Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) – Investidores estão em compasso de espera para o resultado das eleições no Brasil, particularmente por causa de incertezas ligadas à política fiscal a partir de 2023, avalia o diretor de investimentos do Credit Suisse para a América Latina.
“Tem que esperar a definição de quem vai conduzir as políticas do ano que vem para, de fato, conseguir entender qual o risco fiscal que tem à frente”, afirmou Luciano Telo em entrevista à Reuters, citando que isso é um componente que atrasa um pouco o investimento.
O mercado quer entender se quem sair vitorioso buscará conter o nível de gastos, segundo o executivo. “Essa é a grande discussão, independente do candidato que for eleito”, afirmou, destacando também um foco voltado às reformas do país.
“A eleição vai definir não só o presidente, mas também o Congresso, e essa eleição se desdobra para o presidente da Câmara dos Deputados no ano que vem; então essa configuração de forças é importante para entender se realmente vai ter pauta de reformas, uma pauta mais abrangente”, acrescentou.
Pesquisas recentes têm mostrado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente nas intenções de votos na corrida presidencial, seguido pelo atual presidente Jair Bolsonaro (PL).
Para Telo, decidida a eleição, pode haver algum alívio no mercado. Mas ele chamou a atenção para a necessidade de a nova equipe trabalhar rapidamente a comunicação com agentes financeiros após o resultado.
No caso da bolsa brasileira, mesmo avaliando que os preços estão baixos, Telo prefere não alocar mais recursos no momento, esperando os sinais sobre o crescimento do país 2023, além das dúvidas sobre o fiscal e a volatilidade eleitoral.
“Estamos muito perto da eleição, de diminuir uma incerteza. Não vale a pena colocar mais posições de bolsa neste momento”, disse, acrescentando que ações de bancos e de empresas atreladas a commodities são as que o Credit enxerga mais valor atualmente.
Em outros países na América Latina, afirmou, o mercado não conseguiu enxergar claramente uma diretriz pós-eleição e pediu uma desconto após o pleito. “Serve de aprendizado”, observou.
O Credit Suisse vê a renda fixa como melhor oportunidade de investimentos no momento, tendo elevado posições em crédito indexado ao CDI e, mais recentemente, em ativos ligados à inflação, como NTN-Bs, dada a avaliação de que juros estão em um patamar restritivo, que levará a inflação para baixo.
Telo destacou que a discussão atual sobre o próximo ano é de redução da Selic, o que ele considera factível a partir do segundo semestre.
Para a taxa de câmbio, o executivo afirmou ver o dólar na faixa de 5,10 a 5,20 reais para o fim de 2022, próximo do patamar atual, refletindo termos de troca, com a valorização de commodities, mas algum desconto por componentes de incerteza.
No entanto, ele entende que uma sinalização fiscal mais clara, que significaria menos risco, e as commodities “comportadas” poderiam levar o dólar abaixo de 5 reais.
“Se você tem uma relação dívida/PIB sustentável, projetada como controlada no longo prazo, você tira essa incerteza e pode trabalhar mais perto do que seria um nível de comércio”, explicou, lembrando o choque positivo das commodities.
Ele ponderou, contudo, que qualquer cenário para os ativos financeiros brasileiros passa pelos próximos passos do Federal Reserve. “Isso é o mais importante para (determinar) a aversão a risco do que qualquer elemento regional”, afirmou Telo.
O banco central dos Estados Unidos tem elevado a taxa de juros para controlar a inflação no país. Recentemente, o chair do Fed, Jerome Powell, indicou que aquela economia precisará de uma política monetária apertada “por algum tempo”.
(Edição Aluísio Alves)