lava jato” só se viabilizou porque os homens que a conduzem conhecem o Direito americano. E muitos estudaram lá. Por exemplo, a delação premiada que, finalmente, foi incorporada ao direito brasileiro, é uma instituição que existe há décadas nos Estados Unidos.

É a chamada plea bargaining, a negociação da sentença. Nos Estados Unidos, em Direito Penal, a maioria dos casos nunca vai a julgamento. Eles são negociados. Porque eles estão mais interessados na rapidez e na efetividade, do que na suposta perfeição da Justiça. O que está funcionando é por causa dessa gente que está em contato com os procuradores americanos e da Suíça. O resto, o que depende desse pessoal mais velho, se arrasta.

ConJur — A “lava jato” é muito criticada pela dobradinha “prisão preventiva-delação premiada”. Os advogados de defesa, e outros tantos juristas, dizem que as prisões decretadas pelo juiz Moro são um incentivador para as delações. O senhor concorda com isso?
Rubens Ricupero —
A meu ver há um elemento de verdade nessa acusação. Eu não me sinto satisfeito nem com o excesso de prisões preventivas que se prolongam por meses e meses; nem, justamente, por essa prisão psicológica que se faz para a delação. Eu tenho a impressão de que essas coisas, de fato, contaminam a “lava jato”.

ConJur — Assim como o senhor falou do Supremo, os procuradores da “lava jato” também têm aparecido muito, por exemplo, encampando as 10 medidas do MPF. Essa exposição excessiva do Ministério Público também não é prejudicial?
Rubens Ricupero —
Em tese, eu distingo as duas coisas. Eu acho que mesmo em um regime com instituições muito melhores do que as brasileiras, a Suprema Corte e os juízes, de uma maneira geral, têm que ser discretos. Não sou favorável à transmissão ao vivo de julgamento — salvo exceções muito excepcionais. Eu creio que é um princípio basilar da magistratura que o juiz se mantenha com uma certa circunspecção. Então, não comparo uma coisa com a outra.

No segundo caso, eu diria a você que, se nós tivéssemos instituições melhores, seria estranho que houvesse campanha pública de procuradores. Infelizmente, nas circunstâncias brasileiras, é inevitável. Porque é óbvio que a mudança das leis penais e leis processuais penais não virá do Congresso. Porque há tanta gente no Congresso que está ameaçada, inclusive, no caso da operação [“lava jato”]... O que nós temos visto no Brasil é uma tendência sempre a aguar a legislação penal.

O Brasil é um país que tem uma legislação penal e de cumprimento de pena extremamente indulgente. É um país que tem uma violência enorme. Níveis de violência fantásticos. E vai ter uma legislação penal, de processo penal como se fosse a Dinamarca. É completamente contraditório. Então, a meu ver, eu penso que eles têm razão de fazer essa campanha porque é uma maneira, talvez, de esclarecer a opinião pública e criar uma pressão para uma reforma das leis penais. Não que eu pense que apenas a dureza das leis penais resolva. Não. Eu acho que as leis penais e de processo penal têm que ser justas. Elas têm que ser, sem dúvida nenhuma, sentidas. Mas, têm que ser cumpridas. Eu acho um absurdo, por exemplo, essas saídas periódicas que todo mundo já viu e uma boa porcentagem não volta.

É óbvio que não se deve ir nem a um extremo nem a outro. Eu não sou favorável, por exemplo, à legislação penal de alguns estados americanos, que são absurdas, nas quais a pessoa que comete uma terceira violação, mesmo que seja apenas a posse de um cigarro de maconha, pode ser condenada à prisão perpétua. E lá é perpétua mesmo, a pessoa morre na prisão. Acho isso um absurdo. É um atentado.

Tem que se encontrar um ponto de equilíbrio. Mas, o ponto de equilíbrio, às vezes, tem que ser duro. Eu vou lhe dar o exemplo da Itália. A Itália é um país que tem um direito penal brilhante. A maior parte dos penalistas brasileiros até se formaram estudando os livros de penalistas italianos. No entanto, a Itália tem uma espécie de pena que é prisão perpétua de verdade. Os líderes da Cosa Nostra não saem nunca. Morrem na prisão. Por quê? Porque eles compreendem que em alguns casos não há recuperação possível. 

Para um grande líder da Cosa Nostra que vive daquele poder, daquela riqueza, a prisão tem que ser definitiva.

Porque ele solto causa ainda muito mais danos. O Brasil não tem essa possibilidade, fica jogando com teorias que já não são aplicadas nem onde elas nasceram. Porque foi na Itália que começou o movimento de humanização do Direito Penal, com o marquês de Beccaria. Mas o Brasil é o país que fica preso a conceitos de cem anos atrás.

ConJur — O senhor é a favor da prisão depois de condenação em segunda instância?
Rubens Ricupero —
Em muitos casos, sim. Não em todos os casos porque o Brasil tem uma qualidade de Justiça muito diferente conforme os estados. E há estados por aí em que não se pode colocar a mão no fogo pela qualidade da segunda instância. Então, haveria esse risco. Mas creio que os tribunais têm competência para julgar caso por caso, como aquele episódio que houve aqui, da construção do fórum [Trabalhista de São Paulo]. Um dos empresários desse caso da construção do Fórum, que foi condenado a mais de 30 anos, já tinha acionado 33 recursos para não cumprir a pena. Isso, obviamente, é demais, em qualquer lugar. 
E aí cai mesmo naquela questão: o sujeito que tem dinheiro, que tem bons advogados, não vai preso nunca.

ConJur — O Supremo tem invadido competência do Legislativo?
Rubens Ricupero —
O Supremo tem ido muito longe. Nós deveríamos ter, a meu ver, quando houvesse uma grande reforma, um sistema diferente, uma corte apenas constitucional. Como há na Itália, na França e em outros lugares. E uma Suprema Corte para a maioria dos outros processos. E a corte constitucional deveria ter diretrizes que limitassem essa capacidade de legislar em lugar do legislador. Isso tem acontecido no Brasil porque cria-se um vácuo. Aquela famosa regra: o poder odeia o vácuo. Quando há um vácuo, alguém ocupa. No caso, tem sido a corte, porque os legisladores não são capazes de votar, às vezes, em coisas relativas a eles.

ConJur — O Supremo acertou ao proibir as doações para empresas para candidatos?
Rubens Ricupero —
Sou favorável à proibição das doações das empresas. Mas acho que não basta, porque é preciso impor limites grandes ao quanto se pode gastar. É preciso adotar normas impedindo que as eleições se transformem em programas, como se fossem filmes, e sejam mais de debates de ideias. Eu creio que mesmo as doações individuais deveriam ser policiadas e observadas de perto. Porque pode acontecer, por exemplo, que uma empresa seja proibida de doar, mas que os políticos façam pressão sobre os diretores das empresas para fazerem doações a título de individual. E aí isso burlaria a lei. É preciso verificar isso com muito cuidado, porque a violação das leis de financiamento de campanha existe em todos os países. Até na Inglaterra, que tem leis muito mais aperfeiçoadas e onde se gasta muito menos do que aqui. É preciso ter um cuidado muito grande para que essas coisas não escapem ao controle.

ConJur — Qual é o modelo de voto que mais lhe agrada?
Rubens Ricupero —
Distrital misto. Creio que deve haver um caráter de distrito, com algumas correções. Como é que você vai se candidatar em um estado inteiro como São Paulo, com mais de quinhentos municípios. O dinheiro que isso exige.

ConJur — O senhor é a favor de adiantar as eleições para presidente?
Rubens Ricupero —
Não. Eu sou a favor do parlamentarismo. Sempre fui. Eu fui um dos votos minoritários em janeiro de 1963. Sempre fui favorável ao regime parlamentar. Sou contra o regime presidencial. Acho que se nós tivéssemos um regime parlamentar — é claro, não com 35 partidos, mas com um número menor —, episódios como o do impeachment não existiriam.  Porque o governo cairia. O gabinete cai e forma um novo gabinete. Como a Angela Merkel disse quando veio o Brasil, né. No regime parlamentar, a mudança do governo não é uma crise, mas uma solução da crise.

ConJur — E por que no presidencialismo essa mudança é tão traumática, enquanto no parlamentarismo é mais aceita?
Rubens Ricupero — É que o presidencialismo é muito rígido. É um sistema em que, praticamente, durante o mandato que se conferiu à pessoa eleita, não há como interferir se ele não se provar à altura da confiança depositada. A racionalidade deveria aconselhar a que se mudasse o governo quando este se mostra incapaz de encaminhar soluções dos problemas.

No presidencialismo se espera uma data. No caso brasileiro, daí o impasse, o dilema em que nós estávamos. Ela não deveria ter sido reeleita. Já a reeleição foi um engano, foi um engano obtido graças ao uso maciço de recursos econômicos e ao poder do governo. A atitude do partido, no poder, de não aceitar a transição, de não aceitar a alternância no poder. A verdade é que o PT tem uma tendência que não é democrática. A tendência do PT é muito avessa à alternância do poder. O PT tentou se manter no poder a qualquer custo. Não sou eu que estou dizendo. Eles disseram. Ela [Dilma Rousseff] mesmo declarou que iria fazer o diabo. O Lula disse: “agora vocês vão ver do que nós somos capazes”.  Eles são capazes de tudo e foi o que se viu.

Conseguiram a reeleição, embora por pouca diferença. Esse é que foi o erro. O erro de onde nasce essa crise é a reeleição de uma pessoa que era manifestamente inepta. Que tinha provado isso há quatro anos. Por exemplo, os argentinos, que nós costumamos criticar, não cometeram esse erro. É verdade que lá não poderia mais reeleger. Mas não reelegeram a pessoa que representaria a continuação do governo da Cristina Kirchner. Aqui se elegeu a continuação de um sistema que já estava mergulhado numa profunda crise a partir de 2013. Outra instituição contra a qual eu me pronuncio é a reeleição. Foi um grande erro do Fernando Henrique ter patrocinado essa emenda da reeleição.

 http://www.conjur.com.br/2016-nov-13/entrevista-rubens-ricupero-diplomata-ex-ministro-fazenda