Foram meses de encontros, impasses e negociações sobre a produção de petróleo, mas, no fim das contas, um telefonema às duas da manhã encerrou a questão
Após meses de encontros realizados em locais como Doha e
Moscou, foi um telefonema às duas da manhã entre dois dos homens mais
poderosos do mercado mundial de petróleo que finalmente acabou com o
impasse.
Na véspera da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, marcada para 30 de novembro, a probabilidade de acordo para reduzir a oferta e o excedente global não era das melhores.
Seus integrantes continuavam sem concordar sobre quanto deveriam
cortar. Eles haviam sido obrigados a cancelar negociações para pedir a
colaboração de fornecedores não participantes do bloco, como Rússia e
Brasil.
Mas nas primeiras horas de 29 de novembro, o ministro da Energia da
Arábia Saudita, Khalid Al-Falih, e sua contraparte na Rússia, Alexander
Novak, tiveram uma conversa.
Novak prometeu que seu país estava disposto não só a congelar a
produção, como insistia há muito tempo, mas também a reduzir a oferta,
contribuindo com metade do corte total que a Opep solicitava a
concorrentes ao redor do mundo, de acordo com autoridades envolvidas
diretamente nas negociações.
Em troca, Al-Falih tinha de pressionar os integrantes da organização a
submeter no dia seguinte números contundentes de limites à própria
produção.
Al-Falih cumpriu a palavra. Ao redor de 17 horas em Viena do dia 30
de novembro, a Opep anunciou que iria diminuir a produção pela primeira
vez desde 2008, em 1,2 milhão de barris por dia.
Além disso, seus representantes declararam orgulhosamente que Rússia e
outros produtores de fora do grupo cortariam 600.000 barris diários por
conta própria.
A cotação disparou mais de 15 por cento e ultrapassou US$ 50. O barril do tipo Brent atingiu o maior preço em mais de um ano.
“Após algumas tentativas fracassadas, a Opep finalmente conseguiu
entregar”, disse Olivier Jakob, diretor-gerente da consultoria
Petromatrix, em Zug, na Suíça.
Caminho longo
O caminho até aquela conversa crucial foi longo e tortuoso, segundo
autoridades que pediram anonimato porque descreveram detalhes
confidenciais sobre como o clube de produtores chegou ao primeiro corte
de produção em quase uma década.
Em abril, um acordo entre a Opep e a Rússia para congelar a produção
ruiu no dia marcado para a assinatura. A Arábia Saudita inesperadamente
insistiu que o rival Irã precisava se juntar ao acordo.
O excedente de oferta persistente segurou a cotação abaixo de US$ 50 e
prejudicou as economias de países produtores em todo o mundo.
Os esforços foram retomados em setembro. No dia 28 daquele mês, na
Argélia, os ministros da Opep decidiram que o grupo reduziria a produção
total, mas que os detalhes sobre quanto cada integrante assumiria
seriam acertados até a reunião que aconteceria dois meses depois.
As infinitas discussões técnicas nas semanas seguintes foram insuficientes para resolver as diferenças entre eles.
O prazo final de 30 de novembro se aproximava e essas diferenças
pareciam irreconciliáveis. Em 25 de novembro, outro colapso parecia
iminente: Al-Falih alertou que estava disposto a abandonar as
negociações que aconteceriam apenas três dias depois.
Após um empurrãozinho diplomático do ministro da Argélia, Nourredine
Bourtarfa, que viajou a Teerã e Moscou, os representantes tomaram café
da manhã juntos em 30 de novembro, antes da reunião formal.
O encontro ministerial demorou mais de cinco horas. Quando Al-Falih
surgiu do lado de fora da sala, os assistentes se perguntaram o que
significava a aparição súbita do homem que havia dito que jogaria a
toalha.
Mas ele já havia conversado com Moscou na madrugada. Al-Falih queria
algo para enganar a fome enquanto as negociações prosseguiam.