Neste
momento tão desafiador, surge em todos nós o mesmo sentimento quando
olhamos para o futuro: incerteza. Principalmente nos casos de pequenos
empresários, é algo que só se agrava. Compreensivelmente, congela a
criatividade e causa medo, pânico, insônia e angústia. Em suma, tira a
pessoa de seu juízo.
Sejamos sinceros: subestimamos a pandemia, e
ninguém contava com essa nova fase, muito mais severa. Mesmo tão
avançada e desempenhando um papel essencial diante dessa grave crise
sanitária, a ciência possui suas limitações. Ainda não temos uma
previsão assertiva de quando tudo passará, o que acaba gerando uma
tortura sem fim para quem lidera um negócio. Por mais inovador, criativo
e aberto a riscos que seja, o empreendedor é uma figura racional e que
precisa de elementos concretos para tomar decisões. Hoje, são diversos
os questionamentos e escassas as certezas.
O comércio, por
exemplo, estava começando a tirar a cabeça d'água quando veio uma nova
onda — aliás, devastadora, pois não permite qualquer previsibilidade.
Ora, como renegociar com os bancos se não sabemos quando as atividades
voltarão ao normal, o mercado reagirá e as pessoas poderão se dar ao
luxo de gastar? E aqui temos um outro fator crítico: a população, como
um todo, empobreceu. Foram raros os setores que cresceram na pandemia,
enquanto a imensa maioria regrediu.
Cada empresa é um ser vivo,
com suas peculiaridades. Para uma companhia, determinado assunto pode
ser vital; enquanto, para outras, não. Isso depende do setor, da região,
do porte da empresa, entre outros fatores. Num período de turbulência
como este, o mantra é sobreviver. É sair da zona de conforto em vários
pontos. É dar um, dois, três passos para trás — o que nos possibilitará,
após, dar cinco para frente. É não colocar dinheiro bom em situações
que não ajudarão em nada. É fechar a torneira do caixa e ser franco e
transparente com os credores. Uma explicação bem dada e coerente
representa metade da dívida paga.
O caminho exige prudência,
transparência e redução de custos, cuidando para não gerar problemas
futuros. É imperativo buscar alternativas baratas e simples, usar a
criatividade, desenvolver promoções, pensar no negócio de uma forma mais
racional. E, também, duvidar sempre de algum profissional que diga: "o
caminho é este e não tem risco".
Tudo tem risco! A questão é saber
quais são e aqueles que menos impactam na sua empresa. Não existe
solução mágica. Como ensina o ditado popular: não se faz omelete sem
quebrar os ovos. Precisamos romper paradigmas preestabelecidos. Sem
orientação adequada, as decisões diárias podem se acumular em erros e
comprometer a sustentabilidade do negócio.
Não estamos diante de
uma questão matemática, mas estratégica. É pensar na dívida e
estabelecer premissas de acordo com o fluxo de caixa da empresa. É
avaliar, reavaliar e calcular cada centavo destinado a determinado
compromisso ou investimento. Optar automaticamente pelo caminho da
recuperação judicial ou falência só piora as coisas. Pode até ser
inevitável, mas antes é necessário esgotar todas as alternativas.
Judicializar o problema não é mais uma boa prática de crise: a saída é
tentar resolver, conversar com credores, fornecedores e funcionários.
Caso não haja diálogo, muitas vezes, é melhor administrar um passivo do
que ingressar com um processo.
Todas essas decisões exigem uma
análise casuística. Afinal, cada empresa é única em suas
características. Então, empresário: não deixe que o pânico afete seu
discernimento. Sabemos o quanto é difícil empreender em nosso país, e os
desafios fazem parte da sua rotina. É hora de levantar a cabeça, manter
a serenidade — e, acima de tudo, colocar o coração de lado e usar a
razão.
*Advogada, sócia e gestora de Negócios do escritório SCA — Scalzilli Althaus Advogados