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Atuação: Consultoria multidisciplinar, onde desenvolvemos trabalhos nas seguintes áreas: fusão e aquisição e internacionalização de empresas, tributária, linhas de crédito nacionais e internacionais, inclusive para as áreas culturais e políticas públicas.
A gestora Mint Capital, controladora da Bahema Educação, concluiu nesta terça-feira, 2, a aquisição do imóvel do Colégio Pop, unidade da Rede Decisão localizada no bairro São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo. O acordo, no valor de R$ 10 milhões, prevê a utilização pela grupo vendedor por dez anos.
Por meio do fundo imobiliário Mint Educacional, a gestora adquire imóveis de empresas do setor e aluga a prazos longos, geralmente para a própria companhia que era proprietária. “Essas instituições já são os melhores operadores (do setor), e acreditamos que serão os maiores destaques educacionais no futuro. Com isso, o investidor tem uma previsibilidade de receita e rendimento muito grande”, afirma Marcelo Walton, sócio da Mint Capital.
O colégio é a terceira aquisição imobiliária para o portfólio do fundo. Atualmente, o Mint Educacional possui a unidade da Faculdade Una Aimorés, operada pela Ânima Educação em Belo Horizonte (MG), e da Escola Parque Barra, operada pela Bahema na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Juntos, os ativos equivalem a aproximadamente R$ 100 milhões em patrimônio.
Segundo Walton, o fundo continua buscando oportunidades de aquisições
em diferentes cidades. O objetivo é entrar para o mercado do varejo, já
que o fundo atualmente é aberto somente para investidores qualificados
(que têm mais de R$ 1 milhão investidos no mercado financeiro). “Para
chegar ao varejo, o fundo precisa estar com um porte maior. Pretendemos
nos próximos meses concluir novas operações, no mesmo nível de
qualidade, para chegar a um fundo ao final do ano de pelo menos R$ 500
milhões de patrimônio”, afirma.
O sócio da Mint Capital acredita que, apesar da pandemia, o setor de educação permanece aquecido em transações, e que a demanda das redes educacionais por novas unidades está aumentando.
A Rede Decisão conta atualmente com doze colégios em São Paulo e Minas Gerais. Para Walton, as aquisições pelo fundo proporcionam liquidez para que as instituições façam novos investimentos, e paguem contratos de aluguel para a Mint.
https://www.istoedinheiro.com.br/mint-capital-controladora-da-bahema-educacao-compra-unidade-da-rede-decisao/
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) avalia abrir um processo para investigar operações atípicas com papéis da Petrobras nas últimas semanas, quando eclodiu a crise entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, e a administração da companhia, que culminou com a troca do comando da petroleira. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a área técnica do órgão regulador do mercado de capitais está analisando informações preliminares antes de formalizar uma investigação sobre uso de informações privilegiadas (insider trading, no jargão do mercado).
Os sinais de que alguém pode ter lucrado com a antecipação de informações sobre o que ocorreria na estatal foram revelados pela coluna de Malu Gaspar, no jornal O Globo. Segundo a coluna, um investidor pode ter levantado R$ 18 milhões em transações opções de venda de papéis da petroleira ao efetuar operações, na quinta-feira, 18, em um volume que só faria sentido se realmente acreditasse que as ações iriam cair pelo menos 8% na sexta-feira, 19.
Na operação de opção, o investidor adquire o direito de comprar ou vender um ativo em uma data futura, a um preço fixo, para se proteger do movimento contrário do papel ou especular. Dados públicos da B3 verificados pelo Estadão/Broadcast mostram que os detentores dos papéis tinham garantida a venda de ações da Petrobras no vencimento – 22 de fevereiro – a R$ 26,50.
No dia 18, quando a ação fechou a R$ 29,27, antes de o presidente anunciar durante live, à noite, que promoveria mudanças na estatal, duas ordens de compra foram realizadas: uma de 2,6 milhões de opções às 17h35, e outra às 17h44, de 1,4 milhões de papéis, ambas com preço de R$ 0,04, ou seja, a R$ 160 mil no total. O número de negócios com o papel naquela data foi de 238, disparando para 1.097 no dia seguinte, após Bolsonaro sinalizar mudanças.
https://www.istoedinheiro.com.br/cvm-pode-investigar-insider-na-petrobras-2/
No centro histórico de São Paulo, a Rua do Comércio já não faz jus ao nome. Quem entra nessa ruela não se depara com vitrines chamativas, mas sim com portas fechadas e placas de aluguel. “Ali era uma sapataria que existia há 60 anos. E ali tinha um bar que a fiscalização fechou por desrespeitar as medidas sanitárias”, aponta Vitor Sapolnik, 55, proprietário do Caffè Latte, um dos únicos comércios que sobreviveu na Rua do Comércio. Efeitos de uma pandemia cuja crise causou uma queda de 4,1% no PIB em 2020, a maior em 24 anos, e o desemprego na casa de 14 milhões de pessoas.
O Caffè Latte surgiu no mesmo lugar onde está até hoje, em 2004, quando Sapolnik decidiu ter uma vida “mais tranquila” e realizar o sonho de montar uma cafeteria, após décadas trabalhando em multinacionais. Nesses 16 anos, o negócio se expandiu para uma unidade na Avenida Paulista (centro), duas em escritórios na Vila Clementino (zona sul) e Lapa (zona oeste) e uma versão pocket, a duas quadras da original, também no centro, inaugurada um mês antes do Governo decretar a quarentena pelo novo coronavírus.
A cafeteria cresceu tendo como público-alvo os executivos que, nos intervalos pré e pós almoço, deixavam seus escritórios no centro para tomar um café e comer um bolo. Exatamente a classe que, desde março de 2020, passou em sua grande maioria a adotar o home office. “O fluxo caiu drasticamente e sofremos em todas as nossas lojas”, conta o dono. O Caffè ficou fechado entre março e junho do ano passado, abriu só para delivery e, hoje, funciona com 60% da capacidade e seguindo os protocolos sanitários da Prefeitura — entre eles, a ausência de mesas na calçada, o que Sapolnik considera “um absurdo de outro mundo, já que é o lugar mais ventilado”.
Quando estava completamente fechado, Vitor publicou um texto nas redes sociais do estabelecimento em que apelava para uma ajuda financeira dos Governos municipal, estadual e federal, e alcançou mais de um milhão de visualizações. “Presidente, Paulo Guedes, Maia, Alcolumbre, Doria, Covas, façam alguma coisa para salvar os negócios, os empregos e a economia”, escreveu. Através da repercussão, Sapolnik conseguiu financiamentos, renegociações de aluguel e readequações na loja física, mas não o suficiente para lidar com todas as dívidas. O proprietário não sabe o que fará com as outras unidades; ele trabalha hoje com 30% do faturamento pré-covid e precisou demitir 16 dos 40 funcionários, cinco deles na loja principal. “E não posso demitir mais pelos períodos de estabilidade que eles têm pelas suspensões de contrato. Se pudesse demitiria, porque não tenho condições de pagar esses salários”, completa.
“O ramo da alimentação sucateou”, resumiu Alexandre Azevedo, 42, proprietário do restaurante self-service Retiro do Caçador, na zona oeste de São Paulo. “Já vínhamos de uns três anos com falta de crescimento antes da pandemia. Não acumulei dívidas [no último ano] porque usei todo o meu dinheiro, mas a maioria [do setor] deve para bancos e distribuidores”, contou. Segundo contas da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), mais de 50.000 estabelecimentos do ramo fecharam no Estado desde o início da pandemia. Azevedo administra há 23 anos o restaurante inaugurado pelo seu pai, em 1978, na Rua Heitor Penteado, que funciona sete dias por semana; e uma filial no bairro de Perdizes, que abre de segunda à sexta, mais voltada ao público executivo.
O restaurante original fechou apenas no início da pandemia, enquanto o secundário ficou parado por nove meses em 2020. Em Perdizes, onde seu estabelecimento atendeu oito pessoas nesta terça-feira (2), trabalham três funcionários onde antes eram 14. No outro, a mão de obra caiu de 19 para 13. Ao longo dos 30 minutos em que conversou com a reportagem, no estabelecimento da Heitor Penteado, no fim da hora de almoço desta terça, o dono do restaurante parou sete vezes para pesar pratos ou receber os pagamentos de seus clientes. “Desculpa, preciso ficar de olho no caixa”, justificou. A ANR (Associação Nacional de Restaurantes) estima que 84.000 pessoas perderam o emprego no setor em São Paulo. Azevedo viu o faturamento cair pela metade no início da crise, mas hoje chegou a 80% do que tinha em janeiro do ano passado. Em comparação com a situação de Sapolnik, ele tem uma vantagem: o delivery consolidado desde antes da covid-19. “Antes, 30% do nosso faturamento já era com delivery. Agora foi para 70% e compensou o que eu perdi no salão. A diferença é que tenho o iFood como sócio”, explicou.
Sobre as posturas dos Governos estadual e federal, Sapolnik e Azevedo convergem ao não tomar lado na briga entre Jair Bolsonaro e João Doria, que tiveram posturas conflitantes na forma como lidaram com a pandemia. “Eu achei que se precipitaram ao fechar o comércio no começo. Mas temos que levar em consideração que o mundo não sabia o que fazer”, opinou Alexandre. “Todos erraram. Faltou capacidade de se planejar e mudar conforme a necessidade”, completou Vitor. Os empresários admitem que é mais seguro confirar aos cientistas a tomada de decisão acerca das medidas restritivas para o comércio. “Sou do time que acha que precisa resolver a saúde para resolver a economia. A culpa da crise é da pandemia, não da quarentena”, conclui Sapolnik.
https://brasil.elpais.com/economia/2021-03-03/donos-de-comercio-fazem-malabarismo-para-manter-as-portas-abertas-com-a-economia-em-corda-bamba.html
o
A pandemia da covid-19 no Brasil derrubou o Produto Interno Bruto (PIB), que registrou uma queda de 4,1% no ano passado, segundo os dados divulgados nesta quarta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A retração causada pelo confinamento social e a redução da atividade econômica foi atenuada pelas 9 parcelas de auxílio emergencial entre 300 e 600 reais no ano passado, mas o país não fugiu das consequências vividas no mundo inteiro com o coronavírus. O caos provocado pelo vírus gerou uma queda significativa no PIB, o pior resultado desde 1996. No quarto trimestre, no entanto, a soma das riquezas produzidas no país apontou uma recuperação das perdas anteriores, com o resultado positivo de 3,2% em comparação aos três meses anteriores, numa melhora que já tinha sido observada no trimestre anterior, quando a economia subiu 7,7%, em comparação ao período de abril a junho do ano passado. O PIB totalizou 7,4 trilhões de reais em 2020. O PIB de 2019 registrou um minguado crescimento de 1,1%.
O quadro econômico do Brasil foi desestruturado pela pandemia,
que chegou a um desemprego de 14,6% entre julho e setembro, quando o
isolamento social e a retração da economia com a pandemia da covid-19
reduziu a oferta de postos de trabalho. Um dos setores mais impactados
foi o de construção, com uma queda de 7% da atividade. Também a
indústria de transformação, que engloba o setor automotivo, metalúrgico e
de vestuário, registrou queda de 4,3% no ano. A economia na corda bamba
no mundo todo afetou também o setor externo. O país registrou queda das
exportações e importações – 1,8% e 10%, respectivamente. A agricultura,
por sua vez, registrou uma queda de 0,4% no último trimestre em
contraste com o mesmo período de 2019. Na comparação anual, os
agronegócios avançaram 2% sobre 2019.
Em setembro, porém, houve uma redução no quadro de mortes por coronavírus - caíram de uma média diária de 1000 para 800 — o que levou a população a enxergar uma luz no fim do túnel e o otimismo aqueceu um pouco a economia. A partir dali, a indústria e serviços tiveram variação positiva de 1,9% e 2,7%, respectivamente, sendo que a indústria de transformação avançou 4,9%. Até o desemprego recuou, caindo de 14,6%, para 13,9%. No final do ano o país contava com 13,4 milhões de desempregados.
Na evolução dos trimestres, os últimos três meses do ano mostravam uma redução do impacto da pandemia. Depois da queda abrupta de 10,9% no segundo trimestre de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019, o terceiro trimestre registrou queda de 3,9% e de outubro a dezembro o recuo foi de 1,1%, o que parecia confirmar a recuperação em V apontada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
A taxa de investimento em 2020 chegou a 16,4% do PIB, melhor do que no ano anterior, quando os recursos investidos na economia foi equivalente a 15,4% do PIB. Entram nessa conta o investimento em maquinários e na expansão de negócios. O consumo das famílias, por sua vez, caiu 5,5% comparado ao ano anterior, como reflexo da pandemia. Também o Governo apertou os cintos e teve um consumo 4,7% menor neste ano. O PIB per capita alcançou 35.172 reais em 2020, um recuo, em termos reais, de 4,8%, a menor marca dede o início da série histórica em 1996.
Na comparação com outros países, a queda do PIB no Brasil foi menor do que em outros países da América Latina, como destaca a nota da Secretaria de Política Econômica: México teve queda de 9,7% e a Colômbia, 6,8%.
A dúvida, a partir de agora, é como o país vai reagir nestes primeiros meses de 2021. Com a guarda baixa para a covid-19, as festas de final de ano se multiplicaram e os números de infectados por covid-19 explodiram outra vez. O número de mortes voltou com força numa segunda onda, e tem batido recordes diariamente. Nesta quarta, foram mais de 1.600 mortes, o pior resultado desde o início da pandemia. Hoje grande parte dos governadores pressionam por restrições mais severas, o que deixa em aberto as consequências para a economia neste primeiro trimestre. Ao mesmo tempo, o auxílio emergencial deve voltar no valor de 250 reais, bem abaixo dos 600 reais pagos no início da pandemia. “As incertezas econômicas continuam elevadas, especialmente, o primeiro trimestre deste ano será desafiador”, destaca a nota da Secretaria de Política Econômica. O Governo aposta ainda numa pauta de reformas como o caminho para o controle das finanças para recuperar a confiança da economia.
Economistas apontam, ainda, o prejuízo da inflação para este ano, cujas projeções sobem há oito semanas, na leitura do mercado financeiro. A alta nos preços deve levar a uma alta de juros que deve inibir a atividade econômica.
A grande esperança é o avanço da vacinação, que ainda é incipiente no Brasil. São 6,7 milhões de vacinados para um país de 211 milhões. O Governo e o Congresso acenam com a aceleração da compra e produção de vacinas, que garantiria ter metade da população vacinada até metade do ano. Com esse resultado, seria mais rápida a retomada de atividades econômicas. Até lá, no entanto, o país se digladia numa guerra entre governadores e o presidente Jair Bolsonaro pela manutenção sem restrições das atividades econômicas em um momento que o Brasil registra pico de mortes por covid-19. Os Estados querem toque de recolher diante da iminência do colapso da saúde num momento em que 19 unidades federais têm mais de 80% dos leitos de UTI comprometidas. Ao mesmo tempo, ainda reverbera a interferência do Governo na Petrobras. O presidente Jair Bolsonaro demitiu no último dia 19 o presidente Roberto Castello Branco, substituído por um militar, o general Joaquim Silva e Luna. Nesta terça, 2, quatro membros do Conselho de administração da Petrobras pediram demissão após a troca de comando.
https://brasil.elpais.com/economia/2021-03-03/pib-de-2020-fecha-em-queda-de-41-no-brasil-com-pandemia-de-covid-19.html
O desabastecimento nas montadoras e a segunda onda da pandemia explicam o resultado negativo das vendas de veículos no mês passado, segundo avaliação da Fenabrave, entidade que representa as concessionárias de automóveis.
Ao comentar o balanço de fevereiro, quando as vendas caíram 16,7% no comparativo anual, marcando também o pior volume para o mês em três anos, o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior, lembrou que a indisponibilidade de peças nas linhas de produção provocou paralisações de montadoras – causando falta de modelos nas revendas -, enquanto o aumento de casos de contaminações restringiu o funcionamento do comércio em várias cidades.
“Na indústria, mesmo com os esforços das montadoras, para aumentar a produção, a falta de peças e componentes ainda persiste, fazendo com que algumas fábricas tivessem de paralisar, temporariamente, a produção em fevereiro, afetando, de forma importante, a oferta de produtos”, comentou Alarico em nota.
“Além disso, o aumento dos casos de covid-19, que provocou o retrocesso da abertura do comércio em várias cidades, também contribuiu para a queda de vendas do mês de fevereiro”, acrescentou. O executivo também relaciona o enfraquecimento do mercado ao aumento, em meados de janeiro, das alíquotas de ICMS cobradas em São Paulo, o maior mercado do País.
Alarico diz que no segmento de caminhões, onde as concessionárias estão trabalhando praticamente sem estoque, parte das entregas está sendo programada para setembro e outubro.
Já nas revendas de motos, que também registram falta de produtos em razão de atrasos, motivados pela crise sanitária, da produção no polo industrial de Manaus (AM), os estoques estão “extremamente baixos”, o que leva à lista de espera de até 40 dias por alguns modelos, informa Alarico.
https://www.istoedinheiro.com.br/desabastecimento-de-pecas-nas-montadoras-e-2a-onda-derrubam-vendas-de-veiculos/
Quando o engenheiro de computação Guy Perelmuter fez seu mestrado em inteligência artificial, em 1995, no Rio, uma das discussões mais acaloradas era o reconhecimento de padrões em imagens (coisa hoje comum, já que há softwares capazes de identificar até logomarcas em partes pequenas de uma foto no Instagram). Outros tempos. Sem internet em alta velocidade, smartphone e sensores potentes, a aplicação da tecnologia era limitada. Não havia carros autônomos ou internet das coisas a encher os olhos de ninguém.
O jovem de 24 anos acabou, então, indo parar no mercado financeiro, onde o perfil de exatas caía bem também. Afinal, para saber o quanto se pode perder ou não com um investimento, os bancos precisam de quem faça bem as contas. Mais de 20 anos depois, o investidor Perelmuter, cujo currículo inclui passagens pelo Banco Pactual e pela Vinci Partners, uniu o conhecimento em investimentos com a paixão por inteligência artificial (e tudo que tem a ver com inovações científicas) em um novo trabalho: colocar dinheiro em startups de deep tech.
Deep tech é o termo usado, em geral, para definir jovens empresas cujos negócios estão amparados em descobertas científicas ou inovações tecnológicas que buscam mudar o mundo. A expressão foi criada por Swati Chaturvedi, CEO da companhia de investimentos Propel(x), para diferenciar as startups baseadas em tecnologias existentes (Uber, por exemplo) das que buscam um grande progresso por meio de tecnologias inovadoras (uma startup que tenta desenvolver uma técnica para combater o câncer, por exemplo). São negócios baseados fortemente em matemática, física, biologia ou engenharia.
É nas startups desse segundo grupo que Perelmuter aposta. Por meio de sua empresa de investimentos, a GRIDS Capital, ele formou um fundo de US$ 45 milhões para fazer aportes em jovens companhias das áreas de inteligência artificial, robótica, nanotecnologia, internet das coisas, tecnologia aeroespacial, entre outras. O dinheiro veio de 26 grupos de investidores brasileiros — de family offices a investidores de setores que vão de varejo a agronegócio. (Os nomes não são revelados.)
No momento, seu portfólio inclui 50 startups, todas dos Estados Unidos e Israel. A maior parte delas (18) busca resolver problemas na área da saúde, assunto sobre o qual Perelmuter palestrou na Wired Conference 2018 - Health and Wellness. Discreto, ele prefere não listar as startups nas quais investe (apesar de ter citado a Auris Health). Com Época NEGÓCIOS, o investidor compartilhou sua visão sobre deep tech, critérios de investimento e Brasil. A seguir, os principais trechos.
Você
diz optar por investir em inovações que vão causar impacto duradouro.
Como saber o que vai causar impacto tão profundo assim?
Não é
uma questão de aposta no produto, mas no tipo de tecnologia. Muitas
vezes, você não sabe em qual equipamento ou produto deve apostar. Quando
a internet surgiu, ninguém podia garantir qual ferramenta de busca
daria certo. Havia Altavista, Google, Lycos, Yahoo (Cadê)... Mas todo
mundo sabia que uma delas seria duradoura. Existem tecnologias se
mostrando tão obviamente necessárias que vários players tentam se
qualificar para ser dominantes nessas áreas. Há tendências que a gente
sabe que são duradouras. Os sensores, por exemplo, são o novo vetor para
o mundo conectado. Qual fabricante vai dominar esse espaço? Vamos ver.
Mas sabemos que haverá uma profusão de sensores circulando na cidade, no
campo, onde quer que seja. Procuro investir em tendências que vão
alterar significativamente a vida das pessoas.
Você diz nunca ter visto tanto interesse por parte dos investidores em direção à área da saúde. O que explica isso?
Há
uma convergência de fatores que justificam isso. Para começar, fazer a
análise do genoma está virando algo acessível economicamente para
pessoas comuns (para identificar genes com predisposição a doenças, por
exemplo). Além disso, estamos vendo o uso real de big data para tratar
doenças. É que problemas de ordem biológica e bioquímica produzem
quantidade enorme de informação e, agora, a gente tem tecnologia para
processar e digerir essas informações. Temos equipamentos com capacidade
alta de processamento e memória, sensores, smartphones… Isso tudo está
mostrando aos investidores que, se tem uma área que nos próximos cinco a
dez anos vai apresentar mudanças muito significativas, é a área da
saúde. É um setor gigantesco em termos econômicos, porque compreende os
laboratórios, as empresas farmacêuticas, as clínicas, os hospitais, os
médicos, todo um ecossistema ativo. É a convergência desses elementos
tecnológicos individuais com o tamanho do setor e do capital que ele
atrai que explica o interesse inédito e crescente dos investidores em
startups do segmento de saúde.
Quais são as startups mais interessantes em saúde no momento?
Há
várias. A Auris Health (que recebeu investimento da Grids), por
exemplo, é uma empresa que está desenvolvendo equipamento para cirurgia
robótica sem incisão, usando apenas orifícios naturais do corpo humano.
Foram aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) para a
realização de endoscopia pulmonar. Trata-se de um braço robótico que
navega até o pulmão.
Quais critérios você usa para definir o setor e a startup em que vai investir?
Olho
para vários segmentos que parecem prontos para ter bom resultado
econômico e cuja barreira de entrada é significativa. Dezoito das nossas
50 startups estão na área da saúde, mas temos investimentos em
inteligência artificial, robótica, infraestrutura tecnológica, novos
materiais, sensoreamento artificial, internet das coisas… Os fundadores
dessas empresas têm, em geral, um perfil acadêmico sólido, com doutorado
e, em muitos casos, pós-doutorado no currículo. Eles comandam
empreendimentos que têm como base a matemática, a química, a física, a
biologia ou engenharia.
Estamos em um processo de “silver
tsunami” da população, que será composta por 1,5 bilhão de idosos em
2050. Qual será o papel das startups de deep tech nesse contexto?
O
envelhecimento da população será alvo de muitas startups ligadas a
“home care” (cuidados em casa), a equipamentos especiais de medição
(monitoramento de sinais vitais, por exemplo), impressão de prótese e
órgãos, entre outras invenções. Existe um grande interesse por parte dos
empreendedores em atacar e prevenir doenças típicas da velhice.
Prevenção, aliás, é a grande característica da medicina do século XXI.
Há uma hoje uma cultura do check-up, da antecipação dos problemas.
Antes, a ideia era remediar. Agora, até mesmo por conta da gravidade das
doenças, importa mais evitar que elas se instalem.
Na
hora de investir, você considera os riscos éticos que o negócio pode
gerar? A mesma startup que identifica genes com defeitos poderia
programar embriões sem doenças, por exemplo.
Tecnologia
disruptiva é sempre algo muito novo. Essas discussões estão acontecendo.
Mas os empreendedores que entrevistamos apresentam antes o uso de caso
(onde eles acham que o produto tem aplicação). O empreendedor informa a
sua intenção. Ele diz “estou montando isto porque quero criar uma forma
menos invasiva de realizar exames em seres humanos”, por exemplo. O
risco ético vai ser tão menor quanto melhor você (investidor) conhecer o
uso de caso. Há aí um processo de diligência técnica e pessoal.
Seus investimentos estão concentrados em startups dos Estados Unidos e Israel. Não há deep tech no Brasil? Estaria o país fadado a ser apenas usuário dessas tecnologias, e não criador?
O Brasil tem boas escolas, bons alunos e bons professores. Mas o mundo de deep tech
exige laboratório. Exige verba governamental para sustentar pesquisa em
matemática, física, biologia… Essa é uma preocupação que a gente
deveria ter. Não deveríamos ser só espectadores. Deveríamos produzir. O
Brasil, de qualquer forma, está no nosso radar.
https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2018/08/conheca-o-investidor-brasileiro-que-so-investe-em-deep-tech.html